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Você se considera um cinéfilo?  

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  1. 1. Você se considera um cinéfilo?

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2 filhos de Francisco ( 2 filhos de Francisco, Brasil, Breno Silveira, 2005).

 

O brasileiro tem o estranho costume de menosprezar alguns aspectos de sua cultura regionalista, ao passo que exalta sobremaneira a de outros países. Basta notar que atualmente, é "cult" gostar artistas de música Folk, que nada mais é, juntamente com o Country, a vertente Sertaneja ou Caipira da música norte americana.

 

Um exemplo disso é a movimentação do cenário underground em torno de artistas como Mallu Magalhães e Vanguart, que são cultuados por cantar música folk, o que não é nada mais nada menos do que música caipira... dos outros.

 

Em entrevista à MTV, o vocalista do Vanguart mencionou que, apesar de sua avó ser prima de Tonico e Tinoco (esses sim, autênticos artistas de folk brasileiro) ele nunca os tinha ouvido na vida. Reflexo? Sim, reflexo de que o brasileiro prefere a raiz dos outros à si própria. Um preconceito impregnado na sociedade, que considera o nosso caipira brega, mas o caipira dos outros cult.

 

E é justamente esse preconceito todo que me fez pestanejar na hora de decidir entre assistir e não assistir 2 filhos de Francisco. Corroborando com esse preconceito estava todo um passado de bombas retumbantes de filmes nacionais com celebridades do meio musical - haja vista o péssimo Aquaria com Sandy & Junior e todos os filmes da Xuxa.

 

Contudo, existe uma ligação pessoal minha com a música regional (meu avô é violeiro e foi cantor de dupla sertaneja) e, graças a ela, resolvi deixar o preconceito de lado e assistir ao filme.

 

E não é que valeu a pena? 2 filhos de Francisco é um excelente filme, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista artístico.

 

Técnico porque é muito bem dirigido, tem atuações excelentes (Dira Paes e Angelo Antonio são, ao lado dos jovens Dablio Moreira e Marcos Henrique os maiores destaques), possui uma fotografia excepcional (valorizando as nuances da vida no campo com a sujeira visual da pobreza na periferia) e a trilha sonora, embora discreta, é sempre pontual.

 

Já no ponto de vista artístico, o primeiro ato é, sem dúvida, o melhor do filme. É no primeiro ato que o talento dos atores mirim que interpretam Mirosmar (futuro Zezé di Camargo) e Emival aparece. Além de excelente cantores, os atores conseguem sucesso tanto nos momentos alegres do filme quanto nos tristes.  O conflito psicológio entre o pai e Mirosmar, o medo aparente, embora não verbalizado, na face de Mirosmar ( em virtude das cobranças constantes do pai), a timidez ao balbuciar as primeiras notas de Menino da Porteira na gaita de boca e a alegria do primeiro aplauso são executados com extrema competência por Dablio. Marcos, por sua vez, consegue transmitir com igual competência o seu menor interesse pela carreira de artista e sua paixão por futebol.

 

Angelo Antonio (Francisco Carmargo) também brilha com maior intensidade, no primeiro ato. O drama da fome, o trauma da mudança do campo para a cidade e, sobretudo, a veia sonhadora sempre presente tornam a atuação de Angelo excepcional. Dira Paes (Helena) também brilha nos momentos mais dramáticos do primeiro ato.

 

Embora enfraquecido no segundo ato (quando vemos o árduo caminho de Mirosmar ao lado de sua esposa Zilu, em uma atuação apenas regular de Paloma Duarte e Luciano) quando o filme perde um pouco da sua predominância dramática e acaba por flertar um pouco com o romance, o filme torna a brilhar no terceiro ato, quando a figura de Francisco se faz importante novamente ao carregar consigo a grande virada da história.

 

Um filme brasileiro para brasileiros. Brasileiros de verdade!

 

 

 

 

 

 

 

 
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Legal Dreyer' date=' valeu pela participação. Escolheu um filme bastante amado por todos aqui no fórum, será que isso vai influenciar na decisão dos jurados? É o que vamos ver apartir do dia 26. Boa sorte!

 

Já temos portanto 2 resenhas. Até o dia 26/05 qualquer usuário do fórum pode participar, elaborando uma resenha e postando-a aqui, neste tópico. A melhor colocada, segundo a avaliação dos jurados, será publicada no tópico "Cineclube em Cena".

 

Participem!!!

 

 
[/quote'] Já eu escolhi um filme que acho que é bastante odiado no fórum...ou não? 060606
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Legal Dreyer' date=' valeu pela participação. Escolheu um filme bastante amado por todos aqui no fórum, será que isso vai influenciar na decisão dos jurados? É o que vamos ver apartir do dia 26. Boa sorte!

 

 

Já temos portanto 2 resenhas. Até o dia 26/05 qualquer usuário do fórum pode participar, elaborando uma resenha e postando-a aqui, neste tópico. A melhor colocada, segundo a avaliação dos jurados, será publicada no tópico "Cineclube em Cena".

 

 

Participem!!!

 

 

[/quote'] Já eu escolhi um filme que acho que é bastante odiado no fórum...ou não? http://www.cinemaemcena.com.br/forum/smileys/06.gif" height="17" width="17" align="absmiddle" alt="06" />http://www.cinemaemcena.com.br/forum/smileys/06.gif" height="17" width="17" align="absmiddle" alt="06" />http://www.cinemaemcena.com.br/forum/smileys/06.gif" height="17" width="17" align="absmiddle" alt="06" />

 

odiar o filme dois filhos de francisco, faz parte do preconceito com a musica sertaneja.

 

Eu gosto de Zezé de Camargo e Luciano, mas na fase mais antiga deles. Então o filme para mim foi bom pois gosto das musicas e tudo mais, e os dois tem história interesante, achei sua escolha boa para se fazer uma critica.

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Legal Dreyer' date=' valeu pela participação. Escolheu um filme bastante amado por todos aqui no fórum, será que isso vai influenciar na decisão dos jurados? É o que vamos ver apartir do dia 26. Boa sorte!

 

Já temos portanto 2 resenhas. Até o dia 26/05 qualquer usuário do fórum pode participar, elaborando uma resenha e postando-a aqui, neste tópico. A melhor colocada, segundo a avaliação dos jurados, será publicada no tópico "Cineclube em Cena".

 

Participem!!!

 

 
[/quote'] Já eu escolhi um filme que acho que é bastante odiado no fórum...ou não? 060606

 

No meu caso, acho-o "apenas" superestimado, se serve de consolo.06
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Está chegando a hora de sabermos quem é o melhor do mês. Mas cadê as resenhas? Só temos três até agora!!! 09 Agilizem, pessoal...

 

Para participar, basta escrever uma resenha para qualquer filme, ou qualquer texto relacionado a cinema (diretores, estilos, roteiros, etc) neste tópico, até o dia 26/05 e aguardar a avaliação dos jurados.

 

O melhor texto do mês será publicado no "Cineclube em Cena".

 

E aí, vai encarar a bancada de jurados?

 

São eles:

 

Jurados do "Cinéfilos"

 

Confira, a seguir, a apresentação dos 4 jurados oficiais.

 

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Dr. Calvin

Nome verdadeiro: Daniel;

Idade: 28 anos;

Mora em: São Paulo;

Principais características: Temido por todos pela fama de imbatível em suas argumentações, além de famoso por sua rara habilidade com a espada (touché);

Histórico no CeC: Usuário veterano. Atualmente se limita ao tópico "Religião", venceu muitos Pablitos de Ouro já (especialmente na 4ª edição devido ao caso da "desmoderação"), já foi moderador e participou como jurado das 2 edições de "O Cinéfilo".

 

img367/7177/atgaaaai6fyzpusyg8vx0zsqx1.jpg

 

Fram

Nome verdadeiro: Franciely;

Idade: 21 anos;

Mora em: Florianópolis;

Principais características: Bonita, mulher e simpática. Será a jurada boazinha da bancada (e fêmea).

Histórico no CeC: Flooder da CMJ, a mais xavecada entre todas as usuárias do fórum, participou da 1ª edição do "BBBCeC" e já foi capa da extinta revista "Caras de Pau", em 2006.

 

 

img186/336/20050613150536frankeyegtx3.jpg

 

Mr. Scofield

Nome verdadeiro: Silvio;

Idade: 30 anos;

Mora em: Minas Gerais;

Principais características: Ponderado, costuma se posicionar sempre de forma bastante firme. Normalmente escreve demais, e isso poderá causar um certo cansaço por parte daqueles que acompanharão esse tópico. Nunca divulgou uma foto sua sequer, o que nos faz imaginar que ele é mais feio que esse coelho que usa no avatar;

Histórico no CeC: Moderador novato, da fase pós-rebelião, é famoso pelo fãnzoidismo exacerbado a filmes que retratam a deteriorização do ser humano. Já participou da "Casa dos Artistas 2" e foi também jurado nas duas edições de "O Cinéfilo".

 

 

img125/1917/atgaaab1dyxclmericnpyimxx9.jpg

 

Jack_Bauer

Nome verdadeiro: Vinícius

Idade: 22 anos

Mora em: Piraju - SP

Principais características: Parece com o Miranda do programa da tv, e não manda NADA de cinema. Mas é engraçado, e usa muitos emoticons de risadinhas, e isso já basta 060606;

Histórico no CeC: Participou, com destaque da 1ª edição do "Casa dos Artistas CeC" e destacou-se também na discussão em torno do referendo do desarmamento, em 2005. Depois participou do 1º "O Cinéfilo" (Plot!) e do 2º (já como a calculadora do jogo) e desde então acompanha-me em todos os eventos que ocorrem aqui. É também famoso pelo "Bolão do Bauer".

 

Jurado reserva:

 

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Batgody

Nome verdadeiro: Djonata

Idade: 22 anos

Mora em: Rio Grande do Sul

Principais características: Fanfarrão, não mede palavras e poderá ofender alguns, de estômago mais fraco, com seu linguajar chulo. Famoso pelas diversas indisposições que causou com os participantes do 1º "BBBCeC", em 2007.

Histórico no CeC: Usuário ausente, desde a debandada para o cCc, participou da 1ª edição do "BBBCeC" e das frustradas 2ªs edições de "Casa dos Artistas CeC" e "O Cinéfilo" (neste último, como jurado). 

 

--------------------

 

Participe, e mostre pra todo mundo que você é o melhor!

 

juradosus2.jpg

 

Resenhas concorrentes até agora:

 

"Eu, Robô" - Por -THX-

"Onde Os Fracos Não Tem Vez" - Por Dreyer

"2 Filhos de Francisco" - Por Albergoni 

 

Participe, postando aqui sua resenha até a próxima segunda-feira.
Enxak2008-05-22 13:30:31
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2 filhos de Francisco ( 2 filhos de Francisco' date=' Brasil, Breno Silveira, 2005).

 

O brasileiro tem o estranho costume de menosprezar alguns aspectos de sua cultura regionalista, ao passo que exalta sobremaneira a de outros países. Basta notar que atualmente, é "cult" gostar artistas de música Folk, que nada mais é, juntamente com o Country, a vertente Sertaneja ou Caipira da música norte americana.

 

Um exemplo disso é a movimentação do cenário underground em torno de artistas como Mallu Magalhães e Vanguart, que são cultuados por cantar música folk, o que não é nada mais nada menos do que música caipira... dos outros.

 

Em entrevista à MTV, o vocalista do Vanguart mencionou que, apesar de sua avó ser prima de Tonico e Tinoco (esses sim, autênticos artistas de folk brasileiro) ele nunca os tinha ouvido na vida. Reflexo? Sim, reflexo de que o brasileiro prefere a raiz dos outros à si própria. Um preconceito impregnado na sociedade, que considera o nosso caipira brega, mas o caipira dos outros cult.

 

E é justamente esse preconceito todo que me fez pestanejar na hora de decidir entre assistir e não assistir 2 filhos de Francisco. Corroborando com esse preconceito estava todo um passado de bombas retumbantes de filmes nacionais com celebridades do meio musical - haja vista o péssimo Aquaria com Sandy & Junior e todos os filmes da Xuxa.

 

Contudo, existe uma ligação pessoal minha com a música regional (meu avô é violeiro e foi cantor de dupla sertaneja) e, graças a ela, resolvi deixar o preconceito de lado e assistir ao filme.

 

E não é que valeu a pena? 2 filhos de Francisco é um excelente filme, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista artístico.

 

Técnico porque é muito bem dirigido, tem atuações excelentes (Dira Paes e Angelo Antonio são, ao lado dos jovens Dablio Moreira e Marcos Henrique os maiores destaques), possui uma fotografia excepcional (valorizando as nuances da vida no campo com a sujeira visual da pobreza na periferia) e a trilha sonora, embora discreta, é sempre pontual.

 

Já no ponto de vista artístico, o primeiro ato é, sem dúvida, o melhor do filme. É no primeiro ato que o talento dos atores mirim que interpretam Mirosmar (futuro Zezé di Camargo) e Emival aparece. Além de excelente cantores, os atores conseguem sucesso tanto nos momentos alegres do filme quanto nos tristes.  O conflito psicológio entre o pai e Mirosmar, o medo aparente, embora não verbalizado, na face de Mirosmar ( em virtude das cobranças constantes do pai), a timidez ao balbuciar as primeiras notas de Menino da Porteira na gaita de boca e a alegria do primeiro aplauso são executados com extrema competência por Dablio. Marcos, por sua vez, consegue transmitir com igual competência o seu menor interesse pela carreira de artista e sua paixão por futebol.

 

Angelo Antonio (Francisco Carmargo) também brilha com maior intensidade, no primeiro ato. O drama da fome, o trauma da mudança do campo para a cidade e, sobretudo, a veia sonhadora sempre presente tornam a atuação de Angelo excepcional. Dira Paes (Helena) também brilha nos momentos mais dramáticos do primeiro ato.

 

Embora enfraquecido no segundo ato (quando vemos o árduo caminho de Mirosmar ao lado de sua esposa Zilu, em uma atuação apenas regular de Paloma Duarte e Luciano) quando o filme perde um pouco da sua predominância dramática e acaba por flertar um pouco com o romance, o filme torna a brilhar no terceiro ato, quando a figura de Francisco se faz importante novamente ao carregar consigo a grande virada da história.

 

Um filme brasileiro para brasileiros. Brasileiros de verdade!

 

 

 
[/quote'] Gostei muito dessa resenha, e da sua crítica contra o préconceito, parabens albergone
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Ok... há muito tempo eu não escrevo qualquer coisa que seja e estou achando tudo o que escrevo péssimo. Estou cheia de coisa para fazer, mas, como não estou com cabeça para fazer nenhum delas, resolvi escrever a resenha. Oh, céus.

 

Seja o que Deus quiser.

 

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Resenha do filme Adoráveis Mulheres (por Mônica Veras)

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Adoráveis Mulheres (Little Women, 1994), dir. Gillian Armstrong

 

Em meados do século XIX, surge um gênero literário novo que, por retratar enredos ainda não disseminados no universo da língua inglesa, foi detentor de grande repercussão na época, mudando para sempre e enriquecendo sobremaneira a história da literatura Inglesa e Americana. Dentro desse novo gênero, responsável por tornar público detalhes do universo feminino amplamente desconhecidos entre os homens, surgiram escritoras fantásticas e obras inesquecíveis, muitas das quais foram adaptadas para as telas do cinema.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Tal qual outros romances do gênero - como Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, ambos de Jane Austen - Adoráveis Mulheres (Little Women, 1994), manteve no cinema as mesmas graciosidade e angústia do espírito feminino do XIX, retratadas sem erros no romance da americana Louisa May Alcott.

O filme, dirigido por Gillian Armstrong, mostra o cotidiano de uma família de quatro filhas em Concord, vivendo em profunda crise financeira durante a Guerra Civil americana. A mãe das garotas, interpretada serenamente por Susan Sarandon, encontra-se na difícil missão de chefe da família March, enquanto seu marido fora chamado para servir na guerra.

Cada qual com personalidades e necessidades completamente diferentes, as moças permanecem sob o véu que resguarda a intimidade feminina, vivendo o conflito entre a alegria de crescerem à vontade, longe do olhar social crítico, e a angústia de terem seus desejos e sentimentos reprimidos pela sociedade machista e fortemente patriarcal da época.

A mais talentosa das irmãs, Jô March, vivida fantasticamente por Winona Ryder, é a mais angustiada delas. Possuidora de um incrível talento literário - porém ainda muito imaturo - Jô apresenta profundas dificuldades em enquadrar-se no padrão de “dama da sociedade” – não só no que diz respeito ao comportamento, como também aos desejos e pretensões que uma moça refinada deveria apresentar. Representa a força do espírito feminino.

Amy (Kirsten Dunst/Samantha Mathis), a irmã mais nova, repleta de uma ganância inocente, anseia por crescer, ser bonita e casar-se com um marido rico para ser um grande ícone da sociedade. Claramente inveja as colegas mais favorecidas e deseja tudo aquilo que não pode ter pela condição financeira de sua família. Representa a ganância da mulher.

Meg (Trini Alvarado), a mais velha, possui o comportamento correto em frente à sociedade, assume grandes responsabilidades dentro e fora de casa, mas que, por vezes, deixa-se seduzir em pensamentos sobre como seria ser outra pessoa, como seria não ser o que é. Representa o romantismo da mulher.

Beth (Claire Danes), é caseira, não possui ambições e adora o seu mundo reservado, longe de críticas, olhares curiosos e obrigações sociais, onde se faz necessário pensar constantemente no que dizer ou no que vestir. Apresenta bondade e passividade incríveis. Representa a fragilidade do corpo feminino.

O filme se desenvolve em três atos bem delimitados. O primeiro mostra o cotidiano das moças, as discussões e alegrias que vivenciam, os problemas que enfrentam. Somos apresentados a Teodore Lawrence, “Ted” (Christian Bale), um vizinho de posses, que se torna amigo da família March, recebendo a graça de compartilhar do dia-a-dia das garotas, acabando por amar todas elas. Representa o desejo masculino de possuir e compartilhar dos pensamentos da mulher e a angústia pela incapacidade de entendê-las por completo.

O segundo ato desenvolve-se alguns anos mais tarde e mostra um distanciamento das irmãs, quando cada uma segue um destino diferente em busca da realização de seus sonhos. Meg se casa, Amy vai à Europa como acompanhante de sua tia para estudar artes - e, quem sabe, encontrar um "bom marido" - e Jô, após rejeitar o pedido de casamento de seu melhor amigo Ted, viaja para Nova York afim de finalmente consolidar-se como escritora. Ted, após ser rejeitado por Jô, afasta-se de seus estudos de Direito para estudar música. Enquanto isso, Beth, que possui uma saúde muito frágil, permanece em casa com sua mãe.

O terceiro ato é marcado pelo retorno das garotas – e de Ted – ao lar após o agravamento da doença de Beth. Nesse momento, todas estão marcadas pelas felizes experiências que tiveram, mas dominadas pela tristeza de saber que as vidas que deixaram para trás não podem ser resgatadas, conformando-se de que são apenas imagens e sons a serem revividos na memória. Com o espírito afundado em lembranças e ansioso por externar todos os seus sentimentos, Jô escreve um maravilhoso romance sobre sua vida e a de suas irmãs, finalmente tornando-se escritora, como sempre sonhou.

A direção de Armstrong é regular e correta, mantendo-se como uma terceira pessoa imparcial, deixando as atrizes livres para externar os sentimentos de suas personagens através das ótimas atuações e dos excelentes diálogos que foram mantidos. Os detalhes técnicos mantêm-se ao nível das brilhantes atuações, destacando o figurino, a direção de arte e a trilha sonora.

Porém, a maior riqueza da história fica por conta do estudo da personalidade das irmãs. Percebe-se que, embora sejam muito diferentes, são cada qual uma fatia da alma de uma só mulher, cheia de dúvidas e angústias. Uma alma que quer desvendar o mundo, mas que se afoga em saudosismo do lar. Um corpo que deseja ser cortejado, mas que sabe que é frágil e resguarda-se em sua intimidade. Uma mentalidade que anseia por autonomia, mas que é traída pelo coração romântico que, no fundo, sonha em ser dominado por um grande amor.

 

Por fim, todas elas são uma só. São todas faces do espírito conturbado de qualquer mulher que, independente da época, vive com tamanha profundidade, podendo guardar em si mesma todos os sentimentos simultaneamente e que, no fundo, ainda mantém um tênue véu sobre eles.

 

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Informações adicionais:

 

Principais prêmios e indicações

 

Oscar 1995 (EUA)

 

Recebeu três indicações nas categorias de Melhor Atriz (Winona Ryder), Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora.

 

BSFC Award 1994 (<?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />Boston Society of Film Critics Awards, EUA)

 

Venceu na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Kirsten Dunst).

 

BAFTA 1995 (Reino Unido)

 

Recebeu uma indicação na categoria de Melhor Figurino.

 

Curiosidades:

A atriz Christina Ricci chegou a fazer uma audição para a personagem "Amy March", mas o papel terminou ficando com a atriz Kirsten Dunst.

 

Durante as filmagens ocorreu um acidente com a atriz Claire Danes: enquanto ela carregava uma das velas na escadaria, o seu cabelo pegou fogo.

 

Adoráveis mulheres é a quarta versão para o cinema do livro de Louisa May Alcott; os outros filmes foram As Quatro Irmãs, de 1933; Quatro Destinos, de 1949 e Quatro Irmãs, de 1978.

Veras2008-05-24 18:44:02
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Eu só curto enigmas mesmo. Não gosto de escrever e... sou covarde, lembra?  giggle.gif

 

Anyway, até agora, todas as resenhas postadas aqui tão ótimas! 10

O povo sempre deixa p/ última hora mesmo! 06

 

 
MariaShy2008-05-23 17:21:20
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Acabei de entrar no forum, entrei so para comentar sobre esse filme, ai a Maria me disse para postar meu comentario aqui, adaptei ele um pouco e aqui esta:

 

 

Pecados Intimos (Little Children, 2006)

 

 

Com Kate Winslet, Patrick Wilson e Jennifer Connelly. Indicado para 3 Oscars: Atriz, Ator Coadjuvante e Roteiro Adaptado.

 

Acabei de assisitir Little Children. Vou começar minha analise logo com o veredito : o filme é maravilhosamente incrivel. Tudo começa com o narrador, ele traz ao filme uma atmosfera literaria que fez com que eu assistisse a cada cena na expectativa de seu proximo comentario, como se estivesse lendo um livro e esperasse ansiosamente terminar a pagina para prosseguir a historia. E que historia ! As cenas com o narrador sao tao bem feitas, que nos faz conhecer profundamente cada personagem muito rapidamente, apenas com o olhar do ator e uma descriçao de seus pensamentos.

 

A historia do filme é basicamente formada de dois nucleos, o adulterio de Sarah (Kate Winslet) e Brad (Patrick Wilson) e a tentativa de viver uma vida normal de Ronnie (Jackie Earle Haley). Ainda sobre o lado literario do filme, esses dois nucleos sao como parodias de dois livros citados no proprio filme: “Madame Bovary” (Gustave Flaubert, 1856) e “Crime e Castigo” (Fiodor Dostoiévski, 1866) respectivamente, dois classicos do realismo. Sarah é a propria Emma Bovary, casada, sozinha, perdida na vida e tenta encontrar no adulterio uma salvaçao, enquanto Ronnie é Raskolnikov, que enfrenta a culpa apos seu crime.

 

Talvez a principal falha do filme seja deixar claro demais sua intençao: mostrar que todos somos maus, todos erramos e todos julgamos (ninguém poderia jogar a primeira pedra, mas todos jogam), todos estao perdidos e nao sabem o que fazer, como pequenas crianças. Ha momentos que pensei: “tudo bem diretor, eu ja entendi!”, mas ver comentarios no forum do IMDB sobre como esse filme é ruim contradiz minha opiniao.

 

E engraçado como a grande maioria das historias que se contam de pessoas confusas sao historias de “amor”. No exemplo do filme, Sarah cuida da filha, nao recebe atençao do marido e é desprezada por suas companheiras de playground. Para resolver todos os seus problemas ela encontra um homem, e o “amor”. Esse homem, Brad, esta na mesma situaçao, sua mulher trabalha o tempo todo e so pensa no filho, o filho so pensa na mae, e sua carreira é um fracasso. Os dois so sao felizes quando cometem o adulterio, é sempre o sexo que traz felicidade. Mas essa é uma felicidade verdadeira ? Por que é que ela tinha que procurar logo esse tipo de felicidade ? Por que a humanidade tende tanto à procurar uma saida no sexo, somos tao escravos da biologia assim ? Como é que o amor pensaria numa soluçao tao egoista como fugir ? Entao tudo isso ai nao é amor, como em quase todas as outras historias, e como acontece na vida real.

 

Além de Ronnie, outra encarnaçao de Raskolnikov é Larry (Noah Emmerich), ex-policial que matou um adolescente em service e se aposentou apos ter crises nervosas. Enquanto Ronnie encara a culpa tentando viver uma vida normal, triste, mas normal, Larry descarrega todo o odio que tem de si em Ronnie. Essa é a parte do filme que mostra para nos que nao podemos julgar os outros. Na cena do primeiro beijo entre Sarah e Brad, o beijo foi o crime, as outras, que sabiam que isso era errado mas morriam de vontade de faze-lo e nao tinham coragem, começaram a enxergar Sarah como uma encarnaçao do adulterio, a condenando. Minha opiniao é que elas ja eram adulteras desde o começo, mais uma vez cito uma passagem da biblia: “o importante nao é fazer o pecado, so de pensar voce ja pecou”, entao so delas quererem cometer o adulterio elas ja sao infelizes, elas sabem que é errado, querem fazer o errado, mas nao o fazem por medo da sociedade ou culpa. Sera que a vontade ja nao te deixa tao infeliz quanto a culpa ?

 

O filme ainda tem tempo de ter personagens secundarios bem complexos também, infelizmente eles sao sub-explorados. Kathy (Jennifer Connely), é uma mulher que sustenta a familia e cuida de todos. Mas seria ela mais forte que os outros ? Seria ela feliz ? Duvido muito. Seria essa personagem corajosa pois consegue levar a vida sem espasmos nervosos ou adulterio ou outro refugio ? Talvez ela apenas leve a vida assim pois tem medo demais de se rebelar e procurar uma melhor vida ou uma verdadeira felicidade (se isso realmente existir).

 

Falando agora cinematograficamente, existem tres cenas que me marcaram: a da piscina pela beleza, talvez uma das mais belas que ja vi, a da crise nervosa de Ronnie com os relogios pela agonia e de Ronnie se masturbando no carro da garota olhando para o balanço no playground por ser perturbadora (mas confusa). Sobre a atuaçao, Jackie E. Haley da um show, bem melhor que Alan Arkin que ganhou o Oscar concorrendo com ele, outro destaque que achei foi o menino que interpreta o filho de Brad. Kate Winslet faz bem o seu papel, mas nada que mereça destaque, mesmo que tenha também sido indicada ao Oscar.

 

O fim do filme mostra o casal acordando do seu sonho feliz que era o adulterio, Larry se redimindo ao custo da morte da mae e do colapso de Ronnie, como se fosse um final “feliz” para a maioria dos personagens. Quem ve o titulo brasilero pensa que o filme se trata de um simples caso de adultério, o que atrapalha a forma com que as pessoas encaram o filme, fica aqui um protesto. Sobre o titulo original: li um comentario falando que o filme fala sobre crescer, virar adulto, e no final esses personagens viram adultos, sabendo enfrentar a vida como ela é. Mas nao acho que sabendo enfrentar a vida como ela é seja suficiente para encontrar a felicidade, e provavelmente todos nos continuamos a ser pequenas crianças em se tratando de procurar um sentido para nossas vidas.

 

 

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FILME: O Piano
DIREÇÃO: Jane Campion
ANO: 1993

 

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"Há um silêncio onde nenhum som se faz ouvir. Há um silêncio onde som algum pode existir. Na sepultura fria, no extremo fundo do mar."
Thomas Hood

Em certo momento de "O Piano", Ada McGrath (Hunter) arranca a tecla de seu piano para se comunicar com o amante. O castigo que recebe quando descoberta é o mais puro lirismo, traçando um paralelo marcante com o instrumento durante toda a projeção. E é essa relação que constrõe toda a atmosfera do filme.

Ada tornou-se muda desde seus 6 anos, sem nenhuma explicação. Ela é enviada com sua filha (Paquin) à selvagem Nova Zelândia por um casamento arranjado com Alisdair (Sam Neill), e faz questão de levar seu precioso piano consigo. Não demora a descobrir que o local é extremamente rústico, e a decepção se torna ainda maior quando Ada é forçada a abandonar na praia a única coisa que a faria feliz naquele lugar. É quando Baines (Harvey Keitel) resolve se apropriar do piano a fim de se aproximar dela, e é a partir daí que Jane Campion desenvolve sua fábula sobre paixão.

Em meio a uma paisagem úmida e cinza, Ada manifesta-se contra os mimos do marido, e não demora a se isolar da comunidade, tendo como companhia somente sua filha Flora. Diante disso, Anna Paquin a retrata com perfeição harmonizando contradições em uma só pessoa. A menina se tornou precoce ao ser a mediadora dos assuntos adultos de sua mãe, por ser a voz dela, e enfrenta um conflito com sua inocência infantil, sofrendo colapsos e distúrbios de personalidade diversas vezes. Não é a toa que por boa parte da narrativa, Flora esteja vestida com uma fantasia de anjo, criando um paradoxo tocante. O figurino do filme aliás é outro atrativo, o vestido de Ada merece menção por enfatizar a desconexão da personagem com sua nova vida, além do escudo protetor que somente expõe a sua face. E o momento em que Baines, ajoelhado vendo-a tocar o piano, descobre um furo em sua meia e delicadamente toca a pele exposta é de uma sensibilidade ímpar. Ele achara uma abertura na dura concha que Ada construiu. Se ele tivesse a agarrado brutalmente, a cena não alcançaria o mesmo poder, e é justamente sob este prisma que o filme inteiro se comunica. E no meio da selva fria nasce uma paixão carnal, deixando o burguês Alisdair totalmente perdido, sem saber como tratar a esposa e seus sentimentos, o que resulta numa psicopatia explosiva.

Em uma das melhores performances do cinema, Holly Hunter enfrenta as dificuldades costumeiras de interpretar alguém mudo, com roupas pesadas de época, e leva o desafio a níveis inimagináveis. Já nas primeiras cenas percebemos uma amargura em Ada apenas com seus olhares, a postura firme exigida na época, mas transmitindo um silêncio aterrador, uma aura de sofrimento que é perceptível mas não se deixa trasnparecer. Sequer é necessário saber de atuações pra se constatar a qualidade do trabalho da atriz, como sua mudança instantânea ao tocar seu piano, uma alegria que vemos não só na face, mas em sua alma. Além disso, ela carrega a imagem da mulher, cujo a diretora tanto preza, transformando O Piano em um verdadeiro microcosmo analítico, de como a paixão pode brotar na mais adversa das situações.    

Enqüanto isso, Michael Nyman dá som à melancolia da história, inserindo sua música de forma totalmente invasiva, mas combinando perfeitamente com o que é mostrado. Criou-se um balé dramático multifacetado, que enfatiza todas as intenções de Jane Campion.

Uma última cena com o piano mostra a evolução de Ada, que desabrocha para uma nova fase de sua vida da qual não imaginava ser possível, deixando oficialmente o silêncio para trás. Apesar de soar enfadonho, a diretora desvia desta sensação dando um aspecto estranho à nova Ada. Estranho, mas muito mais complexo e real, o que a torna genuína e linda.

 

 

À minha mãe [/tacky]
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É

... 

Hmm' date=' e é minha impressão ou a Maria Envergonhada curtiu ver o Keitel peladão?0619
[/quote']

 

 Não, Sem Pescoço, na verdade ele fica melhor vestido... aff!

 O Motivo de ter gostado dele no filme tem a ver mais com talento do que com algo físico. 
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Resenhas concorrentes até agora:

 

"Eu, Robô" - Por -THX-

"Onde Os Fracos Não Tem Vez" - Por Dreyer

"2 Filhos de Francisco" - Por Albergoni 

"Adoráveis Mulheres" - Por Veras

"Pecados Íntimos" - Por DaniloDalmon

"O Piano" - Por Vicking

 

Participe, o prazo para participação será extendido em mais algumas horas: Até as 23:00 hrs de amanhã (26/05).
Enxak2008-05-25 08:50:33
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Bom, eu fiquei muito sem tempo essa semana, então vai do jeito que está05

 

MATRIX

http://www.mahler.suite.dk/frx/matrix/ai/matrix_the_movie/matrix.jpg

 

Ano: 1999

Direção: Andy e Larry Wachowsky

 

Sinopse (sem revelar spoilers fundamentais)

Thomas Anderson é um funcionário burocrático de uma empresa de programação, mas fora dali ele é um requisitado hacker de codinome Neo, que vive atormentado por uma estranha sensação que não sabe definir qual é e uma questão o perturba constantemente: o que é a Matrix?

 

Levado a saber as respostas dos seus questionamentos, Neo acaba se envolvendo com Trinity e Morpheus, cyberterroristas que lhe revelam que a verdade em que a humanidade vive é muito mais aterrorizante do que se imagina.

 

Análise técnica

Os irmãos Wachwoski são dois nerds obcecados com histórias em quadrinhos, animes e operações de mudança de sexo. Tais características, excetuando-se (creio eu) as operações de mudança de sexo, somadas a alguns milhões de dólares, fizeram com que os irmãos brindassem a humanidade com um excelente filme.

 

Escolha. Talvez essa seja a palavra que determina o filme. Não só durante os momentos da projeção, mas também antes mesmo do primeiro grito de “ação”. Os Wachowski acertaram em tudo. Desde o argumento inicial até edição, passando pela escalação do elenco, figurino, fotografia, tudo contribui para um resultado espetacular.

 

O roteiro, inicialmente intrincado, mas muito bem amarrado, parte de uma premissa fascinante. O mundo em que vivemos não é o mundo real. A partir disso ele desenvolve com habilidade a história passando brilhantemente por todos os clichês possíveis e talvez aí resida um grande diferencial. Os clichês não incomodam, ao contrário impulsionam a trama a um nível quase épico. O roteiro ainda explora questões filosóficas interessantes que remetem desde a básica questão “quem somos nós” como ao mito da caverna de Platão.

 

Keanu Reeves, sempre criticado, faz um bom trabalho como Neo, e sua tão comentada falta de expressão cai como uma luva no personagem. No mesmo sentido Lawrence Fishburn e Carrie-Anne realizam com competência seus papéis. Enquanto o primeiro empresta seu tom de voz e presença imponente para dar vida ao líder rebelde Morpheus, que surge quase sempre em tom professoral, a segunda interpreta Trinity, uma mulher forte, determinada, mas que mostra ternura nos momentos certos.

Mas a grande atuação do filme fica por conta de Hugo Weaving e seu agente Smith. Com falas pausadas que demonstram não só sua frieza como também seu desprezo pela raça humana, o agente Smith acaba por se diferenciar dos demais agentes ao mostrar uma motivação que acaba fugindo das pré-determinadas pelas máquinas. E como se não bastasse um vilão bem construído, ele ainda cria bordão (“Mr. Anderson”).

 

Os demais aspectos técnicos também funcionam com precisão. A direção dos Wachowski é eficiente e valoriza o filme principalmente nas ótimas cenas de ação, que são amplificadas por uma trilha sonora pesada composta de nomes como Prodigy, Marlyn Manson e Rage Against The Machine. Mas reparem como as músicas pesadas incidem somente nas cenas de tiroteio, optando os diretores por músicas instrumentais grandiosas nos momentos de maior heroísmo, pontuando bem a diferença entre o mundano e o incrível que acontecem dentro da Matrix.

 

A fotografia é perfeita em retratar as diferenças entre o mundo real e a Matrix. Enquanto o tom azulado e sombrio predomina no mundo real, o tom de verde faz parecer que as imagens vistas dentro da Matrix são saídas de um monitor.

 

Por fim os efeitos visuais, que mereceriam um capítulo à parte. São empregados de forma realista na mesma proporção em que são inovadores. O que dizer do bullet time? O efeito fez tanto sucesso que foi copiado em diversas outras produções e estabeleceu um novo patamar na área dos efeitos visuais. A cena de Neo desviando das balas no alto de um prédio já faz parte de uma das cenas mais marcantes e influentes da história do cinema.

 

http://img2.timeinc.net/ew/img/review/011123/matrix_l.jpg

SPOILERS a partir daqui. Cuidado!

 

Matrix e A Jornada do Herói

É impressionante como o filme segue à risca a Jornada do Herói compilada por Joseph Campbell e Christopher Vogler. Clichês, dizem alguns. Não nego que o sejam, no entanto vão muito mais além. Não são meramente clichês. Como bem observou Carl Gustav Jung, são heranças psicológicas inerentes a todos os homens e que se manifestam em forma de símbolos presentes em diversas tradições culturais.

 

A jornada do herói é bem determinada. O herói vive sua vida cotidiana até que é chamado para contribuir em alguma demanda. Ele hesita inicialmente, mas encontra um mentor que o convence a seguir nessa demanda. Durante essa missão o herói vive uma jornada de auto-conhecimento, enfrenta inimigos e provações que deverá vencer. Depois ele retorna ao lar, aonde chega transformado e trazendo algo novo, concreto ou abstrato, e que será utilizado para o bem comum.

 

Assim acontece em Matrix e funciona extremamente bem. Thomas Anderson vive uma vida sem graça como funcionário de uma empresa até que é encontrado por Morpheus que o chama para um mundo novo. Thomas Anderson, atendendo pelo codinome de Neo, reluta inicialmente, mas sua vontade de saber a verdade é maior. E a cena onde ele escolhe a pílula vermelha e “acorda” é emblemática nesse sentido. A revelação de que a humanidade é controlada por máquinas que se alimentam da energia produzida pelo corpo humano e que toda a vida que ele viveu até aquele momento era uma realidade distorcida criada pelas máquinas, faz com Neo queira fazer parte da causa de Morpheus.

 

Todos os arquétipos estão presentes. Neo é o herói que terá sua vida modificada de alguma forma. Morpheus assume o papel de mentor de Neo, pois acredita que ele é o Escolhido que irá libertar a raça humana do controle das máquinas. O guardião do limiar são representados pelos temíveis agentes. O camaleão é Cypher, que começa aliado do herói e depois se revela aliado da sombra e a própria sombra, que é a Matrix em si.

 

Matrix e Syd Field

Os primeiros 10 minutos

 

A abertura do filme é impactante e cheia de suspense. Caracteres verdes percorrem uma tela negra e duas pessoas conversam pelo telefone. Um dos interlocutores termina a conversa achando que há algo de errado. Alguns guardas andam por um corredor escuro até que chegam a um lugar onde há uma mulher a frente de um telefone. Ao que indica, era ela quem estava falando anteriormente. Ela aparentemente se rende, mas do lado de fora do prédio três homens misteriosos avisam para o chefe da operação policial que naquele momento, seus funcionários já estão mortos. Pronto. O telespectador já foi fisgado e quer saber a razão de uma simples mulher ser tão perigosa. De volta ao quarto ela derruba os policias e faz movimentos incríveis, como por exemplo andar pelas paredes. Tudo isso faz o espectador pensar se ela é algum tipo de super-heroína, mutante, e.t. ou coisa assim.

 

O plot principal

 

Podem cronometrar. O roteiro segue fielmente o paradigma de Syd Field. Com 30 minutos ele apresenta o plot principal do filme. O motor que irá impulsionar a história. É nesse momento que Neo engole a pílula vermelha. Àquela altura do filme, a descoberta de que a raça humana é aprisionada por máquinas e vive em uma realidade fantasiosa, se não é original, é surpreendente.

 

Pista e Recompensa

 

Na minha opinião, este é o grande trunfo (além da miscelânea de boas idéias) do roteiro. Ele estabelece uma série de regras e verdades que são seguidas e descumpridas de forma precisa.

A primeira regra surge logo no início:

“Quando vir um agente fuja”. Antes que essa frase seja dita, já vemos Trinity fugindo dos agentes sem saber a razão. Logo quando o espectador ouve essa frase ele imediatamente associa à essa cena e entende porque uma mulher que luta tão bem saiu correndo ao avistar os agentes. No decorrer do filme isso acontece mais algumas vezes. Neo e todos os demais fogem dos agentes durante maior parte do filme.

 

Da mesma forma, quando vemos o Oráculo dizendo a Neo que Morpheus acredita nele cegamente, o roteiro abre uma brecha para que Morpheus lute contra um dos Agentes, justificando uma quebra na regra estabelecida no próprio roteiro.

 

Outra pista que funciona extremamente bem é quando Morpheus está falando para Neo sobre o perigo dos agentes, de como são fortes e que eles podem até mesmo desviar de balas. Neo então pergunta se ele poderá desviar de balas também e Morpheus responde que quando chegar a hora não será necessário. Isso gera uma expectativa enorme em quem assiste o filme, e finalmente, quando vemos Neo desviar das balas no alto do prédio sabemos que ele ainda fará mais do que aquilo, mesmo sem saber exatamente o que.

 

Início e Final

 

O fim do filme remete ao final. Como em um trabalho acadêmico onde a conclusão fica adstrita à introdução. Em alguns sistemas filosóficos os finais e o início se tocam, como um Yin e Yang. No início vemos uma tela verde e duas pessoas conversando pelo telefone. O final faz o mesmo, uma tela verde que congela enquanto Neo fala ao telefone, o que cria uma resolução satisfatória daquela narrativa.

 

Ao lado de Guerra nas Estrelas e Senhor dos Anéis, Matrix é um grande exemplo de filme acadêmico, daqueles que se usa em sala para mostrar a existência dos paradigmas e provar o quanto eles funcionam se bem empregados.

 

Considerações nerdísticas

 

http://petraevstuff.files.wordpress.com/2007/08/matrix_code_see_800.jpg

O caminho do Escolhido

 

Neo não tem convicção de que é o Escolhido. Mesmo mostrando desenvoltura nos programas de treinamento, ele hesita. Nesse sentido a cena com o Oráculo é o divisor de águas.

Ela diz:

“Em uma mão você terá a vida de Morpheus. Na outra mão você terá a sua vida. Um de vocês vai morrer. Qual de vocês... você vai escolher”.

Com isso ela joga a responsabilidade do destino de Morpheus nas mãos de Neo, mas logo depois ela diz: “você controla o seu próprio destino, lembra?”, se referindo a uma frase que Neo teria dito anteriormente.

 

Essa passagem é fundamental. Quando Morpheus está preso Neo decide ir salvá-lo. E só o fato dele escolher isso já o faz dar um passo para modificar o seu destino. Ele não aceita as palavras proféticas do oráculo e decide fazer ele mesmo a sua história. Tornando senhor de seu próprio destino ele não só salva Morpheus como passa acreditar nele mesmo. E era exatamente isso que ele precisava, acreditar que ele era o escolhido. A partir do momento que ele se conscientiza disso ele vai evoluindo e realizando feitos impossíveis. Ele invade um prédio cheio de guardas, salva Morpheus, salva Trinity, se desvia de balas e luta de igual para igual com o Agente Smith.

 

“There is no spoon”

 

Esse é o último ensinamento que Neo precisa assimilar. Uma das crianças especiais do Oráculo lhe ensina que para dobrar a colher como ele está fazendo ele deve entender que a colher não existe. Lógico! Se a Matrix é uma realidade virtual, tudo que se passa ali, são impressões passadas ao cérebro e todas baseadas em cálculos matemáticos. Logo, quando Morpheus diz que Neo pode ser mais rápido do que os Agentes ele quer dizer que a mente humana não tem limites enquanto os Agentes estarão presos a uma capacidade de processamento máxima. Assim, a velocidade de um Agente está relacionada a cálculos precisos e previsíveis, enquanto a de Neo estará em sua capacidade de saber o quão aquilo é real. È justamente o que Morpheus tenta fazer com Neo, abrir a sua mente.

 

O que nos leva à seqüência final. Quando finalmente Neo é baleado mortalmente, seu primeiro impulso é morrer e seu coração pára. Seu cérebro continua funcionando e as palavras de Trinity o resgata e faz solidificar dentro dele a certeza de que ele é o Escolhido. O coração de Neo volta a bater e ele renasce onisciente daquela verdade. Não existe nada daquilo. Por isso ele passa a enxergar a Matrix como um amontoado de caracteres e por isso as balas não o atingem. Como algo que não existe pode atingir alguém?

 

Conclusão

Matrix é um tiro certeiro. Cenas de ação de tirar o fôlego, efeitos que mudaram os rumos do cinema e ainda por cima uma boa história contada de forma eficiente e marcante. Enfim, assista Matrix. Divirta-se, deguste, aproveite e depois discuta sobre o filme, que é sem dúvida um marco da história cinematográfica.

 

Renato2008-05-25 20:14:38

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