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Forum Cinema em Cena

Poesias


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À FLOR DO AMOR 

Fogo na pele,
Pele em flor!
Flor que fere,
Fogo de amor!

Flor da pele,
Pele em cor.
Pele a pele
É pleno ardor!

Flor impele
Dor de amor.
Dor que fere
A flor do amor!

Pele pede,
Aflora em flor.
Mela a pele,
Doce amor!

À flor da pele,
Trêmulo fervor!
À flor da pele,
Atração em furor!

Paixão elevada,
Rasgada em ardor!
Pele indomada,
Fervente de amor

( Marcos Woyames de Albuquerque)

 

 

 Algo assim tinha que ser postado em vermelho... afff! 08
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Proibido – Pablo Neruda

 

É proibido chorar sem aprender,

Levantar-se um dia sem saber o que fazer

Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas

Não lutar pelo que se quer,

Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor

Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos

Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,

Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,

Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,

Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,

Não viver cada dia como se fosse um último suspiro!<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

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Ide buscá-la, Desejos,

Pela mão a conduzi.

E tu, de amor serena flor,

Traz a alma cheia de beijos

Que eu tenho sede de ti.

 

Além do sono e do sonho

Nos teus braços quero ir.

(Ah, como é triste tudo o que existe!)

Quero sentir-me risonho

Sem passado nem porvir

 

E assim eternamente

No teu seio me ficar,

Dúbios, perdidos, os meus sentidos,

Vago ser que apenas sente

Que está além do chorar.

 

Fernando Pessoa<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

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SENSÍVEL DEMAIS

 

Hoje eu tive medo
De acordar de um sonho lindo
Garantir, reter,
Guardar essa esperança
Andei paraísos,
Descaminhos, precipícios

Eu sou um alguém que chora,
Por qualquer lembrança de nós dois
Você me deixou, e agora
Como dominar as emoções

Quando vem a tona,
Todo amor que está por dentro
Chamo por teu nome
Transmissão de pensamento

Longe a tua casa,
Vejo a luz do quarto acesa
Não tem nada que não vaze,
Que segure essa represa

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A mais bonita poesia desse livro espetacular chamado Mensagem:

 

 

X. MAR PORTUGUÊS  

 

 

Ó mar salgado, quanto do teu sal 

 

São lágrimas de Portugal! 

 

Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 

 

Quantos filhos em vão rezaram! 

 

Quantas noivas ficaram por casar 

 

Para que fosses nosso, ó mar! 

 

 

Valeu a pena? Tudo vale a pena 

 

Se a alma não é pequena. 

 

Quem quer passar além do Bojador 

 

Tem que passar além da dor. 

 

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 

 

Mas nele é que espelhou o céu. 

 

 

 

E outra de Fernando Pessoa, aqui como Ricardo Reis :

Sim

 

 

 

 

 

Sim, sei bem

 

Que nunca serei alguém.  

 

Sei de sobra

 

Que nunca terei uma obra.  

 

Sei, enfim,

 

Que nunca saberei de mim.

 

Sim, mas agora,

 

Enquanto dura esta hora,

 

Este luar, estes ramos,

 

Esta paz em que estamos,

 

Deixem-me crer

 

O que nunca poderei ser.

 

 

 

 

Luis Eduardo2006-12-04 19:27:28

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Não te quero senão porque te quero

 

 

 

Não te quero senão porque te quero,

 

e de querer-te a não te querer chego,

 

e de esperar-te quando não te espero,

 

passa o meu coração do frio ao fogo.

 

Quero-te só porque a ti te quero,

 

Odeio-te sem fim e odiando te rogo,

 

e a medida do meu amor viajante,

 

é não te ver e amar-te,

 

como um cego.

 

 

 

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,

 

seu raio cruel meu coração inteiro,

 

roubando-me a chave do sossego,

 

nesta história só eu me morro,

 

e morrerei de amor porque te quero,

 

porque te quero amor,

 

a sangue e fogo.

 

 

 

_____________________________________________________________

 

 

 

 

 

Nega-me o pão, o ar

 

 

 

Nega-me o pão, o ar,

 

a luz, a primavera,

 

mas nunca o teu riso,

 

porque então morreria.

 

 

 

 

 

PABLO NERUDA

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Conheço o sal...

Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
Quando das bocas se estreitavam lábios
E o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
Os louros ou cinzentos que se enrolam
Neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.

                                                                             Jorge de Sena
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A Bunda que Engraçada

 

 

 

A bunda, que engraçada.

 

Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

 

 

 

Não lhe importa o que vai

 

pela frente do corpo. A bunda basta-se.

 

Existe algo mais? Talvez os seios.

 

Ora - murmura a bunda - esses garotos

 

ainda lhes falta muito que estudar.

 

 

 

A bunda são duas luas gêmeas

 

em rotundo meneio. Anda por si

 

na cadência mimosa, no milagre

 

de ser duas em uma, plenamente.

 

 

 

A bunda se diverte

 

por conta própria. E ama.

 

Na cama agita-se. Montanhas

 

avolumam-se, descem. Ondas batendo

 

numa praia infinita.

 

 

 

                             Carlos Drummond de AndradeKikas2006-12-09 23:25:28

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Uns

Uns vão
Uns tão
Uns são
Uns dão
Uns não
Uns hão de
Uns pés
Uns mãos
Uns cabeça
Uns só coração
Uns amam
Uns andam
Uns avançam
Uns também
Uns cem
Uns sem
Uns vêm
Uns têm
Uns nada têm
Uns mal uns bem
Uns nada além
Nunca estão todos
Uns bichos
Uns deuses
Uns azuis
Uns quase iguais
Uns menos
Uns mais
Uns médios
Uns por demais
Uns masculinos
Uns femininos
Uns assim
Uns meus
Uns teus
Uns ateus
Uns filhos de Deus
Uns dizem fim
Uns dizem sim
E não há outros

Caetano Veloso

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SONETO

 

E quando nós saímos era a Lua,

 

Era o vento caído e o amr sereno

 

Azul e cinza-azul anoitecendo

 

A tarde ruiva das amendoeiras.

 

 

 

E respiramos, livres das ardências

 

Do sol, que nos levara à sombra cauta

 

Tangidos pelo canto das cigarras

 

Dentro e fora de nós exasperadas.

 

 

 

Andamos em silêncio pela praia.

 

Nos corpos leves e lavados ia

 

O sentimento do prazer cumprido.

 

 

 

Se mágoa me ficou na despedida

 

Não fez mal que ficasse, nem doesse –

 

Era bem doce, perto das antigas.

 

 

 

Rubem Braga (1947)

 

 

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01

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

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Anseios (Florbela Espanca)

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!
Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!
Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...
Não 'stendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar...

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Soneto à luz de velas

 

 

 

Velas iluminavam o ambiente

 

E nossos olhos brilhavam

 

Diante nossos corpos nus e incandescentes

 

Impressão que as chamas davam

 

 

 

Começamos um jogo de exploração

 

Mãos percorrendo dorso

 

Causando inebriante sensação

 

Trazendo à mente um novo universo

 

 

 

Olhos ardendo em desejo

 

Bocas entre-abertas...

 

Meu corpo em seus braços despejo

 

 

 

Rolamos pelas cobertas

 

Pelo mundo temos desprezo,

 

Pois nossas almas somente para o nosso amor estão abertas...

 

 

 

Simone Barbariz

 

 

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 Quem me mereça me cante,
  quem me ame me sujeite,
   me cuspa, me fira ou beije.

 

Deixo as escamas aos peixes,
 deixai-me apenas ser gente,
   cavalgar potros de espanto.
    

       Quem me ouça no que canto
    me espere ou desespere.

              Vence-me, não me violentes,
               cada instante me requer.

 

         Dinis de Ramos

 

 

 

 

 

 Nara, you're back ? 10
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Quase Tudo...<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Tenho muito medo

Do silêncio imenso da surdez

Dos sonhos mutilados

De todas as dores

Da imobilidade dos pesadelos

Da náusea dos ignorantes

Da música niilista

Da mediocridade e da torpeza

Dos vermes e das serpentes

Do vodu e do ressentimento

Das vaginas sem visco

Da falta de inspiração, da isenção de estro

Das professoras de piano

Dos versos da poetisa suicida

Dos demagogos

Da falta de sorte

Dos ideólogos da crueldade

Do vazio negro e absoluto

Do entardecer na hora dos loucos

Do uivo de abandono

De “O Bebê de Rosemary” e “O Inquilino”

Das masmorras e das sombras do DOPS

Das almas de amigos violados pelo sistema

Dos infernos do poeta Celso de Alencar

De reler a página final de  “O Ofício de Viver”.

De Cesare Parvese

Da indiferença dos indiferentes

Da dor devoradora

Da Guerra mutiladora

De um coração partido

Do sentimento perdido

Das lembranças esquecidas

Do beijo não quisto

Do som do instrumento saído do nada

Das estradas sem encruzilhada

De não saber demonstrar sentimentos

De dizer adeus sem querer

Do batiscafo à deriva e dos barcos sem barqueiro

Do dissídio entre arte e vida

Dos trilhos de trem partido ao meio

Dos cadilaques metralhados

Dos crimes sem solução

Da vilania recompensada

Dos terraços depredados

Das piscinas profundas e vazias

Do mar revolto, mas sem vento

Dos abismos sem mirante

Das premonições suscitadas pelo medo.

Das minhas reflexões

De perder a mulher que nunca conheci

Finalmente, confesso que tenho muito medo, mas também uma excitação imensa quando escuto:

“Flammes Sombres” de Scriabinm, às sete horas da noite

A voz abissal de Bas Sheva,

Os cânones e a “Sinfonia do Fogo”

A voz de Jimmy Hendrix em Burning Desire”

“Fantástica”, do maestro Russ Garcia

O “Per coro”, de Krysztof Penderecki

As “promenades” dos “Quadros de uma Exposição” de Mussorgsky

Excertos de “La Mer” e “Nocturnes”, de Claude Debussy,

A trilha de Miklós Rozsa para o filme Quando Fala o Coração, de Alfred Hitchcock

A música de Jocelyn Pook para o filme “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick.

E o som hipnótico da “flauta de pedra”, executada por Akio Suzuki, que só pode ser tocada de dia;

À noite, o som da flauta de pedra atrai “Yatsu” e os espírito das trevas.

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Inverno

 

 

 

Inverno! inverno! inverno!

 

Tristes nevoeiros, frios negrumes da longa treva boreal,

 

descampados de gelo cujo limite escapa-nos sempre, desesperadamente, para lá do horizonte, perpétua solidão inóspita, onde apenas se ouve a voz do vento que passa uivando como uma legião de lobos, através da cidade de catedrais e túmulos de cristal na planície, fantasmas que a miragem povoam e animam, tudo isto: decepções, obscuridade, solidão, desespero e a hora invisível que passa como o vento, tudo isto é o frio inverno da vida.

 

Há no espírito o luto profundo daquele céu de bruma dos lugares onde a natureza dorme por meses, à espera do sol avaro que não vem.

 

Nem ao menos a letargia acorda ao clarão de falsas auroras, nem uma vez ao menos a cúpula unida das névoas abre um postigo para o outro céu, a região dos astros. Nada! Nada! Procuramos encontrar fora de nós alguma coisa do que nos falta e os pobres olhos cansados

 

não vão além dos cabelos brancos que caem pela fronte; sofre-se o desengano do invernado que da fria choupana contasse ver a seara loura dos bons dias por entre as franjas de neve que os tetos babam ao frio.

 

 

 

Tudo sombrio e triste. Triste o derradeiro consolo do inverno que embriaga entretanto como o último vinho dos condenados: a recordação dos dias idos, a acerba saudade da primavera.

 

 

 

Raul Pompéia

 

 

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<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

nozarashi o
kokoro ni kaze no
shimu mi kana

 

                                              Matsuo Bashô (1644-1694)

 

Tradução

 

No pensamento
Um esqueleto abandonado –
Arrepios ao vento.

 

 

 Ness poesia (haicai) de 1.684, o poeta mostra sua decisão de sair pela vida, ainda que haja perigo de morte pelo caminho,   de ver seu corpo se transformar num esqueleto abandonado à beira da estrada.  Ao pensar em tudo isso, o vento de outono que ora sopra parece penetrar na pele, provocando arrepios.

 

 

 Afff!  Não é doido que se possa falar tão intensamente sobre a vida em apenas 3 versos???131710

 

Maria shy2006-12-17 10:27:30
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Não há vagas

 <?:NAMESPACE PREFIX = O />

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço

do arroz

não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação

do leite

da carne

do açúcar

do pão.

 

O funcionário público

não cabe no poema

com seu salário de fome

sua vida fechada

em arquivos.

Como não cabe no poema

o operário

que esmerila seu dia de aço

e carvão

nas oficinas escuras

 

– porque o poema, senhores,

está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema

o homem sem estômago

a mulher de nuvens

a fruta sem preço

 

O poema, senhores,

não fede

nem cheira.

Ferreira Gullar.
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Anfiguri <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Aquilo que eu ouso
Não é o que quero
Eu quero o repouso
Do que não espero.

Não quero o que tenho
Pelo que custou
Não sei de onde venho
Sei para onde vou.

Homem, sou a fera
Poeta, sou um louco
Amante, sou pai.

Vida, quem me dera...
Amor, dura pouco...
Poesia, ai!...

Vinícius de Moraes

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Precisão

 

 

 

O que me tranquiliza

 

é que tudo o que existe,

 

existe com uma precisão absoluta.

 

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

 

não transborda nem uma fração de milímetro

 

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

 

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

 

Pena é que a maior parte do que existe

 

com essa exatidão

 

nos é tecnicamente invisível.

 

O bom é que a verdade chega a nós

 

como um sentido secreto das coisas.

 

Nós terminamos adivinhando, confusos,

 

a perfeição.

 

 

 

 

 

--------------------------------------------------------------------------------

 

 

 

Meu Deus, me dê a coragem

 

de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,

 

todos vazios de Tua presença.

 

Me dê a coragem de considerar esse vazio

 

como uma plenitude.

 

Faça com que eu seja a Tua amante humilde,

 

entrelaçada a Ti em êxtase.

 

Faça com que eu possa falar

 

com este vazio tremendo

 

e receber como resposta

 

o amor materno que nutre e embala.

 

Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,

 

sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.

 

Faça com que a solidão não me destrua.

 

Faça com que minha solidão me sirva de companhia.

 

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.

 

Faça com que eu saiba ficar com o nada

 

e mesmo assim me sentir

 

como se estivesse plena de tudo.

 

Receba em teus braços

 

o meu pecado de pensar.

 

 

 

Clarice Linspector

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Agonia

No teu grande corpo branco depois eu fiquei.
Tinha os olhos lívidos e tive medo.
Já não havia sombra em ti - eras como um grande deserto de areia
Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites.
Na minha angústia eu buscava a paisagem calma
Que me havias dado tanto tempo
Mas tudo era estéril e mostruoso e sem vida
E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara.
Eu estremecia agonizando e procurava me erguer
Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos.
Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma
Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem.

Depois foi o sono, o escuro, a morte.

Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente
Vinha cheio do pavor das tuas entranhas.

Rio de Janeiro, 1935

Vinícius de Moraes

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Adormecida

 

Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière

 

La croix de son collier repose dans sa main,-

 

Comme pour témoigner qu'elle a fait sa prière.

 

Et qu'elle va la faire en s'éveillant demain.

 

A. DE MUSSET

 

 

 

UMA NOITE, eu me lembro... Ela dormia

 

Numa rede encostada molemente...

 

Quase aberto o roupão... solto o cabelo

 

E o pé descalço do tapete rente.

 

 

 

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste

 

Exalavam as silvas da campina...

 

E ao longe, num pedaço do horizonte,

 

Via-se a noite plácida e divina.

 

 

 

De um jasmineiro os galhos encurvados,

 

Indiscretos entravam pela sala,

 

E de leve oscilando ao tom das auras,

 

Iam na face trêmulos - beijá-la.

 

 

 

Era um quadro celeste!...A cada afago

 

Mesmo em sonhos a moça estremecia...

 

Quando ela serenava... a flor beijava-a...

 

Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

 

 

 

Dir-se-ia que naquele doce instante

 

Brincavam duas cândidas crianças...

 

A brisa, que agitava as folhas verdes,

 

Fazia-lhe ondear as negras tranças!

 

 

 

E o ramo ora chegava ora afastava-se...

 

Mas quando a via despeitada a meio,

 

P'ra não zangá-la... sacudia alegre

 

Uma chuva de pétalas no seio...

 

 

 

Eu, fitando esta cena, repetia

 

Naquela noite lânguida e sentida:

 

'Ó flor! - tu és a virgem das campinas!

 

'Virgem! - tu és a flor da minha vida!...'

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Metade <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

(Oswaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca

pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
(...)

Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento

porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço

porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância

porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
Que ninguém  tente complicar
porque é preciso simplicidade pra se florescer

 E que a minha loucura seja perdoada

porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

 

 

De todas as poesias que já li, essa é amis intensa. P/ vc cabeção! 10

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Desejo primeiro que você ame,

 

E que amando, também seja amado.

 

E que se não for, seja breve em esquecer.

 

E que esquecendo, não guarde mágoa.

 

Desejo, pois, que não seja assim,

 

Mas se for, saiba ser sem desesperar.

 

Desejo também que tenha amigos,

 

Que mesmo maus e inconseqüentes,

 

Sejam corajosos e fiéis,

 

E que pelo menos num deles

 

Você possa confiar sem duvidar.

 

E porque a vida é assim,

 

Desejo ainda que você tenha inimigos.

 

Nem muitos, nem poucos,

 

Mas na medida exata para que, algumas vezes,

 

Você se interpele a respeito

 

De suas próprias certezas.

 

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,

 

Para que você não se sinta demasiado seguro.

 

Desejo depois que você seja útil,

 

Mas não insubstituível.

 

E que nos maus momentos,

 

Quando não restar mais nada,

 

Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

 

Desejo ainda que você seja tolerante,

 

Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,

 

Mas com os que erram muito e irremediavelmente,

 

E que fazendo bom uso dessa tolerância,

 

Você sirva de exemplo aos outros.

 

Desejo que você, sendo jovem,

 

Não amadureça depressa demais,

 

E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer

 

E que sendo velho, não se dedique ao desespero.

 

Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e

 

É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

 

Desejo por sinal que você seja triste,

 

Não o ano todo, mas apenas um dia.

 

Mas que nesse dia descubra

 

Que o riso diário é bom,

 

O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

 

Desejo que você descubra ,

 

Com o máximo de urgência,

 

Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,

 

Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

 

Desejo ainda que você afague um gato,

 

Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro

 

Erguer triunfante o seu canto matinal

 

Porque, assim, você sesentirá bem por nada.

 

Desejo também que você plante uma semente,

 

Por mais minúscula que seja,

 

E acompanhe o seu crescimento,

 

Para que você saiba de quantas

 

Muitas vidas é feita uma árvore.

 

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,

 

Porque é preciso ser prático.

 

Eque pelo menos uma vez por ano

 

Coloque um pouco dele

 

Na sua frente e diga `Isso é meu`,

 

Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.

 

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,

 

Por ele e por você,

 

Mas que se morrer, você possa chorar

 

Sem se lamentar esofrer sem se culpar.

 

Desejo por fim que você sendo homem,

 

Tenha uma boa mulher,

 

E que sendo mulher,

 

Tenha um bom homem

 

Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,

 

E quando estiverem exaustos e sorridentes,

 

Ainda haja amor para recomeçar.

 

E se tudo isso acontecer,

 

Não tenho mais nada a te desejar

 

 

 

VITOR HUGO

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