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A Lula e a Baleia


-felipe-

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Com Jeff Daniels e Laura Linney, o filme quejá está sendo chamado de a comédia dramática do ano, como Sideways e Encontros e desencontros nos anos anteriores. O filme está recebendo vários prêmios e foi indicado essa semana pra 3 Globos de ouro, incluindo Melhor filme (comédia ou musical).

 

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A Lula e a Baleia

 

Por

Marcelo Hessel

 

13/4/2006

 

 

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Trailer

A

Lula e a Baleia

 

The Squid and the Whale

 

EUA, 2005

 

Comédia - 81 min

Direção

e roteiro: Noah Baumbach

 

 

 

Elenco: Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg,

Owen Kline, Halley Feiffer, Anna Paquin, William Baldwin, David

Benger, Adam Rose, Henry Glovinsky, Eli Gelb, Peter Newman, Peggy

Gormley, Greta Kline

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O Pequeno Príncipe, Perrault,

irmãos Grimm na infância. Ápice da adolescência, Salinger,

O retrato do artista quando jovem, uns Shakespeares românticos.

Kafka para pontuar o início da vida adulta, mais Hamlet, sem

dúvida. O agridoce começo dos trinta pede Cortazar, Beckett, Hemingway,

Gatsby. Daí em diante, para buscar o tempo perdido, Marcel Proust.

Bernard Berkman, o deplorável personagem de Jeff Daniels em A lula e a baleia (The squid and the whale,

2005), pode não concordar com a lista acima, mas certamente acredita

que a literatura nos ensina a viver. Professor universitário e escritor

que já teve dias melhores, ele criou no filho mais velho, Walt (Jesse Eisenberg), essa idéia de que os "filisteus", aqueles que "não são intelectuais", não merecem consideração. Ler bastante, ver muitos filmes, saber apregoar esse repertório - é isso que faz o homem.

Ou será que não? Na faculdade, para

impressionar as garotas, Walt cita obras que não leu. Arruma uma

namorada que não ama. Em um concurso musical, toca "Hey You", do Pink Floyd,

como se fosse de sua autoria. Habitaria eternamente esse auto-engano, o

inescapável complexo edipiano de superar o pai, se não fosse um

terrível baque, que o atira na vida real: o divórcio. Sua mãe, Joan (Laura Linney),

escritora em ascensão, está se separando de Bernard. Não há livro no

mundo que ensine Walt a lidar com essa situação - essa é a mensagem que

o roteirista e diretor Noah Baumbach nos transmite com estilo e coração.

Coração porque a história tem muito de

sua própria adolescência. Estilo porque Baumbach não tem medo de fugir

da estética Sundance e recorrer a uma fórmula "ultrapassada", aquela de

dramas sóbrios, para contar essa sua história. (Espanta saber que o

roteirista assinou, no ano anterior, o script do acrobático A vida marinha com Steve Zissou; Wes Anderson retribuiu produzindo A lula e a baleia) Não há neste seu relato autobiográfico qualquer afetação, fotografia granulada, câmera lenta com música ao fundo, nada.

A história se conta com o bom e velho

plano-contraplano, calcada nas excelentes atuações dos protagonistas,

com a necessária pitada de humor cáustico. Baumbach tem a mania dos indies de reabilitar atores de segunda linha - a participação de William Baldwin é

impagável - mas fica só nisso. Provavelmente por ser assim, genuíno, o

filme tenha sido indicado ao Oscar de melhor roteiro original. É uma

pena que não tenha ganho, pois o texto enxuto é um exemplo de coesão.

Trata da formação do caráter de Walt de forma breve e precisa, passando

pela necessária desconstrução do ícone paterno, e culminando em um

final aberto, a metáfora do embate entre os gigantes marinhos.

 

Fica a lição de que experiência

de vida não se herda. Talvez seja por isso que o filme exale frescor,

novidade: no meio cinematográfico em que tantos se colocam acima dos

personagens, donos da verdade, Baumbach tem a humildade de expor-se, de arriscar

um caminho fora da cartilha, de humanizar seus personagens sem rir dos defeitos

deles. Sem conhecê-lo, dá até pra dizer que o diretor se

tornou uma pessoa melhor depois de fazer A lula e a baleia.

 

 

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smiley10.gifsmiley10.gifsmiley10.gifsmiley10.gif -  A LULA E A BALEIA

Durante a década de 70 e por boa parte dos anos 80, o cinema americano passou a valorizar mais os dramas intimistas e/ou familiares que tinham a ambição de observar a rotina da sociedade e o comportamento das pessoas. O gênero perdeu um pouco a força embora atualmente o enfoque seja empregado nas mais diversas produções dos mais diversos gêneros, mas produções como "Gente Como a Gente" são cada vez mais raras ( "Beleza Americana" assim como o predecessor é um raro exemplar de uma produção que obteve um mesmo nível de repercussão nesses últimos anos ), sendo assim a proposta de "A Lula e a Baleia" é muito bem-vinda e não à toa se passa em meados dos anos 80, época de uma intensa manifestação social seja através de movimentos feministas ( a mulher passou a reinvidicar o seu espaço, o seu papel dentro da sociedade ) até mesmo eventos políticos importantes ( queda do muro de Berlim ). É nesse contexto ( ou pré-contexto ) que conhecemos a família Berkman.

O casal Bernard ( Jeff Daniels ) e Joan ( Laura Linney ) possui um casamento aos frangalhos e decidem pela separação, algo que irá provocar um vendaval de mágoas e ressentimentos entre eles, mas principalmente para os seus dois filhos: Walt ( Jesse Eisenberg ) e Frank ( Owen Kline, filho do ator Kevin Kline ). Apesar de ser um casamento que já estava moralmente em ruínas, a separação e por consequência a guarda compartilhada irá aos poucos ruir com cada um dos indivíduos que compõem esta ex-família. O roteirista e diretor Noah Baumbach se baseou nas lembranças de sua infância para contar esta comédia dramática de extrema sensibilidade e melancolia com alguns toques de humor negro na esfera mais ácida.

A grande lição ( se é que assim podemos dizer ) apresentada por "A Lula e a Baleia" é como neste processo de "modernização" das relações sociais que no caso se baseia no seio de uma família há no processo uma gradativa perda de valores, ou seja, não é de estranhar quando Bernard conta ao filho que o que motivou a separação foi a traição de Joan com o vizinho ou quando o filho acusa a mãe de se separar no momento em que o pai já não consegue repetir o sucesso literário de seu primeiro livro, ou seja, em todo esse trajeto os membros da família tornam-se egoístas e frutos do egoísmo alheio. Não estou sugerindo que a manutenção de uma estrutura familiar fragilizada seja a solução, mas a partir do momento em que perdem a noção desse núcleo familiar, eles deixam de ser cúmplices.

Tanto é verdade que o riso saí de maneira angustiante quando constatamos que o filho mais novo ao se olhar no espelho com a mãe se recusa a ter a estrutura óssea do pai e chega ao ponto de considerá-la feia. O roteiro ainda promove uma interessante análise com relação ao termo "filisteu", considerado por Bernard como o exemplo de uma pessoa que não gosta de livros e/ou filmes interessantes, e ao ser considerado semelhante ao pai, a reação de Frank é imediata: antes ser um filisteu do que ser como Bernard. É interessante como as reações dos filhos são acompanhadas de maneiras distintas, afinal enquanto Frank mostra-se uma criança cada vez mais perturbada ao ponto de se alcoolizar, ela ainda se utiliza da descoberta de sua sexualidade como uma válvula de escape inconsequente. No instante em que uma determinada postura do garoto é apresentada ao pais pela diretora da escola, o ressentimento dos pais acaba deixando o desvio do filho em segundo plano. Nesse mesmo patamar a mãe quando conversa com o filho mais velho não lhe poupa em contar alguns detalhes sórdidos da sua traição esquecendo que o ouvinte é uma vítima indireta daquilo que ela provocou ao que ela reconhece que é uma mania errada que ela tem quando se trata de certos detalhes ( logo não chega a ser tão estranho quando acompanhamos uma conversa sem censura entre os irmãos por telefone, afinal parece que se tornou um hábito falar da vida sexual extra-conjugal dos pais ).

Walt, o mais velho, está começando a experimentar os prazeres do sexo ou do quase-sexo ao ponto de que à medida que vai tendo mais intimidade com a sua mais nova namorada mais ele se comporta da maneira displicente e irresponsável do seu pai ao ponto de menosprezar a parceira e permitir que a mesma se sinta insegura. "Você não queria ter menos sardas ?", pergunta ao jovem após beijar a garota. E se não bastasse o roteiro ainda permite que se crie uma inusitada situação onde uma atraente aluna de seu pai ( Anna Paquim ) irá morar junto com eles e irá se tornar a mais nova namorada de Bernard e o objeto de desejo de Walt. A relação é tão desprovida de limites morais que ao perguntar ao pai o que acha de sua namorada, Walt acaba recebendo como resposta uma insuspeita declaração: "Ela é muito bonita, meu filho, mas não faz o meu tipo."

Jeff Daniels e Laura Linney não representam e entregam ao espectador o retrato de duas pessoas amarguradas que se sentem infelizes por não conseguirem forças para salvar o casamento e se sentem culpadas por não conseguirem deixar o orgulho de lado. A cena em que Bernard aparece na casa de Joan ( o antigo lar que eles chamavam de "nosso" ) e afirma que ele tinha feito de tudo para salvar o casamento ao qual ela reage de maneira inconformada e inconsolável é um daqueles momentos em que a gente guarda para sempre na nossa memória. Os dois jovens atores também se saem muito bem: Jesse Eisenberg tem uma postura "desleixada" e inconsequente que compõe o papel de um jovem que está prestes a explodir, inconforamdo com a separação dos pais, assim como Owen Kline faz a figura de uma criança perturbada sem parecer "fabricada para o cinema", tão bem que chega a parecer um membro da família Culkin.

Logicamente que a "A Lula e a Baleia" em sua postura de filme de cinema independente acaba se apegando a alguns artifícios que querem soar mais "cools" do que condizente com a trama, como a obsessão pelo gato ou a própria metáfora que dá o nome ao título, mas nada que atrapalhe o aspecto humano e visceral deste pequeno drama, uma pequena obra-prima a quem saber valorizar, afinal numa época onde alguns aspectos morais estão tão perdidos, é bem capaz que este filme acabe sendo subestimado ou até mesmo esquecido. Um pequeno grande filme !!!!!!!

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Tá' date=' mas o filme tem alguma lula e alguma baleia? Depois de "O tigre e o dragão", não quero ser engando de novo.[/quote']

Há uma pequena e breve metáfora no filme com relação a uma lula e uma baleia que se encontram em exposição em um museu ... a última cena do filme mostra o filho mais velho observando as duas criaturas ...

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  • 1 month later...
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(Contém alguns spoilers... Se não viu o filme, o que está fazendo aí parado? Corra!)

Vi o filme anteontem e é muito bom, dos melhores que eu vi até agora nesse ano. A lente que Baumbach coloca sobre os personagens principais é tão possante que chega a ser cruel, pois os desajustes que contribuem para a falência familiar que se vê na tela são mostrados sem retoques.

O filme acaba de forma meio brusca, mas talvez seja porque os elementos do roteiro são desenvolvidos de uma forma tão perfeita que dá vontade de ver mais, de conferir o destino de cada um deles. E se não fosse pelo Owen Kline, que dá um show, o filme seria totalmente dominado pelo Jeff Daniels, que estava inspirado. Ótimas interpretações de todos os integrantes do elenco (Anna Paquin inclusive), mas esses dois se destacam.

O lance do gato é de uma perspicácia fenomenal. O garoto Frank projeta no felino sua situação em relação à separação dos pais, de desamparo, abandono psicológico e instrumento de agressão usado pelo pai contra mãe e vice-versa. Quando o gato desaparece num determinado evento, o menino entra em surto (como não poderia deixar de ser), porque ele se vê igualmente desamparado no meio do fogo-cruzado paterno.

A todo o tempo eu me lembrava de um outro filme que gosto muito, Terra de Sonhos. Alguns elementos do roteiro são parecidos: crise familiar motivada por desajuste conjugal e dificuldades financeiras, filhos que se mostram mais maduros que os pais em alguns momentos, década de 80, tentativas irresponsáveis de superação de dificuldades. Mas o diferencial é que em Terra o movimento é de reconstrução, e em A Lula, de total desagregação.

Esse filme é obrigatório.

(editado para o aviso dos spoilers)

Alexei2006-5-16 8:51:12
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  • 3 weeks later...
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lula baleia - lula baleia

lula baleia - lula baleia

THE SQUID AND THE WHALE, EUA, 2005

De Noah Baumbach

Com Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, William Baldwin, Anna Paquin


Um jogo de tênis abre A LULA E A BALEIA e, como em
MATCH POINT de Woody Allen, funciona como uma metáfora sobre o que virá
em seguida. Enquanto Allen refletia sobre a relatividade da sorte, o
diretor e roteirista Noah Baumbach prenuncia a guerra que está prestes a ser declarada entre Bernard (Jeff Daniels, ótimo) e Joan Berkman (a sempre competente Laura Linney).
Casados há 17 anos, vêem seu relacionamento deteriorando desde que Joan
resolveu seguir os passos do marido e ingressar na carreira literária.
A separação culminante é antecipada no jogo da abertura, assim como a
tomada de posição entre os dois filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e o caçula Frank (Owen Kline,
filho de Kevin Kline e Phoebe Cates). O primeiro fica imediatamente do
lado do pai, na quadra e no rompimento, enquanto Frank defende como
pode a mãe.


Bernard, um escritor conceituado, mas ruim de vendas, o que na
América configura em um perdedor, vê sua mulher alcançar o sucesso
comercial que ele nunca experimentou. Há anos sem publicar um livro,
sobrevive dando aulas de literatura. Já Joan desconta a frustração
colecionando amantes na vizinhança. Os garotos ficam no meio da
batalha, e, revezando-se entre as casas de ambos (“Custódia compartilhada é uma droga”,
diz um colega de Walt, veterano de pais separados), aos poucos tomam
posição e escolhem seus lados. Mas ainda assim terminam como baixas de
guerra: enquanto Frank passa o tempo sozinho experimentando cerveja e
outras bebidas alcoólicas, Walt se espelha no pai para criar uma imagem
de intelectual que não corresponde à realidade. Até mesmo suas opiniões
refletem as de seu progenitor. Em um jantar familiar antes da
separação, Bernard comenta com Walt que UM CONTO DE DUAS CIDADES é um
Dickens menor, ao passo de que Joan o aconselha a conferir por ele
mesmo. “Não quero perder meu tempo”, responde o garoto.
Posteriormente, indica a uma namorada A METAMORFOSE só de ouvir o pai
elogiar. Quando a tal garota vem comentar com ele sobre o livro, Walt
só consegue observar que a obra “é bem kafkaniana”. O auge
dessa farsa é quando Walt se apropria de uma letra do Pink Floyd e
apresenta a canção num concurso escolar como se fosse composição sua.


Esse comportamento não é necessariamente conseqüência da separação
dos pais, mas pode muito bem ter se originado na crise que já se
estabelecia entre o casal. Baumbach sugere esta possibilidade em
diálogos inteligentes e comentários saborosos, como os que Bernard
despeja sobre seus filhos. Desprezando um dos amantes de sua ex-mulher,
diz que “ele é um sujeito normal, não é um intelectual”. Em outro momento, explica à Frank que “Filisteus são aqueles que não curtem livros e filmes interessantes”, ao que o garoto humildemente responde: “Então acho que sou um filisteu”.


É através do ponto de vista dos garotos que a história será contada,
o que permite uma leitura autobiográfica, acentuada pelo fato do
cineasta situar a trama em meados da década de 80. E o faz com uma
reconstituição impecável e ótimo senso de atmosfera. Baumbach captura
suas imagens como se fosse um filme caseiro, com tons amarelados de um
negativo vencido, aumentando a sensação de intimidade, como se
estivéssemos presenciando a dinâmica daquela família de dentro.
Baumbach demonstra um talento especial para construir personagens
plausíveis, algo que não se percebe com a mesma clareza no trabalho do
superestimado diretor Wes Anderson (que aqui atua como produtor), com quem colaborou em A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU.


O título se explica por um trauma de infância de Walt. Quando
criança, era levado pela mãe para visitar o Museu de História Natural,
onde se encontra uma estátua reproduzindo a luta entre uma lula gigante
e uma baleia, algo que amedrontava Walt a ponto deste tapar os olhos
com as mãos. Após presenciar o embate paterno, a tal luta já não parece
tão aterrorizante.


nota: ***1/2





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  • 3 months later...
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"A Lula e a Baleia"; dir: Noah Baumbach - 8/10

Fora as referências já mencionadas (Truffaut, Allen, Wes Anderson), criando de um jeito só a linguagem que o Noah encontra para o filme, achei pesadíssimo essa coisa do filme se passar no meio da década de 80, provavelmente a década mais amarga/melancólica para ambientar uma história dessas (apesar de conseguir ser muito engraçado às vezes - "Queria que você tivesse menos sardas na cara").

O filho mais velho é o Jesse Eisenberg, e sou fã desse guri desde que vi "Roger, o Conquistador". O pequeno, filho do Kevin Kline na real, também arrebenta. Ah, todo mundo, porra.

E, hmmm, o filme, na verdade os personagens, na maioria das vezes parecem tratar tudo o que ocorre com uma passividade - os pais fazendo apenas o mínimo que seus papéis como pais exigem, não porque são "pais ruins", mas porque não sabem fazer diferente, o que pode ser ainda pior. Acho que essa passividade só abre um pouco mais de espaço no lindíssimo final, quando alguém resolve fazer algo de real significado.

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  • 1 month later...
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Aê, finalmente consegui assistir.

 

É um filme que fala sobre coisas que me chamam bastante atenção, e necessecitam de um certo cuidado para o seu desenvolvimento. E é aí que o diretor/roteirista se mostra bem eficaz, dando o tempo certo para cada personagem, mostrando como o problema afeta cada um. A melancolia que predomina sobre o clima do filme é palpável, por vezes um tanto perturbadora, mesmo com alguns alívios cômicos.

 

O desenvolvimento do filme se mostra sútil e maravilhoso. No começo, os pais se agridem num jogo de tênis, e depois descobrimos que a aquele "lar" está prestes a desabar. Eles se separam e as agressões continuam, só que dessa vez não fazem uso de bolinhas ou raquetes, mas dos próprios filhos. É cruel, mas ainda assim uma coisa bem sincera.

 

Esse procedimento progressivo se mostra na riqueza dos personagens - que roteiro, hein? Peguemos, por exemplo, o filho mais velho: o rapaz aos poucos vai percebendo que não apenas recebeu uma influência ou outra do pai (um Jeff Daniels fantástico), mas que está se tornando uma pessoa como aquela. E aquela cena do menino olhando para a ex-namorada, meio que escondido, é muito triste. E isso acontece com todos, bem aos poucos, retratando a degradação familiar com uma tristeza pungente.

 

Não é difícil perceber que Baumbach fez tudo com muito esmero, que tirou de suas memórias mesmo, principalmente por ambientar o filme numa época e lugar bem específicos. E pelo que deu para perceber, está repleto de elementos bastante pessoais (Kafka, Veludo Azul, Mc Enroe, etc).

 

Um dos melhores do ano, sem dúvida.
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  • 2 months later...
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Muito bom! [possíveis spoilers]

Talvez um dos melhores trabalhos de elenco, todos estão homogeneamente bens. Jeff Daniels, fazendo muito bem o cara que tinha perfeita ciência do tipo que fazia, e se acomodava com isso. E o filho dele, que bastou um atrito pra ele começar a se descobrir, e muito parecido com o próprio pai (uma espécie de síndrome de irmão mais velho, sou um e sei mais ou menos disso 06); o molequinho também tá muito bem, conseguiu dar vida e escapar do lugar comum de menino revoltado. E a Laura Linney, no começo estava gostando muito dela, mais pro meio eu comecei a não reparar muito até a hora da risada e perceber que era tudo proposital. Todos tinham os seus motivos para as coisas, e a salada fica ainda mais legal (pra nós, é claro). E o legal que fica muito pessoal mesmo, o Baumbach sabe como demonstrar os personagens sem tropeçar na narrativa. Além deles estarem vendo Blue Velvet inclusive quando os personagens estavam descobrindo as coisas escondidas que não eram ditas. E a partida de tênis não podia ser um começo melhor.
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Fui eu. Não me referi à decupagem especificamente, mas às premissas dos roteiros dos dois filmes, que são bem parecidas (falência familiar, tentativas desastradas de superação de dificuldades etc.). O padrão estético adotado pelo Baumbach é bem diferente daquele que o Sheridan escolheu, e as soluções dadas aos personagens, mais ainda.

E Terra de Sonhos é muito bonito. O que A Lula e a Baleia tem de acidez, Terra tem de doçura. Não deixe de vê-lo.
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