Jump to content
Forum Cinema em Cena

Poesias


gold_walker
 Share

Recommended Posts

  • Members

FAZ DE CONTA

 

 

 

Jogar ao faz de conta com a vida.

 

Dizer fizeste bem a quem me deixou mal.

 

Falar do vento forte no meio da calmaria.

 

Recomeçar a obra de costas para o fim.

 

Fazer a festa ao cão antes de o ver chegar.

 

Pular na nuvem quando pisar o asfalto.

 

Brincar às escondidas no deserto.

 

Sentir o negro e afagar o branco.

 

Prender a lantejoula por debaixo da pele.

 

Enunciar o cheiro das flores por nascer.

 

Cantar ao desafio com a própria voz.

 

Trepar à amoreira e anunciar a seda.

 

Olhar o velho sentado no degrau e

 

Dizer de um barco que acostou no cais.

 

Acreditar que o sino é um seno a soar.

 

Quedar-me à beira-morte e dizer beira-mar.

 

 

 

Antoine de Saint-Exupéry 08.gif

Link to comment
Share on other sites

  • Members

O cântico da terra

 

 

 

Eu sou a terra, eu sou a vida.

 

Do meu barro primeiro veio o homem.

 

De mim veio a mulher e veio o amor.

 

Veio a árvore, veio a fonte.

 

Vem o fruto e vem a flor.

 

 

 

Eu sou a fonte original de toda vida.

 

Sou o chão que se prende à tua casa.

 

Sou a telha da coberta de teu lar.

 

A mina constante de teu poço.

 

Sou a espiga generosa de teu gado

 

e certeza tranqüila ao teu esforço.

 

 

 

Sou a razão de tua vida.

 

De mim vieste pela mão do Criador,

 

e a mim tu voltarás no fim da lida.

 

Só em mim acharás descanso e Paz.

 

 

 

Eu sou a grande Mãe Universal.

 

Tua filha, tua noiva e desposada.

 

A mulher e o ventre que fecundas.

 

Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

 

 

 

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.

 

Teu arado, tua foice, teu machado.

 

O berço pequenino de teu filho.

 

O algodão de tua veste

 

e o pão de tua casa.

 

 

 

E um dia bem distante

 

a mim tu voltarás.

 

E no canteiro materno de meu seio

 

tranqüilo dormirás.

 

 

 

Plantemos a roça.

 

Lavremos a gleba.

 

Cuidemos do ninho,

 

do gado e da tulha.

 

Fartura teremos

 

e donos de sítio

 

felizes seremos.

 

 

 

Cora Coralina 03.gif

Link to comment
Share on other sites

  • Members

01

Um dia <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres tem extinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um diapercebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia saberemos a importância da frase: "Tu se tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
Enfim...
um dia descobrimos que apesar de viver quase um século
esse tempo todo não é suficiente
para realizarmos todos os nossos sonhos,
para beijarmos todas as bocas que nos atraem,
para dizer tudo o que tem que ser dito..
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Mario Quintana

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Arte de Amar <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Se queres sentir a felicidade de amar,
esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Consolo na praia ...

Manuel Bandeira

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Canção do meu abandono <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Que importa se as ruas estão cheias de mulheres
esbanjando beleza e promessa
ao alcance da mão?
Se tu já não me queres
é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo!
Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso
rindo feliz, como um guiso
em tua boca?
E todo momento
mesmo sem te beijar eu estava te beijando:
com as mãos, com os olhos, com os pensamentos,
numa ansiedade louca!
Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos, os meus
nos teus,
os teus
nos meus,
se misturavam confundindo as cores
ansiosos como olhos
que se diziam adeus...
Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos
e nos meus,
era êxtase, ventura, infinito langor,
era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura
de ternura com ternura
no mesmo olhar de amor!
Ainda ontem, cada instante era uma nova espera...

Deslumbramento, alegria exuberante
e sem limite...
E de repente,
de repente eu me sinto triste como um velho muro
cheio de hera
embora a luz do sol num delírio palpite!
Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas
quando inteira te despi,
nem de alegrias incalculadas
depois que te senti...
Depois de te amar assim, como um deus, como um louco,
nada me bastará, e se tudo é tão pouco...
... eu devia morrer...

J. G. De Araujo Jorge

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Você, que tanto tempo faz

Você,que eu não conheço mais

Você, que um dia eu amei demais

Você, que ontem me sufocou

De amor e de felicidade

Hoje,me sufoca,de saudade

Você, que já não diz pra mim

As coisas,que preciso ouvir

Você que até hoje eu,não esqueci

 

Você,que eu tento me enganar,

Dizendo...que tudo passou

Na realidade aqui,em mim,

Você ficoou

Você que eu não encontro mais

Os beijos,que já não lhe dou

Fui tanto pra você,e hoje nada sou.

Link to comment
Share on other sites

  • Members

 

 

Motivo

 

 

Eu canto porque o instante existe

 

e a minha vida esta completa.

 

Não sou alegre nem sou triste:

 

sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

 

não sinto gozo nem tormento.

 

Atravesso noites e dias

 

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

 

se permaneço ou me desfaço,

 

não sei, não sei. Não sei se fico

 

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

 

Tem sangue eterno a asa ritmada.

 

E um dia sei que estarei mudo:

 

- mais nada.

 

 

 

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Arte de amar

 

 

 

 

 

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

 

A alma é que estraga o amor.

 

Só em Deus ela pode encontrar satisfação.

 

Não noutra alma.

 

Só em Deus — ou fora do mundo.

 

As almas são incomunicáveis.

 

 

 

 

 

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

 

 

 

 

 

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

 

 

 

 

 

Manuel Bandeira

Link to comment
Share on other sites

  • Members

No silêncio dos olhos

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago

Link to comment
Share on other sites

  • Members

 

 

 

 

Precisão

 

 

 

O que me tranquiliza

 

é que tudo o que existe,

 

existe com uma precisão absoluta.

 

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

 

não transborda nem uma fração de milímetro

 

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

 

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

 

Pena é que a maior parte do que existe

 

com essa exatidão

 

nos é tecnicamente invisível.

 

O bom é que a verdade chega a nós

 

como um sentido secreto das coisas.

 

Nós terminamos adivinhando, confusos,

 

a perfeição.

 

 

 

Clarice Lispector

Link to comment
Share on other sites

  • Members

 

 MINHA FLOR, MEU BEBE

 Cazuza

 

Dizem que tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de bobo
Pra você sobressair

Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

 

Né, Mogi?01

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Desejo

Ah! que eu não morra sem provar, ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!
Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre
Um anjo, uma mulher, uma obra tua,
Que sinta o meu sentir;
Uma alma que me entenda, irmã da minha,
Que escute o meu silêncio, que me siga
Dos ares na amplidão!
Que em laço estreito unidas, juntas, presas,
Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem
Num êxtase de amor!

Gonçalves Dias
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Cartografia



Deixe que meus versos
Acariciem teu pescoço
Para que cada palavra de minha boca
Busque os segredos profundos de tua pele.
Em verbos e adjetivos
Mapearei a geometria de tuas formas
Delirando entre sonhos e verdades
E desejos
E loucuras
E vivências.
Entre o toque da caneta no papel
E o de minha língua em tua língua
Vai uma distância tão curta
Que escala alguma representará.
Derrubando fronteiras
Com rios de prosa e versejar
Traçarei meandros de corpos em corpos
Estremecendo as atmosferas de nossos toques.
E quando o último verso meu
Escorregar de tuas pernas
Eu me afastarei
E contemplarei
Cada linha eterna de tua beleza,
Eternamente gravadas em mim.
E saberei não haver distância
Entre minhas palavras e tua boca.

                                                                                 Paulo Mont'Alverne
Link to comment
Share on other sites

  • Members

...muito linda Cartografia!!! apesar do teor de sacanagem..06

 

http://www.encantosepaixoes.com.br
 
 

Ando a chamar por ti, demente, alucinada,

Aonde estás, amor ? Aonde ... aonde ... aonde ?

O eco ao pé de mim segreda ... desgraçada ...

E só a voz do eco, irónica , responde!
 
 

 Estendo os braços meus ! Chamo por ti ainda !

O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;

Parece a tua voz, a tua voz tão linda

Cantando como um rio banhado de luar !
 
 

 Eu grito a minha dor, a minha dor intensa !

Esta saudade enorme, esta saudade imensa !

E só a voz do eco à minha voz responde ...
 
 

 Em gritos, a chorar, soluço o nome teu

E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:

Aonde estás, amor ? Aonde ... aonde ... aonde ?
 
 
 

http://www.encantosepaixoes.com.br

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Noivado

 

 

 

Vês, querida, o horizonte ardendo em chamas?

 

Além desses outeiros

 

Vai descambando o sol, e à terra envia

 

Os raios derradeiros;

 

A tarde, como noiva que enrubesce,

 

Traz no rosto um véu mole e transparente;

 

No fundo azul a estrela do poente

 

Já tímida aparece.

 

 

 

Como um bafo suavíssimo da noite,

 

Vem sussurrando o vento,

 

As árvores agita e imprime às folhas

 

O beijo sonolento.

 

A flor ajeita o cálix: cedo espera

 

O orvalho, e entanto exala o doce aroma;

 

Do leito do oriente a noite assoma;

 

Como uma sombra austera.

 

 

 

Vem tu, agora, ó filha de meus sonhos,

 

Vem, minha flor querida;

 

Vem contemplar o céu, página santa

 

Que o amor a ler convida;

 

Da tua solidão rompe as cadeias;

 

Desde o teu sombrio e mudo asilo;

 

Encontrarás aqui o amor tranqüilo...

 

Que esperas? que receias?

 

 

 

Olha o templo de Deus, pomposo e grande;

 

Lá do horizonte oposto

 

A lua, como lâmpada, já surge

 

A alumiar teu rosto;

 

Os círios vão arder no altar sagrado,

 

Estrelinhas do céu que um anjo acende;

 

Olha como de bálsamos rescende

 

A c'roa do noivado.

 

 

 

Irão buscar-te em meio do caminho

 

As minhas esperanças;

 

E voltarão contigo, entrelaçadas

 

Nas tuas longas tranças;

 

No entanto eu preparei teu leito à sombra

 

Do limoeiro em flor; colhi contente

 

Folhas com que alastrei o solo ardente

 

De verde e mole alfombra.

 

 

 

Pelas ondas do tempo arrebatados,

 

Até à morte iremos,

 

Soltos ao longo do baixel da vida

 

Os esquecidos remos.

 

Firmes, entre o fragor da tempestade,

 

Gozaremos o bem que amor encerra,

 

Passaremos assim do sol da terra

 

Ao sol da eternidade.

 

 

 

Machado de Assis

 

 

 

 

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Quadrilha

 

 

 

João amava Teresa que amava Raimundo

 

 

 

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

 

 

 

que não amava ninguém.

 

 

 

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

 

 

 

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

 

 

 

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

 

 

 

que não tinha entrado na história.

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

 

 

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Particularmente eu prefiro quiabo cru

Há quem não goste de criança
Há quem adore ensinar
Há quem os olhos não levante
E há quem garanta só olhar

Há quem procure o ponto G
Há quem pule na hora H
Há quem não goste se doer
Mas há quem vá se viciar

Há quem abafe o prazer
Há quem se permita um palavrão
Há quem não exija que haja amor
E há quem se negue à precisão
Há quem não esqueça o vinho branco
Há quem vá de leite condensado
Há quem seja atento sempre e tanto
Mas há quem grite o nome errado

Há quem pra isso não tenha gula
Há quem engula só de ver
Há quem não perca uma parada
E há quem nem saiba o que fazer
Há quem não dispense um inferninho
Há quem já aderiu a um tal à-trois
Há quem não goste de tal gosto
Mas há quem ande louco pra gostar

Cada um tem sua tara
Não me venha dizer que não
Assuma a sua e meta a cara
Pois quem não tem, tem precisão
Alimente-a com carinho
Não deixe nada lhe faltar
Vergonha é que é proibido
Mais esquisito é não gozar

                                                                                            Ricardo Kelmer
Link to comment
Share on other sites

  • Members

O deslizar

 

 

 

Deslizo

 

A sua imagem pelo meu pensamento

 

O seu cheiro pelo meu sangue

 

A sua voz, as suas palavras pelo meu desejo

 

 

 

Deslizo

 

As minhas mãos por entre as suas coxas

 

A minha boca pelos seus lábios

 

O meu corpo pelo seu

 

 

 

Deslizo

 

Tudo o que pode haver no mundo

 

E que no entanto somos só nós dois

 

A dançar como imagens oníricas

 

 

 

Deslizar de sonhos

 

de espaços intermináveis

 

De amores, paixões incontroláveis

 

Infinitas

 

 

 

Deslizo

 

Trêmulo, nervoso pelo meu desejo

 

De não deixá-la deslizar

 

Por entre as minhas mãos

 

 

 

 

 

 

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Fernando Pessoa

 

 

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvairo seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimarães

Link to comment
Share on other sites

  • Members

Olha pro céu meu amor


Você já viu a lua?
Pois é, esta ai fora,
Nua, que nem você.
Linda, muito linda.
Os raios entram pela
Fresta da janela.
Parece uma festa,
Que nem você que fica
De calcinhas e aninha as
Minhas fantasias,
Fantasminhas, da mina cabeça.
E eu aqui agarrado nesse lápis,
nesse papel, de gin tônica,
queijos e azeitonas.
Poemas atonal, atual, banal,
Que nem jornal, afinal,
É assim que eu tento ser feliz.
Brinco de ser feliz...
E por um triz, que nem chão de giz,
Riscado, desenhado nas paredes
Desse querer, e eu querendo o
Teu querer, sem querer ser muito
Exigente, inteligente...
Só um pouco.
Muito mais carnal, do que normal.
Talvez meio colegial, mas é legal
Te sentir assim.
Mas, você já viu a lua?
Pois é, tá nua, crua,
Que nem você...
E bebo o gin, assim,
Que nem você...
Os desejos sobem a cabeça,
Me imagino peregrino
Dos teus beijos.
Cigano, e não me engano,
Dos teus desejos.
Incenso na casa,
Cheiro doce de lotus ,
Intenso, e as vezes penso,
Através da luz bruxuleante dessas
Velas, que tu estás a caminho...
Aninho esse sonho, essa vontade,
E olho a lua, com olhos sisudos,
Mudos de te ver.
Você já viu a lua?
Pois é, tá na rua,
Pra todo mundo ver.
Alguns vêem... Outros não...
Então, eu penso no Pessoa...
E através do Pessoa, penso na
Pessoa de ti, que nem a lua.
É só a lua, e pronto.
Me invade, me preenche,
Enche e pronto.
Sem maiores explicações...
Não vim pra explicar.
Vim pra conquistar e
Ser conquistado.
Longe de mim ser colonizador.
A dor? Eu convivo com ela...
Vela? Não. Bela é a lua...
Bela é você.
Que vem vindo pela brecha da janela,
De cabelos soltos ao vento,
No meu pensamento, ungüento
Das minhas saudades.
Tarde? Não, é muito cedo
Pra ser infeliz.
Você já viu a lua?
Pois devia, tá linda.
Escorre no horizonte,
Qual chuva de prata.
As estrelas? Pobres das estrelas,
Nem brilham.
Também poderá...
Você e a lua juntas,
É covardia...
Tardia? Talvez, freguês
Dos teus afagos,
E o Alceu? Percebeu,
Escorre da vitrola, que nem
Lágrimas das velas.
Escorre quente, decente,
Indolente, entrementes,
Eu penso em você.
E a lua?
Tá lá ela...
Singela, donzela, e você,
É mais ela dentro de mim.
Only you!... Pois é...
Belchior na vitrola,
Controla o meu pensamento, e
Intenso eu me lembro de você.
Por quê? Ora.. "Diana, suburbana,
Suja de baton"...
Dê o tom, me suja de baton...
Eu te quero assim.
E esse poema, sem fim.
Eu acabo como?
De quimono? Não..
De quimono não.
Acabo sim, acabo!...
Acabo mesmo?
Não tenho tanta certeza.
Só a certeza dos teus afagos...
Assim fulgás, atrás dos teu carinhos.
Olha!... Olha pro céu...
Olha pro céu meu amor...
Tá vendo a lua?
Eu não... Só você.
Quer mais que isso?
Impossível.

                                                                                     Ivaldo Gomes

 

 


 
Link to comment
Share on other sites

  • Members

Poeminha de louvor ao "strip-tease" secular

 

 

 

Eu sou do tempo em que a mulher

 

Mostrar o tornozelo

 

Era um apelo!

 

Depois, já rapazinho, vi as primeiras pernas

 

De mulher

 

Sem saia;

 

Mas foi na praia!

 

 

 

A moda avança

 

A saia sobe mais

 

Mostra os joelhos

 

Infernais!

 

 

 

As fazendas

 

Com os anos

 

Se fazem mais leves

 

E surgem figurinhas

 

Em roupas transparentes

 

Pelas ruas:

 

Quase nuas.

 

E a mania do esporte

 

Trouxe o short.

 

O short amigo

 

Que trouxe consigo

 

O maiô de duas peças.

 

E logo, de audácia em audácia,

 

A natureza ganhando terreno

 

Sugeriu o biquíni,

 

O maiô de pequeno ficando mais pequeno

 

Não se sabendo mais

 

Até onde um corpo branco

 

Pode ficar moreno.

 

 

 

Deus,

 

A graça é imerecida,

 

Mas dai-me ainda

 

Uns aninhos de vida!

 

 

 

Millôr Fernandes

 

 

 

Kikas2006-12-01 22:02:20

Link to comment
Share on other sites

  • Members

NÃO GOSTE APENAS DO AMOR

Luís Fernando Veríssimo

 

Goste de alguém que te ame, alguém que te espere,

Alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura;

De alguém que te ajude, que te guie,

Que seja seu apoio, tua esperança, teu tudo.

 

Goste de alguém que não te traia, que seja fiel, que sonhe contigo, que só pense em vc,

que só pense no teu rosto, na tua delicadeza, no teu espírito;

E não só no teu corpo, nem em teus bens.

 

Goste de alguém que te espere até o final,

de alguém que sofra junto contigo, que ria junto a ti, que enxugue suas lágrimas;

Que te abrigues quando necessário,

que fique feliz com tuas alegrias e que te dê forças depois de um fracasso.

 

Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas, depois do desencontro.

De alguém que caminhe junto a ti, que seja companheiro, que respeite tuas fantasias, tuas ilusões.

 

Goste de alguém que te ame.

Não goste apenas do amor.

 

Goste de alguém que sinta o mesmo por você...

Lucia2006-12-02 06:43:15

Link to comment
Share on other sites

  • Members

 

O homem; as viagens  

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade 

 

 

 

O homem, bicho da Terra tão pequeno 

 

chateia-se na Terra 

 

lugar de muita miséria e pouca diversão, 

 

faz um foguete, uma cápsula, um módulo 

 

toca para a Lua 

 

desce cauteloso na Lua 

 

pisa na Lua 

 

planta bandeirola na Lua 

 

experimenta a Lua 

 

coloniza a Lua 

 

civiliza a Lua 

 

humaniza a Lua. 

 

Lua humanizada: tão igual à Terra. 

 

O homem chateia-se na Lua. 

 

Vamos para Marte - ordena a suas máquinas. 

 

Elas obedecem, o homem desce em Marte 

 

pisa em Marte 

 

experimenta 

 

coloniza 

 

civiliza 

 

humaniza Marte com engenho e arte. 

 

Marte humanizado, que lugar quadrado. 

 

Vamos a outra parte? 

 

Claro - diz o engenho 

 

sofisticado e dócil. 

 

Vamos a Vênus. 

 

O homem põe o pé em Vênus, 

 

vê o visto - é isto? 

 

idem 

 

idem 

 

idem. 

 

O homem funde a cuca se não for a Júpiter 

 

proclamar justiça junto com injustiça 

 

repetir a fossa 

 

repetir o inquieto 

 

repetitório. 

 

Outros planetas restam para outras colônias. 

 

O espaço todo vira Terra-a-terra. 

 

O homem chega ao Sol ou dá uma volta 

 

só para tever? 

 

Não-vê que ele inventa 

 

roupa insiderável de viver no Sol. 

 

Põe o pé e: 

 

mas que chato é o Sol, falso touro 

 

espanhol domado. 

 

Restam outros sistemas fora 

 

do solar a col- 

 

onizar 

 

Ao acabarem todos só resta ao homem (estará

equipado?) 

 

a dificílima dangerosíssima viagem 

 

de si a si mesmo: 

 

pôr o pé no chão 

 

do seu coração 

 

experimentar 

 

colonizar 

 

civilizar 

 

humanizar 

 

o homem 

 

descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas 

 

a perene, insuspeitada alegria 

 

de con-viver. 

 

Luis Eduardo2006-12-02 16:53:04

Link to comment
Share on other sites

Join the conversation

You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.

Guest
Reply to this topic...

×   Pasted as rich text.   Paste as plain text instead

  Only 75 emoji are allowed.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

Loading...
 Share

×
×
  • Create New...