-
Posts
4958 -
Joined
-
Last visited
-
Days Won
118
Everything posted by SergioB.
-
361) Deu vontade de pegar o roteiro de "Passing"/ "Identidade", lançamento Netflix, que é baseado em um livro, e reescrever algumas coisas. O conflito principal, uma negra se passar por branca, é estabelecido desde o início, e - parabéns - de forma sutilmente dúplice. Na minha interpretação, a personagem de Tessa Thompson também age assim, embora não escancaradamente como a personagem de Ruth Negga. Eu gostei demais disso. Mas o filme ganharia uma outra dimensão, se o "passing", na verdade, fosse de alguma outra característica em segredo, uma aí sim "segunda pele", tipo, as duas serem irmãs, as duas serem lésbicas...Alguma outra coisa que se disfarçasse. Mas não. É "só" a cor da pele. Então tudo está muito "on the nose", com as conhecidas implicações históricas sobre o que é ser negro nos Estados Unidos. Dito isso, o filme vale a pena pela performance excelente de Thompson, e pela performance maravilhosa de Ruth Negga. Não achei que ela mereceu ser indicada ao Oscar em 2017 por "Loving", ainda mais deixando de fora a Amy Adams, mas se ela for indicada no ano que vem como Atriz Coadjuvante será muito merecido. A Fotografia do espanhol Eduard Grau mer deixou sensações mistas. Um preto e branco que se interrelaciona, quase como o mote do filme, mas o desfocado de algumas lentes, ou uma explosão da luz em outros, ficaram a mais. Parabéns, Rebecca Hall! Um bom trabalho atrás das câmeras. (Mais um filme para minha coleção mental em que os personagens querem se mudar/visitar o Brasil. Coitados!)
-
360) Vocês sabem que eu sou um fã inveterado do cinema de Christophe Honoré, mesmo esse "Ma Mère"/"Minha Mãe", de 2004, seu filme mais mal criticado, para mim, foi uma experiência instigante. Fui ver os comentários, e a maioria odiou, considerando apelativo, ou excessivas tantas cenas de lascívia. O que essas pobres almas imaginavam de um filme baseado em uma novela (póstuma, inacabada) de Georges Bataille? Todas essas críticas negativas rodeiam o moralismo, e atingem em cheio o desconhecimento. Toda a sua obra liga o erotismo à transgressão, e a um sentido de morte. Quando li "A História do Olho", fiquei chocado/maravilhado com seu clímax, quando um olho arrancado era enfiado em uma vagina. Neste filme, o desejo intenso leva às pessoas à liberdade e a uma consequente queda. Não é moralizada essa queda, é uma questão física. O limite é surreal, embora Bataille não tenha sido bem aceito pelo Movimento de tal nome. Era ele ex-católico também. Em sua biografia, diz que ele se converteu ao catolicismo aos 17 anos, curiosamente, a idade do personagem do filho. E teremos cenas dele rezando, sofrendo com a sexualidade. O tema principal é o incesto. Uma mãe educando sexualmente o filho, após a morte do pai. Isabelle Huppert e Louis Garrell entendem o caráter literário da coisa. Há uma frieza na literatura de Bataille que está no filme. Nada é comercialmente sexy, embora haja muitas cenas de sexo. Tudo é doído psicologicamente. A nudez é natural, e também um flagelo mórbido. Só tenho que parabenizar o elenco por se entregar fisicamente, de maneira intimorata. Para mim, todos os outros filmes do Honoré são melhores. Mas esse é muito bom também.
-
359) Nunca tinha assistido a "Ball of Fire"/"Bola de Fogo", comédia screwball, do versátil Howard Hawks, versátil a ponto de no mesmo ano lançar o antibélico "Sargento York", pelo qual concorreu ao Oscar em 1942. Entetanto, meu preferido dele, "Rio Vermelho" - akela coisa! Gary Cooper (vale lembrar, Oscar por "Sargento York") interpreta aqui um gramático, que, junto a outros sete brilhantes estudiosos solteirões, encarrega-se de entregar uma nova enciclopédia, quando, em busca do saber popular, expressado nas gírias, encontra uma cantora de cabaret, vivida pela excelente Barbara Stanwyck - que concorreu ao Oscar de Atriz. O roteiro de Billy Wilder é divertido, e coloca bem o falso confronto saber popular vs erudição. Os dois se completam. O curioso é que a peça de onde se origina foi pensada como uma versão maluca de "Branca de Neve e os Sete Anões". Tem a ver. Comédia sensual sem sexo, já disseram.
-
358) Vi o carismático documentário "Daguerreótipos", de 1975, de Agnès Varda. A diretora belga, radicada em Paris, filma o cotidiano de sua vizinhança; a rua Daguerre, onde morava, no 14º arrondissement. A região não é tão abarrotada de turistas, tem muita cor local, e, naquela época, a diretora pôde se dedicar a filmar a "vida comum", de pessoas comuns. Filmou o padeiro, o encanador, o açougueiro, um mágico, o alfaiate, um boticário... Sou fascinado por qualquer filme sobre o mundo do trabalho. Então os primeiros 25 minutos, mostrando simplesmente as pessoas trabalharem, me encheram os olhos. Tanta coisa apareceu em minha mente, "encheu o meu cérebro" (meu critério amoroso)...Virou lugar comum elogiarmos as pequenas empresas (como as mostradas no doc), ressaltar-se que elas são as maiores empregadores de nosso Brasil...É verdade, mas é um sinal de economia fraca, um dos sinais de por que somos pobres! É dizer, cem pequenos comércios de bairro não conseguem gerar capital equivalente na roda da economia ao montante de uma grande empresa, bem como estão mais sujeitas à quebra. Um comentário muito antipático de se fazer, mas é a verdade antidemagógica. Criamos muitas leis tributárias para favorecer a criação das pequenas empresas, mas, no entanto, impedimos tributariamente que elas cresçam. Não lhes é nem vantajoso o sucesso. Que circo econômico vivemos! Neste doc, constatamos a vida do pequeno comerciante francês, e, de quebra, o registro do cotidiano parisiense, os hábitos locais: as pessoas comprando a baguette e levando-a na mão, sem nem uma sacola; o velho boticário despejando a colônia diretamente no frasco para uma delicada cliente (Eu, que tenho uma coleção enorme de perfumes, fiquei contente de ver a naturalidade do hábito...), que me fez ratificar minha crença particular de como o perfume é o exagero do amor. Porém, da metade para o final, o doc se desvia um pouco dessa tônica do mundo do trabalho, e vira um pouco mais de coletiva biografia. Colhe os testemunhos de como os casais empreendedores se conheceram, e quais são os sonhos deles...É muito bom, mas queria que tivesse continuado impessoal. Rue Daguerre. Vale dizer, uma homenagem ao francês criador do antigo mecanismo fotográfico. Um primitivo criador do cinema, portanto. Lindo demais!
-
357) Na madruga, vi a produção da Netflix "Vingança & Castigo"/"The Harder They Fall", primeiro filme importante do britânico Jeymes Samuel. Um pós-Western, de 91 milhões de dólares. Pós, por que os signos do gênero são reatualizados, modernizados, para atingir o novo público que não cai muito de amores pela história da conquista do Oeste. Os figurinos e os sets são mais coloridos, mais excêntricos; há mais humor e diversidade. O Pop recai sobre o gênero. O filme cumpre o que promete, ajudado pelo elenco formidável, majoritariamente de negros, e que acredito tem muita chance de chegar ao SAG, e menos de chegar no Oscar. Fica difícil apontar uma melhor atuação, mas iria - por todos - com LaKeith Stanfield, dizendo suas falas de modo muito cômico, ao ironizar os diálogos e clichês dos velhos caubóis. O filme começa com 20 minutos excelentes, e os minutos finais também são ótimos. Mas o meio...Confesso que fui me cansando de tanto que ele emula Tarantino. Tudo bem ser "influencidado", mas chega a ponto de ser uma cópia do estilo. Aquele contra-plongée clássico de "Bastardos Inglórios", por exemplo, é repetido, na cara dura. Bem como certos planos-detalhe irônicos, tipo a mastigação de alguém, um objeto x... A Fotografia é o melhor aspecto técnico do filme, de assinatura do romeno Mihai Malaimare Jr. (De "O Mestre"). Não curti o CGI, entretanto. A ótima canção introdutória, "Guns Go Bang", acho que é do Jay-Z, está entre as possíveis candidatas ao Oscar. É um encontro divertido entre o Pop e o Western. Mas faltou uma cara própria.
-
Matando uma vergonha literária, "Lavoura Arcaica", primeiro livro de Raduan Nassar.
-
356) Vi "O Jarro", de Ebrahim Forouzesh, na adolescência, surfando naquela onda do cinema do país naquela década, mas não me lembrava de nada. Um filme sobre um jarro d`água quebrado. Apenas isso. E uma discussão moral envolvente em torno dele. Estamos no deserto de Lut, mais conhecido como a região mais quente da Terra, e no meio dele, uma escola miserável, mas com um professor dedicado. O jarro de água (o nosso bebedouro!) da escola racha, e o professor precisa consertá-lo com a ajuda da criançada e da comunidade. Qualquer pessoa que estude Sociologia da Educação precisa ver esse filme. Fala, sem saber, sobre comunidade escolar, sobre recursos físicos na escola, sobre os limites éticos do professor, sobre dedicação dos docentes, sobre abandono estatal... Bonito demais. Mas não tem o sentido de cinema, aquela racionalização sobre o ver, das outras grandes obras do período.
-
355) Terminei de ler a estupenda novela de Tolstói "A Sonata a Kreutzer" e fui correndo ver a adaptação de Éric Rohmer, de 1956, em forma de média-metragem, 16mm, com o próprio diretor como protagonista, e um elenco com participação de Claude Chabrol, André Bazin, Godard, e Truffaut. Melhor falar em "inspiração" do que adaptação. Porque o média-metragem tem muito pouco a ver com o livro. Compartilham do tema, o ciúme de um marido, e a música de Beethovem como pano de fundo. Mas é só isso, basicamente. Do cenário da Russa czarista, muda-se para uma Paris chuvosa de meados do século XX. O nobre enciumado agora é um arquiteto. No texto de Tolstói, o marido narra sua história pessoal para um conhecido em uma viagem de trem. Aqui, há apenas um voice-over. E, ademais, todo o texto é diferente. Não é Tolstói. Em conclusão, quem vê o filme não sabe direito o que é o livro. São diferentes. Tirando isso, é curioso ver Rohmer, jovem, à frente da câmera. Não era um galã; longe disso. Uma carona... Como curiosidade, gostaria de saber se Machado de Assis leu o texto russo, antes de escrever seu "Dom Casmurro". "A Sonata..." é de 1891; "Dom Casmurro" de 1899. Ambos sobre a ambiguidade de um marido ciumento. Dois Bentinhos, duas Capitu.
-
Pode representar o que for, o que quiserem, no final das contas, é só um filme fraco.
-
354) "N`aum vou nem falar nada!!" Que filme lindo do Sean Baker!! Estou encantado com esse "Starlet"/"Uma Estranha Amizade", de 2012. Um roteiro que a toda hora se desvia do padrão, do esperado, para nos entregar um filme muito comovente e inteligente, sobre um laço de amizade entre dois universos antagônicos. Um conto moral mas à la Sean Baker, com muita vida de rua, muita pureza no "impuro", câmera na mão, e Fotografia captando a beleza do subúrbio. A sinopse do filme fala em amizade entre uma jovem de 21 anos e uma senhora de 85 anos. Sim, mas nunca ninguém vai imaginar que dentro do filme há uma enorme cena de sexo explícito, com direito a foco na penetração. Mas é assim. Incrível! O filme nos desconcerta o tempo todo. Quando achamos que o conflito será "x", ele se desvia para algo muito mais importante, e menos óbvio. Amei! A Atriz jovem Dree Hemingway, bisneta do famoso escritor, é um sol na tela. Uma atuação sensacional, ao lado da idosa Besedka Johnson, em seu primeiro filme, e que morreria no ano posterior...Esse detalhe da morte da atriz torna tudo ainda mais especial. As duas são um show na tela, acompanhadas de um cachorrinho fofo, com nome de fêmea, "Starlet". Um dos finais mais lindos que vi recentemente.
-
353) A religião é uma forma de política que não se pode criticar. Por isso, vou ter que limitar tudo o que eu penso, com todos os nomes, a respeito dos personagens desse filme, e seus equivalentes, em todos os quadrantes do globo; bem como sobre os seguidores de todas as crenças. Mas sempre rola um agradecimento meu, internamente, aos Pais da Descrença: Darwin, Nietzsche, e Freud. Obrigado, obrigado, obrigado! Gostei de "Os Olhos de Tammy Faye", filme do diretor Michael Showalter. Uma biografia, com todos os problemas do gênero - tipo, aquela vontade de ir à infância, à adolescência...etc. Mas mesmo assim um filme muito bem produzido, com muito carisma, e com performances excelentes, de Andrew Garfield, e principalmente, uma performance incrível da Jessica Chastain. A cena final dela é espetacular, a vemos tomada pela personagem mesmo. Ela vai ao Oscar, com certeza, mesmo com o insucesso de bilheteria do filme. Outro que vai ao Oscar de novo é o papa da Maquiagem, talvez o maior de todos, Greg Cannom, já vencedor de 4 estatuetas. Como valor de direção, gostei muito do paralelo entre os olhos excêntricos da protagonista, com seus hipercílios, e os monitores das tvs. Acusam o filme de tentar poupar demais a protagonista, ou simplificar a história, mas se até a Justiça americana a poupou...Talvez ela tenha sido protegida, realmente, pela sua cegueira interna.
-
Estou há uns 3 anos sem ler - o maior de todos - Tolstói. Peguei essa novela "A Sonata a Kreutzer", uma meditação sobre os problemas do matrimônio. Éric Rohmer a adaptou para o cinema em 1956.
-
352) É pena, mas não encontrei dois dos curta-metragens de Jane Campion, feitos entre 1984 e 1985, então revi o lindo "Bright Star"/ "O Brilho de uma Paixão", de 2009, e foi muito bom vê-lo com a filmografia dela toda na cabeça, já que se trata do último longa dela. Conta a breve história de amor entre o poeta inglês John Keats - um ícone do Romantismo - e sua vizinha, antes de ele morrer de tuberculose. Em quase todos os filmes dela, os homens abusam das mulheres. Mas aqui o sofrimento da protagonista aparece em outro diapasão: involuntariamente. É que, como todos sabemos, "love hurts", baby! O filme é competente para sair da simples história de amor para algo maior, ilustrar como o Movimento Romântico se aproveitou da oportunidade histórica em que os movimentos do coração puderam ganhar importância, para se incorporarem definitivamente na Literatura, e outras artes, como um estilo. A jovem, vivida com graça por Abbie Cornish, era também nitidamente mais forte do que o poeta. Mais forte fisicamente, mas também mais determinada, confiante, direta. É ela quem toma a iniciativa amorosa, quem o procura. O que mostra mais uma vez um traço do feminismo de Campion, mas, como assinalei, com sutileza, com elegância, não é nada sublinhado, lacrador. A Fotografia é lindíssima, superromântica, de autoria do australiano Greig Fraser, que ganhará o Oscar por "Duna". Não dá pra acreditar como esse filme tão delicado foi esnobado em 2009, a troco de "Precious", "A Última Estação", e outros filmes vulgares. Sua única indicação a prêmios e ao Oscar foi para o lindo Figurino de Janet Patterson, que consegue lentamento mudar o estilo da protagonista, uma estudante de moda, tornando-a mais simples em suas vestes, ao se apaixonar pelo pobre poeta. É trabalho de quem sabe das coisas: Imitamos quem amamos. Então é isso, tendo visto tudo o que é disponível, meu ranking Jane Campion fica assim: 1) "O Piano"; 2) "Um Anjo em Minha Mesa"; 3) "Bright Star"; 4) "2 Friends"; 5) "Retratos de uma Mulher"
-
Você falou em anular-se e é isso que estou fazendo mesmo. Até pensei estar com depressão, mas é mais uma cautela neurótica própria desse hábito forçado. Que passe rápido!
-
351) "Retratos de uma Mulher", de 1996, era o aguardado filme pós "O Piano" de Jane Campion, arregimentando um grande elenco, e com grande investimento. Mas foi uma decepção geral. Eu lembro de ter esse filme em VHS, de coleção de banca de revista, e acho que o vi quando adolescente, mas não tenho certeza. Como esperado de uma adaptação de um classico de Henry James, temos um filme de Época. Porém, a melhor coisa do filme é ele começar com imagens em preto e branco de várias jovens nos anos 1990, com roupas contemporâneas, em um jardim, perto de uma árvore. Essa abertura, para mim, é o melhor do filme! São as mulheres - várias, unidas - olhando para a tela, para o passado, para a personagem solitária de Nicole Kidman. É dizer, as jovens pós-contempôraneas saudando/reverenciando/olhando para a personagem que, conforme sinopose, é inteligente, liberal, corajosa, e que recusará o casamento de interesse para viver um tempo na Europa. Infelizmente, tenho que dizer que a trama envelheceu mal. Pois na verdade a protagonista não se mostra nem muito inteligente, nem muito liberal, nem muito corajosa, aos olhos de hoje. Não dá pra entender as decisões dela! Chegou a me dar raiva! Ela, na verdade, caiará em uma cilada romântica, orquestrada pelo personagem de John Malkovicth. Ele se tornará seu marido infiel, usufuirá de suas posses, e a tratará com violência psicológica, de traço abusivo. Nos filmes da Jane, acontecem de as mulheres serem vítimas de um amor masculino abusivo. Menos em "Sweetie", na verdade. Porém se as cineastas de hoje fariam um filme sublinhando essa característica, nos filmes da Jame não soa como vitimismo fácil. Há mais sutileza e elegância. Há de se ressaltar também outro aspecto que venho reparando...Em todos os filmes dela que vi nesta semana, há um corte para um plano de "sonho", ou "lembrança", ou de "visão", algo que escapa à maquinaria racional e cronológica do roteiro. Aqui, é, como dito, o voo ao futuro para as mulheres do presente. Indicação ao Oscar de Coadjuvante para Barbara Hershey, e de Figurino para Janet Patterson - ela, que morreu cedo, sem ser premiada. Naquela cerimônia de 1997, acho que nenhuma das duas mereceriam a estatueta por este trabalho. Mas gostei da trilha sonora do polonês Wojciech Kilar , compositor de "O Pianista" e "O Show de Truman".
-
Telinha, mas numa cópia excelente. Só tinha dublado na telona. Estou sentindo uma coisa muito ruim, nessa fase da pandemia, que, apesar de vacinado, de ter meus pais vacinados com terceira dose, de não ter - ainda bem! - perdido ninguém, de ser o único ao meu redor a não ter ficado doente...Não sinto vontade de ir a um shopping. Não sinto vontade de ir a um restaurante. Nem mesmo de retornar ao cinema! Cria que, nessa fase da pandemia, eu estaria louco para retomar o antigo nomal, mas não. Não tenho mais vontade de frequentar nada. É tipo uma cautela mórbida, que se introjetou. Será só eu?
-
350) Outro curta-metragem, de 2006, "The Water Diary", que por sua vez compôs o filme "8", de 2008, um filme de múltiplos diretores selecionados para discutir temas a respeito do futuro da Terra. A preocupação de Jane Campion é a falta d`água, a falta de chuvas, em virtude do aquecimento global. Passa-se no deserto da Austrália, em uma uma comunidade rural (assim, como em outros filmes da diretora), cuja barragem secou. Não há gramíneas, e os cavalos de estimação precisam ser sacrificados. Protagonizam duas meninas, em vez de "irmãs", primas, que, com seus amigos, tentarão fazer um ritual para convocar nuvens de chuva para a região. Um ritual que precisará das lágrimas das crianças. Pela minha má descrição parece propaganda, mas é um filme muito evocativo, bastante cinematográfico, e nada didático. É estrelado pela filha da diretora, a atriz Alice Englert. 18 minutos.
-
349) Mais uma curta-metragem de Jane Campion, do início de sua carreira, "After Hours", de 1985, é um excelente curta, muito à frente de seu tempo, que trata do abuso sexual ( usava-se falar mais "assédio") no ambiente de trabalho. Uma jovem "secretária" ou estagiária - fiquei na dúvida quanto ao cargo - é assediada pelo seu chefe no escritório (que insiste que ela faça horas extras à noite) não se faz de rogada, e procura ajuda da detetive de polícia, mas vê-se desacreditada no geral. A detetive não consegue reunir muitas evidências, pois os amigos da vítima a consideram uma jovem com mente fantasiosa, a mãe não gosta de suas roupas curtas, o namorado não se compadece dela, suas colegas de trabalho acham que o patrão é inocente, pois tem uma vida familiar exemplar, como foto de cachorro e da família emoldurada no escritório... O filme não é uma "causa". Suas cenas são muito bem construídas, e seu conteúdo é passado de forma delicada e sutil. Mesmo que a genda feminista grite. A sanidade mental e a credibilidade da vítima são postas em suspensão nesses casos. Em 1999, o notório Harvey Weinstein iria ser o Produtor Executivo de "Fogo Sagrado!". O mundo não dá voltas, dá cambalhotas. 26 minutos.
-
348) Bom, chegou a hora do defenestrado "Em Carne Viva", de 2003, filme da Jane Campion que ganhou mais a atenção por ter a outrora namoradinha da América, Meg Ryan, num papel muito sexy e com vários nudes. Aliás, não só ela, mas como é tradição em seus filmes, seu par amoroso - Com Mark Ruffalo mostrando por quer foi escolhido para ser o Hulk. É um filme Policial, com direito a serial Killer, mas a questão dos assassinatos é posta de lado, para mostrar mais um enfoque amoroso conturbado entre policial e vítima/testemunha. Então, quem espera algo tradicional do gênero, se decepciona muito, pois o mistério sobre a identidade do assassino é muito fácil de ser percebido. Tudo é extremamente previsível. No que interessa a essa minha maratona, fiquei mais uma vez atento às similitudes de seu cinema. Por exemplo, Meg Ryan e Jennifer Jason Leigh vivem "irmãs" (na verdade, meias-irmãs), sendo a segunda uma mulher com alguma problemática mental e muita disposição sexual (Como no filme de ontem, "Sweetie"). A protagonista, por sua vez, é uma mulher instrospectiva, e que sofrerá alguns tipos de abuso masculino, como em "O Piano", e "Fogo Sagrado!". Sempre essa questão das cumplicidades entre irmãs...Fui checar, e "The Power of the Dog" também é uma história de irmãos (agora homens). A direção é boa, para uma história muito rasa.
-
347) A maioria dos cinéfilos sabe que Jane Campion foi a primeira mulher a receber a Palma de Ouro, em reconhecimento a obra-prima "O Piano", em 1993, mas o que muita gente não sabe, nem eu sabia, é que, anos antes, em 1986, ela tinha recebido a Palma de Ouro em Cannes de Melhor Curta-Metragem. Por curiosidade, fui conferir essa sua primeira entrada cinematográfica. "Um Exercício em Disciplina: Cascas" conta a história de uma viagem de carro entre pai, filho, e tia, conforme indica seu pôster, e sua primeira imagem. Mas podemos sacar algo mais desse triângulo, triângulo que é de verdade, pois se trata de uma família real. Sacamos que esse vermelho/carmim tem a ver com o fato de eles serem ruivos, e também por serem, psicologicamente, teimosos, além de ser a cor do carro. Irmão e irmão estão em discussão dentro do veículo, quando vemos o garotinho atirar cascas de laranja na estrada. O pai, num exercício de disciplina, conforme o título, para o carro, chuta o garoto para fora, e o manda recolher o lixo. Daí, vemos que o pai só quer ter razão, pois deixa o menino em perigo à beira da estrada. Daí, meio que se arrepende, e vai atrás do garoto, enquanto a irmã fica no carro, um tanto desanimada por estar atrasada para um compromisso. A indisciplina geral então se estende, e piora a situação. É muito bom, e muito ambíguo. É como se toda a família não tivesse aprendido nada. 8 minutos.
-
346) O primeiro longa de Jane Campion que chegou aos cinemas foi este ignorado "Sweetie", de 1989. Ela já tinha feito um filme antes, para a televisão, o excelente "2 Friends", já resenhado aqui. "Sweetie" é uma dramédia, que conta a história de uma jovem introspectiva, que, influenciada por uma vidente, "rouba" o namorado de uma amiga. Os dois passam a morar juntos; mas se veem importunados pela irmã mais jovem dela, a tal Sweetie, que tem problemas mentais, e passa a morar com eles, assim como o sogro. É a premissa de um drama. Mas as confusões todas têm um ar de comédia. O idílio se transforma em um inferno, pelos segredos escondidos, domésticos, que, na vida real, nunca, antes de namorarmos alguém, poderíamos adivinhar. O filme tem um certo carisma, que advém de uma narrativa que não se desenvolve conforme o esperado. Os problemas mentais da irmã menor não são nada perto do medo que a protagonista tem de ser vista, ela mesma, como louca. É ela quem atrapalhará ainda mais o casamento, ao recusar o sexo, ou desejos menores do marido quanto a casa. Nos créditos, a produção é dedicada à irmã da diretora. Indaguei-me se na vida real ela terá algum problema mental também, pois o lindíssimo "Um Anjo em Minha Mesa", o filme imediatamente posterior, também aborda seriamente a questão mental de uma mulher; assim como, mais à frente, "Fogo Sagrado", escrito pelas duas irmãs, tem um pouco disto. Outra repetição, a nudez frontal dos dois protagonistas. Quase uma constante nos trabalhos dela.
-
Tá na lista da semana. E está na Netflix!
-
345) Nesta semana, decidi ver todos os filmes da Jane Campion que ainda me faltam para completar sua filmografia. É a expectativa por "The Power of the Dog"? Comecei por "Fogo Sagrado!", de 1999 ( é o ano...é o ano...é o ano...), constantemente reputado como o pior filme da carreira da neozelandesa. É uma comédia erótica, escrita por ela e sua irmã, que junta Kate Winslet e Harvey Keitel, ambos em alta naquele momento. Ela, lindíssima (e, claro, nua de corpo inteiro como apareceu várias vezes ao longo da carreira) interpreta uma jovem australiana meio perdida na vida, que se vê influenciada por um guru na Índia. A família dela pira com sua permanência em um ashram, e decide contratar uma espécie de detetive especializado em resgatar jovens influenciadas por seitas espirituais. Adivinhem? É fácil. Ambos terão um romance. E ele é quem há de dominá-la. Parece uma premissa de drama. Mas o filme, principalmente em sua primeira parte, é estruturado como uma comédia, com direito a montagem acelerada, música engraçadinha; piadas xenófobas com a Índia. Depois o filme muda de tom. E fica mais cativante, ao meu gosto, com a entrada do jogo erótico. Amei a passagem de Winslet dublando e dançando a esplêndida "You Oughta Know", da Alanis Morissette, musa das adolescentes da minha época. O texto captura a desorientação de uma mulher em busca de si, e o aproveitamento masculino, tantas vezes abusivo. Isso está no texto. Mas não entendi a estruturação de comédia na primeira parte. Parece que Jane queria muito fugir do Drama, mas no meio do caminho não conseguiu. Desistiu. Melhor do que eu pensava.
-
344) Depois do maravilhoso texto do @Questão fica difícil acrescentar algo sobre "Halloween Kills: O Terror Continua", que deixei reservado para ver neste 31 de outubro, mas vou dizer que gostei mais do que ele, e mais do que a maioria das pessoas. Os vinte primeiros minutos eu achei excelentes. Um revival sobre a noite de 1978, com um apelo a nostalgia ao resgatar antigos personagens, que são uma delícia para os fãs. Fora que a reconstituição de época e a questão da luz e da fotografia daquela era me ganharam. Depois disso, o filme se inicia onde o filme de 2018 parou, repetindo a bem-sucedida estratégia de "Halloween II". Pegando aquele filme, vamos ser sinceros, a Jamie Lee Curtis aparecia muito pouco, já que a personagem estava em leito hospitalar. E aqui tive essa mesma sensação, já que está praticamente ausente dele por mais de 1 hora. Mas, volto a dizer, isso também era assim no II. Aquele ambiente era um dos principais cenários, e aqui também temos isso, no que me faz pensar que este filme de 2021 tem mais a ver com o citado filme de 1981, que não merecia ser descartado totalmente como as demais sequências, até por que é ele que traz a revelação do parentesco. Foi legal mostrar e introduzir a questão dos perigos de um "linchamento", pois, nos filmes II e IV, quando a cidade inteira estava atrás do "The Shape", ninguém dava por isso. Era uma questão moral ausente. Michael Myers está insano neste filme, muito amedrontador, e matando de maneiras bem criativas, em novos ângulos e atitudes. As cenas evidenciam que David Gordon Green é um bom diretor. Tem muita técnica de câmera. Aliás, todas as cenas de exibição do "rosto" foram muito bem feitas. Está na prateleira de cima, para mim.
-
343) Assisti nesta manhã a "Pocilga", filme de 1969, de Pier Paolo Pasolini, este que é considerado por muitos o seu filme mais críptico. Confesso que não entendi tudo - e parece ser essa a intenção. O filme dá-se em duas linhas temporais diversas, e em dua geografias diferentes: Em um planalto vulcânico, no século XVI; e em uma mansão burguesa na Alemanha pós-segunda Guerra Mundial. Leio sobre o filme e todo mundo repete que é uma metáfora à burguesia, e dá-lhe militância comunista, aquela papeada... Ok, mas eu fiquei pensando mesmo é na filmografia de Pasolini como um todo. Como este filme se posiciona muito bem nesse todo, pois consegue unir as duas formas predominantes de seu cinema: A crítica à sociedade contemporânea preconceituosa, excludente, dominada pelos poderosos, presente em "Salò", "Mamma Roma", ou "Gaviões e Passarinhos"; e sua viagem a uma região ou a um passado místico, ou sexual, de forças da natureza, como em "Os Contos de Canterbury", "O Decameron", "Édipo Rei"... Neste filme, há as duas linhas. Na medieval, um guerreiro anda pelas paisagens vulcânicas, depara-se com um inimigo, o mata, o come, e ao se tornar canibal enloquece (se bem entendi); na outra, um filho de um burguês alemão, de passado nazista, recusa-se a sair de sua bela mansão, contrariando a namorada comunista que deseja participar de um protesto contra o Muro de Berlim. Notei que o único ator/personagem que aparece nas duas histórias paralelas é (o de) Ninetto Davoli, alegadamente o grande amor de Pasolini, presente na maioria de seus filmes, daquele jeito sorridente e ingênuo. Ele, que é a própria personifificação da Itália campesina. É muito curioso como Davoli, depois de anos de relação, se casa no início dos anos 1970 com uma mulher, e, conta-se que Pasolini teria ficado bem enraivecido com isso, a ponto de dedicar-lhe vários poemas (um dia lerei sua Poesia), e, não à toa, se bem me lembro, em "As Mil e uma Noites", de 1974, ele o castra em uma cena. Bom, quanto a "Pocilga"...Eu não gosto do cinema como metáfora. Mas gosto muito de como Pasolini entrega uma cinema louco, rural, estranho, com uma coleção de rostos que antes estavam descartados do cinema.