Members Moviolavídeo Posted July 13, 2007 Members Report Share Posted July 13, 2007 Animal Tropical Pedro Juan Gutierrez é uma figura que, a princípio, parece ser um cara inconseqüente, alienado e completamente pornógrafo. Quem lê suas obras no entanto percebe que, por trás deste emaranhado de pernas, coxas, tabaco e sexo esconde-se uma pessoa preocupada com seu povo e com os destinos de seu país. Como poucos escritores consegue ser cínico indo até as entranhas do ser humano para mostrar-lhe a face crua e nua. No caso o corpo nu e repleto de desejos dos mais selvagens aos mais sensíveis. Animal Tropical, seu último trabalho não foge à regra e, assim como Trilogia Suja de Havana e O Rei de Havana também retratam a miséria de seu povo, a desilusão de sua gente que luta apenas para sobreviver em meio ao caos e a miséria mais explícita e cruel possíveis. Mas ele não é panfletário ou político e não está nem um pouco ligado em resolver os problemas humanitários ou coisa do gênero. Como cidadão comum, ele também está à procura de um prato de comida, um café preto, um charuto e uma mulher para passar agradáveis horas no ócio. Mas, diferente de muitos, ele tem noção do que passa a sua volta e sabe, que lutar é inútil e que sua arma é simplesmente retratar a vida cotidiana e sofrida de seu povo. Sua arma é o cinismo, a aparente vida dos conformados e apáticos. Usa e abusa de termos chulos, situações extrema de uma narração explícita de muito sexo selvagem e o constante cheiro de merda que abunda em cada página. Pode-se não aceitar tais narrações e pensar que este exagero todo é pura provocação. E é realmente. Através do choque de culturas, seus leitores bem alimentados, limpos e civilizados podem tomar ciência de como vive o povo cubano. E é assim que ele “pega” no pé ou pelo cangote de seus leitores e esfrega-lhes a cara na miséria, na fome, na podridão onde o cidadão tem apenas umas prostitutas para aliviar a tensão e um pedaço de pão para alimentar o corpo. Diferente dos seus dois primeiros livros, em Animal Tropical ele circula pelo primeiro mundo dito civilizado e com sua loira asséptica e fria tenta uma convivência harmoniosa, mas que, pelo tédio e pela falta de “tesão”, lhe sai mais difícil à existência. Na cidade de Estocolmo percebe que, apesar da miséria e da merda de sua Cuba em destroços, é lá que se sente feliz e íntegro. Talvez a miséria e a fome o tenham deixado rude e apático para com a “civilização de um mundo sempre cor-de-rosa e certinho nas suas horas cotidianas. Ao desfilar pelas ruas limpas e brancas do primeiro mundo, sente o frio da indiferença, e a falta de lutar por um simples prato de comida e o povo, sem perspectiva da incerteza, devora seus instintos para a frieza de uma existência tão apática quanto a cubana. Só que de estômago cheio e civilizadamente perfumado. Animal Tropical é, por estas e outras, um auto-retrato de umGutierrez cínico, debochado, pornógrafo e lúcido. A mostrar-nos que é preciso lutar dia a dia por uma existência feliz. Mesmo nos escombros e fedidos prédios caídos de Cuba. Salve Pedro Juan Gutierrez o homem que diz ao que veio, só não espere que ele levante uma voz em favor dos fracos porque, ele também, está indiferente e precisa lutar por sua sobrevivência. Sua arma é a palavra e ele atira para todos os lados. Explicitamente, sem concessões ou moralismos. Talvez um pouco de merda no ventilador civilizado do primeiro mundo possa dizer simplesmente: O povo cubano vive! Quote Link to comment
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