Achei o filme fodástico! Muito superiror aos seus antecessores, lógico que a câmera frenética deixa a gente tonto, mas tenho que dizer uma coisa isso faz vc pensar que tudo está ocorrendo em tempo real ( lembrei do Jack Bauer, por quê será)
O Matt Damon achou um filme que coloca ele novamente em evidência e mostra como amadureceu como ator. A trilha sonora tb é show, duas sequências de ação espetaculares e um final cheio de simbologia
Agora quer rir mesmo só lendo essa crítica e logo de quem?!
O ULTIMATO BOURNE de Paul Greengrass - 21/08/07 Jason Bourne salva não apenas a própria pele como todo o cinema de entretenimento da outrora lastimável safra 2007. Bernardo Krivochein (Rio) Elaborado pique-pega em escala global, “O Ultimato Bourne” se permite logo no início uma espécie de partida real de “Counter Strike” em Londres. Percebendo a merda em que se meteu, o repórter inglês Simon Ross (Paddy Considine, excepcional protagonista de “Dead Man's Shoes”) passa de herói em potencial a cagão incorrigível, tentando esquivar-se dos agentes letais que a Agência de Segurança Nacional dos EUA colocou na sua cola, entre a multidão que se acumula na estação de trem de Waterloo. O fugitivo Jason Bourne (Matt Damon, capaz de protagonizar histórias com tanta potência que me dá até coragem de me aventurar com “Ocean's Thirteen”) lhe dá as coordenadas por celular, guiando-o pelo perigo, tentando preservar a vida do outro membro de sua “equipe”. Ross está arrependido de ter coberto uma série de reportagens sobre o misterioso agente que causa uma crise mundo afora; devia ter se tornado crítico de cinema ou uma merda destas. Agora está com uma dúzia de espingardas apontadas para seu contraído furico. Bourne suspira-lhe ao pé do ouvido: “Isto não é uma reportagem de jornal. Isto é real.” A declaração de Jason Bourne (que oportunamente surge no Brasil durante a polêmica campanha publicitária do jornal “O Estado de São Paulo”, que tenta desacreditar publicações virtuais como fontes de informação, é melhor que nenhum dos repórteres contratados se incomode em ter blogs ou coisas do gênero virtuais, n'est pas?) desce estranha não apenas como ferramenta da trama – ele quer dizer com isso que as informações publicadas por Ross eram falsas? Se for o caso, por que o incômodo em contactá-lo e, especialmente, descobrir quem é sua fonte? – como também soa esquisita dentro do bizarro cinema de Paul Greengrass, que explora a aplicabilidade das convenções de cinema de ação em casos/plots reais, uma espécie de neo-cinema catástrofe (“Domingo Sangrento”, “Vôo United 93”) – filosoficamente não muito diferente das dramatizações melosas dos eventos “Titanic”, “Pearl Harbor” ou “As Torres Gêmeas”, mas qualitativamente a uma galáxia de distância desses. Como tal declaração encontra-se dentro de uma obra puramente ficcional, poderíamos subentender uma espécie de privilégio da fantasia sobre a realidade, cujo jornal, o meio de comunicação que a representa, é prontamente desacreditado pelo protagonista. No tiroteio entre versões oficiais compradas e fabricadas, e versões alternativas dispensadas pela falta de uma grife que a embase, ficção e realidade equilibram-se, apropriam-se das mesmas estéticas, das mesmas linguagens – assim como o cinema de Greengrass transitando entre o “baseado em fatos reais” e o baseado em imagens imaginadas, fazendo uso da mesma câmera nervosa (preocupada em encontrar o enquadramento perfeito antes que as rápidas cenas acabem; Greengrass sempre consegue, normalmente privilegiando planos-contraplanos nos quais os ombros dos personagens de costas recortem a silhueta do rosto que se opõe a eles, revelando-lhes apenas os olhos), set-ups magníficos e a manutenção dos altos níveis de adrenalina do primeiro segundo até os créditos finais. Jason Bourne salva não apenas a própria pele como todo o cinema de entretenimento da outrora lastimável safra 2007, no derradeiro e desnorteante capítulo final da agora histórica saga. Possivelmente a única trilogia cinematográfica dessa primeira década do século XXI que possa se gabar de homogeneidade no que se refere à (altíssima) qualidade que usufruem os episódios, a dinastia Bourne iniciada por Doug Liman e posteriormente apropriada por Paul Greengrass tem menos a ver com James Bond (até porque a música-tema dos filmes Bourne realmente levam o termo ao pé da letra: todos os episódios são fechados por “Extreme Ways” de Moby, ao contrário dos convidados de ocasião a cada novo 007) e mais com Matisse, Hércules, Beau Geste. Os filmes de Bourne – que misteriosamente sempre surgem no circuito incólumes, sem serem vitimados por especulações cinéfilas ansiosas – devolvem ao cinema justamente o caráter de folhetim que fora reapropriado pelos seriados de televisão: mais do que ganchos narrativos que forçam o espectador cativado a retornar, os espectadores de seriados e cine-folhetins têm na presença de protagonistas regulares uma apólice de seguro, uma garantia de entretenimento, de que simplesmente uma boa história lhe será oferecida. Fato, há muito pouco de inovação que possa ser experimentado dentro desse sistema (ainda que todos os filmes Bourne sejam particularmente ousados em termos estéticos e narrativos – a consciência de Greengrass em aplicar diferentes estilos de montagem de acordo com as necessidades da ação é algo digno de nota neste último episódio), mas para manutenção de público e sustentação do circuito – funções conscientemente patrocinadas pelo espectador médio, que sabe o papel que serve ao cinema e, portanto, espera que um serviço lhe seja prestado em retorno – você não poderia esperar por estratégia melhor. O elogio ao filme de Greengrass está na forma quase bruta que ele engaja o espectador a não desistir do cinema, quando este já foi desenganado por todos os pretensos cine-folhetins da estação (que levavam a sério o seu orçamento, mas não o público), quando este poderia perfeitamente encontrar derivado de igual qualidade técnica e narrativa na televisão a cabo. Estabelecer a trama na Europa não é apenas estratégia de diferenciação, chamariz de público: é o único continente que corresponde às necessidades de deslocamento global impostas pela trama (grande parte da diversão vem de como Bourne suavemente transita entre as várias culturas) – não se atendo apenas ao continente europeu, que fique claro – assim como a nacionalidade dos protagonistas e antagonistas não podia ser outra senão norte-americana, a única cultura onipresente no mundo a fim de justificar a prontidão com que agentes são acionados nos mais diferentes países. É o bastante para que se permita algumas improbabilidades como as explosões e tiroteios em meio aos transeuntes que não tomam vítimas colaterais (existem vários acidentes públicos em “O Ultimato Bourne”, todos limpinhos; um tiroteio só foi o bastante para render um longa-metragem inteiro cheio de cadáveres em “Domingo Sangrento”), mensagens de celular com palavras tecladas em sua integridade e gramaticalmente corretas, o momento em que Bourne escolhe, de todos os passaportes falsos possíveis para reentrar nos EUA, o de um brasileiro chamado Gilberto De Piento (nascido em Osasco!) e inacreditavelmente consegue passar pela alfândega sem ao menos levar uma dedadinha sequer do guarda (péssimas lembranças de Nova York...), ou quando ele entra num prédio onde funciona a agência do governo com a cara toda fodida do empilhamento rodoviário que causou para lá conseguir chegar. Glorioso episódio final não apenas de sua série, mas da verdadeira novela que foi o período de férias no cinema (de fazer criança implorar para os pais a abandonarem no acampamento evangélico ao ter que ser punido com mais uma sessão de Xeréc, Ratatuia, Transvestites e o que mais), “O Ultimato Bourne” lava a alma do espectador ao justificar sua paixão tão banalizada com um espetáculo puramente cinematográfico, mas de tendências agora televisivas. Não foi necessário a Jason Bourne arregar para a mesma apelação que sua contraparte John McClane se rendeu para justificar sua reencarnação no festival de improbabilidades no ridículo “Duro de Matar 4.0”, cinema morto e enterrado que a todo custo tenta convencer o espectador de sua superioridade frente à xérox televisiva do personagem, o Sr. Jack Bauer (nota: não conseguiu). Não apenas o espectador é relembrado de como um bom filme de ação nos faz sentir, nos colocando no limite das poltronas de tensão, como “O Ultimato Bourne” não renega aquilo que tanto encanta o espectador nessa revolução televisiva, preservando aquilo que o torna cinematográfico e intransferível (pois é apenas o cinema permitiria que a trilha-sonora permaneça num crescendo constante e suspenso pelos primeiros 30 minutos inteiros) Se Jason Bourne sobrevive a todos os atentados, é porque está sempre se locomovendo através de fronteiras. “The Bourne Ultimatum” EUA, 2007. Direção: Paul Greengrass. Estrelando: Matt Damon, David Strathairn, Julia Stiles, Joan Allen, Scott Glenn, Paddy Considine, Albert Finney. Distribuidora: Universal Studios/UIP. Site oficial: http://www.thebourneultimatum.com/