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Forum Cinema em Cena

bs11ns

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  1. Tudo Sobre Minha Mãe. Há anos venho tentando assistir o que muitos consideram a obra prima de Almodovar. Não assisti todos os filmes dele mas, certamente, dos que vi, esse é o melhor. Também amo Fale Com Ela mas esse aqui consegue ser mais real, direto e profundo. Vai diretamente na ferida, abre, expõe, sangra e é delicado sem ser insosso, forte, rude sem ser excessivamente melodramático. Te deixa com um ranço na garganta, uma vontade de explodir de emoção ou entrar em uma catarse agoniante. Os personagens são maravilhosos, todos. Extremamente bem costurados, humanos, possíveis, nem bons, nem ruins, apenas pessoas tentando ser o melhor que conseguem partindo das consequências de suas escolhas sem que, em momento nenhum, sejam julgadas pelas mesmas. Quantas vezes queríamos ter voltado atrás e agido de outra maneira? Quantas vezes tentamos não nos deixar levar pelo sentimento mas sucumbimos? Quantas mães não se perguntam todos os dias se os filhos vão no caminho que elas consideram como certo? Universo feminino, a área negra de Barcelona, o transexualismo, o homossexualismo, o teatro, o significado da vida artística, a capacidade de dar a volta por cima, se superar....Tudo isso é retratado brilhantemente pelo espanhol, por meio de um enredo sólido que ainda te faz refletir sobre como lidar com as perdas além de homenagear uma das melhores atrizes de todos os tempos, trazendo uma analogia sobre as semelhanças entre vida e arte e pincelar sobre a AIDS e suas devastações e também sobre os transplantes de órgãos, traçando um paralelo comovente entre morte e vida. Atuações soberbas, fotografia belíssima, trilha espantosa de boa e um texto que me fez rememorar momentos dolorosos sem os quais talvez não seria quem sou hoje. Talvez um dos melhores filmes sobre comportamento e relações humanas que eu assisti! Maravilhoso! 10/10bs11ns2011-04-17 21:17:53
  2. Mary e Max. Apenas dois senãos. 1 - Pra que acrescentar "Uma Amizade Diferente" no título? Distribuidores brasileiros realmente não sabem vender os filmes. 2 - A narração em off me cansou pois explicou demais o que era pra ter sido somente visto ou dito pelos dois personagens centrais. Subestimou a inteligência do espectador. De resto o filme é perfeito: a história sensível e delicada, a trilha um encanto, os personagens extremamente bem construídos, o universo maravilhosamente sombrio, a arte espetacular...O final previsível foi coerente e ajudou êxito dessa comovente animação. 9,0/10
  3. Tudo bem, eu tentarei. Mas o que seria flood? Fatal. A história central é muito boa e bem contada fazendo com que todas as outras tramas paralelas, ás vezes um tanto relevantes (o ruim relacionamento do personagem de Kingsley com o filho, Saasgard), sejam desnecessárias. As externas do filme são tão bucólicas quanto um escândalo de lindas. O texto ás vezes soa meio pretensioso, como se tivesse a obrigação de passar a todo custo qualquer mensagem. Esse é o maior erro do filme pra mim: ter muita pretensão. Não precisava pois a premissa já era forte pela simplicidade. Clarkson acho deslocada. Saasgard e Kingsley estão ótimos. Mas o filme é da Penelope. Ela dá um banho de atuação. Você fica hipnotizado por ela até o final, aberto e poético. Um filme de altos e baixos, válido principalmente pela fortíssima presença da espanhola. 8,0/10 Vincere. O roteiro foi mal dividido. Achei que a história ficou desfocada, parecia dois filmes em um. Tudo é muito pesado, carregado, forte. Talvez encantasse mais se tivesse exagerado menos. Mas essas são minhas únicas críticas a esse filme que tem uma arte fantástica, um texto incrível e duas atuações sensacionais. O que é aquele ator que faz o Mussolini jovem e depois seu filho ensandecido? Gente, que escândalo!!! Um espetáculo de atuação. O Oscar tinha que ser dele esse ano! 8,5/10bs11ns2011-04-11 21:10:24
  4. Oito e 1/2. Há muito tempo queria ver esse filme do qual tantos falam e citam como um dos maiores de todos os tempos. De fato é espetacular realmente. Particularmente gosto de filmes mais intimistas, cujo minimalismo econômico resulta em grande funcionalidade. Mas não tem como não amar as citações dele num extraordinário. Tudo é tão maravilhoso, grandioso, aprofundado que eu senti não ter entendido muitas coisas. Provavelmente vou demorar pra assimilar os significados e terei de ver mais vezes. Mas realmente é espetacular do começo ao fim. Um clássico. Talvez, junto com Casablanca, o melhor filme que vi na vida até hoje. 10/10bs11ns2011-04-11 23:13:03
  5. Atraídos Pelo Crime. Tenho paixão pelo Dia de Treinamento. Acho uma realização pulsante e brilhante do Fuqua, além de ter consagrado Denzel. Aqui ele tenta fazer algo parecido mas comete um erro fatal de direcionamento: cai no clichê da junção de várias histórias em um único final. O Crash não deu certo principalmente por isso: tinha umas três histórias ali que, se bem amarradas, poderiam render um belo filme. Em Atraídos ocorre o mesmo: tivesse ele colocado um fio condutor forte para as três histórias do filme, teria conseguido um resultado bem mais interessante. No entanto, cada uma segue pra um lado, tem suas justificativas (um tanto questionáveis) e suas consequências. Pra filme de ação, ele é muito desinteressado: não tem grandes cenas, grandes planos, nada tira muito o seu fôlego. Pra filme de drama, é um tanto vazio: não tem profundidade, os temas não são bem resolvidos, debatidos e discutidos. Quando fala sobre os muitos problemas do Brooklyn ou sobre a dificuldade de um policial sustentar uma família numerosa, o filme tem lampejos de sobrevida. Mas não consegue manter o interesse por muito tempo pois tudo é raso demais, os argumentos não se sustentam. A fotografia é boa (há cenas excepcionalmente bem filmadas, utilizando-se de sombras, pouca ou nenhuma luz), alguns cenários (como a casa do personagem de Ethan) são bem realistas e Don Cheadle atua bem, com a competência de sempre. O personagem de Gere é fraco (aquele desfecho dele é muito piegas e inverossímel) assim como as atuações de Hawke (que não me convence nunca) e de Snipes. A trilha não é muito funcional, embora também seja realista. Todo o resto é dispensável num filme onde o anti-clímax deveria ser o clímax. 6,5/10
  6. O Segredo dos Seus Olhos. Impressionante como o cinema argentino é bem mais significativo do que o brasileiro. Os filmes sempre têm algo a dizer e os diretores o fazem com competência. Esse aqui é um deles. Típico filme pelo qual você não dá nada no começo mas que te surpreende com um roteiro muito bem escrito e desenvolvido e um final maravilhosamente ousado. Gosto muita da forma como Campanella usa a câmera. Os planos dele são fascinantes, sempre aproximando o espectador da vida dos personagens. Coloca suas locações dentro do filme: elas sempre têm função, são fundamentais pro entendimento. Funcionou em O Filho da Noiva (que eu amo) e funciona de novo aqui. O plano-sequência do estádio é realmente incrível, principalmente por retratar a força (não só física) daquele personagem. Também me fascinam as construções dos personagens dele: muito bem delineados, extremamente humanos, possíveis, relevantes. Gosto especialmente do melhor amigo do personagem de Darín: um homem perfeito em sua imperfeição (brilhantemente interpretado por sinal). Darín e os outros atores também brilham até o fim, assim como todos os outros aspectos do filme, bem trabalhados e resolvidos. Só me desagrada o excesso de texto no filme. Ás vezes eles falam demais ao mesmo tempo em que a câmera está lá, contemplando a cena. Ele podia ter economizado um pouco nos diálogos para que poudéssemos curtir mais as atuações e a fotografia desse ótimo filme. 9,0/10bs11ns2011-04-10 20:16:00
  7. Pecado da Carne. Somente por falar de um universo tão restrito e fechado quanto o dos judeus ortodoxos israelenses o filme já seria digno de nota. Ao retratar o amor entre dois homens que vivem nessa sociedade rígida, onde todos parecem tomar conta da vida de todos, o filme torna-se um barril de pólvoras pronto a explodir a qualquer momento. O mérito do diretor é não banalizar as situações, não tornando a história piegas, melodramática ou cor de rosa, como fez Do Começo ao Fim, desperdiçando um roteiro tão interessante. Aqui, a leitura é feita de detalhes, cena após cena, de olhares, de sub textos e de personagens maravilhosamente bem construídos, todos mostrando, pelas atuações seguras, minimalistas, extremamente bem compostas, seu conflito interior e seu desconforto com aquela situação que, certamente, não terá muito futuro. O filme é forte como o amor dos dois que luta para se desgrudar, tendo os olhos da comunidade completamente voltados pra eles. Repare na cena onde os dois discutem quase silenciosamente e uma van passa refletindo vários membros da congregação que eles frequentam observando-os. Coerente, paciente, honesto, não pretensioso, enxuto e muito bem explorado, o roteiro dá um banho ao não julgar seus personagens, deixando-os á sorte de suas próprias vidas. Um belo, duro e triste filme que dá uma aula em dezenas de cineastas americanos e europeus e deixa o final para sua interpretação, podendo gerar certo desconforto em alguns. Não aconteceu comigo! 10/10bs11ns2011-04-05 19:06:57
  8. Paranoid Park. Há alguma coisa de estranha e esquisita nesse painel sobre a introspecção e complexidade da adolescência. Talvez seja a falta conclusões da história central. Não há muitas resoluções e nem muitas respostas presentes na vida do garoto caladão e confuso que, em meio á separação dos pais, tenta encontrar sua "turma", apesar de também se sentir distante dela. Temas como a sexualidade e vida desregrada dessa época também são abordados aqui, ambos sem muita profundidade ou substância. O melhor do filme são as músicas cantadas e instrumentais, a montagem com cenas desfocadas e planos em slow motion e a boa interpretação do rapazinho que faz o protagonista. Tem boas expressões e usa bem sua carinha "de nada" pra compor um personagem bem construído e sorumbático. Repare na cena onde a troca de olhares entre ele e o detetive que investiga a morte trágica que conduz o filme diz tudo. Não me senti especialmente tocado. Incomodado pela falta de conteúdo e densidade talvez seja o mais adequado. Mas o filme não é ruim. Só não alcança o esperado. 7,5/10 Revisto: Despertar de uma Paixão Apesar de odiar esse título brega e clichê, eu sou louco por The Painted Veil. É um deleite rever a história do médico minimalista e benevolente que volta pros cafundós da China pra trabalhar, arrastando sua infiel e imatura esposa. Belíssimo do começo ao fim, dá uma lição de humildade, desprendimento e maturidade e monta um painel político e social bem fiel ao país na época contando com figurinos, fotografia e cenário primorosos, um elenco poderoso e uma música que não me sai da cabeça desde que assisti pela primeira vez há 4 anos. Um escândalo de filme! 9,5/10 bs11ns2011-04-05 18:17:43
  9. Abutres. Perturbador, inquietante e tenso, sem dúvida. Mas poderia ser bem mais do que isso. Gostei muito da fotografia da cidade (não sei se é Buenos Aires), sempre com luzes baixas, criando uma atmosfera sombria mesmo quando o filme dá uma suavizada. Os hospitais argentinos parecem os brasileiros, trazendo um realismo ideal e necessário ao tema do longa. Gosto do texto, subliminar e dinâmico, que nem sempre deixa claros os eventos. Também me agrada o Sosa, bem construído, o próprio abutre do título. O roteiro seria perfeito por estar tão bem amarrado durante todo o filme se não cometesse um erro tão primário, que puxa todo o filme pra baixo: coloca uma dose extrema e desnecessária de sentimalismo e melodrama quando aproxima o personagem de Martina Gusmán ao de Darín. A relação dos dois parece aquela história de novela onde o personagem quer "parar com tudo" quando se apaixona. Na boa, é louvável se regenerar por amor mas, sinceramente, era realmente preciso usar esse artifício manjado e colocar aquelas cenas tão agridoces no meio da história pra justificar o útlimo ato do filme? Pra mim prejudicou e muito o andamento (o que é aquela festa onde os dois aparecem, do nada, como se a vida deles estivesse cor-de-rosa?) pois não deixa o filme permanecer na tensão pesada construída logo nas primeiras cenas. Ou seja, tem altos e baixos, embora conte com um desfecho apoteótico e merecido, principalmente para Sosa pois parece que só a personagem de Martina (que é mocinha demais, exagerada demais, caricata demais) não percebe que ele já não tem mais jeito. O filme é bom, Ricardo excepcional como sempre, mas Trapero não deixou o filme andar, o que é uma pena pois o roteiro merecia muito mais. 7,5/10bs11ns2011-04-04 23:20:33
  10. Saneamento Básico. Simplesmente adorei o filme. Difícil ver um filme brasileiro, ainda mais de comédia, onde tudo é extremamente bem feito, dosado e inteligente. Tinha gostado muito do Redentor, que tbém é do Furtado, mas esse aqui me divertiu demais, principalmente porque seu conteúdo torna-se muito mais importante pelo modo como é filmado. As locações externas são um charme, as músicas sempre bem colocadas, no momento certo (como na cena em que Wagner vende a moto ao som de Io che amo solo a te), os figurinos bem interioranos, mostrando o clima frio da região e os cenários internos são ótimos, sempre simples como a população da cidadezinha. O roteiro é muito original, desenvolvido com sagacidade e dinâmico no ponto certo (só não gostei muito do tom dramático que adquire ás vezes; poderia ter sido deixado de lado, embora não comprometa o filme). E as atuações são um luxo, um show á parte, principalmente as de Fernanda Torres, Wagner Moura e Paulo José (o que é aquela cena em q ele e Tonico Pereira colocam a placa como passagem? muito hilária). Até o insosso e canastrão do Bruno Garcia tá ótimo com aquele cabelo meio Justin Bieber. Enfim, o filme funciona como crítica aos desvios de verbas, á indiferença dos políticos aos lugares mais afastados, brinca com o estrelismo dos atores em uma cena divertidíssima da Camila e diverte á beça. Reparem pra cena final de Tonico Pereira: a fala dele é um retrato fiel do comportamento dos brasileiros com relação á corrupção. Eu gargalhei! 9,0/10 bs11ns2011-04-04 21:04:28
  11. Inverno da Alma. Consegui assistir ontem a esse longa duro, triste, sombrio, desesperado mas muito bem feito e filmado. Desde a trilha sonora, com músicas cujas letras refletem a dor da personagem principal, além de retratar o quão isolada e atrasada é a região, passando por uma fotografia desoladora, inóspita, árida, gélida e belíssima, um texto enxuto e vigoroso, uma direção de arte caprichada que mostra a crueza de uma vida difícil e sem muitas expectativas, até chegar ás interpretações pontuais, cheias de nuances e extremamente competentes, todo o filme funciona, deixando a gente com uma sensação de bolo no estômago ao final da projeção. É uma história onde suavidade, leveza ou algo que minimize seu sofrimento simplesmente não fazem sentido. A montagem é muito boa por sempre priorizar a dificuldade, deixar claro que aquilo ali não tem solução e que, por mais que se consiga algum meio de se manter aquela família, a tristeza, a dor, a angústia estarão presentes ali por muito tempo. O que mais me deixou feliz foi ver uma personagem central tão bem construída, dirigida e intrepretada. Ree não mede esforços para salvar os irmãos, não se conforma, não desiste, luta até o fim. É corajosa ao máximo e Lawrence traz isso estampado na cara: a expressão sempre determinada, firme, fechada de quem é menina mas precisa ter atitudes de mulher, levar a família nas costas. Embora belíssima, a atriz consegue dar vida a uma jovem que, em breve, provavelmente, estará tão envelhecida e feia quanto as outras personagens do filme. É um acerto incrível pra uma atriz tão nova como ela. Mereceu a indicação ao Oscar. Só tenho quatro ressalvas: 1 - á certa altura, um dinheiro vem parar na mão dela, cujo destino não ficou muito claro pra mim; 2 - o que ela precisava saber cai no colo dela, tentando amenizar todo o sofrimento passado até então, meio que invalidando sua luta; 3 - as responsáveis por esse "presente" justificam-no de forma a ir contra seu comportamento durante todo o filme. Acho que foi uma tentativa de tornar menos desgraçada a vida da menina. Talvez não tenham sido as melhores alternativas mas, com certeza, não deterioram as qualidades do filme. A quarta ressalva fica para a abrangência do longa que eu acredito ser curta já que se trata de uma história muito particular, da qual provavelmente só se compadeçam aqueles que já passaram por algo semelhante, como eu passei. Filme de arte e, sem dúvida, obrigatório. 8,0/10bs11ns2011-04-03 17:30:09
  12. Estão Todos Bem. É um filme que me surpreende quando trata de dois temas adultos e difíceis de um forma madura e bem concebida: perda e solidão na terceira idade. Quando o personagem de De Niro se questiona sobre o que fazer da vida depois de um casamento de décadas, a direção consegue se sobressair com planos afastados dele, luzes baixas, cores pasteis e um trem que deixa clara a passagem do tempo independente do que aconteça em nossas vidas. Não gosto especialmente da atuação de De Niro por não achá-lo adequado ao papel. A contenção de expressões, gestual e um olhar mais apurado, mais minimalista ficaria melhor nesses momentos em que ele se vê sozinho. Talvez o Nicholson seria mellhor aqui, como foi em Confissões de Schmidt, onde dá um banho (o filme também é melhor, mais bem acabado e resolvido). Já quando o roteiro se remete á vida dos filhos, o longa me decepcionou ao optar pelos clichês comuns ao gênero e, por pouco, não transformar o pai no responsável pela infelicidade de seus quatro filhos. Os quatro personagens também não são bem construídos. Suas razões, escolhas, personalidades não são investigadas. Você não conhece os quatro, não sabe como chegaram até ali, embora fique claro que não são felizes em suas vidas. Tudo soa muito artificial, distante, programado nessas partes. Dos três atores (um deles só aparece numa pequena cena no fim) o que menos compromete é Sam Rockwell, contido e dramático no ponto certo. O texto ás vezes derrapa feio ao tentar dar lições de moral ou passar mensagens manjadas, como na cena do trem, onde De Niro conversa com uma mulher. O final tem um tom de melodrama excessivo e dispensável pois já estava na cara que só poderia terminar daquele modo. Nem a cena do quadro que David pintou, que tem um significado especialíssimo pra família, dá maior ênfase a esse drama que poderia ter sido belíssimo. 5,0/10
  13. 127 Horas. Tem um roteiro excelente onde a mão do diretor pesou, carregando o filme pra baixo em alguns momentos por conta dos excessos: cores fortes na fotografia, trilha estridente quase o tempo todo (exceto If I Rise que é lindíssima mas só aparece no fim), muita sobreposição de imagens, cortes rápidos e divisões de tela. Até mesmo a atuação de Franco carrega nas caretas algumas vezes. Não estou dizendo que isso faz o filme ser ruim. Acontece que essas soluções seriam perfeitas não tivessem sido colocadas em demasia pelo Boyle, que ainda não encontrou o equilíbrio em sua direção: exagerou no melodrama, nas coincidências inverossímeis e no final "escola de samba" de Slumdog Millionaire. Talvez seja até o estilo dele mesmo, mais adequado para filmes sem uma história tão reflexiva e bonita como é a de 127 Horas. Fala sobre a solidão, o isolamento, o quanto podemos ficar desolados e como o egoísmo pode ser prejudicial ás nossas relações, conosco e com o mundo. Mesmo pecando por excesso, o filme funciona na maior parte do tempo, conseguindo manter a tensão e o suspense principalmente pra quem não sabe que a história é verídica, o que não foi meu caso quando assisti. Tem algumas cenas e história fortes e poderia ter sido melhor desenvolvido por um diretor com olhar mais delicado e intimista. Mas vale a pena assistir. 7,5/10 bs11ns2011-04-02 16:33:43
  14. Canções de Amor (2007). O filme pretende abordar várias questões a partir de um início trágico que envolve direta ou indiretamente todos os personagens. Em alguns momentos, principalmente quando trata da solidão, da angústia, da tristeza e de como superar perdas, através do personagem de Garrel (que tem sempre aquela carinha de pãozinho dormido) vai muito bem. Ismael é bem construído, verossímil, humano, muito próximo das ambiguidades que vivemos diariamente, sobretudo com relação a sentimentos. Com suporte musical de bom gosto (as músicas não são melosas e foram compostas em vários ritmos, sempre bem colocadas no longa), Garrel consegue ser sensual e melancólico quando quer sem cair na pieguice, embora ainda careça de profundidade dramática. Há outros momentos, no entanto, em que o filme parece cobrar demais de si mesmo, procurando responsáveis por tudo, apontando culpados, deixando de lado alguns personagens que tiveram importância significativa na primeira parte, bem como sub tramas que poderiam render mais se bem explorados. O roteiro pecou em focar em apenas dois personagens (Ismael e Julie) esquecendo da história dos demais. Por ser musical, depende muito das canções pra imprimir ritmo, o que Honoré consegue até com certa facilidade. Chiara Mastroianni e o resto do elenco estão apenas corretos e eficientes. Mas Ludivigne Sagnier resplandece até o fim. Mesmo quando fora de cena a personagem dá vida e sentido principalmente a Ismael e faz com que quase todo o filme gire em torno dela, em grande parte pela radiante presença da belíssima atriz. Outro ponto positivo é a melancólica e lindíssima fotografia, que retrata Paris em quadros soturnos, cabisbaixos, chuvosos na maior parte do tempo, sem, contudo, tirar a beleza da cidade, contribuindo pro clima de tristeza do longa. É um filme bem francês: bucólico, trágico, cheio de simbolismos, com um personagem central forte e bem delineado e recheado de canções suaves para tentar amenizar o estado sorumbático da maioria dos outros. Ás vezes enjoa, mas funciona em boa parte do tempo, principalmente pra quem gosta. 7,0/10 bs11ns2011-04-02 01:49:01
  15. Cartas Para Julieta. O mais importante de romances/comédias românticas não é o fim, sempre igual, mas o meio pelo qual o diretor(a) escolhe pra chegar até lá. E aqui este meio é o mais interessante dessa história por não julgar a personagem condutora da trama que serve como pano de fundo pro manjado encontro de duas pessoas diferentes que se apaixonam e ficam juntas. Um amor forte, duradouro e que dura 50 anos não é muito comum hoje em dia e deveria ter sido retratado como a trama principal. Gael é ótimo ator mas está deslocado e não tem química com Amanda (tanto que aparece mais longe do que perto dela) que, por sua vez, não se esforça para fugir da beleza um tanto vazia de seus olhos azuis. O outro rapaz é canastrão e não consegue dar veracidade ao seu arrogante mauricinho britânico. Até o texto desses três personagens é sem graça e não prende o interesse por um minuto sequer da trama. A sorte é que escolheram um lugar belíssimo - muito bem filmado por sinal - para as locações e uma atriz espetacular que cativa somente por aparecer na tela. Vanessa encanta do começo ao fim e leva o filme nas costas pois só há algum interesse até o desfecho de sua história acontecer. Repare nas roupas simples dela, nos pequenos enfeites no cabelo, nos olhares esperançosos e desapontados ao não encontrar o amor antigo. O ápice é quando vê, no corpo do filho mais novo, o seu Lorenzo: parece que ela está prestes a se entregar ao grande amor de sua vida. Vanessa salva o time de atores, como já tinha feito em Atonement (que é muito melhor do que esse aqui, sem dúvida), e o filme que tem um roteiro enfraquecido justamente por não se decidir entre o romance, o drama e a comédia insossa que aparece no texto mal escrito. Também lamento a trilha rocambolesca, mais adequada á Passione, aquela música teen extremamente mal colocada no fim e o desfecho que deve ter feito Shakespeare revirar-se no túmulo ao ver sua obra Romeu e Julieta tão desperdiçada. 4,5/10
  16. Não Me Abandone Jamais. A premissa do filme é bastante interessante: discutir a finitude e a brevidade da vida por meio de métodos científicos, no mínimo, controversos. Aqui, no entanto, a forma de colocar as polêmicas na tela foi um tanto equivocada. Ao invés de se criar uma atmosfera onde a emoção, densidade, introspecção e minimalismo predominassem, a fotografia, a trilha chata e desnecessária, a voz em off sempre deslocada e a montagem arrastada e modorrenta só contribuem pra que vc fique se perguntando porque cargas d'água o Romanek deciciu contar uma história tão delicada, que poderia ser poética e onírica, de modo tão vago, frio e distante. Me incomodou especialmente a falta de ação, reação, de vida dos personagens. Se ele usou isso pra mostrar o quanto a vida é cruel conosco e, por muitas vezes, nos deixa paralisado diante do que nos é imposto, deveria ter assistido Em Um Mundo Melhor, onde, embora não seja impecável, Suzanne Bier deixa claro o quão perigosa e potencialmente explosivas são as emoções que ficam contidas. Não que eu ache o longa vazio, raso ou insignificante, pelo contrário: fiquei decepcionado justamente porque esperava que o tema fosse retratado com mais alma, mais vigor e, principalmente, mais esperança ou realismo pois é sério, reflexivo. Os três personagens centrais contribuem mais ainda pra falta de vida do filme: são conformados, passivos, crédulos, fazem questão de ser ignorantes. Aceitam tudo como se jamais pudessem escapar de seu destino, como se quem veio da escória nunca resultasse em algo decente (a própria Ruth diz isso em um momento). De novo, Andrew Garfield é um erro, aqui potencializado pela responsabilidade de seu papel: até pra demonstrar inércia o ator tem que ter emoção e ele não tem. Keira Knightley é obediente, mostra que evolui por dar ao personagem aquilo que ele merece e faz isso muito bem: a falta de ação de sua mal amada Ruth não é sua culpa. O alívio do filme, no entanto (ainda bem que tem senão seria o filme seria o erro do ano), é Carey Mulligan. Demonstra ter versatilidade, fazendo um papel totalmente diferente de Educação, além de ter talento e força suficientes para segurar um filme inteiro nas costas. Isso não faz do filme uma pérola mas a atriz consegue dar o mínimo de dignidade á sua conformada Cathy que, se não luta contra o fatalismo de sua vida desgraçada, ao menos estampa na cara a dificuldade de lidar com a complexidade de seus sentimentos. As únicas cores do filme vem dela, os únicos sorrisos delicados e doces partem de sua boca, as únicas lágrimas vêm de seus olhos e a única torcida pra que alguma coisa dê certo parte do amor incrível que sente desde pequena por Tommy (aliás, a relação dos três consegue despertar atenção sem ser piegas, se tornando outro alívio). Reparem no olhar dela quando criança no teatro pra ele (a menina é incrivelmente parecida com ela): dali pra frente vc vê que aquele amor será não só o bálsamo pro seu sofrimento como também a salvação de um filme que não conseguiu atingir o brilhantismo que, certamente, o livro possui. 5,5/10bs11ns2011-03-30 03:42:58
  17. Também gosto do Eli. Atmosfera sombria (a fotografia colabora muito), cenas horripilantes, personagem central muito bem montado - quase um anti heroi - e desfecho bem condizente com o resto do filme. Diferenciado, pra poucas plateias e com dois excepcionais atores. 8,5
  18. Verdade. Me senti impotente como ela sim. Vários gostaram realmente da edição, de fato. Mas prefiro a paranoia do amnésia e a loucura do Cisne Negro, pelo menos não subetimaram minha inteligência. Só questão de gosto.
  19. A Rede Social. Um começo em ritmo frenético que vai diminuindo até o final, previsível e nada original. Pra ser sincero detestei algumas coisas nesse filme: o diálogo de Mark com a namorada, deixou claro o quão nojento e odioso ele é, todas as interpretações, exceto a de Jesse (se bem que acho que ele tem muito mais physique du rôle do que talento propriamente dito, mas convenceu tanto que saí odiando o Mark), sem sal nenhum, principalmente a de Andrew Garfield e o excesso de sobreposições da montagem confusa, que parece se gabar o tempo inteiro de ser mais inteligente do que vc que está assistindo. Ou seja: pretensiosa e arrogante como Mark. Talvez tenha sido uma escolha de Fincher pra tentar dar dinamismo á história. Errou feio. Nesse quesito sou muito mais o Amnésia ou O Grande Truque (apesar de odiar mágica) onde cada detalhe faz grande diferença. Restam a história, ótima embora mal montada, a trilha, principalmente quando reflete os comportamentos da juventude atual e o texto que, apesar de, insisto, sempre duvidar da capacidade da plateia, é ágil, humorado, sem muitos clichês. Também gostei da originalidade do tema e da coragem de trazê-lo ás telonas pelo risco de ficar limitado: tenho certeza de que se meus pais vissem esse filme, não iriam entender metade do que foi dito. Repito: o diálogo inicial é desnecessário, arrastado e me deu vontade de levantar e ir embora do cinema. É um filme superestimado por tratar da sociedade atual e de seus isolamentos trazidos pela internet. Mas, no todo, é bom, diferente. Só faltou mais profundidade e aproximação ao espectador. 7,5
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