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Forum Cinema em Cena

Infiel - Ayaan Hirsi Ali


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Coincidentemente (ou não) estou lendo atualmente histórias de pessoas
que passaram por grandes sofrimentos, tanto psicológicos como físicos, e
conseguiram superar e dar a volta por cima. Acabei de ler Infiel
de Ayaan Hirsi Ali e ainda estou sob o impacto desta narrativa
contundente, reveladora e, sob todos os aspectos, uma grande lição de
vida e superação. Dizer que Ayaan sofreu maus tratos na infância e
adolescência é simplificar demais a trajetória desta mulher. Claro que
ela sofreu e muito. Foi espancada e humilhada inúmeras vezes pela mãe,
foi subjugada pelo irmão, explorada pela irmã, abandonada pelo pai e
teve o crânio fraturado pelo seu professor de Alcorão. Em nome da sua
religião, sofreu clitorectomia aos cinco anos de idade. Nasceu na
Somália e viveu na miséria e na mais pura ignorância durante toda sua
precoce infância e juventude. Em razão da guerra civil em seu país sua
família mudou-se e para Etiópia, Quênia e Arábia Saudita onde também
viveu horrores sob o regime Islâmico que coloca a mulher em último plano
da existência humana.



Como mulher islâmica sofreu toda ordem de violência física, moral e
psicológica, além de ter seus direitos como pessoa subjugada a uma
vivência insignificante, humilhante e perversa. Criada pelos costumes
tribais da Somália e educada pela rígida religião de Maomé comeu o pão
que o diabo amassou pelo simples fato de ser mulher e mulçumana. Apesar
dos maus tratos familiares e da sociedade tinha uma fé inabalável e, por
todos os motivos do mundo, um temor por Alá a quem procurava entender e
devotar uma vida de orações e preces. Chegou inclusive a aderir ao
islamismo mais radical. Procurou viver de acordo com suas crenças
religiosas e, à medida que os anos passavam, foi percebendo que alguma
coisa estava errada nesta vivência absurda de surras, submissão e
abandono. Como acontece com todas as mulheres de seu país o casamento é
apenas um arranjo familiar entre clãs e sua noite de núpcias foi só dor e
indiferença. Para tentar sair deste inferno pede asilo na Holanda
(fugida da Alemanha onde seu novo marido a levaria para viver na
Dinamarca).



Na Holanda viveu durante treze anos e tomou conhecimento de outra
cultura, outras religiões e, acima de tudo, aprendeu sobre democracia e
direitos individuais do ser humano. Começou a entender que seu
sofrimento era apenas uma questão dogmática e que a mulher não nasceu
para ser submissa e que a fé em Alá não precisa, de modo algum, ser uma
jornada de espancamentos, submissão feminina e dor. Eleita Deputada
trabalhou pelos direitos dos imigrantes e, por sua ousadia e luta contra
as desigualdades e a crueldade do islamismo foi perseguida e sofreu
inúmeras ameaças de morte. Com o cineasta Theo Van Gogh Realizou um
vídeo chamado “Submissão” sobre a opressão da mulher no islamismo. Por
este curta-metragem seu amigo Theo foi assassinato e ela teve que viver
durante setenta e cinco dias escondida e escoltada por órgãos de
segurança do estado sem acesso a celular, internet e contatos com a
família e amigos numa peregrinação por vários estados Americanos. Por
sua luta foi eleita pela revista Time como uma das cem pessoas mais
influentes do mundo e hoje vive nos Estados Unidos.



Na página 496 Ayaan diz, textualmente: “Quando procurei Theo para
que me ajudasse a fazer “Submissão”, eu queria transmitir três
mensagens: primeiro, os homens e até as mulheres podem erguer os olhos e
falar com Alá; os crentes têm a possibilidade de dialogar com Deus e de
olhar para Ele de perto. Segundo, no Islã de hoje, a interpretação
rígida do Alcorão condena as mulheres a uma miséria intolerável.
Mediante a globalização, cada vez mais homens com tais idéias se
instalam na Europa com mulheres que eles possuem e brutalizam, os
europeus e demais ocidentais já não podem continuar fingindo que as
graves violações dos direitos humanos só ocorrem em lugares remotos,
muito remotos. A terceira mensagem é a frase final do filme: Nunca mais
me submeterei. É possível libertar-se – adaptar a fé, examiná-la
criticamente e verificar até que ponto ela está na raiz da opressão”.
No
último parágrafo do livro ela acrescenta: “Já me disseram que
Submissão” é um filme por demais agressivo. Aparentemente, a sua crítica
ao islã é muito dolorosa para que um mulçumano a suporte. Diga, não é
muito mais doloroso ser uma mulher presa naquela gaiola?”



Infiel é uma obra dolorosa e contundente e, como diz na capa: a
história de uma mulher de desafiou o Islã. Com certeza um livro que deve
ser lido para que possamos conhecer esta mulher que resolveu sair da
sua gaiola opressora e contar ao mundo seu sofrimento, seus temores e,
muito mais que isso, dizer que é possível, através do conhecimento e da
consciência da sua própria condição de mulher, lutar por melhores
condições de vida e respeito a todas as mulheres. Não é possível que em
pleno século vinte e um ainda existam países que cometem tanta
brutalidade em nome de uma religião ou de uma cultura opressora. Que
surjam outras Ayaan Hirsi Ali no mundo para porem fim a esta prática.



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