Members jujuba Posted December 24, 2006 Members Report Share Posted December 24, 2006 Feliz Natal a quem cultiva ninhos de pássaros no beiral da utopia e coleciona no espírito as aquarelas do arco-íris.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Feliz Natal aos que reverenciam o silêncio como matéria-prima do amor e arrancam das cordas da dor melódicas esperanças. Também aos que se recostam em leitos de hortênsias e bordam, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura Feliz Natal a todos que dançam embalados pelos próprios sonhos e nunca dizem sim às artimanhas do desejoa quem resguarda-se em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.E aos que suprimem a letra erre do verbo armar e se recusam a ser reféns do pessimismo. Feliz Natal aos ébrios de transcendência e aos filhos da misericórdia que dormem acobertados pela compaixão. E a todos que contemplam ociosos o entardecer, observando como o Menino entra na boca da noite montado em seu monociclo solar. Feliz Natal a quem não se deixa seduzir pelo perfume das alturas e nem escala os picos em que os abutres chocam ovos. Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão e convocam os famélicos à mesa feita com as tábuas da justiça e coberta com a toalha bordada de cumplicidades. Feliz Natal aos que secam lágrimas no consolo da fé e plantam no chão da vida as sementes do porvir. (Frei Beto – Fragmento) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted December 26, 2006 Members Report Share Posted December 26, 2006 Seios Teus seios pequeninos que em surdina,pelas noites de amor, põem-se a cantar,são dois pássaros brancos que o luarpousou de leve nessa carne fina.E sempre que o desejo te alucina,e brilha com fulgor no teu olhar,parece que seus seios vão voardessa carne cheirosa e purpurina.Eu, pare tê-los sempre nesta lida,quisera, com meus beijos, desvairado,poder vesti-los, através da vida,para vê-los febris e excitados,de bicos rijos, ávidos, rasgandoa seda que os trouxesse encarcerados. Hildo Rangel Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted December 26, 2006 Members Report Share Posted December 26, 2006 Afff, Movio! Graça da Praia das Flechas Vem profundo Nesta solidão de meu mundo Introduzas martirizando Em quem estás amando És mau Perverso Liberto de preconceitos Nada te prende Perdes os caminhos Razão pela qual vives sozinho. Eu por ti fervendo Em fogo morrendo Delirando Febre me consumindo Por esta paixão sem pudor Que não tem forma e nem cor Apenas é arrebatadora Excessiva Exclusivista A ti conquista. ( Fragmento, não sei o autor) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 26, 2006 Members Report Share Posted December 26, 2006 SONETO DO PRAZER MAIOR Amar dentro do peito uma donzela; Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura; Falar-lhe, conseguindo alta ventura, Depois da meia-noite na janela: Fazê-la vir abaixo, e com cautela Sentir abrir a porta, que murmura; Entrar pé ante pé, e com ternura Apertá-la nos braços casta e bela: Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos, E a boca, com prazer o mais jucundo, Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos: Vê-la rendida enfim a Amor fecundo; Ditoso levantar-lhe os brancos folhos; É este o maior gosto que há no mundo BOCAGE Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted January 3, 2007 Members Report Share Posted January 3, 2007 Escondido entre o arvoredo Vejo escondido entre o arvoredo,Mulheres banhando-se no rio.Vestidas de nada, nuas, sem medo,Aquece-as o sol, esquece-lhes o frio.Invejo o rio que numa carícia,Afaga todos os seus recantos.Cresce em mim uma malícia,Perco-me a fitar os seus encantos.Banham-se, brincam e gracejam,Cantam melodias de encantar.Ainda sinto que ali estejam,Mesmo depois de acordar. Luís Caeiro Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted January 3, 2007 Members Report Share Posted January 3, 2007 Aninha e suas pedras Não te deixes destruir... Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. Cora Coralina Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted January 4, 2007 Members Report Share Posted January 4, 2007 Crime Simone Barbariz Testemunhas: as quatro paredes.Local do crime: a cama.Réus: eu e você. Crime cometido: amor louco e desenfreado, Amor sem limites, Amor em todas suas formas possíveis,Em todas as formas em que éramos compatíveis. Acoplados com a perfeição de dois módulos espaciais, Onde qualquer erro milimétrico, Compromete o sucesso da missão... Missão cumprida... A missão foi um sucesso total,Pois dois corpos tornaram-se um!Não mais existia eu e você, Mas, sim, eu-você...Cometemos um crime perfeito Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted January 4, 2007 Members Report Share Posted January 4, 2007 Shy, detonando! Este crime compensa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted January 4, 2007 Members Report Share Posted January 4, 2007 Afff! Tu curtiu, hein? Tome mais: Fatalismo Amo o que em ti há de trágico. De mau.De sublime. Amo o crime escondido no teu andar.A tua forma de olhar. O teu riso fingidoe cristalino.Amo o veneno dos teus beijos. O teu hálito pagão.A tua mão insegurana mentira dos teus gestos.Amo o teu corpo de maçã madura.Amo o silêncio perpendicular do teu contactoA furia incontrolavel da marénas ondas vaginais do teu orgasmo.E esta tua ausênciaEste não-ser quem é. Manuela amaral Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Rusty Ryan Posted January 4, 2007 Members Report Share Posted January 4, 2007 'Não posso exigir o amor de ninguém.Apenas dar boas razões para que gostem de mim' ---------------------------------------'Tudo que vai, um dia volta e para tudo que se faz exite uma resposta.' ------------------------------------A melhor arma política é a arma do terror, a crueldade gera respeito. Podem odiar-nos se quiserem, nãop queremos que nos amem queremos que nos temam! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 Virtual.... Nunca te vi, Não conheço o teu corpo, Mas eu te sinto Mesmo que estejas longe. Não me olhei ainda Na luz dos teus olhos E nem provei O gosto da tua boca. Mas eu te quero, Mesmo sabendo Que nunca te terei. Não experimentei o teu toque E nem sequer te acariciei, Mas sinto o teu perfume no ar. Sucumbi à tua sedução, Mesmo sabendo Que nunca te encontrarei. Nosso amor é só virtual, Mas não faz mal, Pois alma é mais do que corpo. E, se não te tenho ao meu lado, Que o vento sussurre para ti Minhas palavras de carinho. Quero também que ele diga Que alguém te ama Do jeito que mais sabe, Com tudo o que é capaz. E se pensares no amor, E em tudo o que ele traz, De felicidade, na vida, Ora, isso não é nada, Pois te amo muito mais! Alma é mais do que corpo. E minha alma seguirá Sempre amando a tua, Mesmo que nossos corpos Nunca possam se encontrar. Mas chegará o momento, Por alma ser mais que corpo, Que seremos só uma alma, Um coração E um só pensamento! C. Almeida Stella Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 Este poema da Kikas é muito bonito. Eu o lí há uns anos atrás e é muito inspirador... Nos tempos de internet, quantos não se encontram nesta inusitada situação? Amores impossíveis... amores cibernéticos... Estes tempos são loucos realmente! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members tigo Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 Moderna escravidão Suburbano, subalterno,veste o terno e obedece.Desce escadas, vai emborae não demora a voltar.Desafrocha o nó da gravata,mas não o da garganta,não adianta reclamar.Calça o sapatoe pisa com tato para não machucar,levante homem e vai trabalhar!Senta e calcula o prejuízodo desajuízo das palavras do reicravadas no peito, na falta de jeito, na falta de trato não prevista em contrato.Desce as escadas, vai emborae não demora a voltar.Pondo de ponta cabeça,anoiteça, mereça agora o inverso.Veste a saia e vai embora.Lava a roupa e faz a janta,não adianta reclamar.Deita, finge, geme, gritapara alguém te escutare quem virá te salvarsenão o sono, sem sonho, só sono.Calça o sapatoe pisa com tato pra não machucar.Dá-se um jeito de ir adiante,levante mulher e vai trabalhar!Senta e descasca batatas,prepara as atas da reunião,limpa as manchas de pata do cãono corrimão da casa do patrão.Desce escadas, vai emborae não demora a voltar.Pondo de ponta cabeça,amanheça, mereça agora o reverso.Veste o uniforme e vai embora.Decora toda a taboadae recita para sempre, decor e salteada.Não suje a roupa nova brincando.Não brinque com a velha autoridadedas senhoras, doutores e semi-deuses.Mastigue a pimenta e ajoelha no milho,és apenas filho desses vários temores.Calça o sapatoe pisa com tato para não machucar,veste o uniforme, vai emborae não demora a voltar. Felix Ventura Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members tigo Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 Pra quem se interessar, é um site muito bom: http://www.recantodasletras.com.br/ Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 Este poema da Kikas é muito bonito. Eu o lí há uns anos atrás e é muito inspirador... Nos tempos de internet' date=' quantos não se encontram nesta inusitada situação? Amores impossíveis... amores cibernéticos... Estes tempos são loucos realmente! [/quote'] Nostálgico vc, hein, Movio?! Não é doido que mesmo através de máquinas vc consiga se relacionar tão profundamente a ponto de se apaixonar? Bem que minha irmã diz que net é uma coisa do demo! Aff! Tigo, dei uma sapiada por lá, muito bom mesmo esse site. Tk u! By the way, Movio, se tu vise o poema que ela pensava em postar... afff! Inspirado seria uma palavra bem fraca p/ ele.Maria shy2007-01-05 13:01:18 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 " By the way, Movio, se tu vise o poema que ela pensava em postar... afff! Inspirado seria uma palavra bem fraca p/ ele" Agora fiquei curioso . Publica, vai ! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members balehead Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 eu gosto dessas poesias nórdicas que um cara postou no orkut, outro dia. A Triste Sorte de BrunnhildA Triste Sorte de BrunnhildPobre daquela Walkyrja, a Brunnhild.Muito justa e boa, ela foi humilde.Por um herói tão mortal se apaixonouE em Midgard logo presa ali ficou...Recusou-se a matar o valente herói,E somente seu coração sabe como dóiEstar tão apaixonada plentamente,E ser amaldiçoada pelo divino tristemente.O Pai Odin, amargo ali a amaldiçoou;N´aquela batalha que da sorte ela zombou...Condenada deixar de ser a guerreira imortal,Pois rompeu destinadamente com a divina moral!A valente Walkyrja foi tão logo ali desarmadaE pelo temível Odin também muito condenada,Ao se recusar a ordem de morte a executar,E só ouvindo seu pai Odin friamente discursar!Presa n´uma alta montanha antiga,Sem jamais poder ver tempo ou ter fadiga.Bela ali adormeuceu, triste e tão sem cortesias,Nos largos rincões onde nunca se contam os dias.De ferro e fogo foi forjado seu portal,Para a donzela que ali jaz como uma mortal,Que tristemente pela sua importuna sorte ali foi postaE de mundo algum jamais teve visão e resposta!Mas seu destino, sua sorte insana, a persegue,E internamente sabe ela que o amor consegue,Um prometido dia, n´outra geração, lhe alcançarE um herói valente de sangue dali irá lhe carregar!Vagner K. Cruz O Guerreiro e a NevascaO Guerreiro e a NevascaFoi no festival de inverno que aportei,Aguardando do navio meu cavalo descer.Gelo e prado naquela terra inóspita avisteiImaginando quão triste era o anoitecer.Pelos prados e neves cavalguei sem cessar,Procurando entre a bruma a amada donzela.E ao sopé da monatanha gelada encontrarO Troll inimigo de face fria e singela.Minha espada prateada desembainhei.O uivar do vento tenebroso era a canção.Ao encontro do Troll a cavalo avancei,Mas a nevada me traía e caí de supetão!Sua magia maligna me fez ali tombar,Mas logo acordei antes de ao meu lado sentirSeu takape colossal mortalmente ribombar.Lavantei-me e com a espada tentei-lhe ferir!Minha sofrida amada estava em seu braço,mas toda a nevasca me segurava e cegava.E eu corria cada vez mais em seu encalçoMas cruelmente perto eu nunca chegava!No alto da montanha gelada eu cheguei e vi:Frio, gelo, neve, e o Troll que ali me esperava!Em sua direção bravamente urrei e corri!E em seu coração logo minha lâmina se cravava!Por todos os lados sangue rubro jorrou!Tingindo de vermelho o gelo que antes era alvo...Maculada agora está minha virtuosa vitóriaE a minha amada donzela eu então tinha salvo! Sofrimento Selado nas NevesSofrimento selado nas nevesUm belo dia frio, mas por demais teve terras enevoadas,Que tivera uma noite de sangue, terrível e tristonha...Cujas árvores podem contar as mentiras tão enterradasQue devoram a beleza de uma donzela que fora risonha.Dizem que pelas matas gélidas ela muito fugiu,Mas fadigada e naquelas neves seu fim encontrou!Então cercada fora por homens vís e naquela clareira caiuE com flechas atravessando seu corpo claro, bradou!Suas vestes suaves foram-se, com a mácula romperamE o seu quente sangue o gelo todo manchou.Corpos e secreções que a violavam naquele corpo estiveramSeu sofrimento fora ouvido na mata que a martirizou!Dor, sujeira e fim ali encontram-se, em seu pobre ser,A donzela nas neves tristonhas agoniza violada.O grupo sodomizara-a com desonra e um seco prazer...Dizem elas que a morte foi rápida, mas chegou ali calada.O uivo dos ventos frios e dos galhos falantes fizera a memória.Seu corpo sangrento ali fora deixado, como arte da morte, abandonado.A neve se encarrega das mentiras, cobrindo todo corpo e estória...Dizem as árvores: para que mais um segredo de inverno ali seja selado ai como eu queria ser um viking!!!!!!!!!!! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted January 5, 2007 Members Report Share Posted January 5, 2007 COMO SABER DO PRAZER Como saber como foi o prazer... Um prazer vivido, foi o prazer havido... Sente-se o prazer, simplesmente... Vive-se o prazer completamente, quando a ele nos entregamos totalmente... Não podemos medi-lo, apenas podemos senti-lo... Muito ou pouco? Foi coisa de louco... Saber que houve o prazer, suficiente para satisfazer... Todo o prazer sentido, foi aquele prazer vivido, durante o amor havido... Marcial Salaverry Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted January 6, 2007 Members Report Share Posted January 6, 2007 Soneto LII Os rouxinóis que tenho dentro da alma Cantaram todos quando tu passaste A lua cheia deslisava calma Rosa, tão branca! Desprendida da haste... Nos castelos do céu, onde se espalma O sonho que sonhei e que sonhaste, As estrêlas, formando ebúrnea palma, Tôdas se uniram no mesmo áureo engaste. E os rouxinóis cantavam. Cantos suaves A modular nessas gargantas de aves As rimas que no luar se perderão... E o mais sonoro dêles, palpitando, Ruflando as asas, foi, ó minha amante, Poisar em cheio no teu coração! Alphonsus de Guimaraens A acentuação corresponde aos padrões daquela época(Início do século XIX). Conheci esse poeta estudando pro vestibular. Peguei um livro de coletâneas na biblioteca e gostei bastante dessa poesia. Como não tinha na net, anotei num caderninho de anotações que tenho sempre comigo, pra não perdê-la. Não é nada de fantástico, mas acho muito bonita. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted January 6, 2007 Members Report Share Posted January 6, 2007 O Meu Amor O meu amorTem um jeito manso que é só seuE que me deixa loucaQuando me beija a bocaA minha pele toda fica arrepiadaE me beija com calma e fundoAté minh'alma se sentir beijadaO meu amorTem um jeito manso que é só seuQue rouba os meus sentidosViola os meus ouvidosCom tantos segredosLindos e indecentesDepois brinca comigoRi do meu umbigoE me crava os dentesEu sou sua menina, viu?E ele é meu rapazMeu corpo é testemunhaDo bem que ele me fazMeu amorTem um jeito manso que é só seuDe me deixar malucaQuando me roça a nucaE quase me machucaCom a barba mal feitaE de posar as coxasEntre as minhas coxasQuando ele se deitaO meu amorTem um jeito manso que é só seuDe me fazer rodeiosDe me beijar os seiosMe beijar o ventreMe deixar em brasaDesfruta do meu corpoComo se meu corpoFosse a sua casaEu sou sua menina, viu?E ele é meu rapazMeu corpo é testemunhaDo bem que ele me faz Chico Buarque Toda poesia é fantástica... achoBalehead Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted January 7, 2007 Members Report Share Posted January 7, 2007 Frémito do meu corpo... Frémito do meu corpo a procurar-te, Febre das minhas mãos na tua pele Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, Doido anseio dos meus braços a abraçar-te, Olhos buscando os teus por toda a parte, Sede de beijos, amargor de fel, Estonteante fome, áspera e cruel, Que nada existe que a mitigue e a farte! E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma Junto da minha, uma lagoa calma, A dizer-me, a cantar que me não amas... E o meu coração que tu não sentes, Vai boiando ao acaso das correntes, Esquife negro sobre um mar de chamas... Florbela Espanca Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted January 9, 2007 Members Report Share Posted January 9, 2007 O Sabiá e o Gavião Patativa do Assaré Eu nunca falei à toa. Sou um cabôco rocêro, Que sempre das coisa boa Eu tive um certo tempero. Não falo mal de ninguém, Mas vejo que o mundo tem Gente que não sabe amá, Não sabe fazê carinho, Não qué bem a passarinho, Não gosta dos animá. Já eu sou bem deferente. A coisa mió que eu acho É num dia munto quente Eu i me sentá debaxo De um copado juazêro, Prá escutá prazentêro Os passarinho cantá, Pois aquela poesia Tem a mesma melodia Dos anjo celestiá. Não há frauta nem piston Das banda rica e granfina Pra sê sonoroso e bom Como o galo de campina, Quando começa a cantá Com sua voz naturá, Onde a inocença se incerra, Cantando na mesma hora Que aparece a linda orora Bejando o rosto da terra. O sofreu e a patativa Com o canaro e o campina Tem canto que me cativa, Tem musga que me domina, E inda mais o sabiá, Que tem premêro lugá, É o chefe dos serestêro, Passo nenhum lhe condena, Ele é dos musgo da pena O maiô do mundo intêro. Eu escuto aquilo tudo, Com grande amô, com carinho, Mas, às vez, fico sisudo, Pruquê cronta os passarinho Tern o gavião maldito, Que, além de munto esquisito, Como iguá eu nunca vi, Esse monstro miserave É o assarsino das ave Que canta pra gente uví. Muntas vez, jogando o bote, Mais pió de que a serpente, Leva dos ninho os fiote Tão lindo e tão inocente. Eu comparo o gavião Com esses farão cristão Do instinto crué e feio, Que sem ligá gente pobre Quê fazê papé de nobre Chupando o suó alêio. As Escritura não diz, Mas diz o coração meu: Deus, o maió dos juiz, No dia que resorveu A fazê o sabiá Do mió materiá Que havia inriba do chão, O Diabo, munto inxerido, Lá num cantinho, escondido, Também fez o gavião. De todos que se conhece Aquele é o passo mais ruim É tanto que, se eu pudesse, Já tinha lhe dado fim. Aquele bicho devia Vivê preso, noite e dia, No mais escuro xadrez. Já que tô de mão na massa, Vou contá a grande arruaça Que um gavião já me fez. Quando eu era pequenino, Saí um dia a vagá Pelos mato sem destino, Cheio de vida a iscutá A mais subrime beleza Das musga da natureza E bem no pé de um serrote Achei num pé de juá Um ninho de sabiá Com dois mimoso fiote. Eu senti grande alegria, Vendo os fíote bonito. Pra mim eles parecia Dois anjinho do Infinito. Eu falo sero, não minto. Achando que aqueles pinto Era santo, era divino, Fiz do juazêro igreja E bejei, como quem bêja Dois Santo Antõi pequenino. Eu fiquei tão prazentêro Que me esqueci de armoçá, Passei quage o dia intêro Naquele pé de juá. Pois quem ama os passarinho, No dia que incronta um ninho, Somente nele magina. Tão grande a demora foi, Que mamãe (Deus lhe perdoi) Foi comigo à disciprina. Meia légua, mais ou meno, Se medisse, eu sei que dava, Dali, daquele terreno Pra paioça onde eu morava. Porém, eu não tinha medo, Ia lá sempre em segredo, Sempre. iscondido, sozinho, Temendo que argúm minino, Desses perverso e malino Mexesse nos passarinho. Eu mesmo não sei dizê O quanto eu tava contente Não me cansava de vê Aqueles dois inocente. Quanto mais dia passava, Mais bonito eles ficava, Mais maió e mais sabido, Pois não tava mais pelado, Os seus corpinho rosado Já tava tudo vestido. Mas, tudo na vida passa. Amanheceu certo dia O mundo todo sem graça, Sem graça e sem poesia. Quarqué pessoa que visse E um momento refritisse Nessa sombra de tristeza, Dava pra ficá pensando Que arguém tava malinando Nas coisa da Natureza. Na copa dos arvoredo, Passarinho não cantava. Naquele dia, bem cedo, Somente a coã mandava Sua cantiga medonha. A menhã tava tristonha Como casa de viúva, Sem prazê, sem alegria E de quando em vez, caía Um sereninho de chuva. Eu oiava pensativo Para o lado do Nascente E não sei por quá motivo O só nasceu diferente, Parece que arrependido, Detrás das nuve, escondido. E como o cabra zanôio, Botava bem treiçoêro, Por detrás dos nevoêro, Só um pedaço do ôio. Uns nevoêro cinzento Ia no espaço correndo. Tudo naquele momento Eu oiava e tava vendo, Sem alegria e sem jeito, Mas, porém, eu sastifeito, Sem com nada me importá, Saí correndo, aos pinote, E fui repará os fiote No ninho do sabiá. Cheguei com munto carinho, Mas, meu Deus! que grande agôro! Os dois véio passarinho Cantava num som de choro. Uvindo aquele grogeio, Logo no meu corpo veio Certo chamego de frio E subindo bem ligêro Pr’as gaia do juazêro, Achei o ninho vazio. Quage que eu dava um desmaio, Naquele pé de juá E lá da ponta de um gaio, Os dois véio sabiá Mostrava no triste canto Uma mistura de pranto, Num tom penoso e funéro, Parecendo mãe e pai, Na hora que o fio vai Se interrá no cimitéro. Assistindo àquela cena, Eu juro pelo Evangéio Como solucei com pena Dos dois passarinho véio E ajudando aquelas ave, Nesse ato desagradave, Chorei fora do comum: Tão grande desgosto tive, Que o meu coração sensive Omentou seus baticum. Os dois passarinho amado Tivero sorte infeliz, Pois o gavião marvado Chegou lá, fez o que quis. Os dois fiote tragou, O ninho desmantelou E lá pras banda do céu, Depois de devorá tudo, Sortava o seu grito agudo Aquele assassino incréu. E eu com o maiô respeito E com a suspiração perra, As mão posta sobre o peito E os dois juêio na terra, Com uma dó que consome, Pedi logo em santo nome Do nosso Deus Verdadêro, Que tudo ajuda e castiga: Espingarda te preciga, Gavião arruacêro! Sei que o povo da cidade Uma idéia inda não fez Do amô e da caridade De um coração camponês. Eu sinto um desgosto imenso Todo momento que penso No que fez o gavião. E em tudo o que mais me espanta É que era Semana Santa! Sexta-fêra da Paixão! Com triste rescordação Fico pra morrê de pena, Pensando na ingratidão Naquela menhã serena Daquele dia azalado, Quando eu saí animado E andei bem meia légua Pra bejá meus passarinho E incrontei vazio o ninho! Gavião fí duma égua! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted January 9, 2007 Members Report Share Posted January 9, 2007 Plágio Puta que pariuQue vazio imbecilEste poema fedeMas meu humor impedeAlgo mais sutilNão sei o motivoDesse mal progressivoCresce a cada diaSujando minha poesia Me sinto malincompleta e desigualNão sei o que queroE farei um plágio sinceroNão um plágio, uma adaptaçãoÉ minha visãoDe um poema conhecido(...) Vou-me embora pro Puteiro Sexo sem amorPreciso de dinheiroO país está um horrorMinha mãe não mais aguentaMeu pai não me sustentaPoesia não alimentaNada, além do desejo de viverE viver me atormentaSó homens vou atenderAssim nunca vou me apaixonarVou transar sem beijar Liz Christine Maria shy2007-01-09 14:33:46 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted January 10, 2007 Members Report Share Posted January 10, 2007 Menina e moça Está naquela idade inquieta e duvidosa, Que não é dia claro e é já o alvorecer; Entreaberto botão, entrefechada rosa, Um pouco de menina e um pouco de mulher. Às vezes recatada, outras estouvadinha, Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor; Tem cousas de criança e modos de mocinha, Estuda o catecismo e lê versos de amor. Outras vezes valsando, o seio lhe palpita, De cansaço talvez, talvez de comoção. Quando a boca vermelha os lábios abre e agita, Não sei se pede um beijo ou faz uma oração. Outras vezes beijando a boneca enfeitada, Olha furtivamente o primo que sorri; E se corre parece, à brisa enamorada, Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri. Quando a sala atravessa, é raro que não lance Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance Em que a dama conjugue o eterno verbo amar. Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia, A cama da boneca ao pé do toucador; Quando sonha, repete, em santa companhia, Os livros do colégio e o nome de um doutor. Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra; E quando entra num baile, é já dama do tom; Compensa-lhe a modista os enfados da mestra; Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon. Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo Para ela é o estudo, excetuando-se talvez A lição de sintaxe em que combina o verbo To love, mas sorrindo ao professor de inglês. Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço, Parece acompanhar uma etérea visão; Quantas cruzando ao seio o delicado braço Comprime as pulsações do inquieto coração! Ah! se nesse momento, alucinado, fores Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã, Hás de vê-la zombar de teus tristes amores, Rir da tua aventura e contá-la à mamã. É que esta criatura, adorável, divina, Nem se pode explicar, nem se pode entender: Procura-se a mulher e encontra-se a menina, Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher! Machado de Assis Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted January 11, 2007 Members Report Share Posted January 11, 2007 A idéia De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem essa luz que sobre as nebulosas Cai de incógnitas criptas misteriosas Como as estalactites duma gruta?! Vem da psicogenética e alta luta Do feixe de moléculas nervosas, Que, em desintegrações maravilhosas, Delibera, e depois, quer e executa! Vem do encéfalo absconso que a constringe, Chega em seguida às cordas do laringe, Tísica, tênue, mínima, raquítica ... Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra No mulambo da língua paralítica Augusto dos Anjos Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
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