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Muviola

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  1. " Quatro Noites de um sonhador" é mais um daqueles títulos de Bresson que é exatamente o filme, aqui emprestando a premissa do "Noite Brancas", de Dostoiévski. É bastante bressoniano em sua forma, seco e direto, mas sendo seu segundo filme em cores, inclui "respiros", especialmente tratando dos momentos musicais, com destaque para Markos Ribas. Me pareceu que mais do que transpor a história de Dostoiévski e falar de "amor", ele quer discutir o estado da arte nesta França, pós-68. São jovens que ainda estão em busca das próprias vozes e fontes de inspiração.
  2. @SergioB. Olha que coincidência. Também assisti um Saraceni hoje. "Crônica da Casa Assassinada" foi uma das minhas leituras favoritas deste ano. A saga de Nina, a bela carioca que chega ao interior de Minas Gerais para se casar com Valdo Menezes, parte de uma decadente família aristocrata, estava cheia de ricas observações sobre um típico cenário brasileiro de preconceito, hipocrisia, religiosidade, inveja, ciúme, etc, numa polifonia ensurdecedora. Na adaptação para o cinema, Saraceni sabiamente tira o caráter polifônico, usa uma montagem extremamente elíptica e foca nas cunhadas Nina e Ana, antagonistas ente si e vitimas do ambiente altamente sufocante e envolvido de tanto remorso, dores e pecados que a Casa lhes impõem. A música de Tom Jobim ajuda a criar este cenário um tanto fatalista, mas ao mesmo tempo onírico deste ambiente.
  3. @SergioB. Olha que coincidência. Também assisti um Saraceni hoje. "Crônica da Casa Assassinada" foi uma das minhas leituras favoritas deste ano. A saga de Nina, a bela carioca que chega ao interior de Minas Gerais para se casar com Valdo Menezes, parte de uma decadente família aristocrata, estava cheia de ricas observações sobre um típico cenário brasileiro de preconceito, hipocrisia, religiosidade, inveja, ciúme, etc, numa polifonia ensurdecedora. Na adaptação para o cinema, Saraceni sabiamente tira o caráter polifônico, usa uma montagem extremamente elíptica e foca nas cunhadas Nina e Ana, antagonistas ente si e vitimas do ambiente altamente sufocante e envolvido de tanto remorso, dores e pecados que a Casa lhes impõem. A música de Tom Jobim ajuda a criar este cenário um tanto fatalista, mas ao mesmo tempo onírico deste ambiente.
  4. Power of the Dogs é baseado num livro que não li, mas me remeteu bastante ao japonês Yukio Mishima e também ao cinema de Claire Denis, no sensorialismo e nas camadas de masculinidade.
  5. Num determinado momento deste ano eu fiz uma maratona dos filmes de Kelly Reichardt. Faltava ver seu último, "First Cow". Os filmes de Kelly Reichardt não precisam ser grandiosos para serem imensos. É um cinema de detalhe e introspectivo. Esta simplicidade também é atrelada a sua capacidade de questionar e criticar o capitalismo norte-americana sem precisar de alto-falantes ou bandeiras. PS: gostei que o docinho que Cookie prepara é uma versão do nosso bolinho-de-chuva
  6. Parte da prolífica parceria entre Lina Wertmuller e Giancarlo Gianini, "Mimi Metalúrgico" é um filme que me surpreendeu. Digo surpresa porque confesso que não sou familiarizado com esta filmografia, portanto não esperava o tom satírico e jocoso quando li a sinopse. Mimi é um operário na Sicília que durante eleição local resolve votar no candidato do Partido Comunista em detrimento do candidato da Máfia. Ele é descoberto e resolve fugir para Turim. No entanto, ele também não escapa aos olhos dos capos no norte. Ele deixou sua mulher para trás e em Turim se apaixona por uma ativista meio trotskista, meio perdida e virgem. Esta sequência muito poderia ser parte de um drama, mas a condução é feita de maneira cômica, talvez porque a linha entre a comédia e a tragédia é genuinamente tênue. Inclusive, Gianini tem feições que me lembram muito o Carlitos de Chaplin, aquela cara meio cão-sem-dono, mas aqui sendo vivido pelo típico macho italiano. Algumas ideias e sequências são muito boas, como a maneira de marcar como são as mesmas pessoas que controlam a política, a polícia e a religião; a troca de gestos entre os dois enamorados em Turim no meio da rua; e a briga no sul, em que fica claro que não há convicções políticas ou morais quando se ganha um par de chifres.
  7. Eu achei que a Abbie Cornish fosse se tornar alguém que frequentemente apareceria em filmes deste quilate, mas ela sumiu
  8. Nossa, eu nunca ouvi falar deste. Boa dica. Mas eu achei que o pior filme dela, ao menos entre a crítica, fosse o "In the Cut".
  9. "Se gostou, geme" "A mulher que inventou o amor" é um filme de 1979, dirigido pelo português, radicado e extremamente afeiçoado ao cinema marginal paulistano, Jean Garret. Doralice descobre o sexo assim como muitas mulheres assim o fazem: pelo abuso. Ela é um pedaço de carne; sim, a alegoria é grosseira, mas a construção e iluminação da sequência é fabulosa. (direção de fotografia do grande Carlão Reichenbach, que também faz uma ponta) A católica convicta do casamento virginal descobre esta desilusão, entra para a prostituição em busca de sobrevivência e, por meio deste instinto, se torna a "rainha dos gemidos". A fama chega aos ouvidos de homens de todos os estratos sociais. "Se gostou, geme". Ela perde esta inocência da busca do amor e do casamento perfeito, se junta com um rico homem mais velho, que a inicia num processo de desconstrução e sofisticação à Hitchcock e passa a ser Tallulah. Há um resquício ainda da jovem virginal Doralice: seu amor romantizado pelo galã de novelas bissexual Carlos Augusto, que logo evolui para um comportamento obsessivo. E esta obsessão é marcante pois alia o desejo do antigo (Doralice) pelo gozo da atual (Tallulah). E esta Tallulah não é mais uma jovem submissa. Ela detém o controle das relações; ela fica por cima, ela objetifica e desdenha seus parceiros; elas os transveste. E ela manda "Se gostou, geme". A subversão (de trama e da própria personagem) é elevada à máxima potência na sequência final, onde desejo, posse, amor e gozo se mesclam numa dança entre o melodrama e o horror. "Se gostou, geme".
  10. Ainda pretendo ver, mas já comentei aqui que estou bem longe de ser entusiasta da obra de Villeneuve. Para mim, seus filmes são meio antisséptico, bem produzidos e feitos, mas falta alma, falta tesão.
  11. Citado por Pedro Almodóvar como seu filme de horror favorito, o espanhol "Arrebato", teve um recente lançamento nos EUA, criando novo burburinho para a obra (eu particularmente nunca tinha ouvido falar). Um cineasta de filmes B de horror (Eusbio Poncela, antes de iniciar a parceria com Almodóvar), recebe um pacote com um rolo e uma banda sonora de alguém que conheceu num passado recente. Presente na sua casa está sua ex-amante, Ana (a deslumbrante Cecilia Roth, antes de ser a mãe de um cinéfilo). Eu digo "ex", porque não fica la muito claro o status deste relacionamento. A partir do momento que ele liga a fita sonora, ativam memorias desta pessoa e de um passado repleto de confusões mentais pelo uso abusivo de heroina e, por que não, o cinema. Eu contei esta trama de uma maneira meio lógica, mas a construção é bastante sensorial, quase num questionamento metafísico, que une as consequências de abuso das drogas com uma busca de uma "realidade" que só a câmera cinematográfica é capaz de prover. A câmera alucina, aliena e vicia.
  12. Eu acho que as sessões mais decepcionantes são naqueles filmes que começam muito bem, rola aquela empolgada, mas do meio para o final se perdem. Este francês "Faca no coração" se encaixa no tipo. Uma produtora lésbica de filmes pornôs gays, alcoólatra tem de lidar com a própria obsessão com sua ex, que por sinal é a editora de seus filmes e ao mesmo tempo com uma série de assassinatos de alguns de seus atores. Os primeiros assassinatos são muito bem construídos, à base de muita fetichizações com máscara, couro e dildo. A primeira meia-hora mescla bem giallo, De Palma e um pastiche à luz de muito neon. No entanto, a abordagem se perde muito. O que era uma divertida psicanálise se torna uma jornada de espiritualidade tirada sabe-se lá de onde e até as mortes posteriores perdem o impacto e imaginação, para não dizer que é brega. Uma pena, poderia ter sido bem legal.
  13. Diante de uma carreira marcada por desafiar convenções narrativas, "Inland Empire" extrapola ainda mais o limites. David Lynch criou aqui uma verdadeira fita de Moebius narrativa. Temos a suposta personagem 1 de Laura Dern, Nikki Grace, uma atriz prestes a iniciar a rodagem de um filme; a personagem 2, Susan Blue, a personagem interpretada por Nikki Grace; temos uma outra garota que assiste à tudi, talvez presa num cativeiro, talvez emulando a gente, a platéia; e há a camada de Laura Dern, que acompanha a garota (ou a gente) estando numa platéia ela mesma, acompanhando o que acontece na tela. Lynch aproveita a imagem do digital para distorcer ainda mais a estas linhas e nos joga numa atmosfora de confusão, ansiedade, mas também euforia. E além de tudo aproveita para comentar o status da indústria cultural naquela máquina de moer sonhos, chamada Hollywood. Lembro-me que na época ele fez campanha para Laura Dern no Oscar com uma vaca. Ela não ganharia mesmo, pois era o ano de Helen Mirren , mas merecia muito a indicação. Que trabalho! Este ainda é o último filme lançado por Lynch (não sou daqueles que considera a obra-prima magistral "Twin Peaks: O Retorno" um filme de 18 horas), mas fico sempre na esperança que ele tenha alguna nova ideia numa de suas sessões de meditação.
  14. Em Las Vegas, se diz que "a Casa sempre ganha", ou seja o apostador pode ter sua sorte e ganhar seua trocados, mas não tente desafiar a Instituição, que terá seu destino merecido. Me pareceu muito apropriado aqui
  15. Poucos diretores têm na carreira a quantidade de grandes filmes que Robert Altman dirigiu nos anos 70. "McCabe and Mrs. Miller" foi o segundo dessa leva. Um anti-werstern (ou talvez revisionista), se passa no noroeste dos EUA, ao invés do sudoeste. A trama se inicia com McCabe, que chega no povoado de Prebisterian Church. Seu passado é envolto de mistérios e há uma construção mitológica em torno disso, comumente tratado no gênero. Ele é um homem de negócios e visa construir uma taberna e um saloon. Chega Mrs. Miller, uma prostituta com um tino para negócios e propõe parceria com McCabe para construção de um bordel. O sucesso posterior desencadeia uma série de interessados e interesseiros. Altman usa estas construções mitológicas para tratar do escrúpulo do grande capital frente aos pequenos negociantes que iniciam sua prosperidade; o próprio McCabe, que é muito mais ingênuo do que sua suposta mitologia, diz que representa o interesse de pequenos comerciantes. Tendo uma dupla no auge da beleza em Warren Beatty e Julie Christie, com os zoom-ins de Vilmos Zsigmond e música de Leonard Cohen - interessante que no último ano vi três filmes com essas composições, além deste, "Fata Morgana" e "Precauções Diante de uma Prostituta Santa" - é mais uma prova da incrível ecleticidade de Altman.
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