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Forum Cinema em Cena

Muviola

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Everything posted by Muviola

  1. Nossa, este é um que tinha até pouco tempo atrás no catálogo do Mubi, mas eu bobeei e o perdi. Quero muito ver, porque nestes dois últimos anos me introduzi em sua obra.
  2. Finalmente assisti ao filme que definitivamente lançou Pedro Almodóvar para a fama mundial. Foi sua primeira indicação ao Oscar. Almodóvar faz um screwball com estimulantes. Confesso que nos primeiros minutos eu tava meio perdido com o que estava acontecendo, mas me parece que é justamente isto que queria, tanto é que na sequência mais hilária do filme, a personagem de Carmen nos explica o que tá rolando. Usando suas saturadissimas cores e mesclando trilhas melodramática e de suspense, Almodovar ainda faz referências diretas a Johnny Guitar (numa linda seqüência que mistura metalinguagem e incomunicabilidade) e Janela Indiscreta. Obviamente que ele ainda estava alguns anos de atingir seu ápice, mas já estava claro que um autor surgia.
  3. Room 666 é o quarto onde Wim Wenders questiona diretores e teóricos que estavam no Festival de Cannes de 82 sobre o "futuro do cinema". É interessante notar como a relação com esta reflexão depende do momento temporal que está assistindo. Nos anos 80, o problema levantado era a ascensão da imagem de vídeo e do VHS contra a imagem e o fazer cinematográfico; eu me lembro de ver trechos em alguma aula na Universidade, possivelmente entre 2007 e 2008 e a seguinte discussão se dava no surgimento do digital e o "compartilhamento" de obras e do fazer; dez anos depois, a discussão se dá pelo surgimento dos streaming e também um ressurgimento da dualidade cinema x TV e hoje, 25 de março, a dúvida volta a ser se há sobrevivência para o cinema, não tanto no fazer, mas como uma experiência comum de várias pessoas juntas. Fascinante pensar que Wenders já refletia se o cinema estava morto para dali dois anos fazer um dos maiores filmes de todos os tempos. Destaque também para uma das últimas, se não a última aparição em vídeo do Fassbinder.
  4. Como achar A Cura quando não se conhece a doença? Estamos a uma fagulha de termos sensações e emoções que nos pareciam desconhecidas. E invariavelmente ficamos aterrorizados quando descobrimos o que somos de verdade e que, sim, podemos ser monstros. Por isto, há quase uma escolha (intencional) de se esconder de verdade de si mesmo. O detetive Takabe investiga os assassinatos seriais causados por uma aparente força sinistra, mas afinal "como saber de verdade o que causa um assassinato?", cita o psiquiatra acompanhante. Takabe caça um monstro, mas ele também é um fugitivo. Foge de sua esposa, de suas responsabilidades e principalmente de si mesmo. E encontra Mamiya, este jovem que tem plena consciência de quem é e do que os outros almejam ser. E Kurosawa age como o próprio Mamiya, hipnotiza e confunde com sua mise-en-cene e sonografia, mas principalmente assusta, porque ele tem a chave desta verdadeira Caixa de Pandora que é a mente humana
  5. Há duas coisas que me parecem perpassar pelas obras de Rohmer: acaso e flerte. Um leva ao outro. Jean Louis Trintignant faz um engenheiro de 34 anos, recém-chegado de uma temporada no exterior. Católico, frequenta uma igreja em que há uma jovem estudante do qual fica atraído. Ele se decide que quer casar com ela, afinal representa seu padrão: bela, católica e virginal. No entanto, o acaso faz com que ele trombe com um antigo amigo, marxista e filósofo, que o leva a uma noite na casa da ex-amante, Maud. Ela é o oposto da jovem católica: divorciada, mãe, ateia e que transa casualmente. Como um bom Rohmer, há o encontro, há as discussões (Pascal e correntes religiosas), há o flerte, mas nem sempre há o gozo. Novamente ele trata das inseguranças das próprias convicções. Imagino também o quão entediado que Rohmer ficaria das relações do século XXI, em que você parece já saber de tudo sobre o outro; ou então, busca-se apenas o comodismo e segurança de estar na bolha. Não há o espaço para conhecer alguém completamente novo; não há espaço para o choque de ideias e moral. E nada mais tentador do que ir contra os próprios dogmas.
  6. A sensação de assistir aos filmes do Rohmer pra mim é quase como se eu resolvesse gravar minhas sessões de terapia e quisesse revisá-las. Não sou destas pessoas que precise me identificar com personagens e/ou situações para que me envolva com um filme. Cinema não é isso para mim. No entanto, este senhor (centenário caso estivesse vivo) tem o poder de fazer de sua câmera um grande espelho para sua platéia. Minha identificação pode ser tanto de um personagem específico (Conto de Verão) ou ser um verdadeiro caleidoscópio, como este Noite de Lua-Cheia. A indecisão como elemento definidor das ações; a encruzilhada entre a segurança e a aventura; o medo da solidão e a claustrofobia de uma relação. O eterno jogo de ação e reação. Talvez os ciclos da Lua sejam mais decisivos nestas contradições do que eu pensava.
  7. Do Aja eu só assisti aquele Predadores Assassinos (Crawl no original), um Bzão muito bem-executado.
  8. Este ano O Pai (que ainda não consegui ver) fez sucesso ao mostrar na tela a confusão mental de seu personagem principal. Robert Altman em 1972 também fez este retrato, mas no lugar do drama de um senhor de idade com Alzheimer, aqui é um thriller com uma jovem casada esquizofrênico. Susannah York ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes por retratar esta mulher completamente desorientada por imagens e amantes que representam passado e presente (e até futuro). Baseado em parte no livro infantil da própria York, o filme ganha uma camada a mais de desorientação ao trocar os nomes dos atores masculinos com os seus respectivos personagens (Hugh, Rene e Marcel). Altman tendia a ser mais cerebral que seus pares americanos e isto até era visto como uma crítica, mas aqui justamente esta sua visão acrescenta muito a experiência sensorial, intensificada pelas lentes de Vilmos Zsigmond e trilha de John Williams (!!!).
  9. Voltando a comentar aqui, os que mais marcaram recentemente e novas revisitas: Eu sempre ouvira falar deste Bright Summer Day, do infelizmente morto precocemente Edward Yang e suas suntuosas 4 horas de duração. Foi uma aula: Não tinha qualquer noção que se tratava de uma história real, logo o mergulho no inferno particular de Xiao Si'r foi uma experiência brutal. Yang filma como se fosse um painel de Diogo Rivera, trazendo todos os aspectos macro desta Taiwan ainda em construção, com a paixão e obsessão aos EUA e temor à China. Este turbilhão é refletido neste garoto, que assim como o país, busca uma identidade própria, mas infelizmente esta busca constante por uma luz acabou cegando-o.
  10. Dos anos 90, eu particularmente gosto muito de Síndrome de Stendhal, também com a deusa Asia.
  11. A Naomi Watts não foi nem indicada aí. Nada mais a declarar do quão cagado foi este ano
  12. Olha, nada este ano, em cinema, TV, qualquer outro tipo de instalação que inventem, me deixará tão boquiaberto como o episódio 8 do retorno de Twin Peaks. David Lynch com orçamento e liberdade é capaz de sacudir a porra toda.
  13. Sergio, eu te respeito, mas não consigo comprar seu otimismo com este filme do Assassinato no Expresso do Oriente. Não pelo livro, obviamente, mas faz teeeeempo que o Branagh não faz nada que valha muito a pena
  14. Tirando o fato que o Branagh só tem feito filmes nada memoráveis ultimamente, né?!
  15. Winfried Conrad / Toni Erdmann é o/a melhor personagem do ano
  16. OJ é maravilhoso. Talvez a melhor coisa que vi em audiovisual no ano passado. Se tiver acesso, assista pelo watchespn, mas lá está em formato de série.
  17. Kubo and the Two Strings – Deborah Cook Uou! Uma animação entre indicados de Figurino? Não acho que tenha ouvido falar disto antes
  18. Estranho Moonlight quase não ter sido lembrado por este grupo de críticos da Flórida, pensando que o filme é uma obra de lá.
  19. A premiação de Seattle teve o mais interessante grupo de indicados dos prêmios que vi até agora.
  20. Se no ano passado a gente reviveu o triste processo de suicídio (e um pouco de homicídio também) de Amy Winehouse, neste ano revemos o processo de suicídio, este um tanto mais patético, de "Weiner". Anthony Weiner mais parece um daqueles personagens meio boçais de sitcoms dos anos 80, mas que ao menos rendeu uma história muito bem montada e que sorte dos envolvidos nas filmagens. A coisa fica toda ainda mais patética se pensarmos no desenrolar das eleições deste ano por lá.
  21. Hell or High Water é aquele típico neo-western texano, como foi com Onde os fracos não tem vez, que aparentemente é só um filme de perseguição, mas que traz muitas outras camadas nele. Aliás, se Onde os Fracos representava bem o final da era Bush, este Hell pode representar o início da era Trump (sem trocadilho). Uma coisa que me chama atenção sobre estes filmes: já morei no Texas. Não voltaria pra lá. Só gente louca, mas é incrível como eu me fascino pelos códigos peculiares da região. Não sei se é a cadência, imagens, sons, mas há algo muito cativante nestas produções. Acho que eu não me lembro de ter visto um personagem do Ben Foster que não fosse um completo demente. Gostei bastante.
  22. O motivo dado para Arrival é um tanto imbecil: "Arrival has a score by JóhannJóhannsson and only samples one other piece of music, Max Richter's "On the Nature of Daylight," which has been used in several other films. According to Variety, the Academy determined that audiences would be unable to distinguish between Richter's cues and Jóhannsson's. "
  23. Arrival ficou de fora da lista de 145 trilhas originais para o Oscar. Agora, o porquê, vai entender
  24. Falamos muito de Aquarius por toda a trajetória política, mas Boi Neon teve e está tendo uma carreira belíssima no exterior. Justíssimo, por sinal. Dos mais bonitos deste ano.
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