Richard Linklater

[Questão]

 Visto O HOMEM DUPLO

 

 

 

 

   Na trama, passada em um futuro não muito distante, Bob Arctor (Keanu Reeves) leva uma vida dupla como um investigador que trabalha para o governo no combate as drogas usando um traje especial que o torna totalmente irreconhecível, e como um traficante de drogas, dividindo a sua casa com James Barris (Robert Downey JR) outro traficante, e com o viciado Ernie Luckman (Woody Harrelson). Entretanto, as duas vidas de Arctor entram em rota de colisão quando seus superiores do governo ordenam que ele investigue a si próprio.

 

  Baseado em romance de Philip K. Dick, O HOMEM DUPLO mostra um futuro onde as liberdades individuais se tornam cada vez mais restritas em nome da segurança, algo muito comum na obra do escritor, vide o enredo de MINORITY REPORT: A NOVA LEI de Steven Spielberg, também baseado em obra de Dick. No caso do universo deste filme, devido ao alto índice de viciados nos Estados Unidos, especialmente em uma nova droga chamada "Substância D", ligações telefônicas e pessoas em geral estão sob constante vigilância.

 

  Neste mundo não tão diferente do nosso, o protagonista vive em uma posição privilegiada, devido ao seu trabalho no governo. A opção de Linklater de rodar o filme utilizando-se da rotoscopia casa perfeitamente com a historia que quer contar. A técnica não só facilitou a criação dos trajes especiais usados pela força tarefa da qual Arctor faz parte, que cria um visual totalmente despersonalizado, já que partes diferentes do corpo do indivíduo estão em constante e simultânea mudança, como também potencializou as sequências em que os personagens sofrem alucinações devido ao uso da Substância D.

 

 E é justamente sobre a perda da realidade e da identidade que o filme de Richard Linklater quer falar. O roteiro do filme simboliza isso já na angustiante sequência de abertura, através de Charles Freck (Rory Cochrane) um homem em estado avançado de vício na Substância D, que vê o seu corpo e a sua casa infestada de pulgões, e tenta inutilmente se livrar deles. Mas o personagem de Freck apenas simboliza o tema, pois é na jornada de Arctor que vemos como com o uso das drogas, e a consequente vida dupla acarretada por este uso.

 

  Além de ser claramente uma historia de manifesto anti drogas, (mas que é conduzida por Linklater de modo a não soar excessivamente panfletário) O HOMEM DUPLO também é uma acida critica aos métodos usados pelo governo para atingir o chamado "bem maior". Enfim, uma ficção científica com um ótimo roteiro, personagens interessantes, e que versa bem sobre os assuntos que escolheu desenvolver. Linklater mandou muito bem aqui.