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Ele entregou a (excelente) para Cantando na Chuva no tempo, soo...

 

Bom, não vou conseguir ver Sonata de Outono antes de publicarem a nova crítica (alugaram), mas peguei Vinhas da Ira, que será resenhado pelo mesmo Thiago...

 

Dessa nova safra eu não vi A Criança e Casa de Areia e Névoa. Dos outros três filmes, queria ver o resultado das críticas..
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Casa de Areia e Névoa, by Th@t@_Patty

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Filme: House of Sand and Fog (2003), de Vadim Perelman. Com Ben Kingsley, Jennifer Connelly, Shohreh Aghdasloo, Ron eldard.


Sinopse: Um erro do governo faz com que uma casa seja colocada em leilão, colocando em lados opostos a antiga dona e um imigrante iraniano que a comprou. Recebeu 3 indicações ao Oscar.

O que eu acho: Catarse, como fora conceituada por Aristóteles, é a purificação das almas através da descarga emocional provocada por um drama. Segundo o filósofo, para suscitar a catarse era preciso que o herói passasse da dita para a desdita, ou seja, da felicidade para a infelicidade. E mais ainda: não pode ser por acaso, e sim por uma desmedida, ou seja, por uma ação ou escolha mal feita do herói.

Desde a antigüidade, os sombrios caminhos percorridos por nossos corações, percalçados por desventuras decorrentes de nossas escolhas é um motivo recorrente nas artes. Através deste tema, somos transportados de nossa realidade para uma outra, empatizamos com o próximo e, por alguns momentos, diferentes pessoas, de diferentes origens e princípios morais, compartilham um entendimento daquela alma, daquela dor, e então, a partir desta, de acordo com o filósofo grego, expurgamos nossas próprias mazelas.


No trágico Casa de Areia e Névoa, acompanhamos o desenrolar do embate entre Kathy Nicolo (Jennifer Connelly) e Massoud Amir Behrani (Ben Kingsley) pela casa do título e todas as suas muitas significações. Ao tomarem simples decisões que até então, acreditavam serem pertinentes apenas a si mesmos (e no caso de Behrani a sua família), acabam presos em uma disputa dolorosa para todos que os cercam.

 

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Mas é o compartilhamento gradual dessa dor o motivo mais comovente da película. Não apenas Kathy ou Behrani mas todas aquelas pessoas parecem estátuas de vidro, presas em uma carcaça intransponível, solitárias, desesperadas por compreensão.


Até então, Behrani, um homem absolutamente racional, mostra-se muito eloqüente, um interlocutor sempre perspicaz, mas que ainda sim não consegue estabelecer uma comunicação eficaz com sua esposa, frente a quem acaba sucumbindo e perdendo a calma, como se os anseios daquela mulher estivessem além de sua capacidade de entendimento, o que é compreensível considerando que em contraste a ele, ela mostra-se uma pessoa geralmente mais emocional e menos rígida.


Esse contraste também é estabelecido de certa forma por Kathy, que apesar de sempre aparentando uma vulnerabilidade tão intensa, continua lutando.  E que assim como Nadi (Shohreh Aghdasloo) , expressa através de seus olhares todo o seu desamparo e todo o seu desespero. Para mim as conversas entre as duas são os momentos mais dramáticos de toda a projeção. Ambas estão perdidas, ambas se apoiam em homens complicados e arrogantes, ambas estão tentando proteger o que amam com as poucas armas que têm.

Por muitas vezes lutar é a única maneira da qual dispomos para manter a integridade de nossas almas. Mesmo que elas já não estejam íntegras há muito. E guerreiros são revelados nas personalidades mais improváveis.
A luta entre Nicolo e Behrani proporciona que as perspectivas comecem a se abrir. No outro dia eu estava discutindo com meus leitores do TeleSéries sobre ética subjetivista e ética objetivista. Enquanto na primeira nossos gostos pessoais seriam o que é certo pela nossa ética pessoal, na segunda teríamos um ponto de vista mais consciente das vontades pessoais alheias, e uma ética mais imparcial. É claro que são conceitos bem mais complexos, mas eu apenas queria estabelecer mais ou menos sobre o que estou prestes a falar.


 

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Eu tive a impressão de que ao longo do filme tanto Kathy quanto Behrani vão migrando gradualmente de uma posição subjetivista, apesar de bem embasada em argumentos racionais sólidos, para um posição mais objetivista. Especialmente a partir da tentativa de suicídio de Kathy com a arma.

Em contrapartida, Lester (Ron Eldard) que parece ser a figura sempre no curso trágico das negociações, na minha opinião o próprio EUA com aquela sua pose insuportável de mediador, e na verdade se revelando o condutor aos resultados mais absolutamente arrasadores com sua intervenção incendiária, parece tornar-se mais e mais subjetivista a medida que o tempo passa, sempre colocando suas necessidades e de Kathy a frente daquelas pessoas por quem deixa bem claro um certo traço de desprezo cada vez mais presente nas sociedades cada vez mais xenófobas dos países desenvolvidos, especialmente a própria sociedade americana.

Eu também achei muito interessante que o enredo remeta a um outro assunto muito atual. Da mesma maneira que Kathy e Behrani, pessoas tão completamente distintas disputam pela casa, vários povos diferentes lutam por um mesmo território, seja a Palestina, a Caxemira, ou os próprios Rio de Janeiro e São Paulo com suas segregações sociais, Casa de Areia e Névoa é uma boa retratação dos conflitos entre as pessoas pelo direito de possuir um espaço.

O lugar onde vivemos é geralmente nossa referência em segurança, mas aos poucos o mundo vai vivendo uma realidade em que a violência e o medo vão tomando nossos lares, a medida que o espaço geográfico vai se tornando diminuto frente a quantidade de pessoas que desejam ocupá-lo. O filme é eficiente em retratar as dificuldades de convívio pacífico entre essas pessoas, e como uma situação explosiva vai se construindo mesmo quando a intenção é apenas defender sua perspectiva perante o impasse.


 

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Também retrata de maneira forte a razão das pessoas simplesmente não desistirem e mudarem-se para outro lugar. Nosso lar é muitas vezes parte da nossa identidade, seja contendo nossos fortúnios do passado ou nossos anseios do futuro, mantê-lo é manter nossa dignidade, e esta pode ser a única coisa que nos mantém vivos. Kathy, em todo seu desespero sabe disso. Behrani, apesar de seu orgulho, sabe disso. Afinal, os dois começam o filme procurando alienar o mundo externo de suas verdadeiras condições.

No inicio do filme Behrani afirma em seu discurso que sua intenção ao cortar as árvores que bloqueavam a sua visão da água em sua casa no Mar Cáspio era atingir o infinito com seus olhos. Mas assim como o infinito sempre estaria além de seu alcance, o resto do mundo parece inalcançável, parece tornar-se algo etéreo e distante, e um clima extremamente claustrofóbico se estabelece diante da inabilidade daquelas pessoas de alçar vôo. A fotografia de Roger Deakins é bastante eficaz em estabelecer esse clima de isolamento, reforçado através da névoa.

** Spoilers do Final **

Kathy e Behrani por fim acabam ocupando aquele mesmo espaço. E como na vida real, aquela divisão prova-se desastrosa apesar das boas intenções de ambos os lados. Behrani vê em ajudar Kathy uma espécie de benção, de redenção, mas é ele que acaba através de seu suicídio libertando-a de suas amarras com aquela casa, logo depois que ele mesmo descobre em seu amor por seu filho sua própria forma de libertação.

Com as séries, eu aprendi que o carisma dos atores é um elemento crucial pois é a identificação do espectador com eles que possibilita a nossa imersão na estória, e os atores de Casa de Areia e Névoa, especialmente o trio central Kingsley, Connelly e Aghdashloo são brilhantes não apenas em construir aquelas personas tão tristes e sofridas, mas também em estabelecer uma conexão com o público. E essa conexão é crucial para que haja a catarse no espectador.  

O cinema muitas vezes é utilizado como instrumento de evasão psicológica, algumas vezes pode ter em nós efeitos nem sempre perceptíveis de atenuação de nossas próprias preocupações, outras serve apenas para nos entediar, muito. Seja qual foi sua reação frente a Casa de Areia e Névoa, a arte dificilmente é um desperdício de tempo, e eu espero ter exposto da melhor forma alguns bons argumentos de porque eu acho que Casa de Areia e Névoa vale a pena.


 

casa-de-areia-e-nevoa-poster03.jpg


Preste  Atenção:  Nas atuações, especialmente nos olhares. Os atores falam muito mais através dos olhos nesse filme. Principalmente os olhos azuis de Connelly. Eles nos tragam para dentro do filme.  

O que já se disse:

“Triste e belo, este filme virou um clássico e entrou para a história do cinema.”  - Adriana Werneck, Movie Guide.

Porque Não Perder: É um filme intimista e arrebatador, que através do etéreo é capaz de nos contar muitas estórias e histórias.

Curiosidades: Um pouco sobre o Irã.
O Irã tem suas origens no Império Persa, fundado em 539 a C. por Ciro, o Grande. Os árabes conquistam a região em 642, e convertem seus habitantes ao islamismo. É adotado o alfabeto arábico, paralelamente ao idioma persa. O país sofre invasão dos turcos no século 6 e dos mongóis no século 8. Depois de recuperar sua independência, é governado por várias dinastias (Safávida, Afjar, Kajar).
1921 - O general Reza Khan dá um golpe de Estado e derruba o último sultão Kajar.
1926 - Reza adota o nome de Reza Shah Pahlevi e coroa-se xá.
1935 - Um decreto oficial muda o nome do país de Persa para Irã.
1963 - O xá promove a campanha modernizante ‘revolução branca’, que inclui a reforma agrária e o direito de voto às mulheres.
1978 - Cresce a oposição ao regime ditatorial do xá, devido à crise econômica e à ampla corrupção. As correntes esquerdistas, liberais e muçulmanas tradicionalistas se unem sob a liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado na França.
1979 - O governo não consegue controlar a insurreição e o xá Reza Pahlevi foge do país. O poder é transferido ao primeiro- ministro Shapur Bakhtiar, e as Forças Armadas aderem aos revoltosos. Khomeini regressa ao Irã e assume o poder, com a renúncia de Bakhtiar. Em 1º de abril o país é oficialmente declarado uma república islâmica, cuja autoridade suprema é o chefe religioso Khomeini. Em novembro, um grupo de militantes islâmicos toma a Embaixada dos EUA em Teerã e faz 64 reféns norte- americanos. O governo iraquiano exige a extradição do xá, que estava nos EUA. Ele morre em julho, no Egito
Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/co nheca_pais/ira/cronologia.html

Dados do DVD:
Caixa plástica tradicional

O vídeo é apresentado em formato anamórfico widescreen em 1.85:1 com excelente qualidade nas cenas de nevoeiro. Se for bem observador, porém, nas cenas com poucas luminosidade é possível ver indícios de compressão do vídeo mas nada que seja nocivo.

O some Dolby Digital 5.1 com um ótimo efeito surround nos sons ambiente e enobrece mais ainda a excelente trilha sonora de James Horner.

Extras

Behind the Scenes – 15:53 – Entrevista e bastidores com todo o elenco e produção. Bem interessante. Depoimento do autor do livro onde todos mostram como estavam comprometidos com o projeto..

Teste de câmera de Shohreh Aghdashloo (06:06) – Mostra a versatilidade da atriz iraniana. Bem interessante.

Photo Gallery – (05:39) – É interessante pois podemos escolher ver as fotos como Slide Show ou foto a foto. Na opção Slide Show podemos ouvir o diretor e atores comentando sobre o filme.

 

Este é o belo trabalho feito pela colega Th@t@ para o filme do então estreante diretor ucraniano Vadim Perelman. O texto traz uma estrutura em primeira pessoa e interpretações interessantes sobre a nossa realidade, da maneira que foi espelhada no microcosmos pessimista que é Casa de Areia e Névoa.

 

Em minha opinião, o filme tem altos e baixos. Kingsley e, principalmente, Aghdasloo estão extraordinários em seus papéis. Igualmente notável é o trabalho do cinematógrafo Roger Deakins, o preferido dos irmãos Joel e Ethan Cohen. Mas o roteiro apóia-se em soluções alternadamente óbvias e ilógicas, principalmente em relação à postura e atitudes de Lester, um personagem fraco, entregue a um ator igualmente fraco (Eldard).

 

Pronunciem-se, colegas.

 

Post semanal autorizado.
Alexei2007-05-01 18:45:06
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Vi Casa de Areia e Névoa, ontem à noite para poder ler o texto da Thata Patty, até porque não terei chances de participar semana que vem (mas os outros três desta nova safra estão garantidos, para rever). Enquanto o texto mantém a linha de qualidade do nosso Cineclube, revelando que a Thata realmente não precisava de O Cinéfilo 2; o filme foi o que menos agradou dentre todos os que participarem nestas 73 páginas. Acima da média, mas, ainda assim, abaixo do nível que eu aguardava (longe de ter criado altas expectativas). Vejamos, o filme tem um lado excepcional, e outro fraquíssimo.

O que mantém a qualidade da obra é a família iraniana, tanto pelas atuações, quanto pelo desenvolvimento de suas histórias. A parábola da "casa de areia e névoa" é perfeitamente empregada, uma vez que, logo ao começar o filme, vemos Behrani na casa que lhre predisse o seu maior momento de tristezas até então - a expulsão de seu país de origem, que, por sua vez, o levou aos EUA. A casa que ele disputará é muito parecida àquela - e

culminará na tragédia maior, a morte dos três, que, de outro lado, os conduz ao estado definitivo de paz. Ao mesmo tempo em que o filme mostra a ripidez dos americanos para com os estrangeiros, também tem uma fala muito válida - aquela em que Behrani diz que os americanos não têm valor -, mostrando o preconceito de seus dois lados. Poderia até ser forçado, não fosse a dualidade da personagem de Kingsley (proporcionada pelo ator), que transita entre a frieza e a reação extrema. E, na mesma família, temos sua esposa: Aghdasloo executa de maneira perfeita a repressão que ela sofre, logo após contestar o fato de se mudarem. Já do outro lado do jogo, temos um casal muito pobre em conteúdo: Connely jamais mostra um sinal de esperança, talvez pela tragicidade exacerbada durante a película, talvez por falta de expressar melhor algum tipo de alegria mesmo. O romance com Eldard (com um impropício desafio de negar à família, perante uma bela mulher, e uma não-resoluta formação policial) é erroneamente novelesco - vale lembrar que o roteiro foi baseado num livro. Além disso, há uma saída escapista para que o filme possa passar a valer e ela é a pergunta de um policial a Connely, que só será respondida no final do filme. A trilha sonora de James Horner e a direção flutuante de Perelman, quando aplicadas à fotografia de Deakins com as nuvens passando aceleradamente, é um ponto a mais a ser atribuído no lado bom da obra. Quando a moral da posse da casa e a metáfora que ela representa não se oculta por um pano frívolo, o filme funciona muito bem. Só que é um pouco lá, um pouco cá.

 

Quanto ao texto, gostei muito dele. Interpreta o filme de um jeito próprio, subjetivista na primeira pessoa, sem se esconder em informações para enchar lingüiça ou derrapar no seu conteúdo. O único momento em que eu fiquei um pouco confuso, a própria Thata ressaltou ser algo muito particular, foi a ótica de "ética subjetiva X ética objetiva", contudo, à medida em que se flui a leitura, torna-se agradabílissima, deixando alguns pontos em aberto.
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Crepúsculo dos Deuses (by Silva)

 

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Sinopse: Um roteirista em fuga de credores termina por se esconder na casa de uma estrela do cinema mudo, que resolve contratá-lo para revisar o roteiro que marcará seu retorno às telas. <?:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />


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Silva finalmente comprei o dvd e assisti do jeito que gosto, na madrugada e sozinho. Na verdade revi depois de muito tempo (tinha visto em um desses corujões da vida na Globo)... atordoante seria a palavra para definir esse copo de fel que Wilder nos obriga a tomar. E o dvd ainda nos brinda com com uma trilha de comentários legendada, o que mais se pode querer? Não tenho dúvidas que hollywood está coalhada de Joes e Normas e que a frase emblemática de que os filmes ficaram pequenos é uma verdade que ninguém quer admitir.

 

Assustadora a cara de Gloria Swanson na cena em que ela liga para  Betty Schaefer (Nancy Olson), e Joe (Holden) chega e toma-lhe o telefone, ali deitada na cama mortificada pelo ciúme não tinha mais uma estrela, só uma pobre mulher de 50 anos devastada pelo tempo e pela ilusão. E pensar que custa só 12,90 ter essa preciosidade na estante...

 

 

 
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Anúncio Oficial:

Próxima 2ª Feira - Dia 07 de Maio: 

Mais uma resenha inédita no

Cineclube em Cena

 

lenfant-poster03.jpg

 

A Criança

(L'Enfant, Dir.: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, 2005)

 

By Garami

 

Um jovem casal passa a sofrer um drama existencial após o nascimento do primeiro filho.

Filme ganhador da Palma de Ouro em Cannes.

 

E ainda está no ar!

  

casa-de-areia-e-nevoa06.jpg 

 

A Casa de Areia e Névoa

(House of Sand and Fog, Dir.: Vadim Perelman, 2003)

 

By Th@t@ Patty

 

Não percam!

 

Agenda Cineclube 

 

PRÓXIMOS FILMES

A Criança (by Garami) – 7 de maio<?:NAMESPACE PREFIX = O /><?:NAMESPACE PREFIX = O />

 Touro Indomável (by The Deadman) – 14 de maio

O Novo Mundo (by J. de Silentio) – 21 de maio

Os Bons Companheiros (by Veras) – 28 de maio

  SUMÁRIO

 

Página 1 = Forasteiro (A Lista de Schindler) 

Página 8 = Mr. Scofield (No Rastro da Bala) 

Página 17 = Dook (A Última Tentação de Cristo) 

Página 28 = Silva (Amnésia 

Página 34 = Garami (Fogo Contra Fogo)

Página 37 = Alexei (Fale Com Ela)

Página 39 = Engraxador (Peixe Grande)

Página 40 = Rubysun (Era Uma Vez no Oeste)

Página 42 = Thico (A.I. - Inteligência Artificial)

Página 44 = The Deadman (Sob o Domínio do Medo)

Página 45 = J. de Silentio (Cantando na Chuva)

Página 46 = ltrhpsm (Estrada Para Perdição)

Página 47 = Nacka (Além da Linha Vermelha)

Página 51 = Rubysun (Pulp Fiction – Tempo de Violência)

Página 53 = Forasteiro (Dogville)

Página 54 = Dook (Cidadão Kane)

Página 55 = Vicking (A Lula e a Baleia)

Página 57 = Juliocf (Se7en – Os Sete Crimes Capitais)

Página 59 = Enxak (Embriagado de Amor)

Página 59 = Jailcante (Huckabees – A Vida é uma Comédia)

Página 60 = ltrhpsm (O Homem que não estava lá) 

Página 61 = silva (Crepúsculo dos Deuses)

Página 62 = Troy Atwood (Beleza Americana)

Página 63 = Noonan (Herói)

Página 68 = Alexei (Blow Up - Depois Daquele Beijo)

Página 70 = Fernando (Moulin Rouge - Amor em Vermelho)

Página 71 = Thico (Sonata de Outono)

Página 73 = Th@t@ Patty (A Casa de Areia e Névoa)

 

Sugestões e Dúvidas

Tratar com

Ou pelo tópico

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Eu já vi fãzóide doente de HQ, SdA, SW e uma porrada de coisa, mas tu bate TODOS eles hein, Rike!06

Caraca! Não precisa nem dizer quê review vc quer fazer!17

Todo dia quando entro nesse fórum vc ou está falando da Coppola, ou da Dunst ou das duas, isto é, Maria Antonieta! A gente já sabe que o filme é OP e tal...dá uma respirada, po!0306
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Eu já vi fãzóide doente de HQ' date=' SdA, SW e uma porrada de coisa, mas tu bate TODOS eles hein, Rike!06

Caraca! Não precisa nem dizer quê review vc quer fazer!17

Todo dia quando entro nesse fórum vc ou está falando da Coppola, ou da Dunst ou das duas, isto é, Maria Antonieta! A gente já sabe que o filme é OP e tal...dá uma respirada, po!0306
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Poxa, Scarlet. 0802

 

É que eu quero muito escrever um belo texto sobre a película da Coppola. E desejo compartilhar com os outros usuários daqui. Preciso dar uma respirada mesmo, mas o vício fala mais alto. 0608

 

Então. Posso agendar? Como eu faço? 05
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Deixe-me perguntar...

 

Só é possível a realização de textos de filmes disponíveis em locadoras? Ou posso dissertar sobre um que ainda está nos cinemas?

 

Filmes em cartaz nem sempre estão em cartaz em todos os lugares, por isso optamos pela resenha de filmes que já tenham sido lançados em dvd...

 

 
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 A Criança, by Garami

 lenfant-poster03.jpg 

 

 

Filme: A Criança (L’Enfant, 2005) – dir.: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne

Sinopse: Bruno e Sonia tiveram um filho. Por viver basicamente de esmolas e furtos, Bruno vê no pequeno Jimmy uma nova forma de conseguir dinheiro e o vende para adoção ilegal.

O que eu acho:  A adoção ilegal de crianças é uma realidade que perdura em vários lugares do mundo. Seja na França, onde o filme “A Criança” se passa, seja no Brasil. Em território nacional, aliás, tal procedimento é chamado de “adoção à brasileira” e consiste na doação de crianças a pessoas com maiores condições financeiras ou, simplesmente, na venda de crianças a casais que desejem registrar uma criança em seu nome. De uma maneira ou de outra, tal prática é crime e passível de severas sanções. Mesmo desconhecendo a Legislação francesa, creio poder afirmar que tal prática também não deve ser vista com bons olhos na terra dos irmãos Dardenne. Porém, em “A Criança”, os Dardenne não estão interessados em mostrar as terríveis conseqüências legais que desabam sobre aquele que vende uma criança na França. Ao invés disso, eles preferem mostrar como um jovem à margem da sociedade comete um erro que vai se emendando a outros até formar uma grande teia, da qual ele não tem a menor chance de escapar. O filme, totalmente merecedor da Palma de Ouro, com a qual foi agraciado, é uma aula de observação, onde os diretores não pretendem perdem seu tempo apontando fatores: é um filme de ação e reação. A belíssima fotografia, a câmera quase documental e a ausência de trilha sonora instigam o espectador a querer saber o que realmente se passa pela cabeça dos personagens e mostram que, para tanto, é preciso acompanhá-los. Persigamos, portanto, os passos de Bruno, aquele que erra.

PARTE I – Em Busca de Bruno<?:NAMESPACE PREFIX = O />

Sonia acaba de sair do hospital e tem uma criança em seu colo. Ela e seu namorado, Bruno, resolveram chamar o bebê de Jimmy, mas ainda buscam um segundo nome para a criança. É uma tarde de inverno francês. Está ventando e Sonia protege Jimmy como pode. Indo até seu apartamento, ela descobre que este foi alugado para estranhos por seu namorado. Ela vai até um orelhão e tenta ligar para o namorado, sem sucesso. A pé, carregando uma criança de oito dias, Sonia atravessa estradas onde os carros não fazem a menor menção de desacelerar para que uma jovem mãe possa chegar ao outro lado. A garota chega até a margem do rio, onde Bruno montou seu “quartel general”, porém, ele não está ali. Ela tenta, novamente, telefonar para ele, mas não consegue contato. Após pegar carona com um motoqueiro, ela enfim encontra o namorado. Bruno está na esquina de um restaurante, pedindo esmolas aos motoristas que param no semáforo. O primeiro contato de Bruno com seu filho não só mostra a total falta de habilidade dele com bebês, como também expõe o fato de que Bruno ainda não concebe a responsabilidade que recaiu sobre seus ombros. No momento, o rapaz está mais interessado em espreitar sua próxima vítima, que está no restaurante, do que demonstrar um pouco de atenção por seu filho. Após o assalto ser realizado, voltam todos para o quartel-general de Bruno.

PARTE II – O Universo de Bruno

Bruno e seus dois pequenos comparsas dividem os resultados da pilhagem em proporções não exatamente justas: os dois garotos ficam com 10% cada um e Bruno, por ser o líder, embolsa o resto dos ganhos. O lugar onde eles estão é aquele por qual Sonia já passou anteriormente: à beira de um rio, próximo a uma grande ponte, existe uma pequena construção, onde Bruno e seus pequenos capangas se escondem. Após a divisão, a qual Sonia observou pacientemente, os garotos vão embora e Bruno volta para perto de Sonia. Ambos conversam brevemente sobre o parto e a garota pede para que seu companheiro toque sua barriga. Mesmo obedecendo, é perceptível que tudo aquilo é estranho para Bruno. Para evitar o embaraço de Sonia pedir-lhe para segurar o pequeno Jimmy mais uma vez, Bruno recomenda que eles vão para um albergue, para passar a noite. Ele mostra a Sonia sua nova jaqueta e ela o interroga sobre como ele a conseguiu. “Eu não poderia ter roubado isso”, ele responde. Antes de encaminharem-se ao albergue, Sonia derruba Bruno sobre as pedras e os dois iniciam uma brincadeira de arremessar pedras um contra o outro. Se ignorarmos o fato de que Sonia tinha um bebê em seu colo e que não é exatamente recomendável brincadeiras desse gênero quando se carrega uma criança, podemos perceber que esta é a segunda situação onde podemos ver um Bruno totalmente concentrado naquilo que faz. No universo dele, os furtos e as brincadeiras inconseqüentes encontram abrigo. Porém, Sonia e Jimmy também encontrariam? Enfim, chegando ao albergue, eles descobrem estar atrasados. Bruno argumenta com desculpas esfarrapadas sobre ônibus perdidos, mas a porta do albergue somente se abre quando Sonia declara estar carregando um bebê. O casal se despede na ala feminina (após Sonia ter que lembrar Bruno sobre o beijo de boa noite em Jimmy) e Bruno, após se recolher, recebe uma ligação: é hora de vender os últimos itens que sobraram do assalto. Saindo no meio da noite, Bruno encontra-se com uma mulher em um bar e negocia com ela o preço de uma filmadora. Após feitas as negociações, a mulher pergunta sobre Jimmy... e sobre a possibilidade de Bruno vendê-lo. Como qualquer pessoa de bem que se preze, Bruno diz não. Jimmy faz parte do universo de Bruno. Ao menos, é isso o que parece.

No dia seguinte, a nova família vai passear! Bruno aluga um carro e compra um carrinho de bebê para Jimmy. Os três passeam, se divertem (com mais algumas brincadeiras inconseqüentes) e Bruno mostra-se novamente desconfortável com a idéia de terem de registrar Jimmy. Após o breve passeio, eles voltam ao apartamento. Após a visita da assistente social, Sonia discute com Bruno uma oferta de emprego. “Mil euros por mês!”, diz ela. “Não quero trabalhar para babacas”, diz ele. Para fugir da conversa incômoda, Bruno compra uma jaqueta igual a sua para Sonia e então vão ao cartório. Jimmy está registrado. Na seqüência, vão ao banco. A fila está muito grande. Bruno sai passear com Jimmy, para matar um tempo. E então percebe que o bebê, as despesas, a necessidade de um emprego e, principalmente, as cobranças de Sonia não fazem parte de seu universo. Em uma atitude rápida, Bruno liga para a mulher e diz que quer conversar com as pessoas que compram os bebês. Sonia ainda cabe em seu universo... Jimmy não...

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PARTE III - Une Femme Blessée

Tentando ser o mais ágil possível, Bruno acerta os detalhes para a venda. Vai até um prédio, entra em um apartamento e deixa Jimmy deitado sobre sua jaqueta, em um canto do apartamento vazio. Vai até um outro cômodo e se fecha lá: faz parte do acordo que ele não veja os rostos das pessoas envolvidas na compra. Após alguns momentos, ele ouve sons e, quando estes cessam, Bruno volta à sala e encontra um envelope contendo aquilo que ele tanto almeja. Bruno é inconseqüente. Ele sai do prédio empurrando o carrinho de bebê vazio e sequer sabe o que dizer a Sonia ainda. Ao encontrar-se com ela, o rapaz joga a verdade para sua namorada: “eu vendi ele”. Ainda incrédula, Sonia continua a interrogar Bruno e este, vendo que não fora boa idéia dizer a verdade, inventa que roubaram-lhe Jimmy durante o passeio no parque. Não funcionou. Um grande erro pede uma grande desculpa esfarrapada: “vamos fazer outro”, diz Bruno. Sonia desmaia. Sem conseguir reanimá-la, Bruno a levanta e tenta carregá-la até um hospital. Aqui reside uma metáfora sutil e bem empregada pelos Dardenne: Bruno, em vários momentos, precisa parar e “ajeitar” Sonia em seu colo. Sonia é o peso de seu erro. E Bruno, em sua imensa imaturidade, jamais parou para pensar se era capaz de aguentar o peso daquele erro.

Uma vez no hospital, o medo toma conta de Bruno: Sonia poderia delatá-lo após acordar! Desesperado com essa (óbvia) possibilidade, Bruno liga novamente para a mulher que o convencera a vender Jimmy e diz que quer desfazer o negócio. Jamais passara por sua mente que, talvez, Sonia preferisse a criança ao dinheiro. Jamais passara por sua mente que Sonia poderia vir a fazer as vezes da fêmea ultrajada por terem lhe roubado a cria. Perder alguns milhares de euros ainda era melhor do que ir para a cadeia. Bruno agiliza-se novamente: desta vez para desfazer seu erro.

 

PARTE IV – Entrando numa Fria Maior Ainda

Desta vez, o local combinado é uma garagem abandonada. Bruno entra em uma das garagens, a fecha e aguarda instruções. Após alguns instantes, uma voz vinda da garagem ao lado ordena que o rapaz devolva o dinheiro. Bruno alcança o dinheiro para o homem, que conta nota por nota. Após a confirmação do valor, tal homem diz que Bruno pode sair da garagem após ouvir o barulho do carro saindo. Bruno obedece, mas ainda guarda em si o temor de ter sido enganado: e se não tivessem deixado Jimmy? Felizmente, não era o caso. Bruno vai até a garagem ao lado e encontra a criança. Entretanto, mal sabia ele que problemas maiores estavam por vir: caminhando para longe daquelas garagens, é abordado por um homem que informa que Bruno está em dívida com eles. “Eu devolvi o dinheiro”, alega Bruno. “Nós perdemos em dobro”, anuncia o homem. A falta de visão de Bruno ao vender Jimmy o leva até essa complicação maior, mas isso é apenas o começo. Mesmo devolvendo Jimmy, Bruno ainda tem que prestar contas à polícia sobre onde estava a criança e Bruno, vendo-se sem saída, corre justamente para aquele recurso que uma pessoa como ele detestaria usar: “O bebê estava com minha mãe”. Na seqüência, Bruno não é só abandonado por Sonia, que não o quer mais por perto (“Já pedi desculpas! Achei que poderíamos ter feito outro...”), como também nos revela que, talvez, ele não seja do jeito que é apenas por sua própria culpa. Ao nos apresentar à sua mãe, ele nos mostra o possível motivo para que viva, praticamente, na rua: aparentemente, Bruno e o “namorado novo da mamãe” se desentenderam e ele foi posto para fora de casa. Aparentemente, também, pelo tom com que Bruno fala com sua mãe, sua vida não deve ter sido fácil. E é aí que reside um dos pontos mais interessantes da obra dos Dardenne: eles, definitivamente, não querem nem saber das dificuldades pelas quais seu protagonista passou. Não existe “ah, ele vendeu a criança porque teve uma vida difícil”, mas sim “ele vendeu a criança e agora VAI TER uma vida difícil”.  A “diversão” está apenas começando. Na sucessão dos fatos, vemos Bruno sendo espancado e “roubado” pelos criminosos para os quais ele deve, implorando perdão, mendigando centavos para poder comer e sendo rejeitado por Sonia mais uma vez. Bruno está enrascado e precisa achar uma saída.

 

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PARTE V – A Arte de Catalisar um Erro

Envolvido em um grande problema, Bruno precisa de uma solução rápida para levantar o dinheiro que os criminosos querem. Para tal fim, ele vai atrás de um de seus “companheiros trombadinhas”, Steve. Munidos de uma scooter e de muita inconseqüência, os dois roubam a bolsa de uma mulher e saem em disparada, porém, são perseguidos de perto por um carro. Seria, de fato, uma ótima perseguição “cinematográfica” se os Dardenne não fizessem questão de nos mostrar o quão ridícula a situação é. Após algumas manobras arriscadas, Bruno e Steve enfim conseguem despistar o carro, mas, ao tentarem passar por trás de um conteiner a scooter enrosca em arames e não consegue passar. Deixando o veículo para trás, nossos intrépidos delinqüentes se escondem atrás de uma pilha de vigas de metal e aproveitam para esconder o dinheiro que roubaram embaixo dela. Quando planejavam, enfim, sair do esconderijo, eles percebem que a barra não está limpa: o motorista daquele carro estava os alcançando. Bruno, então, decide que a melhor forma de fugir é entrando no rio. Os dois andam por uma estreita e danificada passarela e entram no rio, escondendo-se debaixo da mesma passarela. Seria, de fato, uma ótima saída se eles não estivessem na França, onde o inverno é rigoroso, o que faz com que a água fique bastante gelada. Após alguns momentos imerso, Steve começa a sofrer os efeitos da hipotermia e quase se afoga. Bruno o tira da água e o leva para uma pequena construção abandonada, onde tenta reativar a circulação do garoto. Lembrando-se do dinheiro, Bruno pede para que Steve aguarde alguns instantes, para que ele busque o dinheiro embaixo das vigas. Contudo, esse breve instante em que Steve fica sozinho acaba resultando na sua captura. Sozinho, Bruno desenrosca a scooter e a empurra por algumas ruas, até chegar a um hospital. Lá, ele pergunta por Steve e, ao encontrá-lo junto com uma assistente social, devolve o dinheiro do roubo e se entrega, assumindo a autoria do roubo. Bruno, enfim, chegara ao fundo do poço: sua última carta na manga falhara e ele já não via mais chances de conseguir saldar sua dívida com os bandidos que o atormentavam. Um erro levara a outro e, nessa última tentativa, ele não só se prejudicara como quase levara Steve junto com ele.

PARTE VI – O Golpe de Misericórdia

Bruno, enfim, está preso. E a última cena dessa obra-prima dos Irmãos Dardenne é justamente durante uma visita de Sonia a Bruno. Eles trocam algumas palavras e, então, Bruno começa a chorar. Ambos se abraçam, se tocam. É essa cena silenciosa e aparentemente terna, que se concentra o ápice do filme: Bruno, enfim, admite-se como o personagem-título. Não é de Jimmy, o pobre bebê vendido pelo pai, a “criança” do título, mas sim Bruno, uma pessoa de aproximadamente 20 anos que não consegue ter atitudes condizentes com sua própria idade. Em diversos momentos do filme testemunhamos a infantilidade de Bruno, percebemos o quão imaturo ele é (ressalto, principalmente, a cena em que Bruno está aguardando a ligação das pessoas que comprarão Jimmy e, enquanto espera, brinca de pisar em poças de lama e chutar uma parede, vendo o quão alto consegue alcançar). Porém, faltava Bruno admitir sua imaturidade. Tudo o que ele fez descende da sua falta de seriedade com a vida e com o que o cerca. Provavelmente, existem alguns fatores sociais que deveriam ser analisados e que poderiam atenuar a culpa de Bruno. Mas, nenhum fator social ou de criação justificaria a falta de maturidade de Bruno, uma vez que a partir de uma determinada idade, o responsável pelo seu crescimento é ele mesmo! Em nome de uma falsa “vida divertida”, Bruno negligenciou seu amadurecimento e acabou envolvendo e influenciando muitas pessoas com suas atitudes egocentricas e infantis. Sonia e Steve podem até ser duas dessas pessoas, mas o filme não descarta a culpa que esses dois personagens também possuem. Sonia também reconhece sua própria culpa ao chorar com Bruno. A única verdadeira vítima de espectros sociais negativos é o pequeno Jimmy: fruto da inconseqüência de dois jovens, Jimmy poderia acabar trilhando exatamente o mesmo caminho que seu pai. Porém, graças a Sonia (a única personagem passível de receber atenuação por seus atos, uma vez que “acordou para a vida” após o nascimento de Jimmy), que conseguiu abrir seus olhos a tempo, ele possui uma chance. Enfim, este é o golpe de misericórdia em Bruno: ele desperta para seus erros e percebe que ninguém irá “passar a mão em sua cabeça”. O sofrimento está apenas começando. A culpa está apenas começando. E é nesse momento final, também, que desvendamos o mistério do porquê o filme não possuir música. Não se trata de Bruno ter uma vida triste e, portanto, sem música. Muito pelo contrário! O filme não tem música porque Bruno não a merece.

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Preste atenção: Nas belas e seguras atuações e em todo o clima “frio” ao redor de Bruno: o meio em que ele vive reflete a indiferença e a frieza de seu ser.

O que já se disse: Um filme de gênero que rejeita artifícios e funciona tão bem como. Um filme ficcional de modelo documental. Um filme de corpos livres que se tornam regidos por emoções alienígenas. Um filme premiado com a Palma de Ouro que o grande público pode finalmente entender por que foi premiado.” (Bernardo Krivochein)

Porque não perder: Porque é a prova cabal de que não são necessários grandes diálogos para expressar grandes emoções.

O Garami é um daqueles usuários que não se expressam com muita freqüência, mas quando o fazem, é bom prestar atenção. Esse texto maravilhoso para o filme dos Irmãos Dardenne é prova disso. De maneira muito competente, o Garami descreve o filme e o interpreta, indicando os vários elementos que utilizou para chegar a tais conclusões. Um trabalho de primeira linha.

O filme não fica atrás. A Criança é brutal em seu silêncio, cruel e, ao mesmo tempo, piedoso com a falibilidade humana. Um dos melhores filmes desta década, resenhado por um dos usuários mais talentosos desse fórum. Imperdível.
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Deixe-me perguntar...

 

Só é possível a realização de textos de filmes disponíveis em locadoras? Ou posso dissertar sobre um que ainda está nos cinemas?

 

Filmes em cartaz nem sempre estão em cartaz em todos os lugares, por isso optamos pela resenha de filmes que já tenham sido lançados em dvd...

 

 
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O Alexei perguntou se eu desejaria abrir a nova temporada do CineClube em agosto. Acho que até lá, o filme vai estar disponível nas principais locadoras. Tomara. 03
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Acabei de assistir Sonata de Outono... e, obviamente, ler a a maravilha que o Thico escreveu. Parabén mesmo, cara, resenha digna de todos os elogios que recebeu. Ficou ótima, ótima, ótima.

 

Assisti de madrugada, e fiquei completamente devastado e arrasado quando o filme chegou ao fim. É verdadeiramente cruel (ou seria cruelmente verdadeiro?), e tudo nele funciona... TUDO. Sei que muitos diretores tentaram - e ainda tentam -, e mesmo grandes nomes não conseguiram a façanha de realizar filmes perfeitos, que é o caso dessa maravilha aqui. Para começar, o Bergman não consegue deixar de ser meno genial que o de costume, conseguindo tirar maravilhas tanto de coisas simples quanto das situações-limite que o filme impõe. No primeiro caso, até me lembra do comentário que fiz ontem sobre a primeira missa que se passa em Luz de Inverno, e quem viu sabe que sim, é coisa de gênio mesmo, impensável saber que existiu um cara que conseguiu mostrar coisas dessa magnitude com pequenas coisas. Já no segundo caso, são essencialmente compostas das seqüências mais arrasadores do filme, de tirar o fôlego, se contorcer na poltrona, engolir seco e arregalar os olhos. Tá doido.

E tenho que concordar com o Thico, a cena delas tocando piano já entra pra listas da coisas mais maravilhosas já feitas - é de uma intensidade imensa, e muito mais do que inicialmente possa parecer. É perfeita em todos os sentidos, pois além de obviamente bem interpretada, ganha dimensões absurdas, já que além de mostrar muito com aparentemente pouco, o que Charlotte diz é completamente aplicável à relação das duas. De cair o queixo.

 

E gostei bastante de toda a complexidade do que aparece, como o lance de Erik, filho de Eva, que mesmo morto ela faz questão de dizer que ele está presente, como se fosse um instinto dela de sempre estar ao lado dele e dando atenção, ao contrário do que recebeu da mãe. E também dessa idéia levantada pelo Thico da condição de Helena ser uma bela metáfora da relação familiar presente no filme. Não tem como ser diferente, e a personagem, assim como Agnes de Gritos e Sussurros e Esther de O Silêncio, sofrem ataques de dor mais do que angustiantes, devastadores.

 

E ainda dá pra se deliciar com diversas com coisas, como a melhor dupla em cena da história do universo (Ullman e Bergman), com aquela que talvez seja a minha atuação feminina preferida (Ullman), com a fotografia impecável do Deus Nykvist (talvez não exista coisa mais redundante no cinema que isso) e uma montagem descaralhal, que vai mais densa em alguns momentos como quando mãe e filha estão separadas e leva o filme no ritmo perfeito quando juntas - além de inserir adequadamente todo e qualquer flashback. 

 

Sério, me empolguei tanto que estou aqui dando pulinhos enquanto escrevo. Dá pra sair gritando por aí: "obra-prima. Perfeito. Obra-prima. Perfeito. Obra-prima. Perfeito".

 

E uma pergunta: existiu algum autor cinematográfico que tenha uma obra mais coerente que a do Bergman?
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Imagine se ele vai perder o ânimo para falar de Maria Antonieta ,rsrsrs.

Capriche , hein ?! O filme merece um bom texto .  

 

Ah , em tempo : ainda não pude ver o filme A Criança , mas tenho que elogiar o bom texto do Garami . O nível do Cineclube está muito alto : isso me faz ter muita vergonha do meu texto e do filme escolhido ,hehehe .

 

   
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