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A imprensa esportiva no Brasil sofre de um mal crônico, contraído mais uma vez esta semana, após o já histórico gol do argentino Lionel Messi sobre o Getafe, pela Copa do Rei. Principalmente, pelo gol em questão ser incrivelmente semelhante ao marcado por outro porteño, Diego Maradona, contra os ingleses, na Copa de 86. Comparações entre os dois lances eram inevitáveis. O problema, entretanto, foram tais comparações se estenderem aos jogadores, à década, e a todo panorama atual do futebol. Diz-se de Messi que é o novo Pibe, que é o melhor do mundo, que seu gol foi o mais belo da história. Um único gol, que eleva novamente o Barcelona ao alcance dos holofotes, que oculta todo o péssimo contexto no qual vivia o clube Catalão, e que tira os olhos do mundo do titânico Manchester e seu Cristian, Cris, Cristiano... Quem mesmo?<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

As altas doses de paixão e irracionalidade injetadas pelo esporte nas veias dos torcedores devem permanecer com eles, e nunca manchar as páginas dos jornais. O jornalista esportivo precisa deixar seu torcedor em casa antes de sair para a redação. Quando isto não acontece, observamos um sensacionalismo quase inocente inundando todos os campos da imprensa, desde jornais, revistas, rádios, até mesas redondas e páginas de internet. O famoso “oba-oba”, as coqueluches, os mitos e dogmas fabricados e consumidos em série. E é sempre assim, volta e meia tentam nos vender um novo ídolo, comprado sob esperança e estilhaçado pelo insuportável peso da expectativa.

 

Comparações e expectativas fora da dosagem já destruíram carreiras que, de todo modo, teriam sido comuns como quaisquer outras. Comparar, a esta altura, Messi com Maradona não é de forma alguma um elogio ao garoto, mas sim, munição engatilhada para metralhá-lo ao passo do primeiro escorregão. Michael Owen encantou o mundo na Copa de 98, com um gol também semelhante àquele de Don Diego. Foi para o Real Madrid sob uma expectativa que não podia corresponder, acabou esquentando o banco por anos. Voltou a pouco tempo para a Inglaterra, no Newcastle, e revelou-se enfim o que nunca deixara de ser: um bom jogador, nada além. Caminho parecido trilha o brasileiro Robinho, que já quase aos 25 anos, não atingiu a sombra do sucesso de jogadores bem mais jovens, como Cristiano Ronaldo e o próprio Lionel Messi.

 

“Messi é melhor que Ronaldinho”, afirma Van Nistelroy, atacante do Real Madrid, após ver o gol do argentino. De modo algum, desejo entrar no mérito dos dois jogadores, porque além de ser absolutamente injusto para com ambos, estaria pondo em prática o que condenei nos últimos três parágrafos. Quero apenas avaliar esta afirmação, que no caso, resume perfeitamente bem o quadro alucinógeno de taquicardia no qual vive a imprensa esportiva. Apenas um gol basta para colocar Messi ao lado de Maradona e subjugar os quatro anos nos quais Ronaldinho Gaúcho esteve no topo do mundo, sendo comparado, inclusive, a Pelé (outro erro absurdo, visto que o gaúcho está longe de encerrar sua carreira), o inviolável dogma sagrado do futebol. Falta à imprensa esportiva saber que, como já comprovou a história inúmeras vezes, “a coruja de Minerva alça vôo ao entardecer”. Não se compara jogadores, não se compara gols, não se compara lances, não se compara absolutamente nada. O único modo de estabelecer “hierarquia” no esporte já foi descoberta, dentro de campo. Definir quem é superior a quem pela teoria é, além de um exemplar exercício de arrogância dos nossos jornalistas, uma pretensão imensurável. Considerar-se acima de tudo e de todos para poder julga-los e etiqueta-los na ordem que desejar, além de inútil, é apenas um grande desserviço.

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