Members jujuba Posted December 2, 2006 Members Report Share Posted December 2, 2006 À FLOR DO AMOR Fogo na pele,Pele em flor!Flor que fere,Fogo de amor! Flor da pele,Pele em cor.Pele a peleÉ pleno ardor! Flor impeleDor de amor.Dor que fereA flor do amor! Pele pede,Aflora em flor.Mela a pele,Doce amor! À flor da pele,Trêmulo fervor!À flor da pele,Atração em furor! Paixão elevada,Rasgada em ardor!Pele indomada,Fervente de amor ( Marcos Woyames de Albuquerque) Algo assim tinha que ser postado em vermelho... afff! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted December 3, 2006 Members Report Share Posted December 3, 2006 Proibido – Pablo Neruda É proibido chorar sem aprender, Levantar-se um dia sem saber o que fazer Ter medo de suas lembranças. É proibido não rir dos problemas Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo, Não transformar sonhos em realidade. É proibido não demonstrar amor Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor. É proibido deixar os amigos Não tentar compreender o que viveram juntos Chamá-los somente quando necessita deles. É proibido não ser você mesmo diante das pessoas, Fingir que elas não te importam, Ser gentil só para que se lembrem de você, Esquecer aqueles que gostam de você. É proibido não fazer as coisas por si mesmo, Não crer em Deus e fazer seu destino, Ter medo da vida e de seus compromissos, Não viver cada dia como se fosse um último suspiro!<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted December 3, 2006 Members Report Share Posted December 3, 2006 Ide buscá-la, Desejos, Pela mão a conduzi. E tu, de amor serena flor, Traz a alma cheia de beijos Que eu tenho sede de ti. Além do sono e do sonho Nos teus braços quero ir. (Ah, como é triste tudo o que existe!) Quero sentir-me risonho Sem passado nem porvir E assim eternamente No teu seio me ficar, Dúbios, perdidos, os meus sentidos, Vago ser que apenas sente Que está além do chorar. Fernando Pessoa<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted December 4, 2006 Members Report Share Posted December 4, 2006 SENSÍVEL DEMAIS Hoje eu tive medo De acordar de um sonho lindo Garantir, reter, Guardar essa esperança Andei paraísos, Descaminhos, precipícios Eu sou um alguém que chora, Por qualquer lembrança de nós dois Você me deixou, e agora Como dominar as emoções Quando vem a tona, Todo amor que está por dentro Chamo por teu nome Transmissão de pensamento Longe a tua casa, Vejo a luz do quarto acesa Não tem nada que não vaze, Que segure essa represa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 4, 2006 Members Report Share Posted December 4, 2006 A mais bonita poesia desse livro espetacular chamado Mensagem: X. MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. E outra de Fernando Pessoa, aqui como Ricardo Reis : Sim Sim, sei bem Que nunca serei alguém. Sei de sobra Que nunca terei uma obra. Sei, enfim, Que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, Enquanto dura esta hora, Este luar, estes ramos, Esta paz em que estamos, Deixem-me crer O que nunca poderei ser. Luis Eduardo2006-12-04 19:27:28 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 5, 2006 Members Report Share Posted December 5, 2006 Não te quero senão porque te quero Não te quero senão porque te quero, e de querer-te a não te querer chego, e de esperar-te quando não te espero, passa o meu coração do frio ao fogo. Quero-te só porque a ti te quero, Odeio-te sem fim e odiando te rogo, e a medida do meu amor viajante, é não te ver e amar-te, como um cego. Tal vez consumirá a luz de Janeiro, seu raio cruel meu coração inteiro, roubando-me a chave do sossego, nesta história só eu me morro, e morrerei de amor porque te quero, porque te quero amor, a sangue e fogo. _____________________________________________________________ Nega-me o pão, o ar Nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque então morreria. PABLO NERUDA Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted December 5, 2006 Members Report Share Posted December 5, 2006 Conheço o sal... Conheço o sal da tua pele secaDepois que o estio se volveu invernoDe carne repousada em suor nocturno.Conheço o sal do leite que bebemosQuando das bocas se estreitavam lábiosE o coração no sexo palpitava.Conheço o sal dos teus cabelos negrosOs louros ou cinzentos que se enrolamNeste dormir de brilhos azulados.Conheço o sal que resta em minhas mãosComo nas praias o perfume ficaQuando a maré desceu e se retrai.Conheço o sal da tua boca, o salDa tua língua, o sal de teus mamilos,E o da cintura se encurvando de ancas.A todo o sal conheço que é só teu,Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,Um cristalino pó de amantes enlaçados. Jorge de Sena Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 5, 2006 Members Report Share Posted December 5, 2006 parem eu confesso sou poeta cada manhã que nasce me nasce uma rosa na face parem eu confesso sou poeta só meu amor é meu deus eu sou o seu profeta Paulo LeminskiLuis Eduardo2006-12-05 21:37:01 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 9, 2006 Members Report Share Posted December 9, 2006 A Bunda que Engraçada A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo, nunca é trágica. Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora - murmura a bunda - esses garotos ainda lhes falta muito que estudar. A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente. A bunda se diverte por conta própria. E ama. Na cama agita-se. Montanhas avolumam-se, descem. Ondas batendo numa praia infinita. Carlos Drummond de AndradeKikas2006-12-09 23:25:28 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted December 11, 2006 Members Report Share Posted December 11, 2006 Uns Uns vão Uns tão Uns sãoUns dãoUns nãoUns hão de Uns pésUns mãos Uns cabeça Uns só coração Uns amam Uns andamUns avançam Uns também Uns cem Uns semUns vêmUns têmUns nada têm Uns mal uns bem Uns nada além Nunca estão todos Uns bichos Uns deuses Uns azuisUns quase iguaisUns menosUns maisUns médiosUns por demais Uns masculinosUns femininosUns assimUns meusUns teusUns ateusUns filhos de Deus Uns dizem fimUns dizem simE não há outros Caetano Veloso Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 13, 2006 Members Report Share Posted December 13, 2006 SONETO E quando nós saímos era a Lua, Era o vento caído e o amr sereno Azul e cinza-azul anoitecendo A tarde ruiva das amendoeiras. E respiramos, livres das ardências Do sol, que nos levara à sombra cauta Tangidos pelo canto das cigarras Dentro e fora de nós exasperadas. Andamos em silêncio pela praia. Nos corpos leves e lavados ia O sentimento do prazer cumprido. Se mágoa me ficou na despedida Não fez mal que ficasse, nem doesse – Era bem doce, perto das antigas. Rubem Braga (1947) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted December 13, 2006 Members Report Share Posted December 13, 2006 Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Vinícius de Moraes Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members **N@!r@** Posted December 13, 2006 Members Report Share Posted December 13, 2006 Anseios (Florbela Espanca) Meu doido coração aonde vais,No teu imenso anseio de liberdade?Toma cautela com a realidade;Meu pobre coração olha que cais!Deixa-te estar quietinho! Não amaisA doce quietação da soledade?Tuas lindas quimeras irreais,Não valem o prazer duma saudade!Tu chamas ao meu seio, negra prisão!Ai, vê lá bem, ó doido coração,Não te deslumbres o brilho do luar!...Não 'stendas tuas asas para o longe...Deixa-te estar quietinho, triste monge,Na paz da tua cela, a soluçar... Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 14, 2006 Members Report Share Posted December 14, 2006 Soneto à luz de velas Velas iluminavam o ambiente E nossos olhos brilhavam Diante nossos corpos nus e incandescentes Impressão que as chamas davam Começamos um jogo de exploração Mãos percorrendo dorso Causando inebriante sensação Trazendo à mente um novo universo Olhos ardendo em desejo Bocas entre-abertas... Meu corpo em seus braços despejo Rolamos pelas cobertas Pelo mundo temos desprezo, Pois nossas almas somente para o nosso amor estão abertas... Simone Barbariz Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted December 14, 2006 Members Report Share Posted December 14, 2006 Quem me mereça me cante, quem me ame me sujeite, me cuspa, me fira ou beije. Deixo as escamas aos peixes, deixai-me apenas ser gente, cavalgar potros de espanto. Quem me ouça no que canto me espere ou desespere. Vence-me, não me violentes, cada instante me requer. Dinis de Ramos Nara, you're back ? Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Olórin-o Ainur Posted December 15, 2006 Members Report Share Posted December 15, 2006 Quase Tudo...<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Tenho muito medo Do silêncio imenso da surdez Dos sonhos mutilados De todas as dores Da imobilidade dos pesadelos Da náusea dos ignorantes Da música niilista Da mediocridade e da torpeza Dos vermes e das serpentes Do vodu e do ressentimento Das vaginas sem visco Da falta de inspiração, da isenção de estro Das professoras de piano Dos versos da poetisa suicida Dos demagogos Da falta de sorte Dos ideólogos da crueldade Do vazio negro e absoluto Do entardecer na hora dos loucos Do uivo de abandono De “O Bebê de Rosemary” e “O Inquilino” Das masmorras e das sombras do DOPS Das almas de amigos violados pelo sistema Dos infernos do poeta Celso de Alencar De reler a página final de “O Ofício de Viver”. De Cesare Parvese Da indiferença dos indiferentes Da dor devoradora Da Guerra mutiladora De um coração partido Do sentimento perdido Das lembranças esquecidas Do beijo não quisto Do som do instrumento saído do nada Das estradas sem encruzilhada De não saber demonstrar sentimentos De dizer adeus sem querer Do batiscafo à deriva e dos barcos sem barqueiro Do dissídio entre arte e vida Dos trilhos de trem partido ao meio Dos cadilaques metralhados Dos crimes sem solução Da vilania recompensada Dos terraços depredados Das piscinas profundas e vazias Do mar revolto, mas sem vento Dos abismos sem mirante Das premonições suscitadas pelo medo. Das minhas reflexões De perder a mulher que nunca conheci Finalmente, confesso que tenho muito medo, mas também uma excitação imensa quando escuto: “Flammes Sombres” de Scriabinm, às sete horas da noite A voz abissal de Bas Sheva, Os cânones e a “Sinfonia do Fogo” A voz de Jimmy Hendrix em Burning Desire” “Fantástica”, do maestro Russ Garcia O “Per coro”, de Krysztof Penderecki As “promenades” dos “Quadros de uma Exposição” de Mussorgsky Excertos de “La Mer” e “Nocturnes”, de Claude Debussy, A trilha de Miklós Rozsa para o filme Quando Fala o Coração, de Alfred Hitchcock A música de Jocelyn Pook para o filme “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick. E o som hipnótico da “flauta de pedra”, executada por Akio Suzuki, que só pode ser tocada de dia; À noite, o som da flauta de pedra atrai “Yatsu” e os espírito das trevas. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 15, 2006 Members Report Share Posted December 15, 2006 Inverno Inverno! inverno! inverno! Tristes nevoeiros, frios negrumes da longa treva boreal, descampados de gelo cujo limite escapa-nos sempre, desesperadamente, para lá do horizonte, perpétua solidão inóspita, onde apenas se ouve a voz do vento que passa uivando como uma legião de lobos, através da cidade de catedrais e túmulos de cristal na planície, fantasmas que a miragem povoam e animam, tudo isto: decepções, obscuridade, solidão, desespero e a hora invisível que passa como o vento, tudo isto é o frio inverno da vida. Há no espírito o luto profundo daquele céu de bruma dos lugares onde a natureza dorme por meses, à espera do sol avaro que não vem. Nem ao menos a letargia acorda ao clarão de falsas auroras, nem uma vez ao menos a cúpula unida das névoas abre um postigo para o outro céu, a região dos astros. Nada! Nada! Procuramos encontrar fora de nós alguma coisa do que nos falta e os pobres olhos cansados não vão além dos cabelos brancos que caem pela fronte; sofre-se o desengano do invernado que da fria choupana contasse ver a seara loura dos bons dias por entre as franjas de neve que os tetos babam ao frio. Tudo sombrio e triste. Triste o derradeiro consolo do inverno que embriaga entretanto como o último vinho dos condenados: a recordação dos dias idos, a acerba saudade da primavera. Raul Pompéia Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted December 17, 2006 Members Report Share Posted December 17, 2006 <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> nozarashi okokoro ni kaze noshimu mi kana Matsuo Bashô (1644-1694) Tradução No pensamentoUm esqueleto abandonado – Arrepios ao vento. Ness poesia (haicai) de 1.684, o poeta mostra sua decisão de sair pela vida, ainda que haja perigo de morte pelo caminho, de ver seu corpo se transformar num esqueleto abandonado à beira da estrada. Ao pensar em tudo isso, o vento de outono que ora sopra parece penetrar na pele, provocando arrepios. Afff! Não é doido que se possa falar tão intensamente sobre a vida em apenas 3 versos??? Maria shy2006-12-17 10:27:30 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Sandro* Posted December 17, 2006 Members Report Share Posted December 17, 2006 Não há vagas <?:NAMESPACE PREFIX = O /> O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão. O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras – porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas” Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores, não fede nem cheira. Ferreira Gullar. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted December 18, 2006 Members Report Share Posted December 18, 2006 Anfiguri <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Aquilo que eu ousoNão é o que queroEu quero o repousoDo que não espero. Não quero o que tenhoPelo que custouNão sei de onde venhoSei para onde vou. Homem, sou a feraPoeta, sou um loucoAmante, sou pai. Vida, quem me dera...Amor, dura pouco...Poesia, ai!... Vinícius de Moraes Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 18, 2006 Members Report Share Posted December 18, 2006 Precisão O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. -------------------------------------------------------------------------------- Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar. Clarice Linspector Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Lucia Posted December 20, 2006 Members Report Share Posted December 20, 2006 Agonia No teu grande corpo branco depois eu fiquei.Tinha os olhos lívidos e tive medo.Já não havia sombra em ti - eras como um grande deserto de areiaOnde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites.Na minha angústia eu buscava a paisagem calmaQue me havias dado tanto tempoMas tudo era estéril e mostruoso e sem vidaE teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara.Eu estremecia agonizando e procurava me erguerMas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos.Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesmaDesaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem.Depois foi o sono, o escuro, a morte.Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamenteVinha cheio do pavor das tuas entranhas. Rio de Janeiro, 1935 Vinícius de Moraes Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 23, 2006 Members Report Share Posted December 23, 2006 Adormecida Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière La croix de son collier repose dans sa main,- Comme pour témoigner qu'elle a fait sa prière. Et qu'elle va la faire en s'éveillant demain. A. DE MUSSET UMA NOITE, eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente. 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras, Iam na face trêmulos - beijá-la. Era um quadro celeste!...A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia... Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes, Fazia-lhe ondear as negras tranças! E o ramo ora chegava ora afastava-se... Mas quando a via despeitada a meio, P'ra não zangá-la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio... Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: 'Ó flor! - tu és a virgem das campinas! 'Virgem! - tu és a flor da minha vida!...' Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted December 23, 2006 Members Report Share Posted December 23, 2006 Metade <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> (Oswaldo Montenegro)Que a força do medo que tenhonão me impeça de ver o que anseioque a morte de tudo em que acreditonão me tape os ouvidos e a boca pois metade de mim é o que eu gritomas a outra metade é silêncio.(...) Que as palavras que falonão sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervorapenas respeitadas como a única coisaque resta a um homem inundado de sentimento porque metade de mim é o que ouçomas a outra metade é o que calo Que essa minha vontade de ir emborase transforme na calma e na paz que eu mereço porque metade de mim é o que pensoe a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afasteque o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportávelque o espelho reflita em meu rosto um doce sorrisoque me lembro ter dado na infância porque metade de mim é a lembrança do que fuie a outra metade não sei Que não seja preciso mais que uma simples alegriapra me fazer aquietar o espíritoe que o teu silêncio me fale cada vez maisQue ninguém tente complicarporque é preciso simplicidade pra se florescer E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amore a outra metade também. De todas as poesias que já li, essa é amis intensa. P/ vc cabeção! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted December 23, 2006 Members Report Share Posted December 23, 2006 Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos outros. Desejo que você, sendo jovem, Não amadureça depressa demais, E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer E que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e É preciso deixar que eles escorram por entre nós. Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra Que o riso diário é bom, O riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra , Com o máximo de urgência, Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta. Desejo ainda que você afague um gato, Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque, assim, você sesentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, Por mais minúscula que seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas Muitas vidas é feita uma árvore. Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, Porque é preciso ser prático. Eque pelo menos uma vez por ano Coloque um pouco dele Na sua frente e diga `Isso é meu`, Só para que fique bem claro quem é o dono dequem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, Por ele e por você, Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar esofrer sem se culpar. Desejo por fim que você sendo homem, Tenha uma boa mulher, E que sendo mulher, Tenha um bom homem Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes, E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda haja amor para recomeçar. E se tudo isso acontecer, Não tenho mais nada a te desejar VITOR HUGO Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
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