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"N`aum vou nem falar nada!!!"
F I N A L M E N TE !!
Gente...Eu poderia tá com meus amigos nesta tarde de sábado em um barzim bebendo cerveja e comendo bolinho de angu; eu poderia tá jogando vôlei com meus parças; eu poderia tá me deliciando com as cocotinhas; mas não, eu tô aqui enfurnado em casa, desperdiçando um lindo dia de sol lá fora, vendo um filme de 4 horas de duração! Mas não é qualquer filme, é o clássico "Um Dia Quente de Verão", de 1991, de Edward Yang. Ao longo do ano, assisti a outros filmes dele para me preparar para essa jornada, e não me arrependi. É realmente um filmão!
Conhecer mais a filmografia dele foi importante para testar minha paciência com a vagareza de seus planos. E a extensão dos planos, a calma, e a paciência que há dentro das cenas, inclusive, não só no espectador, fazem bem ao filme. É um trabalho de imersão. O único momentro que parei foi por que tive de dar aquele Google maroto e pesquisar uns lances políticos da ilha de Taiwan. O filme, nesse aspecto, não é didático. Ao contrário, é lírico. Embora, por outro lado, se trate de um filme inspirado em um evento real, de matiz policial.
A pesquisa foi instrutiva para eu perceber um lance das cores do filme. Durante o longo governo ditatorial de Chiang-kai Shek, na ilha nacionalista, implantou-se uma perseguição política a quem fosse comunista-continental, e isso ficou conhecido, como "terror branco", derivando em milhares de mortos e torturados. Eu tava mesmo encafifado como tudo era branco, dos armários do colégio às camisas das pessoas, às bandejas de café...Será que é piração minha?
Mais além, o filme mostra como a ilha estava tomanda nos anos 1960 pelo militarismo, que se reflete, no mundo juvenil, pelo confronto das gangues. Há também a ocidentalização forçada, com as músicas de Elvis Presley dominando a cultura (e se espraiando em versos até no título do filme); ocidentalização refletida em matéria religiosa, com a irmã do protagonista, quase uma crente; e a ocidentalização em matéria econômica, com as figuras da irmã mais velha e da mãe (algo presente também em "História de Taipei") sonhando com uma possível ascensão profissional da família na América.
Se as duas primeiras horas são mais enfadonhas, mais difíceis, muito presas ao mundo juvenil; as duas últimas horas são ótimas, mostrando a perseguição à acovardada figura do pai (algo disso há em "História de Taipei") com destaque para os sensacionais e surpreendentes 40 minutos finais.
Dizem que é um dos melhores filmes de todos os tempos. Mas quem vai encarar e comprovar? Seus exatos 257 minutos são em geral obstaculizantes, tanto que o diretor entregou também uma versão menor com 188 minutos.
De qualquer forma, assim como um bolinho de angu e uma cerveja gelada; um voleizinho disputado; e umas cocotinhas do Tinder; sim, vale a pena gastar um sábado imerso cinematograficamente neste dia.