Jump to content
Forum Cinema em Cena

Alexei

Members
  • Posts

    2772
  • Joined

  • Last visited

Everything posted by Alexei

  1. Chegou a hora de discutirmos a terceira temporada do Cineclube, pessoal. Copiando parcialmente a listagem feita pelo ltrhpsm, temos os seguintes filmes e usuários: Rubysun - Barton Fink Dook - Psicose II Mr. Scofield - Submersos JeFFs - Encontros e Desencontros Nacka - O Pianista Nacka - Duna Enxak - Cidade de Deus Alexei - A Liberdade é Azul Alexei - Bagdad Cafe J. Silentio - A Vila The Spartan - 13º Andar Connie - Porkys - Casa do Riso e do Amor Big One - Kill Bill 2 Penny Lane - Paradise Now Ana - Kill Bill: Volume 1 Monster - O Abismo do Medo Jack Bauer - Magnólia ltrhpsm - Lawrence da Arabia Garami - Os Três Enterros de Melquiades Estrada Essa lista não exclui a possibilidade de outros filmes serem escolhidos e de outros usuários poderem participar, vez que as portas do cineclube estão sempre abertas e quanto maior a diversidade de escritores, melhor. As críticas são sempre publicadas às segundas-feiras, como de hábito, mas é importante que o usuário responsável envie o texto para mim, via MP, com quinze dias de antecedência, no mínimo. Pode parecer muito, mas já tivemos alguns problemas com a agenda no passado, como os freqüentadores do tópico devem lembrar. O dia 13 de agosto é uma data interessante para iniciarmos os trabalhos, com tempo suficiente para que a primeira resenha seja escrita. Gostaria que os voluntários confirmassem os filmes acima ou escolhessem outros, a seu critério (desde que tenham sido lançados em DVD), de acordo com seu interesse e disponibilidade. Vou iniciar da seguinte maneira: A Liberdade é Azul - 17 de setembro (Alexei) Os demais colaboradores continuam o processo, escolhendo o filme, uma das segundas-feiras que restam - até o final de novembro, quando a temporada se encerra - e postando aqui. Quem postar primeiro terá prioridade na data, embora isso seja passível de negociação (isso também vale para a minha escolha, que foi aleatória). Quem tiver alguma sugestão sobre o processo de seleção ou a agenda, sinta-se convidado a se manifestar. Conto com a ajuda de vocês para manter o tópico Cineclube em Cena, um filhote do Cinéfilo criado pelo Nacka que cresceu e hoje possui alguns dos mais belos textos escritos em português sobre cinema. P.S: Há um guia do Cineclube, em perguntas e respostas, na página 57 do tópico.
  2. Gostei bastante da Jane Fonda, embora seu personagem seja bem limitado. Da Felicity Huffman, não muito. Ela me pareceu meio perdida e, em algumas cenas, fraca mesmo.
  3. Esse negócio de picotar posts dá muito trabalho, além de não ficar bonito. Os números se referem aos parágrafos. 1. Mais uma vez: a comparação que o Almodóvar faz é entre preciosismo técnico e honestidade, e não entre imagem e estória. Não vejo como essa última distinção ser feita, já que o cinema enquanto linguagem se expressa por meio de imagens (ele é a imagem, planificada e posteriormente editada; outros elementos, como o som e o desenho de produção, podem até ser importantíssimos, mas não imprescindíveis). Se você está comparando o argumento ou, melhor ainda, o enredo de um filme com sua decupagem, esta última geralmente tem maior importância para o produto final, embora não ache que essa regra seja absoluta. 2. Creio que ele captou o que o Leone quis dizer, porém não aprovou. É um direito dele enquanto cineasta e, mais importante, enquanto espectador. 3. Como você mesmo disse, o close é um artifício cinematográfico, como também são os planos, os travellings etc. O que eu fiz, na verdade, foi uma pequena piada com as palavras que o Almodóvar utilizou, já que o método da cinematografia é, todo ele, uma artificialidade. Interpretando suas palavras, talvez ele entenda que esses closes são falsos, manipulativos. Mas isso é apenas uma inferência. 4. Eu não disse que os closes nos atores tornam um filme bom ou ruim, mas sim que o Almodóvar não gosta e não usa. Considero excepcional o visual dos seus trabalhos, independentemente de closes ou de travellings (que ele também não gosta muito), e acho que ele pode fazer filmes esbanjando sensibilidade mesmo que não concorde com os closes do Leone. Não vejo paradoxo nisso e, ainda que houvesse algum, não seria empecilho. Nunca vi um Almodóvar que não tivesse um toque de perspicácia, de genialidade, sobre as pessoas e a maneira como elas se relacionam. 5. Quem sabe? Eu estava falando de outra coisa, na verdade. O argumento de Alien é muito mais complexo do que o fato de haver um monstro à solta em uma nave espacial devorando pessoas, já que o maior inimigo da tripulação é seus colegas humanos que, manipulando a situação de maneira remota, desviam a rota do cargueiro e programam um robô para garantir que o alienígena assassino seja trazido a bordo. O confronto desse desprezo pelas vidas de semelhantes com o altruísmo de Ripley, por sua vez, é outra dimensão importante do argumento. Note que esses e vários outros elementos - que já foram discutidos no tópico que mencionei - fazem parte do enredo do filme. Por isso é que discordei da simplificação que você fez da estória.
  4. Meu preferido, disparado: Um western que desconstrói os westerns, subversivo e, ao mesmo tempo, poético até morrer.
  5. Dook, a dicotomia que o Almodóvar estabeleceu em seu ponto de vista não é, como você mencionou, entre imagem e narrativa, mas sim entre preciosismo técnico e honestidade. Em seu depoimento, ele lembra que uma falha técnica de um dos seus filmes nunca foi sequer reparada pelos espectadores, mesmo muitos anos depois. As razões não ficaram explícitas: pode ser que a estória fosse realmente cativante - parece que essa é a sua interpretação do episódio -, ou que a imagem tivesse muita força mesmo com erros de continuidade, ou qualquer outra coisa que desviasse a atenção do público para a falha técnica. Sobre o filme do Leone, o Almodóvar acha que os closes são artificiais e vazios. Ele afirma isso no livro que citei, inclusive. Me parece óbvio que são realmente artificiais, como são, aliás, muitos dos outros recursos da cinematografia (do contrário, todos os filmes seriam em point of view). Se incomoda ou agrada, varia de pessoa para pessoa, mas não creio que uma opinião como essa deva ser usada como demonstrativo de poucas ou muitas virtudes enquanto cineasta. Para mim, os filmes do Almodóvar funcionam muito bem mesmo que ele não lance mão de closes nos rostos dos personagens, por uma questão de princípios. Outros diretores o fazem, também por opção, bem ou mal. Agora, você sabe que Alien é muito mais que isso e que grande parte de sua força está nos subtextos, que por sua vez fazem parte da narrativa, não é? Discutimos um bocado esse filme no tópico 19 Semanas de Horror. P.S.: Fazia um tempão que eu não escrevia tanto assim aqui no Fórum. Hehe
  6. Vi e não gostei. O diretor parece não saber o que quer e acaba destruindo um material que, de outra forma, seria muito interessante. Mas a Lindsay Lohan está muito bem, de uma maneira tal que sua piranha juvenil provoca asco e pena alternadamente ou ao mesmo tempo. Ela é a melhor coisa do filme, provavelmente a única que presta.
  7. Vi ontem. Me divertiu bem mais que o quarto episódio mas ainda é bem inferior ao terceiro, do Alfonso Cuarón. Eu acho que o filme vai bem quando não se preocupa tanto em ser muito fiel ao material original e o maior exemplo disso é as seqüências dos jornais, todas fantásticas. De qualquer forma, pra mim é sempre uma festa ver gente como Maggie Smith, David Thewlis, Fiona Shaw, Julie Walters, Emma Thompson e Brendam Gleeson juntos e atuando, mesmo que em apenas uma cena ou duas. São atores de primeiríssima linha que arrebentam nos três ou cinco minutos de tela de que dispõem, como na expulsão de Trelawney. E tem a Imelda Staunton, que é uma das melhores atrizes da atualidade e faz maravilhas como uma mistura de tia chata com general fascista. Consegue ser incrivelmente perversa sem overacting. Para ser sincero, com exceção dos jornais e do vôo nos testrálios - cena muito bonita -, tudo o que eu realmente gosto no filme ocorre quando ela está na tela. Nota dez para Staunton! Uma última nota: Radcliffe está melhorando, e muito.
  8. Falando bem francamente, não estou com paciência para ler o tópico todo, por isso não sei se o que vou escrever será repetitivo ou não. Dêem o desconto. (com spoilers) Achei o filme uma bosta. Mal dirigido pra burro, com um elenco péssimo e uma estória incrivelmente tola e cheia de buracos. Piadas velhas e bobas, carros voando e sendo amassados, filosofia de botequim, ambientalismo de terceira classe, tudo no filme é mal reciclado ou, quando é original, simplesmente ruim. E aquele final, com o Surfista se dando conta de que poderia derrotar o tal tornado cósmico a hora que desejasse (o sacrifício da Garota Invisível foi o empurrão que ele precisava! Me poupe...), foi o fim da picada. Levando tudo em consideração, esse é um filme imbecil e imbecilizante. Recomendo conferir apenas para saber como se faz um cinema de quinta categoria.
  9. Realmente me lembrou muito Passagem Para a Índia, e com a Naomi Watts tão bem quanto a Judy Davis está no filme do David Lean. O filme até tem seus momentos, mas sua visão do choque de culturas é muito antiquada. Considerando o todo, ele me cheira a mofo.
  10. Já que o Tensor está todo "não me deixem só" (haha), vou fazer uma lista para essa década também. Renoir poderia aparecer mais, mas a regra de um filme por diretor ainda pode ser aplicada aqui. Vai ser complicado depois, com Murnau emplacando um filme bom atrás do outro. 1. A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir 2. M, O Vampiro de Düsseldorf (1931), de Fritz Lang 3. Frankenstein (1931), de James Whale 4. Paraíso Infernal (1939), de Howard Hawks 5. Alexander Nevsky (1938), de Sergei Eisenstein e Dmitri Vasilyev 6. As Irmãs de Gion (1936), de Kenji Mizogushi 7. Os 39 Degraus (1938), de Alfred Hitchcock 8. Imitação da Vida (1934), de John M. Stahl 9. Branca de Neve e os Sete Anões (1937), vários 10. Tabu (1931), de F. W. Murnau
  11. O filme tem um ar datado, parecendo um melodrama hollywoodiano de mil novecentos e antigamente (com toques de Reds e Passagem Para a Índia, mas sem o engajamento do primeiro ou o charme simplório do segundo). Também é bem novelesco, como o Yoh falou, e na maior parte do tempo não funcionou pra mim. Mas a Naomi Watts está ótima como a vaca branca adúltera e egoísta. Comovente mesmo, afinal sua indignação quando questionada a respeito de sua moralidade é quase tangível e ela, mesmo com a corda no pescoço, nunca desce do salto. Pena que o personagem é tão suavizado no final. Quando isso acontece o filme perde o pouco da graça que tinha.Alexei2007-07-01 07:52:56
  12. É muito bom alguém mencionar esse filme aqui no fórum, pois ele ficou meio esquecido na filmografia do diretor. Eu gosto muito. Império do Sol era um projeto destinado inicialmente para o David Lean, se não me engano. Teria ficado bem diferente, pois o Spielberg tem muito talento tanto para mergulhar no universo infantil (e, nesse filme em particular, mostrar a transição para a adolescência e para uma maturidade precoce com muita poesia) quanto para dirigir crianças. E a parte técnica é linda, das cores à edição de som, com todos aqueles bombardeios aéreos. Eu tive o prazer de vê-lo no cinema. Foi uma experiência sensacional, como geralmente são os filmes do Spielberg na tela grande.Alexei2007-06-25 17:49:08
  13. Me diverti muito vendo esse. Grant e Barrymore têm uma sintonia ótima (mesmo que pareçam não estar interpretando, apenas mostrando facetas diferentes de si próprios) e a abertura, com o clipe da banda, é muito engraçada.
  14. Pelo que eu entendi, o seqüestro da mulher e do bebê não foi cometido pelo Zodíaco, apesar de ele ter reivindicado sua autoria. O marketing, tanto aquele feito pelo assassino quanto o das instituições ligadas ao combate ou ao noticiamento dos seus crimes, é o ponto central do filme. Quanto ao suposto furo de roteiro, com uma seqüência arrepiante como aquela, e seguida de um corte tão bom (como a edição de imagens desse filme é boa, nossa), eu nem me importo muito.
  15. É isso aí. Mann deu igualdade de tratamento inclusive nas relações entre os sexos, na contramão desse gênero de filme no qual a misoginia impera. São mulheres em posições de poder, tomando decisões e agindo tanto quanto os homens, sem precisar de qualquer discurso panfletário. Sou um exemplo de respeito à opinião alheia, mas realmente não consigo entender como alguém consegue não gostar desse filme, hehe. É maravilhoso.
  16. (spoilers à frente) Em termos de gênero, achei o final extremamente democrático, Bern@rdo. Tanto Isabella quanto Sonny fizeram concessões e tiveram perdas. E aquele sentimento de "fizemos o possível, quem sabe a gente se vê por aí" ficou muito bonito. Melancólico sem ser depressivo.
  17. Aí vai a minha lista: 1. Fantasia (vários, 1940) 2. Cidadão Kane (Orson Welles, 1941) 3. Jejum de Amor (Howard Hawks, 1940) 4. O Terceiro Homem (Carol Reed, 1949) 5. O Falcão Maltês (John Huston, 1941) 6. Cartas de Uma Mulher Desconhecida (Max Öphuls, 1948) 7. Ladrões de Bicicleta (Vittorio de Sica, 1948) 8. Almas Perversas (Fritz Lang, 1945) 9. Interlúdio (Alfred Hitchcock, 1946) 10. Pinóquio (Ben Sharpsteen e Hamilton Luske, 1940) 5 menções honrosas, sem ordem: Sangue de Pantera (Jacques Torneur, 1942) Dumbo (Ben Sharpsteen, 1941) Casablanca (Michael Curtiz, 1942) Laura (Otto Preminger, 1944) Ser Ou Não Ser (Ernst Lubitsch, 1942) O filme do Orson Welles é um primor em inúmeros aspectos, mas Fantasia é o filme do meu coração dessa década. Ouvir Bach, Ponchielli e Moussorgsky com aquelas imagens é uma coisa do outro mundo. Beethoven, Schubert, Ponchielli, Bach, Dukas, Stravinsky, Moussorgsky e (meu preferido) Tchaikovsky. Alexei2007-06-14 13:47:20
  18. Gosto muito de O Informante e um pouco menos de Fogo contra Fogo e Colateral. Mas também são bacanas. Agora, Miami Vice é show. Ô filme maravilhoso, com punch, personagens femininos valorizados (Naomie Harris e Gong Li!) e uma edição de som que é um absurdo. Esse filme é um dos meus preferidos do ano passado. E aquele final é lindo demais.
  19. Pensei já ter visto uma enquete sobre esse cineasta, mas posso estar enganado. Esses tópicos vão e vêm como os filmes do Denys Arcand, afinal de contas. Deve ter, sei lá, uns cinqüenta diretores cujos filmes eu me identifico mais do que os desse cara. Se7en é bacana na construção de ambientes (parecem pinturas do Francis Bacon despidas do elemento sobrenatural), mas do resto dos filmes citados eu não gosto muito. Quarto do Pânico é o que mais me incomoda, com aquele virtuosismo todo no uso da câmera. Tudo isso era válido até Zodíaco. Esse sim, eu considero realmente bom. Sem favores.
  20. (com spoiler moderado) É o primeiro filme do David Fincher desde Se7en que eu gosto realmente. Ele se tornou meu preferido do diretor, na verdade. Claro que o roteiro é muito bem trabalhado, mirando no hábito perverso que as pessoas têm de capitalizar a desgraça alheia em seu próprio benefício - mídia, corporações, profissionais liberais, todos transformam o episódio do Zodíaco num circo - mas considero mais interessante o fato de que o eixo do filme é bem ortodoxo e se tornaria cansativo em mãos menos habilidosas. Sorte que o Fincher amadureceu, e bastante. Talvez justamente por ter percebido isso é que o diretor valorizou tanto os dramas humanos paralelos à história. E ele não teria tido tanto sucesso se Downey Jr., Ruffalo e Gyllenhaal não estivessem tão bem. Esses três, que são os protagonistas de partes do filme, nesta ordem (outro ponto pro Fincher; grande idéia!), entram na pele de seus personagens mesmo. Um negócio bacana de se ver. Foto, trilha, edição, tudo show. E eu gostei muito daqueles contraplanos seguidos (no finalzinho), quando o Graysmith olha para o suposto, talvez provável, assassino. É muito bem transmitida a maneira como ele expressa facialmente sua desconstrução do mito (afinal, ele tinha que matar o Zodíaco dentro dele, pelo menos em parte, para seguir sua vida), ao mesmo tempo em que o Arthur deixa de ser um mero balconista por alguns segundos e fica todo "eu já fui importante um dia e você sabe disso". Thumbs up! Alexei2007-06-12 11:22:32
  21. Não resistiu e leu os spoilers, Dead? Mas que coisa, hein? Hahah Muito obrigado pelos comentários elogiosos, rapaz. Também leio sempre seus posts, você sabe. Não deixe de ver esse filme no cinema de jeito nenhum. E filtre todo esse hype antes de conferi-lo, Ok?
  22. O ideal seria rever o primeiro filme mesmo, mas creio que se isso não for possível, ver esse no cinema vale a pena ainda assim. Nenhum dos dois filmes investe muito na explicação da trama, e sim na construção de ambientes e na psicologia dos personagens. Por isso é que o prejuízo em não rever o primeiro não seria grande, acho. Basta saber que se trata de um vírus altamente infeccoso que se espalhou pela Grã-Bretanha, transformando as pessoas em maníacos canibais. Sobre o resto da história o próprio início da continuação se encarrega de situar o espectador.
  23. Com vários spoilers. Se não viu, não leia. Vi ontem e achei muito, muito bom. Fresnadillo sabia que sofreria comparações ingratas com o primeiro filme, por isso resolveu não competir diretamente, trocando a sensação de espanto e solidão do primeiro filme por uma desesperança onipresente. O foco é outro, muito mais global do que o primeiro filme, infinitamente mais pessimista e mais agressivo também. Uma das coisas que mais me impressionaram no filme é que todas as desgraças que acontecem - e que não são poucas - resultam de boas intenções dos personagens. É a mulher que se recusa a abandonar uma criança perdida no meio do caos e acaba se separando do marido e provocando a morte de outras pessoas, a jovem que vai buscar uma foto da mãe para que o irmão caçula não esqueça de sua fisionomia e coloca a integridade física de 15 mil pessoas em risco, o marido que burla o sistema de segurança para rever a esposa à revelia dos militares e acaba contaminado, a médica que tenta salvar pessoas que poderiam ter a cura do vírus mas que, em situação diametralmente oposta, acabam espalhando-o pela Europa continental. Altruísmo fora de hora, falta de visão de longo prazo ou de senso de coletividade, as causas são várias, mas as conseqüências são sempre nefastas. Muito bem filmado, com uma edição de imagens e de som sensacionais (o silêncio, aqui, causa muito mais medo que os gritos), 28 Weeks Later tem um elenco de primeiríssima qualidade (Carlyle e McCormack arrebentam) e um roteiro muito bem costurado, cheio de dubiedades morais. Quem pode exigir de Don uma atitude diferente daquela covardia que ele demonstra no começo, abandonando a mulher? E os militares, abrindo fogo contra a multidão desesperada (os pobres coitados que já haviam escapado da primeira epidemia)? Que outra postura seria razoável naquelas circunstâncias? No final, todos estamos ferrados e não há escapatória. Desde Terror em Silent Hill que eu não via no cinema um filme trabalhando tão bem o tema da inexorável destruição da raça humana. Algumas cenas incrivelmente perturbadoras, como o primeiro ataque de Don, a chacina dos refugiados e a caminhada às cegas no metrô, chegam a ser um bônus. Não deixem de ver esse filme na tela grande, de jeito nenhum!
  24. Obrigado pela parte que nos toca - esse agradecimento deve ir para o Nacka, na verdade, que é o idealizador do tópico -, embora a ênfase do Cineclube em Cena seja diferente da que você mencionou. A idéia é aguçar os sentidos sobre o cinema e expandir a cultura cinematográfica; para isso são necessárias apenas percepção e sensibilidade, além de uma capacidade mínima de expressão escrita. Por isso é que a ausência de conhecimento técnico não é nem nunca foi empecilho para participar do Cineclube; na verdade, estamos aqui buscando bons textos e visões diferentes, sob uma perspectiva artística e lúdica - e não técnica. Last but not least, esse post me lembrou uma fala do Pedro Almodóvar que considero muito perspicaz acerca da técnica cinematográfica: "Lembro-me de que quando fiz meu primeiro filme, tive enormes problemas que me forçaram a filmar três planos de uma mesma cena com quase um ano de intervalo. Resultado: no início da cena, a atriz está com cabelos curtos, no plano seguinte, tem os cabelos mais compridos e no terceiro plano ela os tem longos. Vendo isso na montagem, disse a mim mesmo que os espectadores iriam chiar. Porque isso ia de encontro à mais importante das regras, que é a da 'continuidade'. Ora, ninguém nunca notou. Nunca. Isso, para mim, foi uma grande lição. Provou-me que, ao final, ninguém se importa com os defeitos técnicos a partir do momento em que o filme conta algo de interessante e sob um ponto de vista verdadeiro. É por isso que o meu conselho para aqueles que querem fazer filmes é o de filmá-los, mesmo que não saibam como. Eles descobrirão as coisas ao fazê-las, que é o método mais vivo e mais orgânico que há. O todo, é claro, é ter algo a se dizer. O problema da jovem geração em relação a isso é que eles cresceram numa cultura em que a imagem se tornou onipresente e onipotente. Eles se banham desde pequenos nos universos do clip e da propaganda, que não são universos pelos quais eu seja pessoalmente apaixonado, mas cuja riqueza visual é inegavel. Assim, os cineastas iniciantes têm uma cultura e um domínio da imagem bem maiores que aqueles que se tinham há vinte anos. Mas justamente por isso, eles têm uma abordagem do cinema que privilegia a forma em relação ao fundo, e creio que, no final das contas, isso os prejudica". (ALMODÓVAR, Pedro: Grandes Diretores de Cinema. Org. Laurent Tirard. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p. 34/35, sem grifos no original). Após uma declaração inteligente como essa, tenho que copiar a Penélope Cruz e dizer: Viva Pedro!
×
×
  • Create New...