Me pergunto até hoje porque a grande maioria dos brasileiros acha feio “vender” favela, Vidas Secas e e anteprojetos de república como o de Terra em transe.
O Brasil pode não ser só isso, mas com certeza também não é só o país da classe média: o filho que usa drogas, o dinheiro que não dá pra nada, a sensação de que os impostos tão comendo o salário, uma hipocrisia latente. O Brasil também passa longe de ser só a beleza da Amazônia ou de uma praia paradisíaca qualquer.
Aliás, era de se esperar que tais ufanismos já tivessem sido superados quando o Romantismo de Ceci e Peri acabou. Quando começaram a surgir mais Rio 40 graus e menos Carnaval Atlântica, o cinema brasileiro deu um assombroso passo à frente.
Se o cinema é o espelho da sociedade, não é difícil entender por que a classe média rejeita Cidade de Deus ou Carandiru: ela não se vê ali. De fato, existe mais de um Brasil nesse país. E é triste ver que às vezes até mesmo as narrativas falham em conferir alguma unidade pra esse povo.
A classe média simplesmente não aceita que faz parte do mesmo Brasil dos filmes.
Aliás, o que a gente (classe média) aceita?
Se é pra fazer um filme em que nos vejamos na tela, então falemos do nosso cinismo. Da nossa apatia. Da inevitável inação dos pequeno-burgueses, nossa inação. Da mesquinhez dos nossos problemas. A Amazônia é ainda mais distante de nós do que favelas e presídios. Mas parece que tem gente querendo se ver mais lá do que aqui. A maioria.
Voltaire2007-08-23 14:23:16