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Forum Cinema em Cena

Muviola

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  1. É parte da trilogia "Road Movies", que tem "Alice na Cidade" e "Movimento em falso" como filmes anteriores. Eu acho que realmente não está na primeira prateleira dos mais famosos, mas eu gostei muito.
  2. Wim Wenders sempre amou o cinema. E por conta de todo este amor, ele sempre teve uma perspectiva pessimista para o cinema como arte e mídia. Wim Wenders ama também a estrada e tinha relação um tanto conflitiva com a Alemanha da epoca, com suas fronteiras internas físicas e psicológicas. Wim Wenders ama os EUA, mas critica o tanto que a influência cultural na Alemanha, em que "os americanos estão no nosso subconsciente". Em "No Decurso do tempo", mais conhecido como "Kings of the Road", um conservador reparador de projetores itinerante (imagino que tenha sido uma inspiração para "Cinema, Aspirinas e Urubus") testemunha um homem enfiando seu fusca no meio de um lago. Este homem vem de um casamento fracassado e do exterior, logo é possível supor que trata-se de um suicida. Não que isso seja ou gere uma trama; não há um objetivo para as viagens, um ponto final, há apenas a estrada. E é nela, na complacência e na passagem de tempo e espaço que passamos a questionar um tanto mais quem somos. Interessante que Wenders escrevia o roteiro conforme filmava, dando um caráter episódico ao filme. E ele não nos priva de mostrar a "existência": ele foca seus personagens pelados, cagando, mijando, masturbando. Não acontece nada nestas 3 horas, mas acontece tudo que vivemos.
  3. O último filme que havia comentado aqui foi do Denis Villeneuve. Agora, é um filme que o canadense chupinhou para o seu "Suspeitos" e, obviamente, sem as mesmas camadas. (sim, sou um tanto antipático ao seu cinema). "Spoorlos", ou "Silêncio do Lago" na versão br, é um suspense/terror holandês, dirigido por George Sluizer, baseado em um romance de certo sucesso na época (o escritor é o roteirista). Essencialmente, um casal de holandeses está viajando pela França, pára em um posto para reabastecer e, de maneira repentina e misteriosa, a jovem some. Seu namorado entra numa espiral de desespero para entender o que se passa e.... ...eis que o filme não segue de forma alguma a expectativa normal do gênero. Passamos a ter dois focos: o namorado, em sua obstinação ao melhor estilo capitão Ahab para encontrar o que passou e a montagem nos ajuda a entender exatamente isso, porque se passam 03 anos e parece que ele está exatamente no mesmo ponto; e o mais fascinante, temos o foco também no agente causador do sumiço. Sluizer não faz a mínima questão de esconder quem é esta pessoa; pelo contrário, o intuito é mostrá-lo e o mais extraordinário é que ele não é um típico serial-killer, incel e misógino, mas um pai de família e professor respeitado. Ele é essencialmente um personagem nietzchiniano, se perguntando sobre os limites humano "além do Bem e do Mal". Como falei, o mais importante não é entender exatamente o que de fato aconteceu, isto fica até certo ponto dedutível no momento que nos aproximamos do clímax, mas sim o que levou a isso: do encontro entre quem busca uma verdade e quem tem sua resposta.
  4. Tem uma versão nova, do Thomas Vinterberg com Carey Mulligan como a mulher cortejada, mas eu tampouco vi. Imagino que tente atualizar este papel feminino, mas pensando que é um filme de repercussão inexistente, não me parece que tenha sido bem-sucedido.
  5. Filme que fez Denis Villeneuve ficar conhecido para a cinefilia mundial, "Polytechnique" reencena o massacre que houve nesta faculdade em Montreal, em 1989. Como qualquer filme com esta temática, é difícil não fazer comparações com "Elefante". Apesar de achar que a obra de Gus Van Sant está muito acima, a abordagem é distinta. O assassino tinha intenção de matar mulheres por causa do "feminismo" e Villeneuve foca em três pontos: o assassino em sua preparação e na própria matança; duas amigas, em especial uma delas (muito parecida com Marjorie Adriano, por sinal) que se prepara para uma entrevista num ambiente machista; e outro estudante, próximo às duas amigas anteriores. Confesso que por alguns momentos estranhei a montagem, porque o filme claramente tem a mensagem apontando a doença do antifeminismo, mas durante boa parte do tempo o foco vai para a caçada do assassino e a reação do terceiro estudante, usando as mulheres como vitimas sem nome. Por fim, ele volta as atenções para a personagem feminina principal, ainda que usando um discurso meio superficial, para não dizer problemático: uma "conversa entre mães".
  6. Falando em Olimpíadas, o Kelvin é de Santos (ou Guarujá, não me lembro) e ele falou que não ouvia nada no seu fone que leva ao ouvido, mas que se ouvisse seria Charlie Brown.
  7. Não havia me atentado que Volonte foi o ator principal dos dois ganhadores da Palma. Isto porque, para mim, sua interpretação máxima é em "Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita"
  8. Gênio gênio gênio! Fico feliz que numa área que muitos não têm o devido reconhecimento, ele o teve.
  9. Lançado no mesmo ano daquela obrazinha qualquer "O Conformista", "A Estratégia da Aranha" é dos poucos filmes inspirados em escritos de meu escritor favorito Jorge Luis Borges (interessante que mais ou menos na época, Antonioni havia adaptado Cortázar em Blow Up). Já começa com o protagonista, Athos Magnani chegando numa cidadezinha na Itália, que mais parece um lugar-fantasma. Descobrimos que ele é filho de uma lenda local, que foi assassinado pelas costas por fascistas; mais do que ser filho, ele é idêntico ao pai e ambos carregam o mesmo nome. Sua visita foi à pedido de uma ex-amante do pai que deseja que Athos investigue as circunstâncias suspeitas do assassinato. Bertollucci faz um jogo duplo de presente/passado com pai/filho, num questionamento histórico, filosófico e psicanalista. A decisão de fazer os mesmos atores fazerem passado e presente (estrategia usada por Spike Lee em Das 5 Bloods) dá mais camadas a estas relações. Já que é adaptação tem de haver muita citação literária. Bem que poderia haver mais adaptações dele.
  10. Eu não costumo gostar muito da frase "tal obra nunca conseguiria ser feita hoje". Acho um tanto simplista, mas no caso deste "Louca Paixão", a afirmação pode ser dada. E olha que estamos falando de Paul Verhoeven, aqui no seu segundo longa. Os dez primeiros minutos deste filme tem sonho de duplo assassinato; Rutger Hauer (poucos atores conseguem atuar tão bem com o corpo todo) com o pau para fora e se masturbando; ele transando e guardando "recordações" das mulheres. E isto é só o começo... Verhoeven envolve sua comédia romântica entre o suspense e o drama, sempre com um pézinho no grotesco. Ele absolutamente não teme mostrar o sexo e a doença, com todos os fluidos que acompanham o corpo nestas fases. Este é até hoje o filme holandês de maior sucesso e é uma bela apresentação do que este doido mostraria posteriormente.
  11. Olha, eu consigo enxergar o lado dela: não era proteger o pai, mas o irmão. Só que claro, entendo a sua opinião.
  12. Tenho um estranho fascínio por estes documentários que analisam vida e obra de grandes personalidades. Claro, o fascínio é pelo próprio personagem, mas o estranhamento citado é por eu desgostar da maior parte destes produtos. Boa parte deles não consegue distribuir de maneira satisfatória esta duplicidade, além do próprio formato de "cabeças falantes" ser um pouco cansativo. Até por isso, eu gostei da abordagem deste retrato do grandíssimo Arthur Miller por sua filha mais nova, Rebecca (também esposa de Daniel Day-Lewis). Desde o princípio, ela já aponta a dicotomia da figura do pai: para ela, é o sujeito meio bonachão, caseiro e carpinteiro; para o mundo, um colosso, dos maiores escritores do século XX. É justamente esta intimidade familiar, mostrada numa série de vídeos caseiros filmados desde a juventude de Rebecca até a morte do pai, que nos ajuda a enxergá-lo um pouco mais com os olhos da filha e há uma sinceridade latente em como isso é mostrado, diferente de ouvirmos apenas as "cabeças falantes". Inclusive nisso, as cabeças que surgem (destaque para um emocional e fragilizado Mike Nichols) são importantes para o entendimento do homem e do mito. Da infância classe média-alta e a queda econômica por conta da Queda da Bolsa; as primeiras obras-prima, em especial a biográfica "Morte de Um Caixeiro Viajante"; a perseguição do Macarthismo, por mais que ele tenha abandonado desde cedo o Marxismo, que gerou sua segunda peça mais famosa "Bruxas de Salem"; e por fim, seus três casamentos, em especial o segundo, com Marilyn Monroe. Há carinho e há muita tristeza nas falas de Arthur Miller, seja no período imediatamente posterior à morte dela, seja já na sua velhice. Apesar do carinho, ela não deixa que os fatos problemáticos de seu pai sejam omitidos: traição no primeiro casamento, pai ausente dos primeiros dois filhos e principalmente abandono do irmão de Rebecca, Danny, nascido com Down. Por fim, acho especialmente inspirado o título, que soa simples, mas era que ele gostaria que estivesse em sua epígrafe: "Escritor"
  13. Inspiração para algumas obras importantes recentes, tais quais "Três Reis", "Sangue Negro", "Destacamento Blood" e até "Senhor dos Anéis", "Tesouro de Sierra Madre" é um dos exemplos mais fortes do cinema americano por excelência, em seus melhores tons. Além disso, é uma das primeiras produções de Hollywood filmadas em locação e isso faz uma sensível diferença no resultado final. Humphrey Bogart é um desempregado americano no México da década de 20, atrás de esmolas e empregos até que esbarra com outro americano na mesma situação e ambos são passados são passados para trás numa oportunidade, mas então descobrem acidentalmente por meio de um senhor a possibilidade de encontrar ouro nas montanhas da redondeza de onde estão. Os três parte juntos para o garimpo. John Huston, adaptando o livro de mesmo nome quer mais do que mostrar a violência por trás do garimpo, ele quer extrair o que a chance da riqueza pode causar nos homens: cobiça, paranóia, decadência moral. Humphrey Bogart, na melhor interpretação sua que vi, passa por esta transformação entre o sujeito sem lá muita direção na vida, mas que tenta achar seu sustento de forma correta para uma versão absolutamente atormentada pela "febre do ouro", citada pelo veterano do garimpo Howard. Sua paranóia chega a níveis de famosos autocratas que temiam todos ao redor. Apesar de haver sim julgamento moral (muito também por influência do Código Hays), John Huston não quer limitar o destino apenas à tragédia. A ironia também é parte deste teatro de fantoches, mais uma das falas notórias do personagem do pai de Huston.
  14. Baal (1970) é a releitura de Volker Schlöndorff para a obra homônima de Bertolt Brecht, sua primeira peça completa. Quem dá vida a Baal é Rainer Werner Fassbinder, ainda jovem e acompanhado aqui de uma série de atores que fariam parte de sua trupe. Ele é uma figura um tanto ambígua, capaz de gerar as mais diversas reações nas pessoas ao redor: devoção, ojeriza, tesão. Ele é um furacão, destruindo a si mesmo e a todos que passam por seu caminho. Fassbinder o interpreta quase como se estivesse refletindo sua futura persona: anárquico, narcisista, sujo e fugindo de qualquer expectativa que tenham sobre ele. Assim como boa parte da produção alemã da época, é uma reflexão sobre o estado incerto de um país ainda se tateando, Baal foi detestado pela esposa de Brecht, o que fez com que sumisse de circulação durante muitos anos.
  15. Um tanto decepcionado aqui. Thomas Vinterberg receber indicação ao Oscar de direção pelo quê? Câmera na mão? Ele já fez isso melhor anteriormente. Não entendi muito bem a intenção aqui: beber pode levar ao descontrole? A falta de comunicação no relacionamento te leva a uma infelicidade que te leva à bebida? A solidão pode te fazer mais suscetível a ser autodestrutivo? Todas são questões de respostas muito simples, distantes do que deveria ser o questionamento inicial, fora a total previsibilidade das ações. Se alguém merecesse uma indicação que fosse Mads Mikkelsen.
  16. Eu também o vi recentemente e lendo seu relato, além do paralelo muito bem-lembrado de Arábia, me veio à cabeça as minhas recentes visitas ao "Wendy e Lucy", numa outra perspectiva geográfica e histórica, mas lidando com a perda de raízes a partir da necessidade de mudança em vista de uma tentativa de progresso e econômica e o doc do Pasolini "Love Meetings", neste caso por conta do contexto regional italiano, tanto em termos socioeconômicos como sexual.
  17. Em 1962, Pier Paolo Pasolini viajou por toda a Itália para entender sobre o princípio de tudo: o que os italianos, em seus mais diversos recortes regionais, econômicos, sociais, idade, gênero entendem por "sexualidade". A partir deste grande retrato, Pasolini recorta os sub-temas dentro do amplo espectro de sexualidade: sexo x amor; casamento x divórcio (a Lei do Divórcio ainda era inexistente na época); papel da mulher; visão sobre homossexualidade; proibição dos bordéis e prostituição de rua. Citando inspiração do cinema-verdade de "Crônicas de um Verão", de Jean Rouch e Edgar Morin, Pasolini não tem medo de expor e, até certo modo, constranger seus entrevistadores, seja criança, adolescentes, velhos, mas especialmente o lado mais machista e carola da sociedade italiana. O principal ponto foi ver como algo supostamente tão pessoal quanto sexualidade consegue definir tão bem a complexidade de um lugar como a Itália, com sua claríssima divisão do norte burguês, intelectual (destaque para participação do grande Alberto Moravia), urbano, mas moralista com o sul agrário, atrasado, mas menos comedido. Eu só não entendi muito bem o epílogo, me pareceu um pouco destoante do apresentado anteriormente, mas valeu ver esta provocação do ainda iniciante Pasolini.
  18. Segundo filme da leva de Kelly Reichardt, "Wendy and Lucy" deve ser um dos primeiros olhares da crise econômica de 2008 nos EUA. Wendy e a fofíssima Lucy estão à caminho do Alaska para uma jornada de trabalho intermitente. Nada se sabe sobre a garota, apenas que ela tem uma irmã e cunhado no Indiana, mas fora isso ela é essencialmente um corpo em movimento. Tudo que ela tem é um carro e o companheirismo de Lucy. Até que numa manhã dormindo em lugar proibido, o carro pifa. Depois, numa decisão errada, ela descobre que Lucy se perdeu. Presa num lugar que nada tem, sem ter onde ficar, com quem falar e perdendo seu norte. Para mim, o mais notório do filme é a forma como fala de uma situação crítica sem precisar berrar e abre os olhos para pequenos detalhes que normalmente não são tão tratados em obras do tipo: não se perde apenas os pertences numa crise econômica, mas ela traz muita solidão, pois é preciso buscar algo, normalmente longe e se nao é você quem o faz, será um familiar ou amigos. Além disso, é bem ilustrativo ao reforcar que uma vez caindo neste espiral de pobreza, é muito difícil escapar; isso é mais bem comentado na fala do segurança que se aproxima de Wendy (muito provavelmente por sua própria solidão ) "É preciso um endereço para ter um endereço e um trabalho para ter um trabalho". Tendo ainda uma das sequências mais tristes que vi recentemente (o travelling no canil), Wendy e Lucy é o retrato muito gentil, mas não menos duro de sobrevivência.
  19. "Empty Man" é o primeiro trabalho de David Prior, que na indústria é conhecido por ter dirigido e editado alguns making-of de filmes do David Fincher. Claro, há algumas composições fincherianas. Baseado em uma graphic novel que desconhecia, este filme tem um excelente prólogo de 20 minutos, ao melhor estilo "O Exorcista"; nos anos 90, dois casais estão numa trilha no Butão e o silêncio bucólico traz um estranho ruído. A partir daí a merda acontece. Depois, nos tempos atuais, um ex-policial começa a investigar o sumiço de um grupo de adolescentes...acho que este é o máximo que da pra falar. A duração bem longa é escancarada por um filme que explora diversos subgêneros (filme de seita, sobrenatural, thriller psicologico, drama familiar). Mesmo sendo sua primeira experiência, é possível enxergar a segurança de Prior e, sendo um discípulo de Fincher, é notório ver sua preocupação em cada aspecto da construção cinematográfica, destacando som e efeitos visuais. Sendo possível enxergar várias inspirações e também não fugindo de clichês do gênero (ex-policial solitário de passado tormentoso, fita vhs, inicio em país "exótico"), Empty Man é uma diversão que não é nada vazia.
  20. Primeiro longa de Christian Petzold, "Segurança Interna" de 2000 não faz questão de explicar absolutamente nada. Uma família alemã está em Portugal, aparentemente em fuga, mas do quê? De quem? O que fizeram? Para onde vão? O foco é na filha adolescente Jeanne, que solitária, vive seu coming of age, nesta constante fuga com seus pais. Como rebelar-se quando já vive -se à margem? Como descobrir novas músicas, curtir o que vestir, aflorar sexualidade? Petzold consegue mesclar estas questões com seu cinema de montagem seca, elíptica e objetiva. Uma estreia marcando forte presença.
  21. Este é um dos filmes com mais citações memoráveis que já vi: "O amigo gosta de mensagens? Então guarda essa: cada um aprende com as vilanias de cada um e continua a andar. Num é possível, e é." "O homem progride porque é desgraçado e se aperfeiçoa em desgraça e para a desgraça."
  22. Acho que dos principais envolvidos do Superman, só Gene Hackman, John Williams e Terrence Stamp estão vivos ainda, né?
  23. Fiquei muito feliz em saber que o Mubi vai ter retrospectiva com boa parte das obras de Kelly Reichardt. Poderei tirar meu atraso, pois até hoje só havia visto "Certain Women", que eu já havia gostado, com seus gestos pouco grandiosos e verborrágicos, mas altamente significativos. Este detalhe de pequenos gestos e palavras é também preponderante em "Old Joy". Um fio de enredo, dois amigos vão fazer uma trilha antes que um deles se torne pai, é um grande exercício no entendimento do que tange amizade adulta; o distanciamento, a desconexão e uma tentativa de esconexão, tanto em corpo como em mente. Tudo regado a bela composição sonora da excelente Yo La Tengo. Kelly Reichardt ainda inclui comentarios políticos, que à primeira vista podem soar meio fora do lugar, mas que é um tanto premonitória, pensando na grande crise de três anos depois, o que se encaixa perfeitamente com o clima melancólico final. Muito bonito.
  24. Último filme dos Contos Morais e também o último da série que faltava assistir, "Amor à tarde", diferencia dos outros contos por trazer um protagonista casado; um feliz casamento burguês. No entanto, esta felicidade não impede, na verdade até é uma válvula para sua constante atração a todas as mulheres parisienses. Rohmer films duma maneira que todas estas mulheres de fato sejam atraentes aos olhares masculinos; seu prólogo inclusive mostra uma sequência de seu protagonista com as mulheres que participaram dos filmes anteriores da série. Sua situação muda um tanto quando uma ex-namorada de seu amigo volta dos EUA (O poder do acaso, constante em sua obra) e eles passam a se ver frequentemente às tardes, no intervalo do trabalho dele Assim se arma o conflito: Frédéric nunca deixa de amar sua esposa e filhos e até certo modo continua atraído a ela, mas a ideia da possibilidade de dividir este amor e paixão por qualquer outra o intriga e perturba; é a possibilidade de cruzar a linha entre o flerte e a ação. Rohmer usa este questionamento moral como um suspense, esperamos para quando a relação ira de fato acontecer. São obras bem distintas, mas este dilema me lembrou o "De Olhos bem Fechado". Meu ranking da série ficaria assim: 1) Minha noite com ela 2) A Colecionadora 3) Amor à tarde 4) Joelho de Claire 5) A padeira do bairro 6) A carreira de Suzanne
  25. Não li a polêmica biografia de Benjamim Moser, mas Susan Sontag foi provavelmente a intelectual mais pop depois de Sartre, uma escritora interessada sobre tudo, mas principalmente, que sabia escrever sobre tudo, concorde-se ou não com seus posicionamentos. Temos aqui um panorama geral da pessoa, num maior grau e da obra, num grau menor. Suas principais amantes e parceiras são ouvidas e muito é gasto sobre sua decisão de nunca ter se assumido como uma mulher lésbica. O que por si só é um tanto absurdo, pois ela era bissexual, um apagamento bastante recorrente na comunidade. Sobra pouco para sua obra e diferente do que muitos intelectuais e acadêmicos perpetuam, falar sobre os tópicos quentes e fazer parte da ação, tal qual em suas viagens ao Vietnã e Bósnia. Outro ponto que poderia ser mais bem discutido é a decepção com sua obra ficcional, de romances e filme (não sabia que ela havia dirigido). Para mim, o insight principal disso vem de uma de suas ex, que mencionou "Susan é insensível"; ela era formidável em destrinchar o outro, mas não conseguia buscar em suas próprias emoções, a inspiração para criar. Não importa, ela escrevendo de outros (Ou de tudo) fez eu me entender um tanto mais.
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