Members Moviolavídeo Posted May 30, 2007 Members Report Share Posted May 30, 2007 Poema do Menino Jesus Num meio-dia de fim de Primavera Tive um sonho como uma fotografia. Vi Jesus Cristo descer à terra. Veio pela encosta de um monte Tornado outra vez menino, A correr e a rolar-se pela erva E a arrancar flores para as deitar fora E a rir de modo a ouvir-se de longe. Tinha fugido do céu. Era nosso demais para fingir De segunda pessoa da Trindade. No céu tudo era falso, tudo em desacordo Com flores e árvores e pedras. No céu tinha que estar sempre sério E de vez em quando de se tornar outra vez homem E subir para a cruz, e estar sempre a morrer Com uma coroa toda à roda de espinhos E os pés espetados por um prego com cabeça, E até com um trapo à roda da cintura Como os pretos nas ilustrações. Nem sequer o deixavam ter pai e mãe Como as outras crianças. O seu pai era duas pessoas - Um velho chamado José, que era carpinteiro, E que não era pai dele; E o outro pai era uma pomba estúpida, A única pomba feia do mundo Porque nem era do mundo nem era pomba. E a sua mãe não tinha amado antes de o ter. Não era mulher: era uma mala Em que ele tinha vindo do céu. E queriam que ele, que só nascera da mãe, E que nunca tivera pai para amar com respeito, Pregasse a bondade e a justiça! Um dia que Deus estava a dormir E o Espírito Santo andava a voar, Ele foi à caixa dos milagres e roubou três. Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido. Com o segundo criou-se eternamente humano e menino. Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz E deixou-o pregado na cruz que há no céu E serve de modelo às outras. Depois fugiu para o Sol E desceu no primeiro raio que apanhou. Hoje vive na minha aldeia comigo. É uma criança bonita de riso e natural. Limpa o nariz ao braço direito, Chapinha nas poças de água, Colhe as flores e gosta delas e esquece-as. Atira pedras aos burros, Rouba a fruta dos pomares E foge a chorar e a gritar dos cães. E, porque sabe que elas não gostam E que toda a gente acha graça, Corre atrás das raparigas Que vão em ranchos pelas estradas Com as bilhas às cabeças E levanta-lhes as saias. A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas Quando a gente as tem na mão E olha devagar para elas. Diz-me muito mal de Deus. Diz que ele é um velho estúpido e doente, Sempre a escarrar para o chão E a dizer indecências. A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia. E o Espírito Santo coça-se com o bico E empoleira-se nas cadeiras e suja-as. Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica. Diz-me que Deus não percebe nada Das coisas que criou - "Se é que ele as criou, do que duvido." - "Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória, Mas os seres não cantam nada. Se cantassem seriam cantores. Os seres existem e mais nada, E por isso se chamam seres." E depois, cansado de dizer mal de Deus, O Menino Jesus adormece nos meus braços E eu levo-o ao colo para casa. Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro. Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava. Ele é o humano que é natural. Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda a certeza Que ele é o Menino Jesus verdadeiro. E a criança tão humana que é divina É esta minha quotidiana vida de poeta, E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre. E que o meu mínimo olhar Me enche de sensação, E o mais pequeno som, seja do que for, Parece falar comigo. A Criança Nova que habita onde vivo Dá-me uma mão a mim E outra a tudo que existe E assim vamos os três pelo caminho que houver, Saltando e cantando e rindo E gozando o nosso segredo comum Que é saber por toda a parte Que não há mistério no mundo E que tudo vale a pena. A Criança Eterna acompanha-me sempre. A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado. O meu ouvido atento alegremente a todos os sons São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas. Damo-nos tão bem um com o outro Na companhia de tudo Que nunca pensamos um no outro, Mas vivemos juntos e dois Com um acordo íntimo Como a mão direita e a esquerda. Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas No degrau da porta de casa, Graves como convém a um deus e a um poeta, E como se cada pedra Fosse todo o universo E fosse por isso um grande perigo para ela Deixá-la cair no chão. Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens E ele sorri porque tudo é incrível. Ri dos reis e dos que não são reis, E tem pena de ouvir falar das guerras, E dos comércios, e dos navios Que ficam fumo no ar dos altos mares. Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade Que uma flor tem ao florescer E que anda com a luz do Sol A variar os montes e os vales E a fazer doer aos olhos dos muros caiados. Depois ele adormece e eu deito-o. Levo-o ao colo para dentro de casa E deito-o, despindo-o lentamente E como seguindo um ritual muito limpo E todo materno até ele estar nu. Ele dorme dentro da minha alma E às vezes acorda de noite E brinca com os meus sonhos. Vira uns de pernas para o ar, Põe uns em cima dos outros E bate palmas sozinho Sorrindo para o meu sono. Quando eu morrer, filhinho, Seja eu a criança, o mais pequeno. Pega-me tu ao colo E leva-me para dentro da tua casa. Despe o meu ser cansado e humano E deita-me na tua cama. E conta-me histórias, caso eu acorde, Para eu tornar a adormecer. E dá-me sonhos teus para eu brincar Até que nasça qualquer dia Que tu sabes qual é. Esta é a história do meu Menino Jesus. Por que razão que se perceba Não há-de ser ela mais verdadeira Que tudo quanto os filósofos pensam E tudo quanto as religiões ensinam ? Fernando Pessoa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Faéu Posted May 30, 2007 Members Report Share Posted May 30, 2007 Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia; tenho sentidos... Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe porque ama, nem o que é amar... Amar é a primeira inocência, E toda a inocência é não pensar... (Fernando Pessoa) Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted May 30, 2007 Members Report Share Posted May 30, 2007 O teu riso Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a lança que desfolhas, a água que de súbito brota da tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce. A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados às vezes por ver que a terra não muda, mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas da vida. Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua, ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca. À beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e na primavera , amor, quero teu riso como a flor que esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora. Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas tortas da ilha, ri-te deste grosseiro rapaz que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando meus passos vão, quando voltam meus passos, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque então morreria. Pablo Neruda Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted May 31, 2007 Members Report Share Posted May 31, 2007 A Outra Amamos Sempre no Que Temos AMAMOS sempre no que temos O que não temos quando amamos. O barco pára, largo os remos E, um a outro, as mãos nos damos. A quem dou as mãos? À Outra. Teus beijos são de mel de boca, São os que sempre pensei dar, E agora e minha boca toca A boca que eu sonhei beijar. De quem é a boca? Da Outra. Os remos já caíram na água, O barco faz o que a água quer. Meus braços vingam minha mágoa No abraço que enfim podem ter. Quem abraço? A Outra. Bem sei, és bela, és quem desejei... Não deixe a vida que eu deseje Mais que o que pode ser teu beijo E poder ser eu que te beije. Beijo, e em quem penso? Na Outra. Os remos vão perdidos já, O barco vai não sei para onde. Que fresco o teu sorriso está, Ah, meu amor, e o que ele esconde! Que é do sorriso Da Outra? Ah, talvez, mortos ambos nós, Num outro rio sem lugar Em outro barco outra vez sós Possamos nos recomeçar Que talvez sejas A Outra. Mas não, nem onde essa paisagem É sob eterna luz eterna Te acharei mais que alguém na viagem Que amei com ansiedade terna Por ser parecida Com a Outra. Ah, por ora, idos remo e rumo, Dá-me as mãos, a boca, o ter ser. Façamos desta hora um resumo Do que não poderemos ter. Nesta hora, a única, Sê a Outra. Fernando Pessoa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted May 31, 2007 Members Report Share Posted May 31, 2007 Manuel Bandeira TEU CORPO CLARO E PERFEITO Teu corpo claro e perfeito, – Teu corpo de maravilha, Quero possuí-lo no leito Estreito da redondilha... Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa... flor de laranjeira... Teu corpo, branco e macio, É como um véu de noivado... Teu corpo é pomo doirado... Rosal queimado do estio, Desfalecido em perfume... Teu corpo é a brasa do lume... Teu corpo é chama e flameja Como à tarde os horizontes... É puro como nas fontes A água clara que serpeja, Quem em antigas se derrama... Volúpia da água e da chama... A todo o momento o vejo... Teu corpo... a única ilha No oceano do meu desejo... Teu corpo é tudo o que brilha, Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa, flor de laranjeira... Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Van Posted June 1, 2007 Members Report Share Posted June 1, 2007 Ausência - Vinicius de Moraes (lindo! ) Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted June 3, 2007 Members Report Share Posted June 3, 2007 Não: não digas nada! Não: não digas nada! Supor o que dirá A tua boca velada É ouvi-lo já É ouvi-lo melhor Do que o dirias. O que és não vem à flor Das frases e dos dias. És melhor do que tu. Não digas nada: sê! Graça do corpo nu Que invisível se vê. Fernando Pessoa Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members ClockworkOrange Posted June 13, 2007 Members Report Share Posted June 13, 2007 O Rebanho<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Oh! Minhas alucinações! Vi os deputados, chapéus altos, Sob o pálio vesperal, feito de mangas-rosas, Saírem de mãos dadas do Congresso... Como um possesso num acesso em meus aplausos Aos salvadores do meu estado amado!... Desciam, inteligentes, de mãos dadas, Entre o trepidar dos taxis vascolejantes A rua Marechal Deodoro... Oh! Minhas alucinações! Como um possesso num acesso em meus aplausos Aos heróis do meu estado amado!... E as esperanças de ver tudo salvo! Duas mil reformas, tres projectos... Emigram os futuros nocturnos... E verde, verde, verde!... Oh! Minhas alucinações! Mas os deputados, chapéus altos, Mudavem-se pouco a pouco em cabras! Crescem-lhes os cornos, descem-lhes as barbinhas... E vi que os chapéus altos do meu estado amado Com os triangulos de madeira no pescoço, Nos verdes esperanças, sob as franjas de oiro da tarde Se punham a pastar Rente do palácio do senhor presidente... Oh! Minhas alucinações! Mário de Andrade Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Van Posted June 14, 2007 Members Report Share Posted June 14, 2007 Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu amei-a e por vezes ela também me amou. Em noites como esta tive-a em meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela amou-me, por vezes eu também a amava. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo. A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços, a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo. Pablo Neruda Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted June 14, 2007 Members Report Share Posted June 14, 2007 Revivo em silêncio,doces despedidas.Perdidas nos tempose estradas da vida.Relembro palavras,de fé e de calma,carinhos, doçuras,calando na alma. Envolvendo meus braços,os teus, calor que senti.Aquecendo meus lábios,beijos, tantos, que tremi.Olhar, que o meu refletiu.Pensar, que ao meu se fundiu.Momentos tão nossos,encantos e votos,fizeram-se meus,como se em mim coubessem,teus cânticos roucos,teus desejos loucos,que eram tão meus,como se em mim vivessem.Repasso, em curtos flashes,tão pouco foi, tanto se tornou,em mim, fizeram-se raízes,profundas, lembrança que restou,de outros tempos mais felizes.Hoje, não mais me aqueces.Nem teus lábios mais me tocam,ou sequer meu nome, pronuncias,não carregam ecos os ventos,apenas minhas memórias provocam,envolto em silêncio, noites frias,imagens de tí, fixos pensamentos.Golden Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted June 14, 2007 Members Report Share Posted June 14, 2007 Amar dentro do peito... Amar dentro do peito uma donzela; Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura; Falar-lhe, conseguindo alta ventura, Depois da meia-noite na janela: Fazê-la vir abaixo, e com cautela Sentir abrir a porta, que murmura; Entrar pé ante pé, e com ternura Apertá-la nos braços casta e bela: Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos, E a boca, com prazer o mais jucundo, Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos: Vê-la rendida enfim a Amor fecundo; Ditoso levantar-lhe os brancos folhos; É este o maior gosto que há no mundo. Bocage Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted June 19, 2007 Members Report Share Posted June 19, 2007 Não é uma poesia, mas é uma grande história de amor que vale a pena relembrar: Corpo e almaA melhor representação visual do amor queconheço é o Eros desperta Psiquê com um Beijo, um belíssimo e perturbador conjunto em mármore polido que Antônio Canova esculpiu em 1793. Mesmo quem não acredita neste indefinível sentimento poderá apreciar o que o artista soube extrair da pedra fria; mesmo os mais céticos, mesmo os que reduzem o amor a uma espécie de loucura provisória haverão de concordar que esta escultura é um daqueles raros momentos em que o tema se encontra com a forma e a intenção, para criar uma obra que jamais nos deixará indiferentes. Primeiro, Canova acertou ao escolher um mito como motivo, contentando assim a gregos e troianos - uns porque vêem no amor uma realidade mais profunda, como o mito, que não se deixa capturar inteiramente pelas malhas da razão; outros, ao contrário, porque consideram o sentimento amoroso, assim como a religião, uma fantasia que ainda sobrevive só porque tem seguidores. Segundo, acertou porque escolheu exatamente este mito, que narra os encontros e desencontros - até o final feliz, o que é tão raro - de dois encantadores e especialíssimos personagens: ele é Eros, o ardente Deus do Amor, o filho alado de Afrodite; ela é Psiquê, belíssima princesa, cujo nome, não por acaso, também significa "alma", na língua grega. Os dois casam secretamente e vivem felizes, mas o deus só vem encontrá-la depois que as luzes se apagam, pois ela não pode saber quem é ele. Psiquê concorda, mas, certa noite, devorada pela curiosidade, espera que ele adormeça e acende uma vela; maravilhada com o que vê, deixa cair uma gota de cera quente no ombro dele. Ela rompeu o trato, e Eros se afasta, magoado, disposto a não a vê-la nunca mais. Psiquê, então, arrependida, vaga pelos caminhos e pelos campos, procurando em vão encontrá-lo, até que é atraída por Afrodite para uma fatal armadilha que a prostra num sono mortal. É quando, avisado pelos deuses, que viam o jovem casal com grande simpatia, Eros desce onde ela está e a faz voltar à vida com um beijo salvador. Pois foi bem esta a cena que o cinzel do escultor eternizou. Eros, com as asas ainda abertas, parece ter descido do céu naquele instante; Psiquê, de olhos cerrados, enlaça-o com delicadeza e ergue o rosto para oferecer-lhe os lábios. Os corpos são modelados suavemente para não desviar nosso olhar das duas cabeças que se aproximam, naquele momento culminante de todas as histórias de amor, aquele segundo infinito em que vai se encurtando o espaço que separa as duas bocas que estão a ponto de se unir. Canova conseguiu fixar toda a magia do beijo, esta genial criação do Ocidente que põe em contato, ao mesmo tempo, o corpo e a alma de duas pessoas e permite que elas troquem entre si a ternura, o desejo e a paixão que sentem reciprocamente. Às vezes, a tudo isso ainda vem se somar o amor, algo que não sabemos definir, mas que sabemos reconhecer quando aparece - ou quando simplesmente se acaba. Claúdio Moreno Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted June 20, 2007 Members Report Share Posted June 20, 2007 Hummmm ! Movio... Afff! Sedução Rubras facesRubros lábiosmolhadosCaio de joelhoscai a fina camisola perfumadaInebriantemais que o melhor néctar e sem mais...Te seduzo!Abuso, Lambuzo tudocom meu arfar molhadocom leite e mel romanocom palavras e defeitos.Mundano, Humano...Te seduzo!Com carinho.Delicada porcelana.te envolvo e te engano.Há malícia no ar. A vontade inundando tudoa nós...mas ainda não!Te seduzo!Seus olhos já não estão em mim.Estão fechados, advinhandomeus toques.Suas mãos suadasMe conduzindo...... aprendo seu corpo.Te seduzo!Cada pêlocada poro,cada milímetro quadradodessa tez morenaimplorará por mimE de repente afundoReparo, entãoque no fim do fundo não mais seduzo...Seduzido me confundo,com você. Claudio de F.Barboza Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted June 20, 2007 Members Report Share Posted June 20, 2007 O inseto Das tuas ancas aos teus pés quero fazer uma longa viagem. Sou mais pequeno que um inseto. Percorro estas colinas, são da cor da aveia, têm trilhos estreitos que só eu conheço, centímetros queimados, pálidas perspectivas. Há aqui um monte. Nunca dele sairei. Oh que musgo gigante! E uma cratera, uma rosa de fogo umedecido! Pelas tuas pernas desço tecendo uma espiral ou adormecendo na viagem e alcanço os teus joelhos duma dureza redonda como os ásperos cumes dum claro continente. Para teus pés resvalo para as oito aberturas dos teus dedos agudos, lentos, peninsulares, e deles para o vazio do lençol branco caio, procurando cego e faminto teu contorno de vaso escaldante! Pablo Neruda Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted June 21, 2007 Members Report Share Posted June 21, 2007 O Amor do Soldado (1952) (Dos Versos do capitão) Em plena guerra levo-te a vida a ser o amor do soldado. Com teu pobre vestido de seda, tuas unhas de pedra falsa te toco caminhar pelo fogo Vem aqui, vagabunda, vem beber sobre meu peito rubro sereno. Não querias saber onde andavas, eras a companheira do baile não tinhas partido nem pátria. E agora a meu lado caminhando vês que comigo vai a vida e que detrás está a morte. Já não podes voltar a dançar com teu traje de seda na sala. Te vais a rasgar os sapatos, mas vais crescer na marcha. Tens que andar sobre as espinhas deixando gotinhas de sangue. Beija-me de novo, querida Limpa o fuzil, camarada Pablo Neruda Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Van Posted June 22, 2007 Members Report Share Posted June 22, 2007 Coração que bate-bate... Antes deixes de bater! Só num relógio é que as horas Vão passando sem sofrer. Mario Quintana Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Moviolavídeo Posted June 22, 2007 Members Report Share Posted June 22, 2007 CANSADO Estou cansado... Cansado das novelas e dos filmes saturados Cansado dos abraços vazios e dos olhares gelados Cansado dos amores descartáveis e das inutilidades recicláveis Cansado dos programas de domingo Cansado de ficar dormindo Cansado dos programas para adultos Cansado dos políticos corruptos Cansado de ver baixaria virar atração e violência diversão Cansado da moda e dos estilos Cansado das modelos e dos seus vestidos Cansado do julgar e da beleza vulgar Cansado do dia e da noite Cansado das letras e dos números Cansado dos quase famosos e das estrelas de Hollywood Cansado das reclamações Cansado das sugestões Cansado dos perdões Cansado das objeções Cansado do sonho americano Cansado do punk rock original Cansado do pop comercial Cansado das mentes fechadas, comercialmente preparadas Cansado das idéias pré-concebidas Cansado das bebidas Cansado das mudanças ainda não digeridas Cansado da censura e do falso moralismo Cansado do estresse e da depressão Cansado do sim e do não Cansado dos sentimentos desvalorizados Cansado dos segredos revelados Cansado das fórmulas, dos módulos, dos rótulos Cansado da arte moderna e da natureza morta Cansado dos sorrisos plásticos e das lágrimas artificiais Cansado dos quase amigos Cansado dos inimigos Cansado dos supermercados Cansado dos rostos esteticamente modificados Cansado do sarcasmo, do egoísmo, do individualismo Cansado do amar sem ser amado Cansado de ser ignorado Cansado dos clichês dos cinemas Cansado de tentar Cansado de bater e ninguém abrir Cansado dos sonhos e das ilusões Cansado de recolher os pedaços que caem Cansado dos pensamentos que não saem Cansado do amor Cansado da paixão Cansado de esperar que alguém estenda a mão. Gabriel Conceição de Oliveira Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Administrator Posted June 24, 2007 Members Report Share Posted June 24, 2007 O Mar de Tuas Mãos O mar avança suavemente, sobre a areia E você suavemente sobre meu corpo Corpo que exala paixão E de tuas mãos, ávidas carinhosas a me percorrer A lua continua linda, Não ofereço resistência mas estremeço a teu toque Mãos que afagam num frenesi ardente levando-me a explosão total de sentimentos Marici Bross Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted June 27, 2007 Members Report Share Posted June 27, 2007 Você quer ficar comigo de manhã<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Mas você só me abraça quando eu durmo Fui feito para caminhar sobre a água Agora fui fundo demais Para cada pedaço meu que quer você Há um outro pedaço que se afasta Porque você me faz sentir uma coisa Que me assusta Você esperou durante horas Só para ficar um pouco sozinha comigo E eu posso dizer que nunca comprei flores para você Não sei o que elas significam Nunca pensei que eu amaria alguém Que fosse o sonho de outra pessoa Talvez seja tarde demais E as palavras que nunca consegui dizer Virão à tona mesmo assim Algum dia, poderei te chamar do meu coração (J. Morrison) Maria shy2007-06-27 11:30:57 Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted June 30, 2007 Members Report Share Posted June 30, 2007 Sou sua,desde o dia em que me viu pela primeira vez,desde que me tomou como mulher,desde que olhei em teus olhose vi neles todos os meus sonhos... Sou sua,acho que desde sempre,talvez eu seja sua mesmo antes de nascer,porque em mimbate um coração compassado com o seu,ou o mesmo coração em nós dois... Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted June 30, 2007 Members Report Share Posted June 30, 2007 Às vezes não sei quem sou... ando perdida nestas encruzilhadas que a vida me propõe... por vezes sigo mesmo o caminho errado, somente para me aperceber de que já não me é dada a oportunidade de trilhar o certo... Aprendi que há coisas que simplesmente não estão destinadas a acontecer, enquanto outras são simplesmente inevitáveis, independentemente da minha vontade de querer ou não contrariá-las... Quando a vida me magoa deixo que a chuva se misture às minhas lágrimas e sigo em frente... sempre em frente... uma folha jogada no vento... à mercê das suas correntes... com nada mais que uma ténue esperança de chegar a bom porto... Esta sou eu... e estas as minhas palavras... parte daquilo que fui, parte daquilo que sou... necessariamente parte do que serei... Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted June 30, 2007 Members Report Share Posted June 30, 2007 Amo-te… amo-te… amo-te… Quero encher a boca com esta palavra, da mesma forma com que me encheste o coração. Ainda não consegui deixar de sorrir desde que desliguei o telefone. Às vezes dou por mim a pensar o quão desatinado é este sentido de se estar apaixonado, prestes a levantar voo ao som de uma única palavra. Adoro ouvir-te dizer que me amas, sabias? É como encontrar um oásis ao fim da milésima duna de areia quando nos achávamos já prontos a sucumbir à sede do deserto… como abrir uma janela de manhã e enfrentar o sol de frente com um sorriso quando temêramos um minuto antes encontrar a tristeza da chuva… Mas, mesmo essa, é música para os meus ouvidos… porque tamborila o teu nome para mim no vidro das janelas enquanto me aconchego no calor dos cobertores e deixo que os meus sonhos divaguem por esses caminhos ocultos que me levam sempre até ti…<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /> Gosto de te trazer assim, bem perto de mim… dentro do meu coração… E gosto de te sentir pular dentro do meu peito quando ouço a tua voz…Eu nasci para te encontrar e tentar fazer-te feliz… É essa certeza que me impede de soçobrar quando erro… quando te magoo, quando me magoas a mim… Esse sentido de saber que há pessoas que temos que conseguir manter na nossa vida porque são demasiado importantes para as deixarmos partir… Essa vontade de mudar, de ir para além de nós mesmos para nos tornarmos melhores que aquilo de que somos feitos… Quando te vejo sei que fui feita para amar-te… para ansiar o momento em que vais cingir-me entre os braços e fazer-me parte de ti… Amar-te é fácil demais. Por isso quero fazer de manter-te o desafio da minha vida… Porque faz parte de nós amar ainda mais o que nos dá luta… o que nos custa a conseguir… aqueles por quem nos obstinamos em jamais baixar os braços. Não vou desistir de ti… porque mesmo naqueles momentos em que nos levamos à loucura sei que vou amar-te para sempre… tal e qual como és… a pessoa linda e doce por quem me apaixonei… a pessoa que me faz sorrir durante horas com uma só palavra… o homem que amo do fundo do coração e a quem quero dar tudo de mim… até ao último grão de magia… TE AMO MEU LINDO Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members jujuba Posted June 30, 2007 Members Report Share Posted June 30, 2007 Finá de ato Dispóis de tanto amorde tanto cheiro cheirosode tanto beijo gostoso, nós briguemosFoi uma briga fatá Eu disse : cabou-se ! Ele disse: cabou-se ! E nós fiquemos mudo, sem vontade de falá.Xinguemos, sim, nóis se xinguemos Quarta-feira, nóis si encontraremusNenhum vai tenta disfarçáEu vo parti para riba deleCum fogo aceso nu oiá Vai sê tanto cheiro cheiroso Vai sê tanto beijo gostoso... Antonce nóis si alembraremos O Brasil é tão pequenoNem vai pode nos separá ! Afff! Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted June 30, 2007 Members Report Share Posted June 30, 2007 Que bunitinhuuuu Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
Members Srta Moore Posted July 1, 2007 Members Report Share Posted July 1, 2007 O dia amanheceu chuvoso. A natureza chora. Chora também meu coração. A saudade que sua ausência me trás, Aperta-me o peito. Sufoca em mim a voz Que teima em querer Gritar alto e para todos, o quanto amo você. Mas o grito fica retido No vazio da solidão Em que me encontro. Resta-me apenas o consolo De poder molhar meu rosto Nas águas da chuva E misturar minhas lágrimas Às lágrimas da natureza Deixando-as, juntas, caírem Fertilizando o solo que nos sustenta. Quote Link to comment Share on other sites More sharing options...
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