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Forum Cinema em Cena

Poesias


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Feliz Natal
 a quem cultiva ninhos de pássaros no beiral da utopia e
coleciona no espírito as aquarelas do arco-íris.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

  Feliz Natal
 aos que reverenciam o silêncio como matéria-prima do amor e
 arrancam das cordas da dor melódicas esperanças.
Também aos que se recostam em leitos de hortênsias e
 bordam, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura

Feliz Natal
a todos que dançam embalados pelos próprios sonhos e
nunca dizem sim às artimanhas do desejo
a quem resguarda-se em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e,
 diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.
E aos que suprimem a letra erre do verbo armar e
se recusam a ser reféns do pessimismo.

Feliz Natal
aos ébrios de transcendência e aos filhos da misericórdia
 que dormem acobertados pela compaixão.

E a todos que contemplam ociosos o entardecer,
observando como o Menino entra na boca da noite montado em seu monociclo solar.     

 Feliz Natal
 a quem não se deixa seduzir pelo perfume das alturas e
 nem escala os picos em que os abutres chocam ovos.

Feliz Natal
aos que repartem Deus em fatias de pão e
convocam os famélicos à mesa feita com as tábuas da justiça e
coberta com a toalha bordada de cumplicidades.

Feliz Natal
aos que secam lágrimas no consolo da fé e
 plantam no chão da vida as sementes do porvir.

(Frei Beto – Fragmento)

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Seios

Teus seios pequeninos que em surdina,
pelas noites de amor, põem-se a cantar,
são dois pássaros brancos que o luar
pousou de leve nessa carne fina.

E sempre que o desejo te alucina,
e brilha com fulgor no teu olhar,
parece que seus seios vão voar
dessa carne cheirosa e purpurina.

Eu, pare tê-los sempre nesta lida,
quisera, com meus beijos, desvairado,
poder vesti-los, através da vida,

para vê-los febris e excitados,
de bicos rijos, ávidos, rasgando
a seda que os trouxesse encarcerados.


                                                                                        Hildo Rangel
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 Afff, Movio! 08031310

 

 

 

Graça da Praia das Flechas

Vem profundo
Nesta solidão de meu mundo
Introduzas martirizando
Em quem estás amando
És mau
Perverso
Liberto de preconceitos
Nada te prende
Perdes os caminhos
Razão pela qual vives sozinho.
Eu por ti fervendo
Em fogo morrendo
Delirando
Febre me consumindo
Por esta paixão sem pudor
Que não tem forma e nem cor
Apenas é arrebatadora
Excessiva
Exclusivista
A ti conquista.

 

Fragmento, não sei o autor)



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SONETO DO PRAZER MAIOR

 

 

 

Amar dentro do peito uma donzela;

 

Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;

 

Falar-lhe, conseguindo alta ventura,

 

Depois da meia-noite na janela:

 

 

 

Fazê-la vir abaixo, e com cautela

 

Sentir abrir a porta, que murmura;

 

Entrar pé ante pé, e com ternura

 

Apertá-la nos braços casta e bela:

 

 

 

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,

 

E a boca, com prazer o mais jucundo,

 

Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

 

 

 

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;

 

Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;

 

É este o maior gosto que há no mundo

 

 

 

BOCAGE

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Escondido entre o arvoredo

Vejo escondido entre o arvoredo,
Mulheres banhando-se no rio.
Vestidas de nada, nuas, sem medo,
Aquece-as o sol, esquece-lhes o frio.

Invejo o rio que numa carícia,
Afaga todos os seus recantos.
Cresce em mim uma malícia,
Perco-me a fitar os seus encantos.

Banham-se, brincam e gracejam,
Cantam melodias de encantar.
Ainda sinto que ali estejam,
Mesmo depois de acordar.

                                                                                         Luís Caeiro

 
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Aninha e suas pedras

 

 

 

Não te deixes destruir...

 

Ajuntando novas pedras

 

e construindo novos poemas.

 

Recria tua vida, sempre, sempre.

 

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

 

Faz de tua vida mesquinha

 

um poema.

 

E viverás no coração dos jovens

 

e na memória das gerações que hão de vir.

 

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

 

Toma a tua parte.

 

Vem a estas páginas

 

e não entraves seu uso

 

aos que têm sede.

 

 

 

Cora Coralina

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Crime

 

Simone Barbariz  

 

Testemunhas: as quatro paredes.
Local do crime: a cama.
Réus: eu e você.
Crime cometido: amor louco e desenfreado,
Amor sem limites,
Amor em todas suas formas possíveis,
Em todas as formas em que éramos compatíveis.

Acoplados com a perfeição de dois módulos espaciais,
Onde qualquer erro milimétrico,
Compromete o sucesso da missão...

Missão cumprida...

A missão foi um sucesso total,
Pois dois corpos tornaram-se um!
Não mais existia eu e você,
Mas, sim, eu-você...

Cometemos um crime perfeito
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 Afff! Tu curtiu, hein? 03

 Tome mais:

Fatalismo

Amo o que em ti há de trágico. De mau.
De sublime. Amo o crime escondido no teu andar.
A tua forma de olhar. O teu riso fingido
e cristalino.

Amo o veneno dos teus beijos. O teu hálito pagão.
A tua mão insegura
na mentira dos teus gestos.
Amo o teu corpo de maçã madura.

Amo o silêncio perpendicular do teu contacto
A furia incontrolavel da maré
nas ondas vaginais do teu orgasmo.

E esta tua ausência
Este não-ser quem é.

                                               Manuela amaral
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'Não posso exigir o amor de ninguém.
Apenas dar boas razões para que gostem de mim'
                          ---------------------------------------
'Tudo que vai, um dia volta e para tudo que se faz exite uma resposta.'
                         ------------------------------------
A melhor arma política é a  arma do terror, a crueldade gera respeito. Podem odiar-nos se quiserem, nãop queremos que nos amem queremos que nos temam!

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Virtual....

 

 

 

Nunca te vi,

 

Não conheço o teu corpo,

 

Mas eu te sinto

 

Mesmo que estejas longe.

 

Não me olhei ainda

 

Na luz dos teus olhos

 

E nem provei

 

O gosto da tua boca.

 

Mas eu te quero,

 

Mesmo sabendo

 

Que nunca te terei.

 

Não experimentei o teu toque

 

E nem sequer te acariciei,

 

Mas sinto o teu perfume no ar.

 

Sucumbi à tua sedução,

 

Mesmo sabendo

 

Que nunca te encontrarei.

 

Nosso amor é só virtual,

 

Mas não faz mal,

 

Pois alma é mais do que corpo.

 

E, se não te tenho ao meu lado,

 

Que o vento sussurre para ti

 

Minhas palavras de carinho.

 

Quero também que ele diga

 

Que alguém te ama

 

Do jeito que mais sabe,

 

Com tudo o que é capaz.

 

E se pensares no amor,

 

E em tudo o que ele traz,

 

De felicidade, na vida,

 

Ora, isso não é nada,

 

Pois te amo muito mais!

 

Alma é mais do que corpo.

 

E minha alma seguirá

 

Sempre amando a tua,

 

Mesmo que nossos corpos

 

Nunca possam se encontrar.

 

Mas chegará o momento,

 

Por alma ser mais que corpo,

 

Que seremos só uma alma,

 

Um coração

 

E um só pensamento!

 

 

 

C. Almeida Stella

 

 

 

 

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Moderna escravidão

Suburbano, subalterno,
veste o terno e obedece.
Desce escadas, vai embora
e não demora a voltar.
Desafrocha o nó da gravata,
mas não o da garganta,
não adianta reclamar.
Calça o sapato
e pisa com tato para não machucar,
levante homem e vai trabalhar!
Senta e calcula o prejuízo
do desajuízo das palavras do rei
cravadas no peito, na falta de jeito,
na falta de trato não prevista em contrato.
Desce as escadas, vai embora
e não demora a voltar.
Pondo de ponta cabeça,
anoiteça, mereça agora o inverso.
Veste a saia e vai embora.
Lava a roupa e faz a janta,
não adianta reclamar.
Deita, finge, geme, grita
para alguém te escutar
e quem virá te salvar
senão o sono, sem sonho, só sono.
Calça o sapato
e pisa com tato pra não machucar.
Dá-se um jeito de ir adiante,
levante mulher e vai trabalhar!
Senta e descasca batatas,
prepara as atas da reunião,
limpa as manchas de pata do cão
no corrimão da casa do patrão.
Desce escadas, vai embora
e não demora a voltar.
Pondo de ponta cabeça,
amanheça, mereça agora o reverso.
Veste o uniforme e vai embora.
Decora toda a taboada
e recita para sempre, decor e salteada.
Não suje a roupa nova brincando.
Não brinque com a velha autoridade
das senhoras, doutores e semi-deuses.
Mastigue a pimenta e ajoelha no milho,
és apenas filho desses vários temores.
Calça o sapato
e pisa com tato para não machucar,
veste o uniforme, vai embora
e não demora a voltar.

Felix Ventura
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 Este poema da Kikas é muito bonito. Eu o lí há uns anos atrás e é muito inspirador... Nos tempos de internet' date=' quantos não se encontram nesta inusitada situação?

 

Amores impossíveis... amores cibernéticos...

 

Estes tempos são loucos realmente!

 
[/quote']

 

 Nostálgico vc, hein, Movio?!

 

 Não é doido que mesmo através  de máquinas vc consiga se relacionar tão profundamente a ponto de se apaixonar?

 

 Bem que minha irmã diz que net é uma coisa do demo! 06 Aff!

 

 Tigo, dei uma sapiada por lá, muito bom mesmo esse site10. Tk u!

 

 By the way, Movio, se tu vise o poema que ela pensava em postar... afff!   Inspirado seria uma palavra bem fraca p/ ele.
Maria shy2007-01-05 13:01:18
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eu gosto dessas poesias nórdicas que um cara postou no orkut, outro dia.

 

A Triste Sorte de Brunnhild
A Triste Sorte de Brunnhild

Pobre daquela Walkyrja, a Brunnhild.
Muito justa e boa, ela foi humilde.
Por um herói tão mortal se apaixonou
E em Midgard logo presa ali ficou...

Recusou-se a matar o valente herói,
E somente seu coração sabe como dói
Estar tão apaixonada plentamente,
E ser amaldiçoada pelo divino tristemente.

O Pai Odin, amargo ali a amaldiçoou;
N´aquela batalha que da sorte ela zombou...
Condenada deixar de ser a guerreira imortal,
Pois rompeu destinadamente com a divina moral!

A valente Walkyrja foi tão logo ali desarmada
E pelo temível Odin também muito condenada,
Ao se recusar a ordem de morte a executar,
E só ouvindo seu pai Odin friamente discursar!

Presa n´uma alta montanha antiga,
Sem jamais poder ver tempo ou ter fadiga.
Bela ali adormeuceu, triste e tão sem cortesias,
Nos largos rincões onde nunca se contam os dias.

De ferro e fogo foi forjado seu portal,
Para a donzela que ali jaz como uma mortal,
Que tristemente pela sua importuna sorte ali foi posta
E de mundo algum jamais teve visão e resposta!

Mas seu destino, sua sorte insana, a persegue,
E internamente sabe ela que o amor consegue,
Um prometido dia, n´outra geração, lhe alcançar
E um herói valente de sangue dali irá lhe carregar!

Vagner K. Cruz

 

 

 

 

 

 

O Guerreiro e a Nevasca
O Guerreiro e a Nevasca

Foi no festival de inverno que aportei,
Aguardando do navio meu cavalo descer.
Gelo e prado naquela terra inóspita avistei
Imaginando quão triste era o anoitecer.

Pelos prados e neves cavalguei sem cessar,
Procurando entre a bruma a amada donzela.
E ao sopé da monatanha gelada encontrar
O Troll inimigo de face fria e singela.

Minha espada prateada desembainhei.
O uivar do vento tenebroso era a canção.
Ao encontro do Troll a cavalo avancei,
Mas a nevada me traía e caí de supetão!

Sua magia maligna me fez ali tombar,
Mas logo acordei antes de ao meu lado sentir
Seu takape colossal mortalmente ribombar.
Lavantei-me e com a espada tentei-lhe ferir!

Minha sofrida amada estava em seu braço,
mas toda a nevasca me segurava e cegava.
E eu corria cada vez mais em seu encalço
Mas cruelmente perto eu nunca chegava!

No alto da montanha gelada eu cheguei e vi:
Frio, gelo, neve, e o Troll que ali me esperava!
Em sua direção bravamente urrei e corri!
E em seu coração logo minha lâmina se cravava!

Por todos os lados sangue rubro jorrou!
Tingindo de vermelho o gelo que antes era alvo...
Maculada agora está minha virtuosa vitória
E a minha amada donzela eu então tinha salvo!

 

 

 

 

Sofrimento Selado nas Neves
Sofrimento selado nas neves

Um belo dia frio, mas por demais teve terras enevoadas,
Que tivera uma noite de sangue, terrível e tristonha...
Cujas árvores podem contar as mentiras tão enterradas
Que devoram a beleza de uma donzela que fora risonha.

Dizem que pelas matas gélidas ela muito fugiu,
Mas fadigada e naquelas neves seu fim encontrou!
Então cercada fora por homens vís e naquela clareira caiu
E com flechas atravessando seu corpo claro, bradou!

Suas vestes suaves foram-se, com a mácula romperam
E o seu quente sangue o gelo todo manchou.
Corpos e secreções que a violavam naquele corpo estiveram
Seu sofrimento fora ouvido na mata que a martirizou!

Dor, sujeira e fim ali encontram-se, em seu pobre ser,
A donzela nas neves tristonhas agoniza violada.
O grupo sodomizara-a com desonra e um seco prazer...
Dizem elas que a morte foi rápida, mas chegou ali calada.

O uivo dos ventos frios e dos galhos falantes fizera a memória.
Seu corpo sangrento ali fora deixado, como arte da morte, abandonado.
A neve se encarrega das mentiras, cobrindo todo corpo e estória...
Dizem as árvores: para que mais um segredo de inverno ali seja selado

 

 

 

 

ai como eu queria ser um viking!!!!!!!!!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
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COMO SABER DO PRAZER

 

 

 

Como saber

 

como foi o prazer...

 

Um prazer vivido,

 

foi o prazer havido...

 

Sente-se o prazer, simplesmente...

 

Vive-se o prazer completamente,

 

quando a ele nos entregamos totalmente...

 

Não podemos medi-lo,

 

apenas podemos senti-lo...

 

Muito ou pouco?

 

Foi coisa de louco...

 

Saber que houve o prazer,

 

suficiente para satisfazer...

 

Todo o prazer sentido,

 

foi aquele prazer vivido,

 

durante o amor havido...

 

 

 

 

 

Marcial Salaverry

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Soneto LII

 

Os rouxinóis que tenho dentro da alma

Cantaram todos quando tu passaste

A lua cheia deslisava calma

Rosa, tão branca! Desprendida da haste...

 

Nos castelos do céu, onde se espalma

O sonho que sonhei e que sonhaste,

As estrêlas, formando ebúrnea palma,

Tôdas se uniram no mesmo áureo engaste.

 

E os rouxinóis cantavam. Cantos suaves

A modular nessas gargantas de aves

As rimas que no luar se perderão...

 

E o mais sonoro dêles, palpitando,

Ruflando as asas, foi, ó minha amante,

Poisar em cheio no teu coração!

 

 

Alphonsus de Guimaraens

 

 

A acentuação corresponde aos padrões daquela época(Início do século XIX).

 

 

Conheci esse poeta estudando pro vestibular. Peguei um livro de coletâneas na biblioteca e gostei bastante dessa poesia. Como não tinha na net, anotei num caderninho de anotações que tenho sempre comigo, pra não perdê-la. Não é nada de fantástico, mas acho muito bonita.
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O Meu Amor

 O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos
Lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu?
E ele é meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca
Com a barba mal feita
E de posar as coxas
Entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
Me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu?

E ele é meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

                                                                     Chico Buarque

 

Toda poesia é fantástica... acho03
Balehead 10 

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Frémito do meu corpo...

 

 

 

Frémito do meu corpo a procurar-te,

 

Febre das minhas mãos na tua pele

 

Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,

 

Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

 

 

 

Olhos buscando os teus por toda a parte,

 

Sede de beijos, amargor de fel,

 

Estonteante fome, áspera e cruel,

 

Que nada existe que a mitigue e a farte!

 

 

 

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma

 

Junto da minha, uma lagoa calma,

 

A dizer-me, a cantar que me não amas...

 

 

 

E o meu coração que tu não sentes,

 

Vai boiando ao acaso das correntes,

 

Esquife negro sobre um mar de chamas...

 

 

 

Florbela Espanca

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O Sabiá e o Gavião


                                Patativa do Assaré

 

 

Eu nunca falei à toa.
Sou um cabôco rocêro,
Que sempre das coisa boa
Eu tive um certo tempero.
Não falo mal de ninguém,
Mas vejo que o mundo tem
Gente que não sabe amá,
Não sabe fazê carinho,
Não qué bem a passarinho,
Não gosta dos animá.

Já eu sou bem deferente.
A coisa mió que eu acho
É num dia munto quente
Eu i me sentá debaxo
De um copado juazêro,
Prá escutá prazentêro
Os passarinho cantá,
Pois aquela poesia
Tem a mesma melodia
Dos anjo celestiá.

Não há frauta nem piston
Das banda rica e granfina
Pra sê sonoroso e bom
Como o galo de campina,
Quando começa a cantá
Com sua voz naturá,
Onde a inocença se incerra,
Cantando na mesma hora
Que aparece a linda orora
Bejando o rosto da terra.

O sofreu e a patativa
Com o canaro e o campina
Tem canto que me cativa,
Tem musga que me domina,
E inda mais o sabiá,
Que tem premêro lugá,
É o chefe dos serestêro,
Passo nenhum lhe condena,
Ele é dos musgo da pena
O maiô do mundo intêro.

Eu escuto aquilo tudo,
Com grande amô, com carinho,
Mas, às vez, fico sisudo,
Pruquê cronta os passarinho
Tern o gavião maldito,
Que, além de munto esquisito,
Como iguá eu nunca vi,
Esse monstro miserave
É o assarsino das ave
Que canta pra gente uví.

Muntas vez, jogando o bote,
Mais pió de que a serpente,
Leva dos ninho os fiote
Tão lindo e tão inocente.
Eu comparo o gavião
Com esses farão cristão
Do instinto crué e feio,
Que sem ligá gente pobre
Quê fazê papé de nobre
Chupando o suó alêio.

As Escritura não diz,
Mas diz o coração meu:
Deus, o maió dos juiz,
No dia que resorveu
A fazê o sabiá
Do mió materiá
Que havia inriba do chão,
O Diabo, munto inxerido,
Lá num cantinho, escondido,
Também fez o gavião.

De todos que se conhece
Aquele é o passo mais ruim
É tanto que, se eu pudesse,
Já tinha lhe dado fim.
Aquele bicho devia
Vivê preso, noite e dia,
No mais escuro xadrez.
Já que tô de mão na massa,
Vou contá a grande arruaça
Que um gavião já me fez.

Quando eu era pequenino,
Saí um dia a vagá
Pelos mato sem destino,
Cheio de vida a iscutá
A mais subrime beleza
Das musga da natureza
E bem no pé de um serrote
Achei num pé de juá
Um ninho de sabiá
Com dois mimoso fiote.

Eu senti grande alegria,
Vendo os fíote bonito.
Pra mim eles parecia
Dois anjinho do Infinito.
Eu falo sero, não minto.
Achando que aqueles pinto
Era santo, era divino,
Fiz do juazêro igreja
E bejei, como quem bêja
Dois Santo Antõi pequenino.

Eu fiquei tão prazentêro
Que me esqueci de armoçá,
Passei quage o dia intêro
Naquele pé de juá.
Pois quem ama os passarinho,
No dia que incronta um ninho,
Somente nele magina.
Tão grande a demora foi,
Que mamãe (Deus lhe perdoi)
Foi comigo à disciprina.

Meia légua, mais ou meno,
Se medisse, eu sei que dava,
Dali, daquele terreno
Pra paioça onde eu morava.
Porém, eu não tinha medo,
Ia lá sempre em segredo,
Sempre. iscondido, sozinho,
Temendo que argúm minino,
Desses perverso e malino
Mexesse nos passarinho.

Eu mesmo não sei dizê
O quanto eu tava contente
Não me cansava de vê
Aqueles dois inocente.
Quanto mais dia passava,
Mais bonito eles ficava,
Mais maió e mais sabido,
Pois não tava mais pelado,
Os seus corpinho rosado
Já tava tudo vestido.

Mas, tudo na vida passa.
Amanheceu certo dia
O mundo todo sem graça,
Sem graça e sem poesia.
Quarqué pessoa que visse
E um momento refritisse
Nessa sombra de tristeza,
Dava pra ficá pensando
Que arguém tava malinando
Nas coisa da Natureza.

Na copa dos arvoredo,
Passarinho não cantava.
Naquele dia, bem cedo,
Somente a coã mandava
Sua cantiga medonha.
A menhã tava tristonha
Como casa de viúva,
Sem prazê, sem alegria
E de quando em vez, caía
Um sereninho de chuva.

Eu oiava pensativo
Para o lado do Nascente
E não sei por quá motivo
O só nasceu diferente,
Parece que arrependido,
Detrás das nuve, escondido.
E como o cabra zanôio,
Botava bem treiçoêro,
Por detrás dos nevoêro,
Só um pedaço do ôio.

Uns nevoêro cinzento
Ia no espaço correndo.
Tudo naquele momento
Eu oiava e tava vendo,
Sem alegria e sem jeito,
Mas, porém, eu sastifeito,
Sem com nada me importá,
Saí correndo, aos pinote,
E fui repará os fiote
No ninho do sabiá.

Cheguei com munto carinho,
Mas, meu Deus! que grande agôro!
Os dois véio passarinho
Cantava num som de choro.
Uvindo aquele grogeio,
Logo no meu corpo veio
Certo chamego de frio
E subindo bem ligêro
Pr’as gaia do juazêro,
Achei o ninho vazio.

Quage que eu dava um desmaio,
Naquele pé de juá
E lá da ponta de um gaio,
Os dois véio sabiá
Mostrava no triste canto
Uma mistura de pranto,
Num tom penoso e funéro,
Parecendo mãe e pai,
Na hora que o fio vai
Se interrá no cimitéro.

Assistindo àquela cena,
Eu juro pelo Evangéio
Como solucei com pena
Dos dois passarinho véio
E ajudando aquelas ave,
Nesse ato desagradave,
Chorei fora do comum:
Tão grande desgosto tive,
Que o meu coração sensive
Omentou seus baticum.

Os dois passarinho amado
Tivero sorte infeliz,
Pois o gavião marvado
Chegou lá, fez o que quis.
Os dois fiote tragou,
O ninho desmantelou
E lá pras banda do céu,
Depois de devorá tudo,
Sortava o seu grito agudo
Aquele assassino incréu.

E eu com o maiô respeito
E com a suspiração perra,
As mão posta sobre o peito
E os dois juêio na terra,
Com uma dó que consome,
Pedi logo em santo nome
Do nosso Deus Verdadêro,
Que tudo ajuda e castiga:
Espingarda te preciga,
Gavião arruacêro!

Sei que o povo da cidade
Uma idéia inda não fez
Do amô e da caridade
De um coração camponês.
Eu sinto um desgosto imenso
Todo momento que penso
No que fez o gavião.
E em tudo o que mais me espanta
É que era Semana Santa!
Sexta-fêra da Paixão!

Com triste rescordação
Fico pra morrê de pena,
Pensando na ingratidão
Naquela menhã serena
Daquele dia azalado,
Quando eu saí animado
E andei bem meia légua
Pra bejá meus passarinho
E incrontei vazio o ninho!
Gavião fí duma égua!

 

 
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Plágio

Puta que pariu
Que vazio imbecil
Este poema fede
Mas meu humor impede
Algo mais sutil
Não sei o motivo
Desse mal progressivo
Cresce a cada dia
Sujando minha poesia
      Me sinto mal
incompleta e desigual

Não sei o que quero
E farei um plágio sincero
Não um plágio, uma adaptação
É minha visão
De um poema conhecido
(...)

Vou-me embora pro Puteiro
      Sexo sem amor
Preciso de dinheiro
O país está um horror
Minha mãe não mais aguenta
Meu pai não me sustenta
Poesia não alimenta
Nada, além do desejo de viver
E viver me atormenta
Só homens vou atender
Assim nunca vou me apaixonar
Vou transar sem beijar

 

Liz Christine
Maria shy2007-01-09 14:33:46
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Menina e moça

 

 

 

Está naquela idade inquieta e duvidosa,

 

Que não é dia claro e é já o alvorecer;

 

Entreaberto botão, entrefechada rosa,

 

Um pouco de menina e um pouco de mulher.

 

 

 

Às vezes recatada, outras estouvadinha,

 

Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;

 

Tem cousas de criança e modos de mocinha,

 

Estuda o catecismo e lê versos de amor.

 

 

 

Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,

 

De cansaço talvez, talvez de comoção.

 

Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,

 

Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

 

 

 

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,

 

Olha furtivamente o primo que sorri;

 

E se corre parece, à brisa enamorada,

 

Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.

 

 

 

Quando a sala atravessa, é raro que não lance

 

Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar

 

Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance

 

Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

 

 

 

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,

 

A cama da boneca ao pé do toucador;

 

Quando sonha, repete, em santa companhia,

 

Os livros do colégio e o nome de um doutor.

 

 

 

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;

 

E quando entra num baile, é já dama do tom;

 

Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;

 

Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

 

 

 

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo

 

Para ela é o estudo, excetuando-se talvez

 

A lição de sintaxe em que combina o verbo

 

To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

 

 

 

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,

 

Parece acompanhar uma etérea visão;

 

Quantas cruzando ao seio o delicado braço

 

Comprime as pulsações do inquieto coração!

 

 

 

Ah! se nesse momento, alucinado, fores

 

Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,

 

Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,

 

Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

 

 

 

É que esta criatura, adorável, divina,

 

Nem se pode explicar, nem se pode entender:

 

Procura-se a mulher e encontra-se a menina,

 

Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!

 

 

 

Machado de Assis

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A idéia

De onde ela vem?! De que matéria bruta

Vem essa luz que sobre as nebulosas

Cai de incógnitas criptas misteriosas

Como as estalactites duma gruta?!

 

Vem da psicogenética e alta luta

Do feixe de moléculas nervosas,

Que, em desintegrações maravilhosas,

Delibera, e depois, quer e executa!

 

Vem do encéfalo absconso que a constringe,

Chega em seguida às cordas do laringe,

Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

 

Quebra a força centrípeta que a amarra,

Mas, de repente, e quase morta, esbarra

No mulambo da língua paralítica

 

Augusto dos Anjos

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