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Nacka
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Bom, acho que o esclarecimento que o Dook fez em relação ao termo que ele empregou incorretamente (apesar de eu ter entendido o que ele quis dizer) irá aparar algumas arestas nessa discussão...


De qualquer forma, acho que, mesmo que "por linhas tortas", a resenha do Noonan foi extremamente útil para expormos os nossos conceitos, exercer nosso poder de argumentação e, por que não, rever os nossos conceitos sobre uma pá de coisas...
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Ah, cansaço. Ficamos o dia inteiro em círculos, e não estou disposto a continuar me repetindo. Dook, eu percebi que você não entendeu, e a história (vou ficar longe dessa palavra por um tempo...06) do Picasso foi uma brincadeira, você sabe disso. Além do mais, este exemplo ignora uma porrada de coisas, limitando o assunto principal a “três músicos”, assim como dizer que aquele arremedo de sinopse de Dogville é toda sua narrativa. A narrativa de Dogville é a narrativa de Dogville, que von Trier filmou, simplesmente. Contou, simplesmente. A arte do Picasso é absolutamente diferente da 7ª, aquele exemplo não corresponde. O cinema leva em conta um conjunto extremamente amplo de fatores, a pintura, afinal, é simplesmente pintura. Não há som, não há movimento, ela depende unicamente da imagem. E de uma imagem. Noonan, já respondi a questão do Picasso há umas páginas. A coisa aqui do que é mais “importante” acho que já foi superada. Eu digo, há 24 horas, que o peso da história em si é maior que o modo como é contada quando tudo é erguido e gira em torno dela. Mas não ignoro a importância da forma de ordenar e dispor os fatos, acredito inclusive que isto seja indissociável no cinema, que o conjunto formado É cinema, e não algum dos dois elementos isolados, e que toda esta verborragia, portanto, é um grande engano. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><?:NAMESPACE PREFIX = O /><?:NAMESPACE PREFIX = O /><?:NAMESPACE PREFIX = O /><?:NAMESPACE PREFIX = O />

 

Enfim, já expliquei e reexpliquei tudo, assim como vocês também o fizeram, mas como disse no início, a questão era simples. Tornou-se complicada a partir da caricatura que fizeram dos meus argumentos, atribuindo a mim um opinião que não possuia, e deste modo, fazendo com que me fossem cobrados argumentos com os quais não concordava e que, portanto, não poderia oferecer. Sei que se continuar, a coisa não terá fim, mesmo com os mesmo posts sendo reescristos. E não importa o modo como são escritos, os argumentos neles contidos é que são importantes. Fiquem à vontade, portanto. Minha opinião é esta, reescrita pela enéssima vez, mas lerei o que vocês têm a dizer, considerando a possibilidade de rever meus conceitos sempre que oportuno. Caso isto aconteça, direi a vocês abertamente, sem dúvida. 03

 

ps: só pra explicar aos que receberam a mp, um bug esquisito deixava a parte do texto a partir de "tornou-se" invisível quando postada aqui no Cineclube. De qualquer forma, o Jail já resolveu. Desculpem o transtorno.

Forasteiro2007-04-04 09:02:58
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Falei isso pro Dook' date=' 3 ou 4 vezes, de formas diferentes e ele não entendeu. Pediu pra eu "desenvolver"... 09 06[/quote']

 

Sinto meu caro... vc vai ter q desenhar... Aliás, antes de desenhar, vc precisa decidir pra quem vc torce. Primeiro vc enfatiza que a história é o que te interessa, sendo irrelevante a forma como ela é contada. Depois se contradiz bruscamente dizendo que aquiesce a crítica do Noonan, que, em apertada síntese, diz que o cinema é imagem e som (e não história) e agora vc aquiesce ao Nacka que disse que o que importa é a 'coerência do conjunto'. Sinceramente, não entendi mesmo e creio que eu não fui o único...

 

 Já disse que não vou desenhar. Não seja insistente. Não entendeu? Problema seu.03

 

PS: Aproveitando que o Forasta sempre dá as caras aqui: PARABÉNS PELO NIVER!!! SAÚDE E SUCESSO PRA VOCÊ!! 

 

partytime   birthdaybig
The Deadman2007-04-04 08:46:58
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Só pra concluir (ihh, lá vem de novo... 06):

 

Estive relendo os posts e toda a discussão e eu pude perceber que estávamos falando da importância de determinados elementos, porém em momentos distintos. Ao que entendi, o Foras disse que a história é o epicentro com tudo girando em volta, quando se cria um filme, afinal todo filme surge de uma idéia (que pode ou não ser uma história). Nesse sentido, se foi isso mesmo que o Foras disse, ele tem razão. Quando se cria uma obra cinematográfica, tudo gira em torno da idéia/história, pois foi ela que deu o start a tudo.

 

Porém... (sempre tem um porém... 06), eu me referia à importância da imagem sobre todo o resto, quando do produto final, ou seja, aquilo que vemos pronto na tela, que é o filme. Nesse diapasão, considero que, quando vemos o produto final na tela, o mais importante é a forma com que a idéia foi mostrada e não a idéia em si (e mais uma vez voltamos aos exemplos que dei durante toda a discussão).

 

Acho que ficou claro de uma vez agora... Ufa! 06
Dook2007-04-04 22:22:59
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Herói' date=' by Noonan

O ideal máximo de um guerreiro

 

A partir daqui começamos a pisar em um terreno que talvez seja mais subjetivo que o normal em uma análise; é onde se situam as discussões sobre o prato preferido de cada um, por exemplo. Em se tratando de um filme como Herói, porém, mostrar uma interpretação profundamente pessoal como a que segue é o mínimo que se pode fazer para dar um panorama completo da opinião que se teve.

 

As três versões dos fatos narradas por Sem Nome e pelo rei de Qin são muito mais que simples referências a Rashomon para mostrar que Yimou sabe a quem agradecer por hoje o cinema oriental ter uma considerável projeção no mundo. O ideograma de Espada Quebrada mostra a evolução de um guerreiro em direção à paz; e as três narrações retratam a transformação de pessoas que dizem ter um ideal a heróis dispostos a morrer por um. Claro que, para todos os efeitos, os trechos vermelho e azul não chegaram a ocorrer, em sua totalidade; mas isso é ver Herói sob um prisma lógico demais — e, mesmo assim, podemos interpretar essas duas primeiras versões como possibilidades do que poderia ter ocorrido.

 

E quais seriam os três estágios dessa transformação? No primeiro, ambos têm um ideal (matar o rei de Qin), mas colocam sentimentos momentâneos, como paixão e raiva, acima dele, e se vêem em uma guerra pessoal que leva à morte de ambos. Vale lembrar que, na definição clássica (e, por que não, clichê), heroísmo significa abdicação, colocar (o que se acredita ser) o bem maior acima de tudo, principalmente no âmbito pessoal. Assim, Espada Quebrada e Neve Voadora estão bem longe do heroísmo nesse trecho; o rei de Qin os descreve como “fúteis”. E a cor vermelha se adequa perfeitamente ao que é mostrado.

No segundo nível, o casal já se aproxima mais da nobreza que lhe é atribuída pelo soberano. Houve a superação da futilidade deles, e o objetivo ganha uma posição na lista de prioridades. Mas, ainda assim, existe algo acima dele: o amor entre os dois, que leva um a ferir o outro para livrá-lo da morte certa — mais uma vez, a causa é relegada a segundo plano. A cor azul fica como representação do amor, um sentimento muito mais sereno que a paixão do primeiro trecho.

O terceiro estágio é o arquétipo do heroísmo: agora os objetivos de Espada Quebrada e Neve Voadora são diferentes, e cada um coloca o seu acima até do amor entre ambos — a causa em primeiro plano, todo o resto vindo depois: a abdicação de tudo em prol de um ideal. Mesmo com objetivos distintos, os dois podem ser considerados heróis dentro do conceito clássico e romântico (e, como lembra o até certo ponto óbvio texto inicial, “em uma guerra, há heróis dos dois lados”). E dessa vez nós testemunhamos o ponto de virada: o verdejante confronto com o rei de Qin. A queda das cortinas no final daquela cena é simbólica: naquele momento, também desabavam as crenças de Espada Quebrada, a convicção de que o assassinato era absolutamente necessário — as cortinas estão no chão, e ele pode ver as coisas mais claramente. O branco do trecho representa a paz que Espada Quebrada passa a almejar; o verde do flashback pode refletir a ambição do momento.

E as cores não servem apenas para retratar os sentimentos e/ou desejos do casal; também se relacionam com o ideal máximo de um guerreiro: elas vão se suavizando, começando do vermelho (cor do sangue) até chegar ao branco (cor que é sempre usada para representar a paz). O mesmo vale para as lutas: a carga emocional delas, paradoxalmente, aumenta conforme Espada Quebrada e Neve Voadora vão colocando seus ideais acima do restante; e, ao mesmo tempo, se tornam mais reflexivas e poéticas, como um paralelo para a evolução em direção à paz pela qual passa Sem Nome.

Enfim, é o velho e conhecido tema do heroísmo, com o velho e conhecido requisito básico de abdicação de tudo em nome do que se acredita ser o bem comum, mas tratado com inesquecível identificação e beleza visual, e uma construção narrativa que tenta mostrar o caminho que leva alguém a se tornar um herói. Piegas e sentimentalóide? Talvez. Mas funcionou comigo.

Herói é realmente uma obra que extravasa os limites comuns da subjetividade e vai “direto no sentimento e na intuição” — é uma das mais naturais e verdadeiras (se essa é a palavra correta) manifestações da Arte; e talvez fazer um filme assim tenha sido, para Zhang Yimou, seu ideal máximo como cineasta. [/quote']

 

Já comentei que a crítica está ótima, mas consegui assistir o filme hoje, e tive que destacar essa parte, realmente você interpretou muito bem a simbologia das cores, principalmente com relação ao vermelho e azul, já com o branco eu concordo com o Alexei, me pareceu uma mistura das outras cores, visto que a Neve Voadora sentia um grande amor por Espada Quebrada (azul), mas ainda queria cumprir uma promessa antiga de matar o rei (verde) e tudo isso sem esquecer dos sentimentos (vermelho).

 

Adorei a crítica. Herói para mim é melhor que O clã... e inferior ao magnifico O tigre e o dragão.

 

E eu tenho medo do Dook 06
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Não é muito difícil ser melhor do que O Clã, diga-se.17

Anyway, o que estou fazendo aqui mesmo?06 Ah tah...sobre Herói, vi pirateado, mas achei bonzinho. Nada excepcional, mas bem agradável. Deteeeesto o Jet Li e ainda assim, consegui "suportá-lo" nesse filme, o que atesta a qualidade da produção.03
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Anúncio Oficial:

Próxima 2ª feira, dia 09 de Abril, mais uma resenha inédita no Cineclube em Cena:

 

 img362/8391/webc2770xu7.jpg

 

Blow Up - Depois Daquele Beijo

(Blow-Up, Dir.: Michelangelo Antonioni, 1966) 

 

By Alexei.

 

Um fotógrafo, um possível assassinato e muitas situações bizarras num suspense italiano da década de 60, ganhador da Palma de Ouro em Cannes.

 

E ainda está no ar:

 

 hero08.jpg

 

Herói

(Ying Xiong, Dir.: Zhang Yimou, 2002)

 

By Noonan.

 

Não Percam!

 

Aguardem pela Nova Agenda do Cineclube em Cena, e não deixem de conferir todas as demais resenhas:

 

 SUMÁRIO

 

Página 1 = Forasteiro (A Lista de Schindler) 

Página 8 = Mr. Scofield (No Rastro da Bala) 

Página 17 = Dook (A Última Tentação de Cristo) 

Página 28 = Silva (Amnésia 

Página 34 = Garami (Fogo Contra Fogo)

Página 37 = Alexei (Fale Com Ela)

Página 39 = Engraxador (Peixe Grande)

Página 40 = Rubysun (Era Uma Vez no Oeste)

Página 42 = Thico (A.I. - Inteligência Artificial)

Página 44 = The Deadman (Sob o Domínio do Medo)

Página 45 = J. de Silentio (Cantando na Chuva)

Página 46 = ltrhpsm (Estrada Para Perdição)

Página 47 = Nacka (Além da Linha Vermelha)

Página 51 = Rubysun (Pulp Fiction – Tempo de Violência)

Página 53 = Forasteiro (Dogville)

Página 54 = Dook (Cidadão Kane)

Página 55 = Vicking (A Lula e a Baleia)

Página 57 = Juliocf (Se7en – Os Sete Crimes Capitais)

Página 59 = Enxak (Embriagado de Amor)

Página 59 = Jailcante (Huckabees – A Vida é uma Comédia)

Página 60 = ltrhpsm (O Homem que não estava lá) 

Página 61 = silva (Crepúsculo dos Deuses)

Página 62 = Troy Atwood (Beleza Americana)

Página 63 = Noonan (Herói)
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Ah, eu duvido muito que isto aconteça.06 O Alexei escreve de um modo absolutamente diferente do meu, e é exatamente o que mais me atrai nos textos dele. Como disse no Festival do Kubrick, a assinatura by Alexei está sempre desenhada sob as próprias linhas da resenha, o que é raro, raríssimo. Consultarei o Daniel agora mesmo pra saber se tem Blow-Up em Erechim. Forasteiro2007-04-06 18:13:46

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Muito obrigado, Jack. Dogville é uma obra-prima absurda, está no meu top 5, valeu muito a pena ter escrito aquela resenha. E não deixe ler os demais textos. Pessoalmente, indico No Rastro da Bala, do Scofa, Era uma Vez no Oeste, do Rubysun, e Herói, do Noonan. Só pra ficar em três, dos filmes que eu vi, porque todas as críticas aqui são primorosas. Escrever para o Cineclube e estar entre essa galera é uma honra indescritível. Como já cansei de dizer, este espaço reúne os melhores textos sobre cinema da internet brasileira. E quero te ver por aqui na terceira temporada!05

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Depois Daquele Beijo (Blowup, 1966)<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><?:NAMESPACE PREFIX = O />

by Alexei

 

 blow.jpg

 

 

Filme: Depois Daquele Beijo (Blowup, 1966), de Michelangelo Antonioni. Com David Hemmings, Vanessa Redgrave, Sarah Miles, Peter Bowles, Veruschka von Lehndorff.

 

Sinopse: Um fotógrafo de moda (David Hemmings), entediado com sua rotina profissional, casualmente tira fotografias de um casal num parque londrino. Após revelar os negativos, acredita ter descoberto um assassinato.

 

O que eu acho: “Algumas vezes, a realidade é a mais estranha de todas as fantasias”, afirma o narrador do teaser de Depois Daquele Beijo (Blowup), o primeiro filme do diretor italiano Michelangelo Antonioni <?:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" /><?:NAMESPACE PREFIX = ST1 />em inglês. Filmado e ambientado na “Swinging London” da Década de 60, Blowup vai muito além da dicotomia verossimilhança/fantasia: coloca em xeque o processo de apreensão da realidade que é a imagem – a fotografia e o próprio cinema, em última instância – e subverte a tradicional noção de passividade do espectador frente ao trabalho do artista. O filme, um dos mais analisados em toda a história do cinema, não oferece respostas ou conclusões óbvias para sua trama enganosamente simples, nem requer que seu público o faça – é na dinâmica da vida e seu retrato por meio de imagens que se encontra o seu verdadeiro cerne.

 

 blowup2.jpg

 

 

Blowup conta a estória de Thomas (David Hemmings, memorável), um fotógrafo de moda entediado com o vazio de sua profissão. Amoral, arrogante, insensível e obcecado por seu trabalho, Thomas tem um senso estético extraordinário que, a despeito de ser fundamental em seu ofício, não lhe preenche. A vida passa por Thomas – como os merrymakers do início, mímicos de simbolismo crucial para a apreensão das intenções de Antonioni – em verdadeiros espasmos, surtos de cor e movimento (que podem ser prosaicos como a hélice de um navio, à venda em um antiquário) captados com precisão por sua câmera, mas não lhe toca. Esta insensibilidade para o significado das imagens é posta à prova quando, após ser fotografada, de forma não-consensual, aos beijos com um homem num parque, Jane (Vanessa Redgrave), já sozinha, insiste para que ele lhe dê o filme e não é atendida.

 

A imagem, ao contrário das pessoas que ele descarta tão facilmente, é a grande paixão de Thomas, seu pathos. Mas a desimportância que ele atribui àquele episódio aparentemente casual, ignorando o pedido de Jane para que não revelasse as fotos, demonstra quão desprovida de conteúdo é sua estrutura interior. Thomas inconscientemente busca por significados no transcorrer de toda a projeção e eles surgem a partir da descoberta de um possível assassinato no parque, quando o negativo do filme é revelado e uma das fotografias é sucessivamente ampliada (de onde vem o título original do filme - to blow up). Uma imagem isolada é destituída de significado; o conjunto formado por várias delas, formando uma seqüência lógica, adquire a relevância que o artista tanto procura.

 

A quem pertence a imagem? Àquele que é retratado ou à pessoa que a vê? Thomas tenta encontrar os significados ocultos de suas fotos tendo como referência a identificação da expressão apreensiva de Jane em uma delas. Numa seqüência visualmente espetacular – e arrepiante, com pouquíssimos cortes e sem som - a perspectiva do outro finalmente se torna relevante para ele, passível de vir a ser um ponto de partida. As imagens não existem mais para exclusivo deleite de Thomas, elas passam ter importância em razão de seu significado intrínseco.

 

 blowup1.jpg

 

Antonioni vê muito de si próprio em Thomas. Seu alter ego é retratado sem concessões: materialista, fútil, sexista e moralmente repreensível. Mas o extraordinário gosto do diretor pela beleza se revela nos enquadramentos magníficos, nos movimentos secos, porém precisos, da câmera, na seqüência em que ele, o Antonioni mestre na arte do cinema, fotografa Thomas fotografando Veruschka – dois fotógrafos em um só, ambos em contínua busca pelo enquadramento perfeito e apaixonados por seu ofício. As reais intenções de Antonioni, no entanto, são muito mais profundas, pois a crítica que ele faz a seu protagonista e a si mesmo é ampliada - em outro blow up, desta vez sociológico e moral - para a própria sociedade em que vivemos. De Thomas para Londres, e de Londres para o mundo. Em Blowup, as pessoas são retradadas estáticas e alheias aos significados das coisas, como são as modelos e os espectadores, rígidos como manequins, do show dos Yardbirds (Jimmy Page e Jeff Beck ao palco). Antonioni clama para que nós rejeitemos nossa própria inércia ideológica, que deixemos de adotar uma postura passiva no filme e em nossas próprias vidas.

 

Esse é, finalmente, o aspecto nodal da estética de Blowup. Toda obra de arte tem seu ponto crucial, o momento em que as verdades de seu criador são postas à prova, sujeitas ao exame de seus destinatários. Esse é um momento cujo risco é proporcional às ambições do artista, e no caso de Blowup, elas não poderiam ser maiores. Ao final, a partir da extrema relativização da importância do assassinato no filme, Antonioni subverte as noções de autoria e significação das imagens de uma maneira tal que entrega seu próprio filme ao espectador. Não há mais Blowup, de Michelangelo Antonioni, mas sim um filme cuja essência, beleza e significado estão nos olhos de quem o vê – e que corre o risco de se extinguir se esse processo não for continuamente renovado, tal qual se extingue, de uma forma maravilhosamente lírica, a imagem do próprio Thomas no último plano do filme.

 

 blowup3.jpg

 

Preste atenção: na interação entre os mímicos e Thomas, no início e ao final de Blowup. Num primeiro momento o fotógrafo se diverte e aprecia o trabalho dos mímicos, mas passa ao largo de sua verdadeira arte; ao final, após uma experiência extenuante (que dura pouco mais de dois dias no filme) ele não só se comove com uma partida de tênis com bolas invisíveis – ele as ouve e as vê. A magia do cinema, de ter contato com uma realidade que se sabe ser artificial, mas que toca nossos corações ainda assim, é retratada em Blowup em todo o seu esplendor.

 

Porque não perder: pelo processo de desnudamento do diretor atrás das câmeras, o que se reflete em seu avatar, Thomas; pelos belos planos e contraplanos, esteticamente arrojados (cortesia de Carlo di Palma); por ser um excepcional exemplo de um filme que nos conta sobre o ofício de fazer filmes.

 

Dados do DVD: Em widescreen anamórfico 9:16, Blowup é visualmente estarrecedor, mas a qualidade do som não acompanhou a exuberância das imagens. O DVD tem o teaser e o trailer do filme para o cinema, assim como a trilha sonora de Herbie Hancock. O bônus mais importante é, sem discussão, o comentário de Peter Brunette – catedrático de cinema, estudioso de Michelangelo Antonioni e editor da Indiewire – sobre o filme e suas mais importantes simbologias. Infelizmente não há legendas em português.

 

blow_up_1966_hemmings_veraushka.jpg

 

Michelangelo Antonioni é um dos maiores diretores de cinema ainda vivos. Com mais de 90 anos, ainda parcialmente paralisado por um derrame cerebral, Antonioni realizou, entre as décadas de 50 e 70, diversos filmes de conteúdo extremamente rico, esteticamente inovadores e consagrados pela opinião especializada. Talvez Blowup seja, junto com O Encouraçado Potemkin e 2001 – Uma Odisséia no espaço, o filme mais analisado em toda a história do cinema. Tê-lo visto é algo essencial a qualquer cinéfilo e um verdadeiro privilégio.<?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

 

Parafraseando Peter Brunette, que faz os excelentes comentários nos extras do filme, existem centenas de escritos sobre Blowup, cada um dando explicações, em maior ou menor grau, para os significados ocultos nessa obra; sendo assim, preferi não oferecer respostas definitivas ao leitor, até porque tal atitude – além de presunçosa e fadada ao fracasso – importaria em desprezar a subjetividade artística que o próprio Antonioni revelou ser tão importante em sua elegia ao cinema que é Blowup.

 

Post semanal autorizado.

Alexei2007-04-09 15:47:28
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Lindo, lindo, lindo!!! 1010

 

Blow-Up é uma das melhores coisas que já vi na vida. Simplesmente arrebatador. É mais uma evidência da importância da imagem sobre a historinha no resultado final que vemos na tela. A análise deu vontade de ver o filme mais uma vez...

 

0505

 
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