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Nacka
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Acho que isso está acontecendo por estarmos tratando ou de filmes que normalmente todo mundo gosta' date=' ou por as críticas serem muito favoráveis. Quem sabe na próxima alguém não pega pesado com algum filme adorado ou fala de um que divida opiniões...[/quote']

 

Acho que é o inverso... Era Uma Vez no Oeste é um filme que poucos (inclusive alguns dos cinéfilos daqui) assistiram e por mais que a gente babe por ele, o gênero western não é o que atrai a molecada hoje em dia...
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Folks não pude acessar a net ontem e portanto com um atraso considerável o Cineclube publica a crítica do Thico para o filme do Spielberg A. I. Inteligência Artificial, Thico o seus temores sobre a crítica são infundados, vamos ver o que os fãs de A. I. vão dizer. Acho que o Pequenas Causas... mudou de tópico:

 

A.I.: Inteligência Artificial - Dir. Steven Spielberg

gigolo1.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sinopse: Num futuro próximo, quando os recursos naturais são escassos e há um rígido controle de natalidade, robôs são criados para quase todo tipo de função: trabalhos domésticos, de escritório, fazer companhia, sexo. Mas, até agora, não para o amor. Apesar de a emoção ser uma fronteira controversa na evolução dos robôs, uma companhia criou o menino David (Haley Joel Osment), o primeiro robô programado para amar - e amar incondicionalmente. Ele é adotado por um casal (Frances O’Connor e Sam Robards) cujo filho é portador de uma doença terminal e foi congelado até que a cura seja encontrada. Gradualmente ele se torna um filho, com todo carinho e atenção deste tipo de relação, mas uma série de circunstâncias inesperadas tornam essa vida impossível para David. O filho humano (Jake Thomas) é curado e o casal é obrigado a se desfazer do menino-robô. Rejeitado pelos humanos e pelos andróides, contando apenas com a ajuda do robô Gigolô Joe (Jude Law), ele inicia uma jornada para encontrar seu lugar num mundo onde a linha que o separa das outras máquinas pode ser assustadoramente imensa ou quase imperceptível.
Baseado no conto "Supertoys Last All Summer Long", de Brian Aldiss.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><?XML:NAMESPACE PREFIX = O />

*Sinopse extraída do site Cineclick.

 “...e Deus não criou Adão para que ele O amasse?” 

Stanley Kubrick foi um cineasta impecável. Nunca temeu criticar duramente a sociedade em seus filmes, realizando estudos complexos sobre o ser humano, suas motivações e ambições, seu papel no contexto social em que se encontra e, ainda mais, o que estabelece a interação entre os homens, o diálogo ou a falta dele, a violência, o medo, o sexo, a demência e a cegueira que praticamente imperam na maior parte de seus personagens centrais. O homem que Kubrick expõe na tela é dúbio, capaz de atos extremos para justificar sua condição e que, muitas vezes, reflete o desprezo do cineasta pela coletividade burra e limitada que se constrói sobre alicerces falsos que mais funcionam como auto-engano. Coletividade esta, sempre disposta a mentir para acreditar nela própria. Foi este cineasta quem desenvolveu a idéia de trabalhar a funcionalidade do amor, a possibilidade de criá-lo e desenvolvê-lo pelas mãos do próprio homem. Não é o amor a força motriz que impulsiona o homem tornando a sociedade em si, supostamente, baseada nele? Por que não trabalhar em cima de conceitos como este, muitas vezes tão excludentes e ao mesmo tempo fascinantes? Por que não tentar imaginar como seria um futuro onde o amor pudesse ser fabricado e entregue na porta de casa? E como lidar com este amor que foi projetado para você mesmo, sua responsabilidade e as conseqüências de suas atitudes? Foi nesse campo claramente assustador que foi concebida a idéia para A.I.: Inteligência Artificial, filme que Stanley Kubrick não dirigiu. E este, sem sombra de dúvidas, foi o único erro de sua carreira.

 

Ao dividir a idéia de A.I. com Steven Spielberg, Kubrick buscou apoio para a realização de um projeto ambicioso, que envolveria recursos bastante desenvolvidos e ninguém mais apropriado que Spielberg para ajudá-lo nesta empreitada, ainda mais depois dos avanços tecnológicos promovidos graças a Jurassic Park. Além disso, Kubrick era um diretor muito meticuloso e demorava bastante para concluir um projeto. Neste caso isso seria fatal, já que ele dependia de atores de verdade (a partir do momento em que decidiu não utilizar robôs nos papéis principais) e a rápida evolução das técnicas acabariam sempre por deixar as que ele empregasse ultrapassadas ao longo das filmagens, o que acarretaria num constante processo de mudanças, refilmagens e novas idéias. Isso seria inviável do ponto de vista orçamentário e, possivelmente, o filme nunca veria a luz do dia. Talvez pensando nisso tudo Kubrick tenha passado o projeto para Spielberg dirigir, dizendo que este seria mais adequado para comandar o filme e que ele, Kubrick, ficaria a cargo da produção. Fora essa possibilidade, não consigo visualizar outra hipótese para essa troca de funções, já que ela foi a responsável pelo desesperador desfecho para uma idéia tão fascinante. Claro que existem aqueles que irão argumentar que Kubrick faleceu após as filmagens de De Olhos Bem Fechados e que é impossível saber qual seria seu peso no resultado final de A.I., mas uma coisa é possível assegurar: Não se pode ter certeza de que o filme viesse a se tornar mais uma obra-prima de Kubrick caso ele o tivesse dirigido (haja visto que muitos dos conceitos questionáveis do filme são atribuídos a ele), mas certamente faria um projeto muito diferente. E cínico.

A.I. começa a sua derrocada em etapas, sendo que cada ato é mais fatídico que o anterior. O primeiro se inicia bem, a partir de uma narração em off pontuando a situação do planeta num futuro não muito distante, depois de ter sido castigado por uma tragédia natural de proporções catastróficas, responsável por mudanças drásticas na sociedade como um todo. A narração é feita enquanto são mostradas imagens de um mar revolto, estabelecendo assim um paralelo da importância da água que, além de ser fonte de vida, pode também ser responsável por tomá-la. O futuro que se vê é assustador, onde a humanidade é obrigada a controlar a taxa de natalidade para que os recursos não se esgotem e os robôs surgem como solução aos problemas de mão-de-obra para, em seguida, soarem como alternativa ao próprio ser humano. Todo esse contexto é interessante e no início do filme é pontuado de forma sombria, mostrando o homem querendo agir como se fosse Deus, a ponto de se achar capaz de criar o amor artificial. Mas até onde isso é possível e como lidar com as conseqüências de uma experiência tão ousada é o que propõe Spielberg... a princípio. E é aí então que ele se perde. As questões mais pertinentes do conceito inicial são mal exploradas pelo fraquíssimo roteiro, escrito pelo próprio Steven Spielberg, perdendo inúmeras chances de trabalhar assuntos capazes de gerar polêmica. No prólogo é citado, por exemplo, o controle das sociedades mais ricas sobre a gravidez mas o filme não esboça nenhum tipo de análise quanto a este aspecto e acaba confundindo o espectador em uma determinada cena, repleta de crianças presentes. Sendo assim, como funciona a tal sanção da gravidez? E se ela fosse muito drástica, não seria um risco á humanidade que, assim, estaria colocando a própria espécie em perigo de extinção? Spielberg não se atem a esse detalhe e perde a oportunidade de fazer uma discussão importante. E não é só, ele se esquece de dimensionar a real importância prática dos robôs, deixando por retratá-los mais a frente como marginais na sociedade (ora, a sociedade não dependia deles?).

A adaptação de David à família e desta a ele é o foco do primeiro ato que se revela muito raso, repleto de cenas descartáveis, como aquela em que David intercepta uma ligação telefônica. Não existe a menor necessidade de uma cena como esta se não a de Spielberg se divertir um pouquinho e gerar algumas risadas (?) no público. Teria sido mais proveitoso ele se concentrar na elaboração de diálogos mais ricos e que não fizessem até mesmo cenas de apelo dramático mais intenso (como a que Mônica e Henry discutem se ficam ou não com o novo membro da família e mais parecem não dizer coisa alguma além de repetições vazias) soarem falsas e dispensáveis. Para cada vez que Spielberg vislumbra recuperar o bom senso dando um ar mais frio a seu filme (a cena do jantar em que David e Martin competem diante de uma tigela de espinafre e que termina com David "quebrando" é muito satisfatória), ele volta á brevidade de sua leitura, se prendendo em constrangedoras passagens da relação entre a família e o menino, tudo para deixar bem claro o esforço que fazem para incluí-lo no seio familiar. Esforço este que se mostra pífio já que assim que o filho legítimo retorna ao convívio (sem nenhuma explicação) o interesse do casal por David quase se desintegra.

Haley Joel Osment se sai bem na pele de David, alterando gradativamente os traços do menino-robô, fazendo com que ele fique mais humano com o decorrer da projeção (ainda que em momento algum tenha apelado pela artificialidade extrema). No entanto, o personagem varia muito em sua linha de construção durante o primeiro ato, o que mais parece ser um equívoco na direção de Spielberg que, para obter maior dramaticidade, certamente instruiu seus atores a "carregar" no teor de emoção, ainda que seus personagens (principalmente David) não comportassem ainda tal linha de texto. O mesmo equívoco pontua todo o trabalho de Frances O’Connor, que é baseado no apelo pela piedade e compaixão do espectador, a fim de manipulá-lo para que sua personagem não seja odiada, mesmo depois de abandonar David. E assim que esse ato monstruoso é consumado, o filme entra na segunda parte (ou seria capítulo?): a fábula infantil.

A busca de David pela Fada Azul é apresentada com uma ingenuidade que ultrapassa a barreira do termo “infantil”. David enfrenta monstros (os caçadores de Mecas defeituosos), lugares hostis (o Mercado de Peles) e encontra uma companhia para sua jornada, o carismático Gigolô Joe. Aliás, é somente a isso que se presta Jude Law em todo filme, emprestar charme ao personagem já que este jamais é desenvolvido pelo roteiro e não passa de um mero enfeite. E quando existe a intenção de fazer de Gigolô Joe um personagem tridimensional, a tentativa se revela tardia e frustrada, atingindo o ponto mais alto na embaraçosa última fala do personagem: “Eu existo, eu existia... (I am, I was...)”.

É nessa etapa que Spielberg lança mão de mais recursos técnicos e nem mesmo este quesito, que na maior parte das vezes é notável em seus filmes, está isenta de falhas. John Williams deixa sua trilha sonora escorrer pelas mãos ao abandonar o tom soturno que dá no início em troca dos melosos acordes de piano que pontuam o final (o que na verdade serve perfeitamente ao propósito de Spielberg em arrancar o choro da platéia a qualquer custo). A fotografia de Janusz Kaminski se perde na super iluminação, ainda mais acentuada no ato final, deixando escapar a possibilidade de retratar a ambigüidade e frieza do ambiente, usando luz excessiva ao invés de sombras. Até mesmo a direção de arte sai chamuscada já que, mesmo que o trabalho seja admirável no que concerne à beleza e plasticidade das criações, é também vazio e perdido, sem seguir um conceito pré-delineado. Rouge City, por exemplo, é uma mistura maluca de Las Vegas, Tóquio e Londres pós-moderna e esquizofrênica, mas sem nenhum tipo de conexão lógica. O Mercado de Peles é simplesmente um lugar escuro que perde a chance de ser lúgubre, mesmo com suas bandas de rock pesado e motos que imitam cães (!). E por fim a Nova Iorque inundada é incapaz de causar espanto (ainda que seja um trabalho bem realizado através de maquete e computação gráfica), já que qualquer filme catástrofe dos anos 90 utiliza técnicas similares e com resultados parecidos. A equipe de Stan Winston e a ILM fazem um ótimo trabalho no desenvolvimento de diversos tipos de robôs Meca, os únicos capazes de causar certo fascínio ao longo da projeção. O mesmo não pode ser dito quanto à animação criada para dar vida ao Dr. Know, que é bastante infantil em todos os traços, causando a maior das quebras durante todo o filme ao surgir leve e alegre em meio às luzes frenéticas de Rouge City (que supostamente deveria ser um local marginal).

A.I. ainda poderia ter chance de ser salvo do desastre total caso Spielberg reconhecesse a natureza cruel da história. Ao invés disso, o cineasta ressalta ainda mais a importância da jornada de David, da busca pelos sonhos, conduzindo um ato final dos mais apelativos e dramaticamente constrangedores dos últimos tempos. O terceiro ato é o tiro de misericórdia (apesar de se arrastar por longos minutos e infinitas reviravoltas) e por conta disso, Spielberg assina em baixo na constatação de que sua visão da história é inacreditavelmente inocente e piegas. O amor que motiva David ao longo do filme é incondicional e ao mesmo tempo falso, já que ele foi programado para tanto. A mãe por quem ele tanto busca é na verdade uma mulher egoísta, capaz de enganá-lo simulando um passeio quando na verdade queria se desfazer dele e mesmo que tente salvá-lo na última hora, acaba não o fazendo (sua intenção não abona sua atitude) e se conformando com o destino incerto de quem um dia foi para ela como seu filho. O pai em momento algum demonstra qualquer tipo de afeto por David, sendo que o ato de levar o menino para casa não passou da própria tentativa de ficar bem, já que não conseguia mais ver a mulher definhar por conta da ausência do filho.

E até mesmo o Professor Hobby (William Hurt) pode ser considerado o ápice do egoísmo, já que fez David à imagem e semelhança de seu filho perdido, numa necessidade doentia de ter de volta a família, sem com isso se importar com o sentimento que sua criação viesse a desenvolver. David manterá o mesmo estado físico sempre, não se desenvolverá, e ninguém se preocupa com o que fará quando ele já não suprir as necessidades alheias. No fim das contas, o único personagem legítimo é Martin, que não deixa de expressar sua insatisfação com relação a David. Somente ele não engana o espectador se fazendo de bom quando na verdade é mau (conceitos específicos de toda história pra criança), escondendo sentimentos e forjando atitudes.

Num mundo como este era de se esperar que o cinismo implícito em cada um desses seres humanos fosse expressado com o mínimo de seriedade e sobriedade, mas Spielberg se contradiz ao justificar todos os atos em nome do amor. Só não sei onde ele viu amor nessa história sobre um ser artificial, programado para sentir o que ninguém ao redor parece perceber. A.I. está recheado de “vilões” disfarçados de “mocinhos”; poderia perfeitamente ser a história da Chapeuzinho Vermelho e do Lobo Mau, além do Pinóquio, da Fada Azul, do Mágico de Oz...

Preste atenção: no plano mais interessante executado por Spielberg durante toda a projeção (praticamente o único), onde ele combina o uso da grua e do travelling na passagem em que Teddy (o urso de David) é colocado na caixa de achados e perdidos, no Mercado de Peles. É gratuito, mas é bonito.

O que já se disse: "A.I." is audacious, technically masterful, challenging, sometimes moving, ceaselessly watchable.” (Roger Ebert, Chicago Sun Times)

*Alguém teria que falar bem, oras.

 

Por que não perder: ehhhhhh....annnnnnn....bem....deixa eu ver....hummmmmmm...

Dados do DVD: - Menu Interativo; Índice de cenas; Criando A.I.; Atuando em A.I.: Um Retrato de David; Um Retrato do Gigolô Joe; O Design de A.I.:Dos Desenhos para os Sets (Concepção da Ilustração de Chris Baker e Desenhista de Produção Rick Carter); O Figurino de A.I. (Desenhista de Figurino Bob Ringwood); A Iluminação de A.I.; Efeitos Especiais: Os Robôs de A.I.; Efeitos Especiais & Animações: ILM; Uma Visão Geral por Dennis Muren; As Miniaturas; A Seqüência em Nova York: Progressão de Cena; O Som e a Música de A.I.; Design do Som; Trilha Sonora.

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Sobre A.I., discordo de tudo, mas não farei maiores comentários por falta de tempo. Apenas digo, por enquanto, que nos extras do DVD fica cristalino pq Kubrick quis que Spielberg dirigisse o filme e os motivos passam longe da questão meramente 'técnica'.

 

 
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Falar que o Thico escreve bem é chover no molhado. A conexão entre os parágrafos, o desenvolvimento e a clareza de suas idéias, a ironia fina presente nas palavras, as pausas na narrativa, está tudo perfeito. Parabéns!

 

Agora, o conteúdo da crítica caiu aqui no Cineclube como um coquetel molotov e, tenho certeza, vai provocar reações extremas. Eu, por exemplo, amo esse filme. Todas as interpretações do Thico são tão diferentes das minhas - praticamente tudo o que ele aponta como falha eu vejo como virtude - que eu nem sei por onde começar.

 

Vou ter que rever o filme nesse final de semana para reunir munição. Escolha as armas, cavaleiro!
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    Ah' date=' moh preguiça de ler o texto todo do Thico, eita povo q gosta de escrever 06...mas se ele falou mal de A.I., eu assino embaixo, odeio esse filme, odeio ainda mais aquele robô idiota 1106 [/quote']

 

Morra baiana...

 

    O loko, Malacka, vai dizer q vc gosta daquele robô idiota? 06

 

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Sobre A.I.' date=' discordo de tudo, mas não farei maiores comentários por falta de tempo. Apenas digo, por enquanto, que nos extras do DVD fica cristalino pq Kubrick quis que Spielberg dirigisse o filme e os motivos passam longe da questão meramente 'técnica'.

 

 
[/quote']

 

Fica? Engraçado...os motivos foram dados pela equipe de quem mesmo? Hmmmmm...

De qualquer maneira, se ele queria fosse Spielberg teve, na minha opinião, uma visão deturpada do que ele faria com a idéia. Ou seja, o "erro" que eu citei acima. Mas aguardo seus comentários. 01
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Infelismente tbm estou saindo de casa agora' date='mas estou imprimindo a crítica para ler lá onde eu vou e depois eu volto aqui...Me parece que o Thico andou falando umas merdas,ou estou enganado? hehehe[/quote']

 

Bem, aguardo seus comentários também. Como disse ontem já imaginava que seria um texto polêmico...e vi que você gostou do filme. Vamos ver se acha que eu falei merda demais...06

Mas não esquenta, eu sempre falo muita merda...06
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Falar que o Thico escreve bem é chover no molhado. A conexão entre os parágrafos' date=' o desenvolvimento e a clareza de suas idéias, a ironia fina presente nas palavras, as pausas na narrativa, está tudo perfeito. Parabéns!

 

Agora, o conteúdo da crítica caiu aqui no Cineclube como um coquetel molotov e, tenho certeza, vai provocar reações extremas. Eu, por exemplo, amo esse filme. Todas as interpretações do Thico são tão diferentes das minhas - praticamente tudo o que ele aponta como falha eu vejo como virtude - que eu nem sei por onde começar.

 

Vou ter que rever o filme nesse final de semana para reunir munição. Escolha as armas, cavaleiro!
[/quote']

 

Pôxa, obrigado pelo elogio! Vindo de você que eu eu julgo tão inteligente, fica ainda mais recompensador. Mas não acho que é isso tudo...enfim.

Estarei preparado para o embate, pode deixar! 03
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Sobre A.I.' date=' discordo de tudo, mas não farei maiores comentários por falta de tempo. Apenas digo, por enquanto, que nos extras do DVD fica cristalino pq Kubrick quis que Spielberg dirigisse o filme e os motivos passam longe da questão meramente 'técnica'.

 

[/quote']

 

Fica? Engraçado...os motivos foram dados pela equipe de quem mesmo? Hmmmmm...

 

 

Jan Harlan, produtor executivo de A.I. e dono dos direitos sobre o roteiro inicial, é cunhado de Kubrick e produtor dos seus 4 últimos filmes e esclarece as razões do envolvimento de Spielberg no projeto... Seria ele parte da 'equipe' de Spielberg?

 

Hmmmmmmmm...
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Bom,antes de tudo acho que deveríamos atentar mais à defesa/acusação do filme que se preocupar com a redação do cara,isso aqui não é concurso de melhor redação,isso me incomoda um pouco (talvez ainda por causa de O Cinéfilo,onde eu era obrigado a ler 8,7,6 redações por semana,algumas enormes e ter que analisá-las,ainda estou traumatizado,muito disso graças ao Forasteiro 06),além,creio eu,de inibir a galera (eu me incluo nisso,já que não sou bom para contruir análises,críticas) de participar do tópico.

 

Mas feito meu manifesto pacífico,vamos ao que foi dito pelo Thico (aliás,que nickzinho ridículo hein cara? Desculpa,mas eu sempre quis te dizer isso,e essa foi a oportunidade06).Primeiro: Concordo com boa parte da acusação dele em relação à forma como o filme vai perdendo o rumo etapa a etapa,o filme realmente decai muito de um ato para outro,isso eu sempre achei.Inclusive na primeira assistida,no cinema,achei medonho o filme.Só com algumas revisitadas é que consegui ver o lance todo por um angulo mais geral e passei a aceitar melhor o filme do Spielberg.

 

Sim,do Spielberg.Não adianta dizer que ele e o Kubrick conversavam à anos sobre o filme,que o Kubrick é o "culpado" pelo final meloso,que o Kubrick só entregou tudo de mão beijada pro Spielberg.Não acredito nisso.Se foi o Spielberg quem escreveu o roteiro e filmou,o filme é dele,os méritos do Kubrick (assim como os deméritos) não devem existir.Pelo menos não a ponto de acusá-lo de ter falhado.Se ele preferiu jogar nas mãos do Spielberg pq ele considerava ele apto a isso,meramente pelo lance dos efeitos especiais,ele poderia chamar até o Michael Bay,daria na mesma.Se ele escalu Spielberg é pq depositava nele a confiança de que aquele filme era mais dele que seu,acredito que apartir de certo ponto Kubrick imaginou o seguinte (tenho o direito de divagar tbm,já que vc tbm o fez): "Putz,a história de um robozinho que quer ser amado num é muito a minha cara.O Spilba poderá tirar um suco melhor dessa laranja".

 

Suposições,suposições e mais suposições.Nunca saberemos se A.I teria sido melhor do que é,ou se ele foi tudo o que poderia ser.

 

Gosto do filme.Como disse mais acima,na primeira vez que vi achei um saco,especialmente a coisa da busca pela fada azul."Mas que merda é essa? Pinóquio Hi-tech?",eu pensava.Mas como fã assumido de Kubrick e de Spielberg (mais do primeiro que do segundo,mas meramente pq são absolutamente diferentes),eu resolvi dar uma segunda,uma terceira,uma quarta,uma quinta chance ao filme.E a cada revisitada o filme me "descia" mais redondo,o lance da fada azul me parecia mais aceitável,afinal ele era um robo que fora programado para amar,e sendo assim,esse seu amor era o que lhe dava propulsão para seguir adiante,nada mais era importante o suficiente para lhe tomar a atenção.

 

Ele só queria ser de verdade,para que sua mãe o amasse,como amava o filho real.É um robo,poxa...Robos não tem simancol,não poderia derrepente parar no meio de sua busca e pensar "Po,o que é que eu to fazendo? Eu to atrás de uma fada que eu nem sei se existe pra que ela me transforme numa coisa que eu nem sei se é possível para que a minha mãe me ame,mesmo sem ter certeza que isso seria o suficiente para ela me amar".Se pensasse assim ele estaria sendo lógico.E apesar de ser um robo (e é aí que está a grande coisa da idéia original do Kubrick),ele não pensa de forma lógica,como aquela robo do inicio do filme que define a palavra amor com uma frieza matemática.Ele é um robo que ama,a razão portanto não tem espaço num sistema operacional programado para amar.Ele teria que ser realmente sonhador,ter esperança,até o fim,por mais meloso que isso possa parecer.

 

Sendo assim,vejo que Spielberg acerta a mão na "melosidade",apesar de admitir alguns excessos desnecessários.Talvez o filme fosse melhor se tivesse terminado com ele ali,olhando para a fada (aliás,foi isso o que eu pensei quando vi pela primeira vez),teria sido mais sucinto,teria passado a mesma mensagem,e teria sido mais cruel.Mas o maior erro das pessoas na postura que tem em relação à esse filme está em acharem que Spielberg dá um final feliz ao filme.Que porra de final feliz é esse? Um robo que ficou num sei quantos mil anos congelado olhando para uma fada de gesso pedindo pra ela transformar ele em menino de verdade,que depois é encontrado por outros robos do futuro,que por piedade lhe concedem aquele seu tão desejado pedido,trazendo a sua mãe de volta,porém com o pequeno detalhe de que ela morreria dentro de 24hrs? É um final triste pacas! E ao mesmo tempo belo.

 

Bom,não sou tão bom com aspalavras,atropelo tudo o que vem à minha cabeça e acaba saindo uma gororoba de letras misturadas,mas espero que tenha externado meu ponto de vista em relação ao filme,que considero muito bom.Se poderia ser melhor,caso Kubrick o tivesse filmado? Nem ele sabia.
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Bem' date=' aguardo seus comentários também. Como disse ontem já imaginava que seria um texto polêmico...e vi que você gostou do filme. Vamos ver se acha que eu falei merda demais...06

Mas não esquenta, eu sempre falo muita merda...06
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Não,não muitas,Menos do que eu imaginava hehehe...

 

Só acho que vc assistiu o filme com os olhos de um fanático por Kubrick,com uma espectativa de como o filme seria,se fose o próprio Kubrick quem o tivesse filmado.
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Vamos criticar a crítica! 06

 

Stanley Kubrick foi um cineasta impecável. Nunca temeu criticar duramente a sociedade em seus filmes' date=' realizando estudos complexos sobre o ser humano, suas motivações e ambições, seu papel no contexto social em que se encontra e, ainda mais, o que estabelece a interação entre os homens, o diálogo ou a falta dele, a violência, o medo, o sexo, a demência e a cegueira que praticamente imperam na maior parte de seus personagens centrais. O homem que Kubrick expõe na tela é dúbio, capaz de atos extremos para justificar sua condição e que, muitas vezes, reflete o desprezo do cineasta pela coletividade burra e limitada que se constrói sobre alicerces falsos que mais funcionam como auto-engano. Coletividade esta, sempre disposta a mentir para acreditar nela própria. Foi este cineasta quem desenvolveu a idéia de trabalhar a funcionalidade do amor, a possibilidade de criá-lo e desenvolvê-lo pelas mãos do próprio homem. Não é o amor a força motriz que impulsiona o homem tornando a sociedade em si, supostamente, baseada nele? Por que não trabalhar em cima de conceitos como este, muitas vezes tão excludentes e ao mesmo tempo fascinantes? Por que não tentar imaginar como seria um futuro onde o amor pudesse ser fabricado e entregue na porta de casa? E como lidar com este amor que foi projetado para você mesmo, sua responsabilidade e as conseqüências de suas atitudes? Foi nesse campo claramente assustador que foi concebida a idéia para A.I.: Inteligência Artificial, filme que Stanley Kubrick não dirigiu. E este, sem sombra de dúvidas, foi o único erro de sua carreira.
[/quote']

 

Negritei o trecho pois ele será de suma importância mais adiante...

 

Ao dividir a idéia de A.I. com Steven Spielberg' date=' Kubrick buscou apoio para a realização de um projeto ambicioso, que envolveria recursos bastante desenvolvidos e ninguém mais apropriado que Spielberg para ajudá-lo nesta empreitada, ainda mais depois dos avanços tecnológicos promovidos graças a Jurassic Park. Além disso, Kubrick era um diretor muito meticuloso e demorava bastante para concluir um projeto. Neste caso isso seria fatal, já que ele dependia de atores de verdade (a partir do momento em que decidiu não utilizar robôs nos papéis principais) e a rápida evolução das técnicas acabariam sempre por deixar as que ele empregasse ultrapassadas ao longo das filmagens, o que acarretaria num constante processo de mudanças, refilmagens e novas idéias. Isso seria inviável do ponto de vista orçamentário e, possivelmente, o filme nunca veria a luz do dia. Talvez pensando nisso tudo Kubrick tenha passado o projeto para Spielberg dirigir, dizendo que este seria mais adequado para comandar o filme e que ele, Kubrick, ficaria a cargo da produção. Fora essa possibilidade, não consigo visualizar outra hipótese para essa troca de funções, já que ela foi a responsável pelo desesperador desfecho para uma idéia tão fascinante. Claro que existem aqueles que irão argumentar que Kubrick faleceu após as filmagens de De Olhos Bem Fechados e que é impossível saber qual seria seu peso no resultado final de A.I.[/quote']

 

Bom, isso já foi abordado em posts anteriores, mas só para deixar registrado: Spielberg foi a opção de Kubrick para dirigir A.I. justamente pela facilidade do segundo em abordar uma história de fábula, um campo estranhíssimo para Stanley e, como gênio que era, assumiu sua limitação em fazer um filme 'envolvente' em contraponto as suas obras essencialmente frias e distantes.

 

Todo esse contexto é interessante e no início do filme é pontuado de forma sombria' date=' mostrando o homem querendo agir como se fosse Deus, a ponto de se achar capaz de criar o amor artificial. Mas até onde isso é possível e como lidar com as conseqüências de uma experiência tão ousada é o que propõe Spielberg... a princípio. E é aí então que ele se perde. As questões mais pertinentes do conceito inicial são mal exploradas pelo fraquíssimo roteiro, escrito pelo próprio Steven Spielberg, perdendo inúmeras chances de trabalhar assuntos capazes de gerar polêmica. No prólogo é citado, por exemplo, o controle das sociedades mais ricas sobre a gravidez mas o filme não esboça nenhum tipo de análise quanto a este aspecto e acaba confundindo o espectador em uma determinada cena, repleta de crianças presentes. Sendo assim, como funciona a tal sanção da gravidez? E se ela fosse muito drástica, não seria um risco á humanidade que, assim, estaria colocando a própria espécie em perigo de extinção? Spielberg não se atem a esse detalhe e perde a oportunidade de fazer uma discussão importante. E não é só, ele se esquece de dimensionar a real importância prática dos robôs, deixando por retratá-los mais a frente como marginais na sociedade (ora, a sociedade não dependia deles?).[/quote']

 

Pra começar, dá pra perceber que vc espera que o filme encerre quaisquer discussões que eventualmente venha a suscitar o que eu considero um erro primário. Filmes não são um fim e sim um meio. Filmes servem para levantar questões, não respondê-las. Spielberg levanta questões e, como Kubrick sempre fez, não nos dá respostas. A sutileza com que Spielberg leva o primeiro ato remete imediatamente aos filmes de Stanley: ritmo lento, pausado, com alguns cortes bruscos entre uma situação e outra e por aí vai.

 

Sobre as crianças na festa, outro erro de percepção primário: o filme menciona que há uma sanção sobre a gravidez o que não significa que as mulheres estão proibidas de terem filhos. Sanção significa restrição e não proibição. Não entrando em detalhes e partindo para a cena em questão, deduz-se que era permitido ao casal ter apenas UM filho biológico. Vc viu na cena algum casal com 3, 4 filhos? Além do mais, a sanção de gravidez nem sequer é algo de relevância para o contexto, apenas um detalhe para que o universo apresentado no filme seja compreendido.

 

E outra: se Spielberg tivesse mostrado diversas cenas com crianças em lugares diferentes, haveria lugar para o questionamento. 

 

Sobre os robôs, fica estabelecido que eles são um elemento importante para a economia desse mundo, entretanto veja que os robôs que são caçados são párias ou modelos obsoletos que não servem para mais nada... Vc viu alguma caçada a algum robô legalmente inserido na sociedade?

 

A adaptação de David à família e desta a ele é o foco do primeiro ato que se revela muito raso' date=' repleto de cenas descartáveis, como aquela em que David intercepta uma ligação telefônica. Não existe a menor necessidade de uma cena como esta se não a de Spielberg se divertir um pouquinho e gerar algumas risadas (?) no público. Teria sido mais proveitoso ele se concentrar na elaboração de diálogos mais ricos e que não fizessem até mesmo cenas de apelo dramático mais intenso (como a que Mônica e Henry discutem se ficam ou não com o novo membro da família e mais parecem não dizer coisa alguma além de repetições vazias) soarem falsas e dispensáveis. Para cada vez que Spielberg vislumbra recuperar o bom senso dando um ar mais frio a seu filme (a cena do jantar em que David e Martin competem diante de uma tigela de espinafre e que termina com David "quebrando" é muito satisfatória), ele volta á brevidade de sua leitura, se prendendo em constrangedoras passagens da relação entre a família e o menino, tudo para deixar bem claro o esforço que fazem para incluí-lo no seio familiar. Esforço este que se mostra pífio já que assim que o filho legítimo retorna ao convívio (sem nenhuma explicação) o interesse do casal por David quase se desintegra. [/quote']

 

Discordo de absolutamente tudo. Spielberg desenvolve seus personagens com sutileza e calma tipicamente Kubrickianas... Monica é estabelecida como uma mulher extremamente carente que não tarda a demonstrar afeição pelo robô, mesmo esboçando algumas reações típicas de alguém que está desconfortável com aquela situação. Aí voltamos à 'questão moral' que Spielberg levanta no início do filme: qual a responsabilidade do ser humano em retribuir um amor que ele sabe ser artificial?

 

E, sinceramente, não vejo onde a explicação da volta do filho legítimo levantaria mais questões ou forneceria eventuais respostas. São coisas que acontecem e pronto. E é justamente com a volta de Martin, que a verdadeira natureza de Monica e de seu marido no que tange ao David vem à tona, o que nos leva àquela sua colocação sobre Kubrick que negritei no início: o ser humano é capaz de atos extremos para justificar sua condição... E isso está presente num filme de........ Steven Spielberg! Ora, ora... será que estamos diante de uma 'deturpação' de visão?

 

No entanto' date=' o personagem varia muito em sua linha de construção durante o primeiro ato, o que mais parece ser um equívoco na direção de Spielberg que, para obter maior dramaticidade, certamente instruiu seus atores a "carregar" no teor de emoção, ainda que seus personagens (principalmente David) não comportassem ainda tal linha de texto.[/quote']

 

Não entendi... David se comporta como um mero robô até ser programado para amar. A partir daí ele ganha 'vida' nos fazendo questionar até que ponto aquele garoto não é real.

 

O mesmo equívoco pontua todo o trabalho de Frances O’Connor' date=' que é baseado no apelo pela piedade e compaixão do espectador, a fim de manipulá-lo para que sua personagem não seja odiada, mesmo depois de abandonar David. E assim que esse ato monstruoso é consumado, o filme entra na segunda parte (ou seria capítulo?): a fábula infantil.

[/quote']

 

Ok e como seria o oposto? Como seria se Spielberg fizesse a atriz encarar sua personagem com extrema frieza e crueldade? Chamariam-no de maniqueísta, o diretor que coloca a criança como vítima e o adulto como o ser cruel, que esmaga a inocência da criança e lhe tira a oportunidade de um lar feliz... Ao colocá-la numa posição em que ela chora ao abandonar o robô na floresta, Spielberg permite que a personagem cresça, demonstrando que, mesmo abandonando-o, ela sente algo por aquela máquina. Seria amor? Seria dó? Compaixão? Será que a nossa imaturidade emocional não nos obrigaria a fazer as mesmas coisas que ela?

 

Tudo isso não diminui a crueldade desmedida de seus atos imaturos e inconsequentes. Apenas demonstra que os seres humanos são complexos e, não raro, ilógicos por natureza e, no processo, Spielberg evita aqui rotular seus personagens de heróis, vilões ou vítimas. Para quem sempre foi chamado de maniqueísta, considero uma evolução de proporções épicas.

 

A busca de David pela Fada Azul é apresentada com uma ingenuidade que ultrapassa a barreira do termo “infantil”. David enfrenta monstros (os caçadores de Mecas defeituosos)' date=' lugares hostis (o Mercado de Peles) e encontra uma companhia para sua jornada, o carismático Gigolô Joe.[/quote']

 

Óbvio! Uma história de um menino que sai à caça de uma personagem de historias de ninar não poderia ter uma outra abordagem senão a que teve: a de uma fábula e todas as fábulas são ingênuas. E mesmo assim, Spielberg confere um tom relativamente sombrio aí, pois nada é colorido, nada é bunitinho, apenas a forma como David vê a sua situação e o mundo à sua volta, o que é bem diferente, pois o filme é em 3ª pessoa.

 

É nessa etapa que Spielberg lança mão de mais recursos técnicos e nem mesmo este quesito' date=' que na maior parte das vezes é notável em seus filmes, está isenta de falhas. John Williams deixa sua trilha sonora escorrer pelas mãos ao abandonar o tom soturno que dá no início em troca dos melosos acordes de piano que pontuam o final (o que na verdade serve perfeitamente ao propósito de Spielberg em arrancar o choro da platéia a qualquer custo).[/quote']

 

Mais uma vez estamos falando de obviedades: o tom do filme é de uma fábula e seus elementos intrínsecos devem seguir o tom, sob pena de todo o conjunto ficar sem uma 'cara' definida.

 

A fotografia de Janusz Kaminski se perde na super iluminação' date=' ainda mais acentuada no ato final, deixando escapar a possibilidade de retratar a ambigüidade e frieza do ambiente, usando luz excessiva ao invés de sombras. Até mesmo a direção de arte sai chamuscada já que, mesmo que o trabalho seja admirável no que concerne à beleza e plasticidade das criações, é também vazio e perdido, sem seguir um conceito pré-delineado. Rouge City, por exemplo, é uma mistura maluca de Las Vegas, Tóquio e Londres pós-moderna e esquizofrênica, mas sem nenhum tipo de conexão lógica.[/quote']

 

Entramos no campo mais subjetivo de todos... Super iluminação? Só vi isso em dois momentos: Rouge City e no meio do 3º ato para o final. Fora isso, a fotografia ressalta a frieza de absolutamente tudo.

 

Ademais, não sei onde uma 'conexão lógica' (seja lá o que isso significa aqui) melhoraria a questão de Rouge City... Me parece mais algum elemento tirado de um todo apenas para servir de crítica ao filme.

 

O mesmo não pode ser dito quanto à animação criada para dar vida ao Dr. Know' date=' que é bastante infantil em todos os traços, causando a maior das quebras durante todo o filme ao surgir leve e alegre em meio às luzes frenéticas de Rouge City (que supostamente deveria ser um local marginal).

[/quote']

 

Mais uma vez, a obviedade... o filme é uma fábula e blablablabla...

 

E de onde vc depreendeu que Rouge City deveria ser um local marginal? Não percebeu que simplesmente TODO MUNDO vai pra lá?

 

A.I. ainda poderia ter chance de ser salvo do desastre total caso Spielberg reconhecesse a natureza cruel da história.

 

Spielberg reconhece isso' date=' tanto que o filme não tem um final feliz e David só se ferra em sua jornada... O problema é que o protagonista não sabe que a sua jornada é uma furada e mesmo assim insiste nela e Spielberg, como um deus ex-machina, permite que sua 'criação' exerça o livre arbítrio e continue uma busca que eu, vc, o diretor e inclusive Gigolo Joe sabem que é perdida.

 

Ao invés disso, o cineasta ressalta ainda mais a importância da jornada de David, da busca pelos sonhos, conduzindo um ato final dos mais apelativos e dramaticamente constrangedores dos últimos tempos. O terceiro ato é o tiro de misericórdia (apesar de se arrastar por longos minutos e infinitas reviravoltas) e por conta disso, Spielberg assina em baixo na constatação de que sua visão da história é inacreditavelmente inocente e piegas.

 

Seria um tiro de misericórdia se Spielberg mantivesse a mãe viva ao final... Ao colocar seu protagonista numa situação onde ele terá um dia apenas para aproveitar todo o amor que Monica poderia ter lhe dado é de uma crueldade sem tamanho. Vc espera (e anseia) que David obtenha sucesso, algo lá no fundo torce para que David consiga o que quer, mesmo que a nossa razão nos diga que isso não vai acabar bem... O final só nos deixa ainda mais angustiados pois, mais uma vez, nossa razão levou a melhor sobre a nossa emoção. Se isso é happy ending, então eu não sei de mais nada.

 

O amor que motiva David ao longo do filme é incondicional e ao mesmo tempo falso' date=' já que ele foi programado para tanto. A mãe por quem ele tanto busca é na verdade uma mulher egoísta, capaz de enganá-lo simulando um passeio quando na verdade queria se desfazer dele e mesmo que tente salvá-lo na última hora, acaba não o fazendo (sua intenção não abona sua atitude) e se conformando com o destino incerto de quem um dia foi para ela como seu filho. O pai em momento algum demonstra qualquer tipo de afeto por David, sendo que o ato de levar o menino para casa não passou da própria tentativa de ficar bem, já que não conseguia mais ver a mulher definhar por conta da ausência do filho.[/quote']

 

Não consigo pensar em nada mais Kubrickiano que isso! O que nos leva, mais uma vez, ao quote inicial deste post, onde o negrito diz que o ser humano é dúbio, capaz de atos indizíveis e cruéis, somente para justificar sua condição.

 

Logo, isto não é uma falha e sim uma das maiores virtudes do filme! E pelas mãos de um cara cujos filmes foram SEMPRE no extremo oposto do apresentado aqui.

 

E até mesmo o Professor Hobby (William Hurt) pode ser considerado o ápice do egoísmo' date=' já que fez David à imagem e semelhança de seu filho perdido, numa necessidade doentia de ter de volta a família, sem com isso se importar com o sentimento que sua criação viesse a desenvolver. David manterá o mesmo estado físico sempre, não se desenvolverá, e ninguém se preocupa com o que fará quando ele já não suprir as necessidades alheias. No fim das contas, o único personagem legítimo é Martin, que não deixa de expressar sua insatisfação com relação a David. Somente ele não engana o espectador se fazendo de bom quando na verdade é mau (conceitos específicos de toda história pra criança), escondendo sentimentos e forjando atitudes.

[/quote'] 

 

Idem acima...

 

Num mundo como este era de se esperar que o cinismo implícito em cada um desses seres humanos fosse expressado com o mínimo de seriedade e sobriedade' date=' mas Spielberg se contradiz ao justificar todos os atos em nome do amor. [/quote']

 

Pelo contrário... Spielberg não justifica absolutamente nada, deixando seus personagens se desenvolverem por si mesmos. Ao encerrar o filme com a morte de ambos (David e Monica), Spielberg dá o seu recado: é uma história cruel onde seu protagonista acha que prevaleceu sobre as dificuldades impostas a ele.

 

Coisa idêntica aconteceu em Star Wars - Episódio III onde Lucas coloca seu protagonista se corrompendo por amor, o que tornou Anakin mais complexo e mais trágico (e mais cruel também). Até que ponto o amor corrompe ou nos faz praticar atos execráveis? Ou será que nessas circunstâncias é outro sentimento que nos motiva? Fica a questão e que uma releitura de A.I. - Inteligência Artificial faça com que cada um ache a sua resposta.
Dook2006-10-26 01:29:38
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Bom' date='antes de tudo acho que deveríamos atentar mais à defesa/acusação do filme que se preocupar com a redação do cara,isso aqui não é concurso de melhor redação,isso me incomoda um pouco (talvez ainda por causa de O Cinéfilo,onde eu era obrigado a ler 8,7,6 redações por semana,algumas enormes e ter que analisá-las,ainda estou traumatizado,muito disso graças ao Forasteiro 06),além,creio eu,de inibir a galera (eu me incluo nisso,já que não sou bom para contruir análises,críticas) de participar do tópico.

 
[/quote']

 

Acho que essa foi pra mim, por isso me senti na obrigação de responder. Se foi mesmo, pode se referir expressamente da próxima vez, Enxak.

 

O fato de eu ter elogiado o estilo do Thico não transforma o tópico num concurso de redação. Não era a minha intenção tolher alguém, até porque as críticas não são avaliadas à base do "vale o quanto pesa" nem há competição aqui no Cineclube. Desculpe se causei essa impressão, mas meus elogios ou críticas geralmente são feitos assim mesmo, no próprio tópico, e não por MP.

 

A propósito, você se fez entender muito bem em seus comentários.

 

 

Sobre as idéias passadas pelo Dook:

 

Vamos criticar a crítica! 06

 

(...)

 

Como seria se Spielberg fizesse a atriz encarar sua personagem com extrema frieza e crueldade? Chamariam-no de maniqueísta' date=' o diretor que coloca a criança como vítima e o adulto como o ser cruel, que esmaga a inocência da criança e lhe tira a oportunidade de um lar feliz... Ao colocá-la numa posição em que ela chora ao abandonar o robô na floresta, Spielberg permite que a personagem cresça, demonstrando que, mesmo abandonando-o, ela sente algo por aquela máquina. Seria amor? Seria dó? Compaixão? Será que a nossa imaturidade emocional não nos obrigaria a fazer as mesmas coisas que ela?

 

Tudo isso não diminui a crueldade desmedida de seus atos imaturos e inconsequentes. Apenas demonstra que os seres humanos são complexos e, não raro, ilógicos por natureza e, no processo, Spielberg evita aqui rotular seus personagens de heróis, vilões ou vítimas. Para quem sempre foi chamado de maniqueísta, considero uma evolução de proporções épicas.

 

(...)

 
[/quote']

 

As impressões que eu tenho do filme são praticamente idênticas às dele, por isso não vale a pena ficar repetindo. Destaquei essa parte de seu texto porque foi um sentimento que tive muito forte ao longo do filme e que foi resumido muito bem nessa passagem.

 

Além da inexistência da divisão heróis/vilões, eu nunca tinha visto o Spielberg fazer um filme tão cruel com seu protagonista. E olhe só, estamos falando de uma criança - não me importa se feita de metal ou de carne, tudo para ele era novo e suas idéias e sensações tinham as confusões típicas de alguém com pouco tempo de interação com o mundo -, o que torna o feito ainda maior se levarmos em consideração que as crianças costumavam ser romantizadas e até poupadas, em maior ou menor grau, nos filmes do Spielberg. Pra mim, A.I. é um exemplo incrível de superação. Os enquadramentos quase carinhosos no David - como na cena, incrível, em que ele faz a transição para o desenvolvimento de emoções - me passam a idéia de que o diretor tratou e desenvolveu o personagem com muito gosto, mas não fez a ele nenhuma concessão. Nem mesmo no final, que não vejo como ser considerado feliz.

 

O bordão do David, "make me a real boy" aumenta ainda mais a angústia do espectador, porque todos nós sabemos que ele é real, mas o mundo ao redor dele não concorda, inclusive ele próprio. Veja como o Spielberg mostra que as convenções da sociedade podem ser perversas: se é mecânico, é inferior (portanto, não-real), por mais que os sentimentos, os ideais e as necessidades não sejam diferentes de uma criança feita de carne e osso. A opressão é tão forte que esse raciocínio em nenhum momento passa pela cabeça do David, por mais óbvio que possa parecer.

 

Sobre os aspectos técnicos vou precisar rever o filme para comentar, mas ainda assim, com base no que já foi dito, faço a seguinte pergunta: Thico, não há o risco de você ter visto o filme já meio preparado para não gostar não? O tempo todo você tentar encaixá-lo em seus pressupostos (e quando ele não cabe, isso vira um defeito) ao invés de embarcar na via crúcis do David que o Spielberg se propôs a mostrar.
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Bom' date='antes de tudo acho que deveríamos atentar mais à defesa/acusação do filme que se preocupar com a redação do cara,isso aqui não é concurso de melhor redação,isso me incomoda um pouco (talvez ainda por causa de O Cinéfilo,onde eu era obrigado a ler 8,7,6 redações por semana,algumas enormes e ter que analisá-las,ainda estou traumatizado,muito disso graças ao Forasteiro 06),além,creio eu,de inibir a galera (eu me incluo nisso,já que não sou bom para contruir análises,críticas) de participar do tópico.

 
[/quote']

 

Acho que essa foi pra mim, por isso me senti na obrigação de responder. Se foi mesmo, pode se referir expressamente da próxima vez, Enxak.

 

O fato de eu ter elogiado o estilo do Thico não transforma o tópico num concurso de redação. Não era a minha intenção tolher alguém, até porque as críticas não são avaliadas à base do "vale o quanto pesa" nem há competição aqui no Cineclube. Desculpe se causei essa impressão, mas meus elogios ou críticas geralmente são feitos assim mesmo, no próprio tópico, e não por MP.

 

A propósito, você se fez entender muito bem em seus comentários.

 

 

 

Sim,devo ter me referido à vc especificamente pelo seu comentário,mas isso não foi completamente uma crítica,afinal o que há de ruim em os usuários passarem a desenvolver sua escrita? Isso é algo absolutamente louvável.O que eu quis dizer,é que nem todos estão nesse nível de evolução e às vezes o tópico torna-se quase elitista,o que acredito,não é o seu intuito,right?
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Elitista eu não diria, mas que quando pensei neste espaço, meu primeiro pensamento foi: Seria algo que "obrigasse" as pessoas a lerem mais e isso eu não nego... afinal, não há pagamento tangível pelo prazer de ler um texto bem escrito.

 

Próxima Crítica será feita pelo Deadman, o objeto da crítica é uma pequena pérola do medo, filme absolutamente pertubador do diretor de "Meu Ódio Será Tua Herança", considerado irascível por alguns mas inegavelmente talentoso pela maioria, Sam Peckinpah realizou Sob o Domínio do Medo debaixo de uma saraivada de protestos, Pauline Kael tascou um "Fascista!" e o filme amargou um ostracismo imerecido, tanto que na Inglaterra só foi lançado em vídeo, no ano de 2002. Então, próxima semana:

 

Sob o Domínio do Medo - Dir. Sam Peckinpah

 

sob.jpg

 

PS: Houve um temor inicial de que talvez as pessoas tivessem dificuldades em encontrar o dvd do filme, mas o Deadman me garantiu que ele é encontrável sim em locadoras e que há pouco saiu uma edição do filme vendida nas bancas por 9,90 (o que eu confirmei, essa foto aí é da versão das bancas) de qualquer forma, garimpem na locadora mais próxima, vale à pena.

 

 
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