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Forum Cinema em Cena

SergioB.

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    SergioB. reacted to frossit in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Filme muito bacana mostrando o auto-engano de que os fins podem justificar os meios e como até as melhores intenções se perdem no meio da vaidade pessoal e corrupção. Ótimas interpretações do casal aí da foto. Avaliação: muito bom. Assistido na HBO. 
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    SergioB. reacted to Big One in O Que Você Anda Ouvindo e Comentando   
    Mencionei pois eu ia postar esse mesmo vídeo que vc postou...
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    SergioB. got a reaction from Big One in O Que Você Anda Ouvindo e Comentando   
    Luciana Souza, classe.
     
     
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    SergioB. got a reaction from Big One in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Terminei de ler "120 Dias de Sodoma, ou A Escola da Libertinagem", do Marquês de Sade, e fui rever o filme de Pasolini.
    Depois de quase 500 páginas de conteúdo pesadíssimo, o filme até me pareceu "leve". O que só prova mais uma vez que por mais maravilhoso que seja o Cinema, nenhuma arte se equipara à Literatura-  essa sim pode absolutamente tudo. 
    "Salò, ou Os 120 Dias de Sodoma" é o último filme do cineasta italiano, barbaramente assassinado naquele mesmo ano de1975. A adaptação para as telas foi muito bem feita, mas não em termos de fidelidade. Explico. Primeiramente, Pasolini foi muito inteligente em transpor os acontecimentos para a cidade de Salò, no norte da Itália, que foi a capital do Estado Fantoche da Itália Social de Mussolini, no fim da guerra, quando os Aliados já estavam no Sul da Bota. Assim, logo no início do filme, um letreiro nos situa no coração do Fascismo: Salò, ano de 1944. É dizer: saímos do Antigo Regime francês, pulamos os séculos, mas os homens do poder permanecem os mesmos: Um Bispo, um Duque, um Banqueiro, e um Magistrado. 
    Não há palavras para descrever o grau de perversão desses senhores no livro de Sade. É preciso ler. Pesado, pesado, pesado, pesado. A figura do Duque e a figura do Magistrado (principalmente esse) são figuras demoníacas mesmo. Pasolini conseguiu como locação (aliás, Design de produção do oscarizado Dante Ferretti) uma grande casa que foi de verdade um local de abrigo para os nazi-fascistas. Então esse simbolismo já acrescenta muito ao filme. Mas no livro, o castelo das maldades situa-se em uma região montanhosa e inacessível da Suíça. Marcarei as diferenças, até para incentivar as pessoas a lerem.
    A primeira parte do livro/manuscrito concentra-se na descrição dos libertinos, e na descrição da captura das crianças sequestradas, bem como na contratação dos "fodedores" e das quatro cafetinas que narrarão suas vidas sexuais para incentivar a imaginação erótica os libertinos. No Filme, Pasolini só deixou 3 narradoras, bem como diminuiu o número de vítimas. E também não incluiu as quatro terríveis velhas que num primeiro momento ajudarão a vida do castelo, mas depois serão incluídas nas orgias.
    O filme é famoso pelo banquete de merda. As pessoas sentem repugnância, asco, e tudo. Imaginem centenas (!!!) de páginas com narrações de paixões que incluem defecar na boca, passar vômito com beijo, banhar-se em um tonel de fezes...São centenas de páginas de coprofagia. Então a cena do banquete pra mim "tá de boas!". Outra perversão que o filme pulou foi às relacionadas ao sacrilégio. No livro, são páginas e páginas de narrações em que se enfia hóstias nas vaginas, come-se o padre no altar, ou esporra-se no cálice...Coisas que o Vaticano iria adorar ver no cinema...
    A parte mais difícil do livro é o final. As paixões saem da vida sexual, saem do ciclo de merda, saem do ciclo da brutalidade (espancamentos, chicoteamentos, ceras quentes) e entram no círculo de crimes.  Aí é que são elas. Pasolini conseguiu a meu ver mostrar o possível, e todos ficam chocados, com a cena da punição dos desobedientes. Mas aquilo ali, volto a dizer, não é nada perto do que há no livro. Tipo: arrancar os dois braços, as duas pernas, de um dos escravos, e foder com o tronco! Coisas básicas assim. Pasolini também não poderia incluir a humilhação por que passa uma grávida...A vítima "preferida" dos libertinos.
    O filme foi banido de vários países, e países, tipo, Austrália, por longos 17 anos...É um filme controverso, polêmico, e difícil. Mas é uma obra-prima de ousadia, mesmo sendo comedido em relação ao livro. Uma vez li algo mais ou menos assim: "Tudo é sobre sexo, menos o sexo. Sexo é sobre poder". Esse filme mostra como o poder ilimitado expressa-se também como violência sexual.
     Depois que deixou seu manuscrito nas pedras da Bastilha, onde estava preso, Sade nunca mais o viu. O texto passou o século XIX completamente ignorado. Só voltou a aparecer no início do Século XX. Foi vendido, proibido, censurado, quase leiloado, e desde 2017 é considerado "Tesouro Nacional Francês". Que jornada! Que poderosas essas palavras! Que tantos quiseram apagá-las, tantos se recusam a lê-las, e elas simplesmente sobreviveram, como prova viva de que a imaginação humana não tem limite.
     

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    SergioB. got a reaction from Big One in Qual Livro Você Está Lendo?   
    Agora é a vez do aclamado mangá "O Homem sem Talento", de Yoshiharu Tsuge. Obra autobiográfica de 1985; um desenhista que se recusa a obedecer aos ditames do mercado editorial, e passa a vender pedras retiradas de um rio próximo à sua casa.

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    SergioB. reacted to Gust84 in Qual Livro Você Está Lendo?   
    Comecei um curso de conversação em inglês que é um debate literário.  A ideia é um livro por mês em inglês.
    O livro desse mês é Nutshell do Ian McEwan que estou na metade.
    Um baita livro! Com a aula temos referências literárias clássicas, que agrega muito a experiência.  Agora estou suando sangue pra ler em inglês.  Impressionante como minha leitura não acompanha meu ouvido. 
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    SergioB. got a reaction from Gust84 in O Que Você Anda Ouvindo e Comentando   
    Luciana Souza, classe.
     
     
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    SergioB. got a reaction from Gust84 in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Sugestão do nosso amigo @Gust84, vi esse "Ninguém Sabe que Estou Aqui", de 2020, primeiro original Netflix do Chile.
    Tem uma história legalzinha a respeito de usurpação de talento, de modo a criticar a indústria cultural, principalmente sua vertente musical, e sua necessidade de gerar ídolos teens que sejam também em si mesmos protótipos de beleza ideal.
    Achei a direção um pouco indecisa. Às vezes quer ser estilística, às vezes quer ser apenas padrão. Ressalva-se que é o primeiro longa do diretor Gaspar Antillo, amparado pela produção de Pablo Larraín.
    Vale conferir, ainda mais num mar de produções "C" que aportaram no serviço recentemente.

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "N`um vou nem falar nada!!"
    "Eu espero que haja homossexuais felizes. Eles apenas não estão no meu filme."
    William Friedkin, em 1970, dirigiu essa obra-prima chamada "Os Rapazes da Banda". É curioso como mesmo entre os cinéfilos, mesmo entre os gays, pouca gente a viu. Nunca é exibida, nem seu dvd é fácil de achar. Poderia falar que é "Os 12 Homens e uma Sentença" gay. Aquele típico filme de um ou dois cenários, em que aparentemente o que brilha são o texto e o elenco, mas na verdade a direção precisa ser espetacular para conferir dinamicidade à narrativa, e colocar a todos os atores no quadro. Bem como a montagem. Nessa minha revisita, fiquei admirando o trabalho da montagem de Gerald b. Greenberg (Oscar por "Conexão França"). Os cortes são rápidos, no rítmo das falas.
    O certo é que tudo se originou no teatro off-Broadway, por meio da escrita e produção de Mart Crowley, morto este ano. A peça de 1968 foi um enorme sucesso de público e crítica, marcando para sempre a representatividade gay. 
    Sete amigos se reúnem para comemorar o aniversário de um deles. Aparece um "presente" em forma de Go Go Boy. E também um "penetra", um amigo heterossexual do anfitrião. A partir daí, rancores, segredos, verdades, racismo, antisemitismo, e homofobia aparecerão, e a festa irá por água abaixo.
    É fantasticamente bem interpretado pelos mesmos atores da peça original. Lamentavelmente, dos sete atores que interpretaram os amigos, 5 morreram de AIDS.
    E, sim, concordo com a frase acima do Friedkin. Os gays felizes viraram uma espécie de muleta de legitimação para a televisão e para o cinema. Se não aparece um personagem que legitime a possibilidade da felicidade, a obra é encarada com preconceito. Se esse filme fosse feito hoje, seria apedrejado. Sua honestidade fere, mas ao mesmo tempo humaniza, tornado-se o primeiro filme a mostrar os homossexuais realmente como indivíduos de carne e osso, com dramas profundos e defeitos. Para mim toca no incômodo ponto principal: Como os gays no fundo se detestam! É minha experiência, chegado à idade em que estou, tanto que só ando com homens héteros. E o uso do pronominal no filme, como no meu texto, é muito importante. No final, se diz: "Tudo seria mais fácil se não nos odiássemos". O pronome tanto se referindo à comunidade, bem como referindo-se psicologicamente a si mesmos.
    De fato: "Não foi tão divertido quanto achei que ia ser".

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    "Conflito Mortal" é a estreia na direção de Wong Kar-wai em 1988. A história é básica - irmão maior defendendo o irmão caçula dos achaques de uma gangue -  mas o estilo já chama a atenção, principalmente para a época. 
    Vários elementos de seu cinema já estão presentes, como várias tomadas em slow-motion, a saber o beijo do cartaz, que veremos mais à frente em "Um Beijo Roubado" de 2007. Ah, aqui também tem um romance em que um dos pares trabalha em um restaurante ( "Amores Expressos", 1994; e "Happy Together", 1997), Alô, "Moonlight", e uma música romântica é colocada em jukebox (alô, "Moonlight"), tática que se repetiria em "Anjos Caídos", de 1995; bem como há as mesmas baforadas de cigarro (alô, "Moonligth") de "Happy Together", e "Anjos Caídos". E já há também o emprego das luzes melancolicamente em néon (sim, a grafia correta é esta).
    O que ficará na memória do espectador, acredito, será a música "Take my Breath Away" em versão mandarim tocada em vários momentos do filme, conferindo um caráter de melodrama kitsch para as cenas. 
    Eu gosto de ressaltar as semelhanças dos filmes de wai com a obra ganhadora do Oscar por que o mundo lacrador não vive sem enaltecer a pretensa originalidade do filme de Barry Jenkis. De minha parte, gosto sempre de mostrar onde está a fonte das coisas. E muito dessa fonte já estava presente em 1988, quem diria?!
    Humor involuntário pré-pandêmia: Nas primeiras cenas, abre-se a porta e aparece uma chinesa tossindo e usando máscara.

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "Louca Paixão"/ Turkish Delight/ Turkish Fruit, de 1973, é um dos melhores filmes de Paul Verhoeven. Seu segundo filme; a estreia de Rutger Hauer no cinema; uma resposta holandesa à "Love Story"; uma companhia mental para "O Último Tango em Paris"; uma indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro para a Holanda em 1974; não faltam motivos para ver esse filme!
    No início você fica incrédulo, por não saber que os Países Baixos também faziam pornochanchada, ou quase isso. De cara, é uma comédia pastelão bem erotizada, com muita nudez frontal, música de motel, e tudo. Depois o filme vai te pegando de um jeito...Ele está apenas contando uma real história de amor, com a intimidade explodindo de tal maneira, que o amante, em uma famosa cena, pega com carinho as fezes da amada. Para mim, que estou lendo Sade, e me acostumando a centenas e centenas de páginas de coprofagia, nada demais...
    Direção excelente, e atores extraordinários. Rutger Hauer e Monique van de Ven fazem dois libertinos, no auge da beleza, no auge da intensidade, muito patetas, incontroláveis, irreparáveis. A cena final é um primor.
    Excelente.

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "Cidade Pássaro", com título internacional, "Shine Your Eyes", é um filme brasileiro que competiu em Berlim 2020, na Mostra Panorama, e foi bem recebido por lá. Pudera, é um ótimo filme, muito melhor do que eu pensava. O diretor Matias Mariani, e um time de muitos roteiristas que incluem sua esposa Júlia Murat, fizeram uma história muito inteligente, e muito original, filmado sem o miserabilismo tradicional do nosso cinema, mesmo se passando no castigado centro velho da capital paulista ( Há até uma cena na belíssima Sala São Paulo). Conseguiu também tocar em pontos colaterais, como a ocupação de imóveis abandonados, a pouca mas importante assistência ao imigrante, bem como na falta de cultura linguística do brasileiro.
    A história: Um nigeriano vem ao Brasil procurar o irmão mais velho que desapareceu, logo descobre que ele contava mentiras, alardeando sucesso, para a família se tranquilizar por lá. Na busca pelos passos do irmão, descobre outras pessoas que se relacionaram com ele, e também descobre o lado mais duro da cosmopolita São Paulo, bem como seu histórico de receber imigrantes do mundo todo. O filme é falado mais em Igbo (uma das línguas da Nigéria) do que em português, mas há muito espaço para o inglês, chinês, e também até húngaro. Tudo para mostrar essa faceta multicultural da cidade. Ademais, o roteiro consegue, às vezes de forma bem sucedida, às vezes não, aliar a ancestralidade africana com a matemática e a tecnologia - áreas de interesse do irmão desaparecido.
    Mas o melhor lado da história pra mim é o relacionamento amoroso formado por tabela, entre o protagonista vivido de forma excelente pelo nigeriano O.C. Ukeje e a atriz brasileira Indira Nascimento. 
    Gostei muito.
    É uma pena que o filme, acredito, não tenha 50% de português para se qualificar na disputa para ser o candidato a Melhor Filme Internacional.

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    SergioB. got a reaction from Big One in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "Os Gritos do Silêncio"/ The killing Fields, de 1984, é outro filme que nunca é exibido e eu não sei a razão. Embora goste muito mais da primeira parte, a segunda é a que fica marcada na memória do espectador pela tragicidade das cenas. Haing S.N Nagor levou o Oscar de Coadjuvante, em sua estreia no cinema, mas na verdade é um coprotagonista, já que a segunda parte do filme é toda dele. Adoro o Sam Waterston - que figura serena e doce - merecida indicação a Melhor Ator. Aliás, deveria ser mais reconhecido. 
    O filme politicamente é bem equilibrado. Mostra a intervenção americana no então neutro Camboja, durante a Guerra do Vietnã, bem como mostra os horrores do regime comunista do Khmer Vermelho -  não a ponto de igualar os horrores descritos no excelente documentário "A Imagem que Falta", de 2013, também indicado ao Oscar. Os horrores dos campos de morte da segunda parte são contrapostos também a um certo horror mercadológico, com aquele país asiático inundado de caixas de Coca-Cola ou do uísque do andarilho, disputando espaço com a suntuosidade de seus templos.
    Primeiro Oscar de Fotografia do Chris Menges. Mestre.

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    SergioB. got a reaction from Big One in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "Cidade Pássaro", com título internacional, "Shine Your Eyes", é um filme brasileiro que competiu em Berlim 2020, na Mostra Panorama, e foi bem recebido por lá. Pudera, é um ótimo filme, muito melhor do que eu pensava. O diretor Matias Mariani, e um time de muitos roteiristas que incluem sua esposa Júlia Murat, fizeram uma história muito inteligente, e muito original, filmado sem o miserabilismo tradicional do nosso cinema, mesmo se passando no castigado centro velho da capital paulista ( Há até uma cena na belíssima Sala São Paulo). Conseguiu também tocar em pontos colaterais, como a ocupação de imóveis abandonados, a pouca mas importante assistência ao imigrante, bem como na falta de cultura linguística do brasileiro.
    A história: Um nigeriano vem ao Brasil procurar o irmão mais velho que desapareceu, logo descobre que ele contava mentiras, alardeando sucesso, para a família se tranquilizar por lá. Na busca pelos passos do irmão, descobre outras pessoas que se relacionaram com ele, e também descobre o lado mais duro da cosmopolita São Paulo, bem como seu histórico de receber imigrantes do mundo todo. O filme é falado mais em Igbo (uma das línguas da Nigéria) do que em português, mas há muito espaço para o inglês, chinês, e também até húngaro. Tudo para mostrar essa faceta multicultural da cidade. Ademais, o roteiro consegue, às vezes de forma bem sucedida, às vezes não, aliar a ancestralidade africana com a matemática e a tecnologia - áreas de interesse do irmão desaparecido.
    Mas o melhor lado da história pra mim é o relacionamento amoroso formado por tabela, entre o protagonista vivido de forma excelente pelo nigeriano O.C. Ukeje e a atriz brasileira Indira Nascimento. 
    Gostei muito.
    É uma pena que o filme, acredito, não tenha 50% de português para se qualificar na disputa para ser o candidato a Melhor Filme Internacional.

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "N`um vou nem falar nada!!!""
    F I N A L M E N T E !!!
    GENTE...
    Era o grande filme do Maior de Todos (essa perífrase que uso antes de escrever Ingmar Bergman) que me faltava ver. "Face a Face", 1976. Estou ainda aplaudindo de pé (dentro da cabeça). Porque muitos bons diretores podem fazer um parque dos dinossauros, mostrar uma guerra nas estrelas, recontar a história de um reinado, filmar de trás pra frente, adaptar Shakespeare com modernismos, mostrar a corrupção policial, ou fazer graça com nossos defeitos, mas só um, só um, conseguiu filmar a mente humana.
    Se ao longo de sua imensa filmografia já sabíamos disso, quando você chega em "Face a Face", você se desmente, não, "foi agora", foi nesse filme que ele conseguiu filmar a mente humana. Que isso! Mas ele filmou a vida mental de uma determinada personagem, uma mulher, e para isso era necessário a melhor atriz possível, e talvez até mesmo a melhor atriz do mundo. Gente...o que a Liv Ullmann faz nesse filme!!!? O que é isso? Como essa mulher não tem pelo menos um Oscar Honorário, atingidos os 81 anos? Há pelo menos três cenas de arrancar a tampa da cabeça de tão maravilhosas. Há uma cena de choro histérico que é pra lá de impressionante. Ela ganhou, na época, Nova York, Los Angeles, a National Board of Review, mas perdeu o Oscar para Faye Dunaway. Explicado. A Academia da época não iria assistir a esse filme denso, reflexivo, com legenda...
    Outra questão: Originalmente é um telefilme sueco (assim como o magistral "Cenas de um Casamento"), com cerca 200 minutos, mas só chega a nós atualmente a cópia cortada.
    Bergman tem requinte mesmo na modéstia financeira. Sua perícia das coisas prosaicas do dia a dia, como um arabesco do papel-parede, ou portas, faz elas ganharem uma quarta dimensão. É Freud se cineasta fosse. É Deus se cineasta fosse.

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    Fechando o fim de semana, com o belo "A Colecionadora", de 1967, a parte IV (que muitos erradamente dizem ser a terceira) dos Seis Contos Morais de Éric Rohmer.
    O antigo editor do Cahiers du Cinema dá aqui uma aula sobre a rejeição masculina. Sul da França, verão, uma casa de campo, três jovens entediados, preguiçosos, que só fazem ler, beber, ficar ao sol, deitarem-se na grama...Opa! É filme do James Ivory? Prequel de "Call Me By Your Name"? Pois é, Rohmer foi dos primeiros a construir esse cinema de discussão filosófica embalado em charmosos cenários. 
    Os debates são excelentes. Primeiro, no prólogo, amigos debatem beleza vs feiúra (A elegância como uma forma de manter um espaço vazio entre as pessoas). Depois se debate a necessidade do trabalho ou do ócio; mas nada é mais importante no filme do que a pensata sobre a rejeição. A bela jovem, chamada machistamente de colecionadora, por se envolver sexualmente com vários rapazes, passa o filme todo rejeitando o protagonista-narrador. E ele finge que não a quer.
    Desse jogo, vemos que quem tem exarcerbado o conceito de posse não é quem coleciona amantes. Mas quem sofre por não ter o objeto desejado. A personagem feminina não colenciona, ela destrói. E nem liga para os danos.
    Fotografia linda de Néstor Almendros, futuramente ganhador do Oscar por "Days of Heaven".
     

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    A visibilidade trans alcançada pelo seu lugar de fala com a crítica inevitável para Hollywood.
    Quando se pensa em pessoas trans, logo se vê os estereótipos que o cinema reforçou sobre os estigmas da identidade de gênero. O documentário vai destrinchar todos os erros que o cinema já cometeu com a população que mais morre no mundo por apenas existir.
    O documentário começa sobre os tipos de interpretações que são endereçadas às pessoas trans, começando com pessoas cis representando-os; passando pelo sentido de vilão que pessoas crossdresser se comportam, exemplos em Psicose (1960) do Hitchcock até Silêncio dos Inocentes (1991) dirigido pelo Jonathan Demme; concluindo pela cultura da comédia que sempre permeiam as suas personificações, como Uma babá quase perfeita (1993) até As Branquelas (2004).
    Nesse sentido, Laverne Cox confessa as violências sofridas pelo sorriso ao seu corpo; como se a cultura que a população cis consome desse essa permissão. Como se cada pessoa trans fosse um personagem para vilanizar ou rir.
    Outra questão que é horripilante é o sentido de "revelação" que dá o título do documentário. Colocando o grande questionamento de quanto de satisfação tem que dar sobre as suas próprias escolhas. O grande bordão de "quando você escolheu ser hétero?" vira o "quando você decidiu permanecer no seu sexo biológico?".
    Uma outra problemática adotada acontece até em produções que são direcionadas ao público LGBTQI+, por exemplo a série The L World (2004): a série que trata da homossexualidade feminina, trata o personagem transmasculino com um desenvolvimento problemático.
    Sei que o grande mote é a crítica a essas produções, mas meu único porém é o fato de não ressaltar tanto as produções que deram um pouco mais de visibilidade positiva.

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Vocês sabem, sou bem fã do cinema do Kim Ki-duk, já vi quase todos. Mas faltava esse "Endereço Desconhecido", do começo de sua carreira, 2001, que abriu o Festival de Veneza na época.
    É um filme bem trágico a respeito de três jovens que, mesmo tantas décadas depois, ainda padecem das consequencias da Guerra da Coreia. A presença americana ainda está lá, na forma de uma base militar. A cidadezinha ao redor convive com a tropa que ronda com um discurso de promoção da paz; alguns moradores tentam arranhar o inglês na expectativa de um dia viajarem; veteranos nacionalistas se amarguram com o passado enquanto treinam o Tiro ao Arco; uma ex-prostituta que teve um caso com um soldado americano envia-lhe cartas que voltam com o selo de "Endereço Desconhecido"; o filho dela é um mestiço, um asiático afrodescendente, que sofre racismo; uma mocinha apaixona-se por um soldado americano viciado em LSD... E por aí vai..É um amplo painel de personagens, sempre a trabalhar criticamente a ideia do militarismo estrangeiro na província coreana. Quem diria que esse Kim ki-duk politizado iria atravessar posteriormente uma fase mística-contemplativa, até voltar, mais recentemente, amarrando as duas pontas da vida, aos filmes mais politizados?!...
    Voltando ao filme em si, a primeira hora é detestável, muito difícil de acompanhar, pois envolve tortura de cachoros em várias cenas. Mesmo com o aviso inicial nos créditos que nenhum animal sofreu, pra mim passou do ponto. A segunda hora - quando os cachorros se vingam - é muito melhor. E, ademais, os conflitos humanos também já estão mais estabelecidos. Como sói acontece, o final dos filmes dele é excelente, e aqui não fica por menos.
    Meu ranking Kim Ki-duk, contudo, permanece inalterado:
    1) Pietá;
    2) A Rede;
    3) Primavera, Verão, Outono, Inverno...e Primavera;
    4) O Arco;
    5) Dente por Dente.

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Encerrando o sábado com os "cancelados" do cinema, fui com o gênio Woody Allen, e seu "Crimes e Pecados", de 1989. Sem dúvida, um dos grandes filmes dele. Tudo é redondo, tudo flui.  Embora ele mesmo tenha confessado não ter ficado tão satisfeito com a parte de comédia desse filme, e em "Match Point", segundo o próprio, ele tenha conseguido fazer um "Crimes e Pecados" só com drama.  Engraçado, que a filmografia continua, e depois ele trabalharia o tema ainda em "O Homem Irracional", de 2015, por exemplo. Bem como dividiria a comédia e o drama, de maneira formal, no subestimado "Melinda e Melinda", de 2004.
    A inveja é um dos temas principais desse filme. Um pecado que está relacionado com o olhar, daí estarmos diante de um personagem oftamologista e outro diretor de cinema. Mas a inveja é um pecado, não é um crime. Contudo, quem será "punido" será o pecador, não o criminoso. É a ironia dramática desse roteiro fabuloso (indicado ao Oscar), desse diretor fabuloso (indicado ao Oscar), com um ator fabuloso (Martin Landau, indicado ao Oscar, que iria se superar depois estupendamente em "Ed Wood"). Deus também, lá do alto, só "olha", ou, dependendo, pune.
    No final, dá-se o encontro entre esses dois personagens, bebendo uísque, celebrando a derrota e a vitória de serem quem são, sob a sombra trágica do fotógrafo bergmaniano Sven Nykvist.
    Talvez o ranking mais difícil de se fazer. Meu ranking Woody Allen é assim:
    1) Manhattan;
    2) Annie Hall;
    3) Match Point/ Zelig
    4) A Outra/ A Era do Rádio/ A Rosa Púrpura do Cairo;
    5) Desconstruindo Harry/Todos Dizem Eu Te Amo/ Um Misterioso Assassinato em Manhattan
     
    Não dá pra escolher!

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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Filme gay de Ang Lee? "Brokeback Mountain" responde-se em uníssono. Ou você poderia responder "O Banquete de Casamento", de 1993. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1994, e Urso de Ouro em Berlim, foi com ele que Ang Lee começou sua conquista do mundo do cinema.
    Aqui, uma comédia romântica, sobre um casal gay que forjará um casamento para agradar aos pais de um deles, vindos da tradicional Taiwan. A história convence, e os atores estão excelentes, sensíveis e entregues. Ao final, uma reviravolta que emociona, mostrando o lado mais humano do roteirista/diretor Ang Lee.
    A "Instituição Família" é uma mentira - mentira política, para o "gado", e para as Igrejas - na verdade, só existem pessoas. Pessoas. E os laços afetivos que elas criam.
    Volta, Lee, a fazer esse tipo de cinema! É isso que você faz melhor.
    Obs: Detalhe das camisetas usadas pelo ator Michell Lichtenstein, com estampas de seu pai Roy Lichtenstein.

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    SergioB. reacted to Big One in Obituários (in memoriam)   
    Que belo currículo. The Commitments é um dos meus filmes preferidos. 
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    SergioB. reacted to Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    Longa Jornada Noite a Dentro é belíssimo... Amo esse estilo Noir. Inclusive, deixarei esse na minha lista.
  24. Thanks
    SergioB. got a reaction from Gust84 in Oscar 2021: Previsões   
    Detesto a maioria, gosto apenas de "Green Book" e "Mãe" (mas não para maiores prêmios).
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    SergioB. got a reaction from Tahar in O Que Você Anda Vendo e Comentando?   
    "Kaili Blues", de 2015, é o primeiro filme do chinês Bi Gan, que impressionou a todos com seu filme posterior "Longa Jornada Noite Adentro" (que está - quem diria? - na Netflix), particularmente com aqueles 59 minutos de plano-sequência. Aqui também tem. Vários. Um que deve durar uns 35 minutos, e a câmera anda de moto, caminhonete, um barco a cruzar um rio, sempre a registrar cada momento ínfimo do protagonista, inclusive um corte de cabelo, e participar de um show no meio da rua! Fico imaginando o trabalho para combinar tudo com figurantes, com coadjuvantes, esconder o povo da técnica... Mas se em "Longa Jornada..." havia diversos momentos de luz e som pra embasbacar o espectador; nesta estreia tudo é mais direto, cru, "feio", registrando uma humilde província rural chinesa ( que, pelo que capturei, é uma comunidade de minoria perseguida).
    A história é um fiapo: Um médico que vai em busca de seu sobrinho, aparentemente vendido pelo irmão ganancioso. Aos poucos, vamos sabendo do passado do médico, e vamos sabendo tanto, que, se bem entendi, vamos voltando a corda do relógio, e indo para o passado dele nessa região. Então, em dois filmes do diretor, pude encontrar dois denominadores comuns: um cinema de busca; através de planos-sequências em direção ao passado.
    A cabeça do cara de fato é uma cabeça cinematográfica, tem vocabulário, demonstrando uma engenharia de imagens muito madura para a idade dele. Imagino quando ele conseguir uma história que se encaixe perfeitamente em seu estilo...
    Gostei muito.

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