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Forum Cinema em Cena

Fernando

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Everything posted by Fernando

  1. Fernando

    Thundercats

    Criança-prodígio sempre me irrita , mas tenho que admitir que a Dakota Fanning é supertalentosa . Se não fizer besteira ou não tiver grandes dificuldades na transição para a carreira adulta , ela tem tudo para seguir uma carreira brilhante .
  2. Ela estava bonita e gostosa em Wall Street e o filme é um retrato interessante dos anos 1980 , mas acho seu desempenho normal . Pode até ser um dos melhores , em constrate à tolenada de filmes B que ela fez . Mas eu gosto dela ! Ela tem três desempenhos que são ícones : a Madison em Splash-Uma Sereia Em Minha Vida , a Pris em Blade Runner e a inesquecível Elle Driver em Kill Bill . Por esse último , ela merecia uma indicação .
  3. O Oscar de melhor ator no ano passado tinha um nivel muito bom . A vitória do Hoffman foi merecido , mas todos os outros ( Phoenix , Ledger , David Straithairn e Terrence Howard ) estavam impecáveis . Thico disse a respeito de Daryl Hannah : geralmente uma atriz medíocre , mas que esteve brilhante em Kill Bill .
  4. Hum ... estou achando que é a minha " crítica " o motivo da alfinetada , ainda mais conhecendo a aversão do Camargo quanto ao filme abordado e a divergência de idéias que nós temos , além de reconhecer que o meu texto está pessimamente escrito . No entanto , eu não preocupo : admito que fiz o texto às pressas e sem revisões quanto aos erros ortográficos : havia perdido um texto mais cuidadoso que eu havia feito e fui chamado para substituir o texto de Sonata de Outono , que fora adiado para a semana seguinte . sem falar nas teorias absurdas , defendendo um filme não muito bem visto por crítica e público mais exigentes . Agora , qual o problema ? Pelo que eu saiba não foi exigida uma técnica apurada . Somente aqueles que trabalham na área poderiam escrever seus textos ? Desculpe , não sabia ... Pelo menos , distraiu um pouquinho quem esperava a crítica do Thico . Acertei , Camargo ?
  5. Hahahah , essa foi boa ! Podia ser mais uma prova de O Cinéfilo .
  6. Um filme que preciso rever -já tem seis anos que eu o vi , pela última vez . Agora , é impressão minha ou , no fundo , filmes de máfia , falam na verdade sobre o capitalismo ? Sua inserção , táticas , golpes e tudo mais ? É o que sempre me vem à cabeça quando vejo filmes de gângsteres . Veras , você fechou a temporada com chave de ouro . Parabéns : você escreve muito bem . Gostei do seu conceito sobre pólos : minimalismo X grandiosidade e como Scorsese não se prende à divisão e consegue inserir esses opostos em seus filmes .
  7. Superinjusta e ainda tirou o lugar que pertencia à Uma Thurman .A indicação da Keisha Castle-Hughes foi uma das mais rídiculas , merecia um golpe de Hattori Hanzo , rsrs. Aliás , eu costumo antipatizar com atuações mirins elogiadas por crítica e público , salvo raríssimas exceções . Fernando2007-05-28 20:25:03
  8. 27/05/2007 - 17h05 Veja os prêmios entregues no 60º Festival de Cannes CANNES, França, 26 maio 2007 (AFP) - O filme "4 meses, 3 semanas e 2 dias" (4 luni, 3 saptamini si 2 zile), do romeno Cristian Mungiu, conquistou neste domingo a Palma de Ouro do 60º Festival de Cannes. Relação dos premiados: Palma de Ouro: "4 luni, 3 saptamini si zile" (4 meses, 3 semanas e 2 dias), do romeno Cristian Mungiu. Grande Prêmio: "Mogari no Mori" (Floresta de Mogari), da japonesa Naomi Kawase. Prêmio do Júri, ex aequo: "Persépolis", da franco-iraniana Marjane Satrapi e do francês Vincent Paronnaud, e "Luz Silenciosa", do mexicano Carlos Reygadas. Melhor atriz: a sul-coreana Jeon Do-yeon, por "Secret Sunshine". Melhor ator: o russo Konstantin Lavronenko, por "Izganie" (Desterro). Melhor direção: "Le Scaphandre et le Papillon" (O escafandro e a borboleta), do americano Julian Schnabel (realizado na França). Melhor roteiro: "Auf der Anderen Seite" (Do outro lado), do turco-alemão Fatih Akin. Prêmio especial do 60º aniversário: "Paranoid Park", do americano Gus Van Sant. Palma de Ouro de curta-metragem: "Ver Llover", da mexicana Elisa Miller. Câmera de Ouro (para longa de estréia): "As Medusas", dos israelenses Etgar Keret e Shira Geffen.
  9. http://www.cinemaemcena.com.br/frm_Noticias_Detalhe2.aspx?ID=21594&tipo=cinenews&cod_filme=4858
  10. Cannes 2007: Resultados Por Kleber Mendonça Filho 27/05/2007 Vez ou outra festivais fazem justiça, e a Palma de Ouro foi para o melhor filme que Cannes 2007 apresentou nos 11 dias de competição, o romeno 4 Luni, 3 Saptamini Si 2 Zile (4 Meses, 3 Semanas e Dois Dias), do diretor Cristian Mingiu. Essa Palma fecha por completo a sensação real de que o cinema romeno é não apenas uma das filmografias mais consistentes do cenário internacional hoje, mas também sela o investimento que o próprio festival vem fazendo nos romenos, já há dois anos, com um total de cinco filmes que variam entre muito bons e excepcionais apresentados nas mostras Un Certain Regard e Quinzena dos Realizadores. Curiosamente, 4 Meses, 3 Semanas e Dois Dias foi a primeira aposta dessa safra romena recente destacada nas telas de Cannes que teve a oportunidade de competir na mostra oficial. E deu Palma. O filme é apenas o segundo do diretor Cristian Mingiu, que levou também o prêmio da Crítica Internacional, caso raro de crítica e júri compartilharem a mesma opinião. 4 Meses, 3 Semanas e Dois Dias é um relato extremamente humano da vida na Romênia, dois anos antes de o regime comunista cair, nos anos 80. A partir de um aborto realizado por uma estudante, e dramaticamente ajudada pela sua melhor amiga numa tensa via crúcis, o filme é construído com narrativa impecável marcada pela honestidade e atenção aos detalhes. Para sublinhar a qualidade do cinema romeno, California Dreaming, outro integrante da safra romena este ano, ganhou também a mostra paralela Un Certain Regard, prêmio entregue ontem à noite sob forte emoção na sala, uma vez que o jovem diretor do filme Cristian Nemescu faleceu aos 27 anos num acidente de carro, antes mesmo de o filme ser selecionado pra Cannes. O segundo prêmio mais importante de Cannes é tradicionalmente o Grande Prêmio do Júri, que foi este ano capitaneado pelo cineasta inglês Stephen Frears (A Rainha). The Mourning Florest (Mogari No Mori ou A Floresta das Lamentações), da realizadora japonesa Naomi Kawase, filme intrigante sobre uma jovem e um idoso que lidam com perdas pessoais. Perdas e tentativas de superação pessoal e espiritual também foram temas de boa parte dos premiados na noite de ontem. Melhor Roteiro foi para o alemão Fatih Akin, pelo seu filme Auf Der Anderen Seite, onde dois conjuntos de personagens turco-germânicos lidam com perdas pessoais. O delicado filme coreano Secret Sunhine, de Lee Chang-Dong, ficou com Melhor Atriz para Jeon Do-Yeon, sobre uma mulher que tenta entender o que significa ter perdido a sua família. Le Scaphandre e le Papillon (O Escafandro e a Borboleta), sobre o jornalista francês editor da revista Elle que sofreu derrame e foi obrigado a ficar trancado dentro dele mesmo, comunicando-se com o seu olho esquerdo. O filme, que será um sucesso emotivo do cinema do bom gosto quando chegar aos cinemas do mundo, deu a Palma de Direção ao americano Julian Schnabel (Basquiat), que comportou-se de maneira estranha ao subir ao palco, provável indicador do quão grande o seu ego deve ser (talvez achasse que a Palma seria sua). "Dizem que o problema da França são os franceses. Isso não é verdade" foi a primeira gafe, seguida de "se eu tivesse ganho a Palma, a teria repassado para Bernardo Bertolucci". Ainda achou tempo para elogiar The Hit (1984), que o presidente do júri dirigiu em 1984. Melhor Ator foi para o russo Konstantin Lavronenko, por Izgnanie (The Banishment), o novo e problemático filme do diretor de O Retorno, Andrei Zviaguintsev. Dois filmes dividiram o Prêmio do Júri, a curiosa animação franco-iraniana Persepolis, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, e o mega filme de arte Stelle Licht (Luz Silenciosa), do mexicano Carlos Reygadas. O prêmio Camera D'Or, dado a primeiros filmes de ficção, teve menção especial para Control (da seleção Quinzena dos Realizadores), de Anton Corbkin, que nos narra a história de Ian Curtis, líder da banda inglesa Joy Division. O prêmio principal foi para o filme israelense Meduzot (seleção Semana da Crítica), de Etgart Keret e Shira Geffen. Keret falou ao microfone que a última vez que ele tinha vestido um terno foi no seu Bar-mitzvah. Gus Van Sant levou uma simpática lembrança para casa através do seu novo (e ótimo) Paranoid Park com o prêmio especial dos 60 anos do Festival de Cannes. "Decidimos dar esse prêmio a ele pela sua carreira e por ter feito um lindo filme", disse Frears ao microfone. BRASIL - Uma honra para o Brasil veio na forma do prêmio Kodak Discovery Award dado ao muito bom curta brasileiro Um Ramo, de Juliana Rojas e Marco Dutra, que passou na Semana da Crítica. A dupla paulista esteve há dois anos no Cinefondation (para filmes de universidade) com o curta O Lençol Branco. A estréia de Um Ramo foi em Cannes, e a partir de agora fará não apenas o circuito internacional, mas também festivais no Brasil. Com uma narrativa segura e fotografia exepcional, Um Ramo traz o toque do cinema fantástico ao narrar as misteriosas transformações físicas de uma mãe de família, em obra simbólica e sugestiva que aponta para dois nomes mais do que promissores. Curta Metragem Ahma Anthony Chen (prêmio especial do júri) Run Mark Albiston (prêmio especial do júri) Ver Llover (Palma de Ouro) Elisa Miller
  11. Scorsese lança o World Cinema Fund Na tarde de quarta-feira, o brasileiro Walter Salles, acompanhado de Martin Scorsese, apresentou o último estágio de restauração da relíquia brasileira Limite (1931), filme de Mario Peixoto, apresentado exclusivamente na paralela Cannes Classics. A projeção já veio como parte da iniciativa World Cinema Fund, que Scorsese lançou oficialmente na terça-feira, numa coletiva de imprensa em Cannes, ao lado de nomes como Salles, Stephen Frears e Wong Kar Wai. Limite passou em cópia digital com resolução 2K (alta definição), e a parte final de recuperação será assumida pelo World Cinema Fund, uma iniciativa de Scorsese que tem o objetivo de salvar do esquecimento, e extinção, filmes importantes realizados ao redor do mundo. No caso de Limite, Salles foi apresentado como o responsável pela recuperação da obra de Mario Peixoto, projeto que há pelo menos dez anos o diretor de Central do Brasil vem carinhosamente acalentando. O documentário Onde a Terra Acaba, de Sergio Machado (que depois fez Cidade Baixa), produzido por Salles via sua Videofilmes, já era parte desse projeto maior. O empenho de Walter Salles para restaurar Limite reflete o nível de paixão dos envolvidos no World Cinema Fund. A reportagem do JC perguntou aos cineastas se o critério principal para a escolha dos filmes que serão recuperados é a admiração pessoal de cada membro por um determinado grupo de filmes. A resposta incerta de Scorsese - "estamos abertos a receber novos membros e filmes sugeridos, mas creio que por sermos cineastas, conhecemos de perto a importância de preservar um filme para o futuro" - deu a entender que a iniciativa ainda existe mais como uma bela idéia do que como uma estrutura totalmente definida. Salles, mais tarde, me confirmou que, de certa forma, sim, e adiantou que está observando nao apenas o cinema brasileiro - "filmes do Nelson Pereira dos Santos seriam adequados para o fundo, e que muito me interessa" -, mas também da América Latina, Argentina, Cuba. "Quando fui filmar Diários de Motocicleta na Argentina, vi muita coisa antiga que merece o máximo de atenção", disse Salles. Scorsese completou afirmando que "a nossa idéia de 'filme esquecido' é um filme famoso que está em péssimo estado de conservação, ou uma jóia desconhecida que precisa ser divulgada". O fundo tem o patrocínio da Qatar Aiways, Cartier e Giorgio Armani e visa distribuir os filmes para cinematecas ao redor do mundo, fazê-los viajar pelo circuito internacional de festivais e também lançá-los em DVD.
  12. Mutum (Cannes 2007) Por Kleber Mendonça Filho Passou hoje na Quinzena dos Realizadores o longa metragem brasileiro Mutum, da carioca Sandra Kogut, uma bela surpresa que traz intacto para o cinema o tom específico e peculiar da prosa humana e sensorial de Guimarães Rosa. Essa adaptação do livro Campo Geral, escrito por Rosa nos anos 50, foi escolhida pelo diretor artístico da Quinzena, Olivier Pére, como filme de encerramento. O filme é uma co-produção Brasil-França, com a Tambellini Filmes de Flavio Tambellini, a rede de TV Arte e Walter Salles como um do produtores que está em Cannes apresentando o filme ao lado de Kogut. Mutum é a estréia no longa de ficção de Kogut, depois de uma muito bem sucedida carreira no curta-metragem, projetos multimídia e documentários. Mutum tem seu eixo dramático muito bem dimensionado em Thiago (Thiago da Silva Mariz, estreante), um menino de dez anos que mora com os pais e o irmão no sertão de Minas Gerais. O filme, aparentemente, se passa nos dias de hoje, mas a paisagem, a casa, as pessoas e suas atitudes não ficariam deslocados nos anos 50. Ao respeitar fiel e sensivelmente as indicações do texto original, Kogut nos dá um mundo percebido por uma criança, ainda verde demais para entender as maquinações do ser humano e da vida adulta. Grandes momentos de conflito (duas mortes e algumas desavenças, uma relação sugestiva entre a mãe e o cunhado) são deixadas sabiamente de fora, e a compreensão de Tiago é vaga para o que esses conflitos significam, e de onde eles surgiram. Isso dá ao filme um tom infantil que não faz do filme obra de caráter infantil. E o filme vai passando refletido no rosto do garoto. Algumas horas depois da exibição de Mutum, Kogut e Salles receberam a reportagem do JC na praia do hotel Noga, em Cannes, onde discutiram o filme. Mutum é mais uma demonstração de que o cinema brasileiro está aos poucos indo buscar dinheiro fora, embora a própria Kogut ache que o caso do seu filme é bem peculiar. "Eu morava na França e os contatos surgiram naturalmente lá. De qualquer forma, a participação da Ancine, no Brasil, e a entrada do Flávio Tambellini foram essenciais para que o filme crescesse. Mutum é, de fato, uma co-produção entre o Brasil e a França". Salles, que vem produzindo filmes nesse formato (O Céu de Suely, Cidade Baixa), acha que, no que depender dele, seu raio de ação como produtor irá a outros países da América Latina. "O próximo filme do Pablo Trapero sera feito com dinheiro não apenas europeu, mas também coreano, e o filme não tem temática ou locação na Coréia, apenas produtores de lá que gostam do trabalho do Pablo", disse. Walter também chamou a atenção para aspecto que lhe agrada muito nas co-produções com a Europa. Ele vê o ambiente europeu como o centro mundial para o cinema de autor. "As parcerias são igualitárias, a discussão em torno do filme e da obra não são nunca impositivas. Isso é importante porque, de certa forma, acho que no Brasil há muito mais talento do que capacidade para que esses talentos sejam exercidos". Sobre Mutum, que estreou mundialmente com as três projeções de ontem, na Quinzena, Kogut falou sobre adaptar uma obra literária de porte como a de Guimarães Rosa. "Acho que um dos aspectos mais fortes da literatura é a capacidade que ela tem de tratar conflitos de maneira incidental, e não frontal. Em termos de cinema, é bom ter a preocupação de não fazer da imagem uma mera descrição, ou uma simples informação, e criar com isso um mistério que enriqueça o filme". Kogut refere-se ao clima constante de descoberta que o espectador tem a oportunidade de compartilhar com o personagem principal. Ele tem relacionamento duro com o pai (João Miguel, de Cinema Aspirinas e Urubus), terno com a mãe (Izadora Cristiani Fernandes Silveira) e complexo com o irmão, cuja relação ganha contornos dramáticos tanto por causa de uma doença, como também no ciúme pela atenção do papagaio da casa. "Godard dizia que mais difícil era filmar aquilo que não estava no campo de visão, e como espectador, acho que Mutum convida a platéia não tanto a ver, mas a sentir", completa Salles. Vendo Mutum, talvez não seja possível não lembrar de Menino de Engenho, de Walter Lima Jr., filme referência sobre a infância num Brasil agreste-sertanejo. Com felicidade, Kogut mantém rédea firme na sua forma de narrar, livrando o filme do uso de música, "optando por ter nos sons da natureza a música." O aspecto sensorial do livro, em grande parte intacto no filme, ganha especial sentido rumo ao final com uma descoberta lúdica do próprio personagem, e que Kogut aproveita lindamente nos seus últimos planos. Kogut falou também sobre o ator Thiago da Silva Mariz, que foi preparado pela respeitada Fátima Toledo, que trabalhou com Hector Babenco em Pixote, em (1981) e dezenas de filmes brasileiros. "Quando conheci Thiago, eu o vi na escola com outras crianças da turma dele e me chamou a atenção imediatamente. Ele tinha aquele olhar "eu não acredito que o mundo é assim mesmo". Foi uma aposta, e trabalhando com ele eu fui vendo que o filme seria possível. Mutum deve chegar ao Brasil no segundo semestre e já tem distribuição francesa garantida. Links: O Céu de Suely Cidade baixa
  13. We Own The Night (Cannes 2007) Por Kleber Mendonça Filho Passou agora à noite o inicialmente promissor (cena de abertura) We Own the Night, de James Gray, que esteve em Cannes em 2000 com o curiosamente obeso The Yards, filme melhor do que esse. Gray é um tipo de autor, fica voltando para a mesma estrutura de sempre, e quem viu seus três filmes - Little Odessa é o primeiro - vai perceber claramente. Temos sempre a família, e a partir dela surgem os conflitos envolvendo membros desgarrados da mesma, numa classe média realisticamente registrada, "working class people", em Nova York. Em We Own the Night, mesma coisa, pai e filho representam duas gerações de policiais (Mark Wahlberg e Robert Duvall), o terceiro filho é a ovelha negra (Joacquin Phoenix), gerente de uma boate em Nova York onde a droga corre solta patrocinada por, sempre eles, os malvados russos. O filme, que abre com uma linda montagem de instantâneos do crime em Nova York, estilo Weegee, se passa em 1988, embora uma faixa de campeonato mais tarde no filme diga 1987. Com os planos do irmão policial recém promovido, orgulho do pai, no sentido de limpar a área, e isso inclui a boate do irmão boêmio, a família entra em crise. São atropeladas as diferenças entre a ovelha negra e os estilos de vida e mundo do seu pai e irmão, analmente retidos na arte do "to serve and to protect". A repressão mexe com os russos, que logo providenciam um atentado à vida do filho número 1, deixando filho número 2 puto, e ainda mais ignorado pelo pai. Gray, portanto, engata a marcha de velocidade no sentido de dar ao seu filme o tratamento culturalmente americano onde a família está acima de tudo, a necessidade de se enquadrar na lei, ordem e justiça, e, claro, ir vingar-se dos vilões. Aos poucos, We Own the Night desmorona rumo à filosofia Bush de combater o "evil", usar uniforme, no sentimentalismo familiar do sangue do meu sangue. Fiquei imaginando esse material nas mãos de um Don Siegel, Sam Fuller, ou Clint Eastwood, creio que seria subvertido lindamente, e a trama/roteiro abririam chances maravilhosas para isso. Filho número 2, por exemplo, envolve-se com a polícia, e serve de isca para mesma como forma de recuperar seu ibope com a sua família. Com uma vontade de vingar-se e a estrutura official da polícia ao seu dispor, é desanimador ver nosso herói abraçando a farda com tanta paixão, a interessante ovelha negra sendo abandonada. Ou talvez, quem sabe, esse filho desgarrado queria mesmo é ser aceitado, um reaça de armário querendo servir e proteger. Pelo filme que eu vi, fiquei com estranho desejo de fazer concurso para a polícia. Saindo da sala, vontade já tinha passado. File visto na Debussy, Cannes, Maio 2007
  14. Ocean's Thirteen (Cannes 2007) A SUAVIDADE DE PRAXE Por Kleber Mendonça Filho 24/05/2007 Passou quinta fora de competição, mas com mais bá-fá-fá de mídia do que a grande maioria dos filmes de fato competindo, o produto high-profile hollywoodiano Ocean's Thirteen, terceiro filme da franquia dirigido por Steven Soderbergh com os escroques mais bem vestidos do cinemão de multiplex. Exercitam o cinismo e suavidade habituais. Se o primeiro foi uma divertida surpresa - Ocean's Eleven - e o segundo nos agradou ainda mais como entretenimento - Ocean's Twelve - esse terceiro, apresentado em Cannes com projeção digital, entra no piloto automático do entretenimento, uma gréia cara onde George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon e Cia. continuam armando uma sequência estapafúrdia de sacanagens, voltando a Las Vegas, outra vez num sofisticado cassino. O filme tem estréia marcada para o Brasil dia 31 de agosto, e trouxe para Cannes Pitt, Damon, Clooney, Soderbergh, que, na coletiva de imprensa, mostraram ter quase nada para falar do filme em si, exceto tirar a boa e velha onda. E, sim, a famosa frase foi dita, "nos divertimos muito fazendo esse filme". Satisfizeram também a sanha dos fotógrafos, que enviaram suas imagens de Cannes para os quatro cantos do globo, preparando o caminho para o lançamento americano nas próximas semanas (na França, o filme entra 20 de junho). Al Pacino, desta vez, é o arrogante bilionário Willy Banks que irá pagar caro via plano mirabolante de sabotagem e extorsão. Seu personagem engana e leva à falência um dos 11 integrantes originais da gangue, o mais flamboyant do grupo, Reuben Tishkoff (Elliot Gould). Em busca de vingança, sabotam espetacular e absurdamente a inauguração do novo cassino do malvado, o que rende seja lá que diversão o filme tem para oferecer. Isso inclui conseguirem uma das brocas gigantes responsáveis por cavar o euro túnel. É tudo repetido com o já estabelecido padrão de qualidade da franquia, os ternos são lindos, os cabelos todos no lugar, embora desta vez o papel feminino esteja restrito a Ellen Barkin, que ainda amarga piada sobre sua já avançada idade (para esse tipo de filme). Supervisionado por Soderbergh, que em 1989 estava em Cannes ganhando a Palma de Ouro com sexo, mentiras e videotape. O orçamento daquele filme provavelmente não pagaria os ternos aqui em desfile. Links: Onze Homens e um Segredo Doze Homens e um Novo Segredo
  15. A Aula de Cinema de Martin Scorsese (Cannes 2007) Por Kleber Mendonça Filho 25/05/2007 Um dos momentos mais esperados da programação 2007 do Festival de Cannes foi a Leçon de Cinéma (aula de cinema), evento que esse ano foi promovido para a segunda maior sala, a Debussy, por tratar-se do convidado especial de honra do festival, Martin Scorsese. Em anos anteriores, nomes como Wong Kar Wai e Oliver Stone ocuparam salas menores com suas aulas. Durante 90 minutos, Cannes ofereceu um dos maiores nomes do cinema mundial para uma platéia repleta de críticos, cinéfilos e, principalmente, jovens estudantes, que ouviram Scorsese entrevistado pelo veterano crítico da revista Positif, Michel Ciment. O diretor de Taxi Driver (Palma de Ouro em Cannes 1976) e Os Infiltrados (pelo qual finalmente ganhou seu Oscar, em março) discutiu o seu cinema a partir de cinco trechos da sua filmografia, apresentados na tela. Quentin Tarantino estava na platéia, prestigiando. Scorsese, que também está em Cannes promovendo o World Cinema Foundation, entidade por ele articulada para preservar a memória do cinema, deu início à sua aula de cinema lembrando da sua infância, e culpando a asma pela provável inclinação natural para o cinema. "Fraco, baixinho e asmático, o esporte não era a minha praia, e eu ainda apanhava. Terminei vendo À Beira do Abismo (The Big Sleep), de Howard Hawks, aos nove anos de idade, fator essencial para a minha formação". Sobre estudar em escola de cinema, Sorsese disse que foi importante, embora no final dos anos 60 o conceito de escola de cinema era bem diferente do que existe atualmente. "Na Universidade de Nova York, onde estudei, o curso não era "curso de cinema", mas existia um departamento de "motion picture" que incluía também televisão e rádio. Digo ainda que você pode aprender cinema sem ir a uma escola, descobri isso quando vi Bonnie & Clyde e guardei uma cena na cabeça de maneira errada. Quando Gene Hackman leva um tiro na cara, pra mim era um close-up, mas depois fui rever o filme e vi que era um plano médio, mais aberto. Entendi que a montagem, o som e o seu envolvimento com o filme ganham contornos pessoais, você sequestra o filme para você mesmo, e creio que isso é cinema". Scorsese falou também que os seus anos de formação, e toda a sua geração formada por Brian de Palma, George Lucas, Steven Spielberg, Paul Schrader, foram marcados pelos ventos que vinham da Europa. "Filmes como Jules e Jim, de Truffaut, O Desprezo e Viver a Vida, de Godard, o cinema italiano de Fellini e Antonioni, mudaram por completo a noção de "cinema de narrativa" nos EUA, defendido por Hollywood. Scorsese ilustrou isso com um trecho do seu Caminhos Perigosos (Mean Streets, que passou em Cannes), onde pulos e o embaralhamento de informações nos primeiros minutes do filme, onde apresenta seus personagens, mostram influências diretas desses cinemas estrangeiros. "Bom lembrar que antes eu fiz Sexy e Marginal (Boxcar Bertha) para Roger Corman, que foi outra escola importante para mim. Nesse filme, ele me ensinou uma coisa que eu ainda não havia pensado: "filme o mais difîcil no início", tínhamos cenas com trens, e vocês sabem que trabalhar com animal, criança e trem é duro. Quer fazer o segundo take com um trem? Espera meia hora o trem poder dar ré e voltar pro lugar certo. Terminamos filmando todas as cenas com trens e vagões nos primeiros quatro dias. Corman me ensinou também a fazer um filme em 24 dias." Num contato como este com cineasta cuja obra é tão acompanhada revela-se fonte inesgotável de anedotas que tanto auxiliam na compreensão do cinema e dos seus mecanismos, como também desmistificam obras que muitas vezes são vistas com zêlo excessivo por parte dos que as apreciam. Scorsese, por exemplo, explicou que um dos motivos que o levou a filmar Touro Indomável em preto e branco foi o fato de seu filme estar sendo lançado numa safra 1979-1980 composta por mais três filmes de boxe, engarrafando o mercado. "Um dos filmes era Rocky II, outro era Negócios Com Mulher, Nunca Mais (The Main Event, com Barra Streisand e Ryan O'Neal), e um outro com um canguru boxeador. Eu pensei, se o meu for preto e branco, talvez ele se destaque, o que, claro, trouxe problemas para o estúdio United Artists, que não queria lançar um filme preto e branco em 1980. Mas Irwin Winkler, produtor, conseguiu convencê-los, ou lembrá-los, que dois filmes em preto e branco - naquela época recentes - tinham ido bem de bilheteria - Lenny, de Bob Fosse, e Lua de Papel, de Peter Bogdanovitch -, e terminaram aceitando. Contextualizando historicamente a sua trajetória, ele mostrou sequência memorável de Depois de Horas (After Hours, 1986), sua comédia de humor preto-piche sobre um nova-iorquino que perde-se na noite louca de Manhattan. Lembrou que o filme marcou precisamente o fim do sonho da sua geração, que surgiu nos anos 70 com filmes autorais bancados pelo mercado. "Em 1985-86, eu não teria tido mais a chance de fazer um filme como Touro Indomável, da mesma maneira que eu vi o projeto de A Ultima Tentação de Cristo ser cancelado. Como alternativa, fui fazer Depois de Horas, 40 noites de filmagem que me ensinaram o quanto o gênero comédia é difícil". Sobre o uso de música nos seus filmes, Scorsese disse que as imagens puxam as músicas, e mostrou cena de Cassino onde o personagem de Robert de Niro apaixona-se à primeira vista pela mulher interpretada por Sharon Stone. "Em Os Infiltrados, ambientado hoje em dia, eu tive dificuldade porque adoraria conhecer bandas que sei que são boas, como Radiohead, Coldplay, mas não a conheço. Fomos em radiolas de ficha em bares e anotamos músicas presentes, e parted as escolhas veio dessa forma." Martin Scorsese trabalha atualmente na continuação de dois projetos que, há dez anos, elevou ainda mais a sua imagem de apaixonado pelo cinema. Depois de 100 anos de Cinema Americano (1995), onde analisou o cinema do seu país que o levou a entender melhor esse meio, e Mio Viaggio in Italia (2001), trabalho ainda melhor sobre a herança de cinema italiano, ele prepara An Observation on British Cinema (Uma Observação Sobre o Cinema Britânico) e a segunda e aguardada parte para a sua viagem ao cinema da Itália. "São trabalhos que estou realizando com Thelma Schoonmaker", a montadora que é sinônimo do que entendemos como "a Martin Scorsese picture".
  16. Entrevista de Abel Ferrara (Cannes 2007) 24-mai-07 O novo filme de Abel Ferrara, Go Go Tales, é delicioso, e a palavra não é exatamente frequente para filme de Abel Ferrara, diretor de O Assassino da Furadeira/Driller Killer, Vício Frenético e, ano passado, Mary, em cartaz atualmente no Recife. Essa pequena crônica em tom farsesco, filmada na Cinécitta, em Roma, e ambientada numa boate nova-iorquina, foi programada fora de competição em Cannes como "midnight movie" (exibido quarta à noite), e seu status de "meia-noite" só pode ser interpretado como tendo sido colado automaticamente via reputação de Ferrara, uma vez que Go Go Tales pouco tem de "midnight movie". Passa como um Woody Allen, ou um Altman, sem nunca deixar de ser do homem em si. Fomos entrevistar Ferrara num dos hotéis de Cannes. Às 11 horas da manhã, ele estava sóbrio, com muita vontade de conversar e aparentemente feliz. A interpretação é a de que ele já está entendendo que o filme agradou em Cannes, motivo de alívio para qualquer realizador. "Nós finalizamos o filme em cima da hora, sem mostrar para ninguém, e à essa altura, você só espera que a coisa não naufrague por completo", disse Ferrara à reportagem do JC. O comentário sobre Ferrara estar sóbrio não é injusto ou deslocado. Notório bebum, suas histórias de festivais são lendárias, uma delas transmitida pelo canal HBO Brasil, que o entrevistou no Festival de Veneza anos atrás, e Ferrara dormiu na frente da câmera, durante a entrevista. Cada vez mais filmando com dinheiro europeu, Ferrara está no formato atual de produção que tem dado asilo artístico a alguns dos principais autores dos EUA (vide Allen na Inglaterra, Van Sant e Lynch na França). Go Go Tales lembra bem de longe The Cotton Club, exceto pela leveza que aquele filme de Coppola não tinha. Willem Dafoe é o dono/gerente da espelunca chic Ray Ruby's Paradise, onde tudo pode ser visto, mas não tocado. A dona do imóvel reclama que o aluguel está atrasado quatro meses, as meninas em exposição reclamam o pagamento também atrasado, os clientes animados com os estímulos sensuais não percebem a ameaça constante de falência. E Ray cria uma maneira de ganhar na loteria para salvar o seu paraíso. A narrativa flui como água num teatro de egos e beleza comercial, muitos seios à mostra, numa série de pequenos incidentes relacionados à satisfação ou a falta dela, seja sensual ou financeira. É um espaço dominado pelas mulheres, razão de ser do Ray Ruby's Paradise. "Eu só fui me dar conta do quanto aquela boate lembrava Cannes quando eu cheguei aqui essa semana, e fiquei esperando por Tarantino, que deu um bolo na festa do seu próprio filme. mentira, ele chegou umas três da manhã. Mas Cannes é um go-go club, não tenha dúvida", disse Ferrara so seu padrão oral que não conhece pontuações. Ferrara disse que o papel de Ray Ruby foi escrito para Christopher Walken, que não se interessou. "Oito anos atrás eu estava em Cannes tentando vender o filme como um Sopranos, antes de Os Sopranos existir. Depois, o filme foi quase feito com baixo orçamento tendo Harvey Keitel no papel principal, em Nova York, mas não deu certo". Sobre a grande discussão em Cannes esse ano, as mudanças no fazer e ver filmes, perguntamos a Ferrara se ele resiste à idéia de trabalhar com digital, uma vez que seus filmes continuam sendo rodados em película 35mm. "Não é isso, quando levantamos dinheiro para fazer um filme, os gastos com película terminam sendo o mínimo, mesmo se você considerar que o ator vai receber um décimo do que ele recebeu por O Homem Aranha. Os caras da Kodak, das empresas de negativo, não estão entregando os pontos, e há muitas facilidades", diz. De qualquer forma, eu quero lançar um filme na internet, digamos, em capítulos. Eu, Mathew Modine e Willem Dafoe queremos fazer uma versão de O Médico e o Monstro, em capítulos de dez minutes, e ir lançando aos poucos". Para um cineasta que assinou diversas crônicas feitas em Nova York, com forte sabor de locação, perguntamos se filmar na Cineccitá não teve sabor diferente. "Eu tive a liberdade de ir atrás daquele lugar que eu tinha na cabeça e construí-lo na Cineccitá. Isso me deu a chance de criar do zero o lugar das minhas lembranças boêmias, o Limelite, que ficava no cruzamento da rua 20 com a Broadway, a dois passos do ateliê de Andy Warhol. Não sei bem porque, mas aquela área virou paraíso das boates de strip tease, e hoje ela está praticamente irreconhecível. Na Cineccitá, nós filmávamos e fizemos festas incríveis nos finais de semana, ali mesmo no estúdio. Foi a perfeita recriação, para o filme e para as minhas lembranças. Só faltou cobrar ingresso e consumo".
  17. Estou curioso , principalmente devido à volta de Michelle Pfeiffer , longe do cinema há quase cinco anos . E ela continua linda !
  18. Pode parecer bobagem , mas também prefiria a Warner , por questão de distribuição , copiagem , design e outras besteirinhas ,hehehe . Espero que esse filme seja bom e se torne uma franquia . Nicole está precisando , desesperadamente , de um sucesso blockbuster . Até porque The Invasion , a cada dia que passa , aparenta ser a bomba do ano .
  19. Auf Der Anderen Seite Passou ontem na motra competitiva com boa receptividade o filme Auf Der Anderen Seite (em inglês, Edge of Heaven, À Beira do Paraíso), do alemão de origem turca Fatih Akin. Há três anos, Akin ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim com Contra a Parede. Mais uma vez, o cinema europeu reflete a questão das fronteiras e das diferenças entre culturas e países, entre o rico e o pobre, algo visto na segunda-feira na produção austríaca Import Export, de Ulrich Seidl, também competição. Akin faz um filme de enorme coração, analisando as relações íntimas que unem alemães e turcos. Como no filme de Seidl, há duas histórias paralelas. Ali (Tuncel Kurtiz) é um alemão de origem turca, professor universitário sem muita convicção. Seu pai apaixona-se por Ayten (Nurgul Yesilkay), uma prostituta que não vê Yeter (Nursel Kose), a filha de 27 anos, há muito tempo. A paixão do pai por Ayten acaba tragicamente, deixando o filho dele, Ali, com o desejo moral de procurar a filha em Istanbul, e tentar garantir algum futuro para a garota. Paralelamente, Lotte (Patrycia Ziolkowska), uma estudante alemã, conhece Yeter, que fugiu da Turquia por causa de problemas politicos. Lotte leva a turca para dentro de casa, sob a compreensiva observação da mãe de Lotte, Susanne (Hanna Schygulla). As meninas apaixonam-se e Lotte terá que lidar com a deportação de Yeter de volta para o seu país. Não deixa de ser maravilhoso observar que, num país tão marcado historicamente pelo ódio às diferenças, surja um filme feito por um imigrante turco que relate uma Alemanha tão mãe. A personagem de Schygulla (atriz maravilhosa, veterana de Fassbinder) parece simbolizar a Alemanha de hoje, compreensiva, experiente e dona de um coração aberto que parece ter lugar para muitos. Links: Import Export Contra a Parede
  20. Import Export (Cannes 2007) Import Export não ficaria deslocado numa sessão dupla miserável com Baixio das Bestas, o filme pernambucano de Claudio Assis. No filme de Seidl, um olhar brutamontes sobre a miséria social e humana na Europa, promove-se uma troca de lugares entre uma ucraniana que vai para Viena tentar ganhar a vida como babá e faxineira, e um jovem austríaco, aprendiz de segurança, que vai à Ucrânia tentar trabalho, fugindo de uma vida sem perspectivas em casa. Os dois personagens, ambos jovens, não se relacionam durante o filme, que é claramente dividido em duas partes que correm paralelas. Eidl, cujo filme anterior, Dogdays, passou no circuito internacional de festivais na temporada 2002/2003 (não teve distribuição brasileira) era um retrato dantesco de um universo austríaco humano de classe media, perdida em perversões sexuais, parece ter melhorado um pouco. Sua personagem principal, Olga (Ekaterina Rak), mãe solteira que deixa o filho pequeno com a mãe, inspira nossa total simpatia, e as dores dela são as nossas. Trabalhando num asilo para idosos, há muita humanidade nessa garota que, antes de abandonar seu país, tentou um emprego num site de pornografia. Os problemas do filme começam quando Seidl engata a sua marcha perversa ao mostrar um prazer/desejo peculiar em escancarar a miséria humana, aumentada via sua preferência de trabalhar com não atores. A linha que separa o documentário da ficção nesse filme é realmente muito tênue. Especialmente questionável é a utilização de idosos em estado vegetativo ou terminal, no asilo real, ao que parece inconscientes de que estão num filme. A viagem de Paul (Paul Hoffmann) à Ucrânia na companhia do seu padrasto canalha num caminhão (vão entregar máquinas ultrapassadas de videopoker, "só o melhor para os russos") também é estranhamente repelente. Fazem um tour por alguns dos piores bairros do leste europeu, passando pela Eslováquia e entrando na Ucrânia, restos decrépitos de moradias soviéticas, uma delas especialmente assustadora que faz qualquer favela brasileira parecer um lugar bem mais humano. E é frio, Seidl fez questão de filmar tudo isso gelado e inóspito em dois invernos (2005/2006). Na marca dos 90 minutos, qualquer tentativa de respeitar o filme esvai-se numa longa sequência em que padrasto e enteado humilham uma prostituta (provavelmente verdadeira), e o espectador começa a suspeitar que o diretor parece estranhamente interessado na cena. As semelhanças com Baixio acabam aí, pois Seidl partiu para fazer um documentário ficcionalizado com a sua visão de mundo, enquanto Assis fez um retrato claramente fabricado da sua visão de mundo. Links: Baixio das Bestas A Beira do Paraíso
  21. O Homem de Londres (Cannes 2007) Eu não lembro de ter visto um filme tão lento e enlouquecedoramente monótono em toda a minha vida como The Man From London (O Homem de Londres), do húngaro Béla Tarr. Também na competição, passou terça à noite e viu a maior debandada até agora esse ano da sala, que sempre vem acompanhada do sinistro ruído das cadeiras, que batem nos encostos toda vez que alguém as deixa. E, claro, não estamos contando os que fizeram da Debussy um dormitório. Curiosamente, este que vos escreve não dormiu, talvez estimulado pela vontade mórbida de ver aonde aquilo ia dar. Com duas horas e 20 minutos que passam como sete horas e 80 minutos, The Man From London poderia ser exibido para franco atiradores em tropas de elite no mundo inteiro como teste de atenção e paciência. Depois de meia hora sendo testado, comecei a desenvolver passatempos como cronometrar a duração de qualquer um dos planos. Uma porta, por exemplo, é trancada e permanecemos um minuto e dez segundos olhando para a mesma. Dois minutos e 30 vendo um homem comendo de costas. Quando o plano não é fixo, a câmera está muito lentamente tentando chegar a algum lugar, de uma luminária de teto até vermos a sala, a imagem leva 45 segundos para baixar. Hmm. Para dar algum crédito a Tarr, não há dúvida de que ele fez um filme como nenhum outro, e que a repetição faz parte de uma trama que envolve culpa, morte e dor à beira de um mar europeu. As atuações (Tilda Swinton dublada em húngaro é uma das inúmeras excentricidades) que parecem querer destituir Robert Bresson do seu estilo bressoniano chamam a atenção pela estilização total do ator e da idéia de drama. Um rosto chora não pela face em si, mas apenas pelos olhos. De qualquer forma, a experiência completa de ver esse filme nos leva perdidos aos pântanos da visão torturante de um cinema que ainda vem acompanhado de uma partitura musical enervante (re-re-re-re-re-repetitiva), Tarr reforça a sensação de estarmos vendo uma piscina olímpica sendo enchida com uma xícara.
  22. Fox vai distribuir novo filme de Zé do CaixãoDeu na Variety, a mais importante revista da indústria, que a Fox vai distribuir no Brasil e em Portugal o novo filme de Zé do Caixão, Encarnação do Demônio, acordo fehado em Cannes. Este é seu primeiro longa em 28 anos, e fecha a trilogia até agora inacabada composta pelos hoje clássicos (pouco apreciados no Brasil, onde filme de horror é ainda mais desrespeitado do que em outros países) À Meia-Noite Levarei Tua Alma e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver. Encarnação é uma produção da Gullane Filmes e Olhos de Cão. Zé do Caixão precedido pela vinheta da Fox, mundo estranho.
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