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2007: Uma Quinzena Com Kubrick


ltrhpsm
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Sexta-Feira' date=' no Festival do Kubrick:

invernoct5.jpg + kubrickfmjev0.jpg + southvietnampop1972cq6.jpg + hitchcockpf1.jpg

 

silva, o fã-mor de Hitchcok do nosso Fórum, falará sobre Doutor Fantástico, primeiro filme de Stanley Kubrick indicado ao Oscar.
[/quote']

 

 

Curioso isso. Na mesma semana terei duas resenhas minhas sendo publicadas aqui...01

 

Aliás, Sopa (pode me responder por MP se quiser, é apenas curiosidade minha): O que achou da minha resenha??? è que eu acho que fui um pouco descritivo demais nela...Talvez por isso ela nao tenha ficado tão boa quanto eu imaginava...04
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Ninguem vai comentar a minha? 05

 

Acredita se eu disser que esqueci de ler?06 

 

Está muito boa. Aliás, duvido que alguma crítica medíocre chegue a ser postada por aqui. E se acontecer, tenha certeza de que será dito, ou não estaríamos sendo justos. 

 

Você catou bem o epicentro da coisa. Particularmente, acho Full Metal Jacket um filme abaixo do que poderia ter sido. Assim como O Iluminado. É claro que isso tem a ver com a inacreditável primeira parte, que leva as expectativas do espectador aos céus e o deixa mal acostumado. Senti falta de algo que colocasse em prática tudo a que os soldados foram submetidos sob a dura tutela do sargento Hartman. É como se uma terceira parte estivesse faltando. Sempre tive esta sensação de que ele na verdade precisaria de umas 3 horas. No entanto, lembro de comentá-lo depois que passou num Fim de Noite do SBT, dizendo mais ou menos isso, e alguém, não lembro quem, respondeu que aquela segunda parte apenas evidenciava o tom irônico com o qual Kubrick retratava a guerra do Vietnã. Infelizmente não revi o filme, mas seria ótimo se trouxéssemos este ponto à tona.01
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Pois é. Particularmente, acho a segunda parte tão boa quanto a primeira, quiça até ainda melhor. Até a quinta revisão do filme, mais ou menos, também procurava forças para entender porque a ironia e o sarcasmo abruptamente empregados na primeira metade da obra, que, concordo, chama muito mais atenção do que seu segmento subseqüente, foram deixados de lado na segunda. Porém, quando cheguei na nona, décima, "sei-lá-qual" revisão do filme, após praticamente decorar frame por frame, plano por plano, diálogo por diálogo (como fiz com a maior parte dos filmes de Kubrick, que é meu diretor preferido), a primeira parte perdeu um pouco do impacto comigo, e, surpreendentemente, a segunda permaneceu com seu nível de qualidade e de entretenimento na mesma média que anteriormente. A dramaticidade empregada por Kubrick é densa, muito bem balanceada, e a técnica do diretor impressina sempre. Sem contar que, ironias por ironias, o segundo segmento acaba por dar um real show no primeiro, em razão da incrível ousadia moral e ética no tocante à análise psicologica dos soldados. Este não é um dos melhores filmes do diretor, mas é uma obra extremamente notável.

Dan...2007-03-22 20:13:03
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Opa, cheguei um pouco atrasado e vejo quatro críticas publicadas... só li três (damn Foras que escreve demais; damn Sopa que põe letras pequenas... 06 quando eu tiver tempo eu leio. Gosto muito de O Iluminado, sendo que geralmente esse é o filme que pegam geralmente de Judas nos filmes do Kubrick).

Enfim, vou falar um pouco sobre cada uma:

A Morte Passou Perto --> O Dan escreveu muito bem, para um dos únicos (esse + Spartacus) filmes do Kubrick que eu não vi. Texto bem, bem apurado, como boa parte do que ele escreve. Erechim deve ter um dom, sei lá... 06

2001 --> também é chover no molhado falar bem. O Alexei conseguiu o mais difícil, conseguir falar bem de 2001 sem soar repetitivo, redundante ou prolixo. Consegue cadenciar bem no texto uma interpretação breve bem colocada, sem diminuir o estímulo de (re)ver o filme que a crítica causou; e imagino que tenha sido essa a intenção, estimular, provocar. Sendo que o efeito que 2001 causa em mim não deixa de ser similar.

 

Nascido Para Matar --> também é boa a crítica do Raposa. Sem frufrus, é direta ao ponto e não se enrola em expor a impressão do filme. Eu gosto muito desse filme do Kubrick, mas não é dos que mais me agrada. Pelo motivo da maioria, a segunda parte é um pouco mais fraca que a primeira, que é antológica. Além do nunca por demais elogiado Sgt. Hartman, tem aquela cena no banheiro, uma das mais kubrickianas que existe - mesmo que a relação disso com o termo seja bem fácil de estabelecer.
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Doutor Fantástico, por silva:

Doctor Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964). Com: Peter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden, Keenan Wynn, Slim Pickens, Pether Bull, Tracy Red e James Earl Jones. Roteiro de: Stanley Kubrick, Terry Southern & Peter George (livro original).

 

hitchcockbo1.jpg

 

O ano: 1945. O acontecimento: O Fim da Segunda Grande Guerra. Após seis anos de guerra, bombardeios em várias localidades (Pearl Harbor e Hiroshima – Nagasaki a frente), milhões de soldados e civis mortos, a “paz” reina novamente no mundo. O grande eixo – Alemanha e Japão á frente – é derrotado e, a partir daí, Estados Unidos e União Soviética se consolidam como principais forças mundiais – a primeira como representante do “sistema” capitalista, enquanto que a segunda representa o eixo socialista. Durante várias décadas, esses países, através de investimentos tecnológicos e de fins militares, tentam demonstrar a superioridade do seu sistema (e, por conseqüência, do seu país) em relação ao outro. A essa corrida pela liderança mundial e, de acordo com as duas superpotências, “manter a paz” se denominou “Guerra Fria”.


O temor de uma guerra nuclear apocalíptica consolidou-se no fim dos anos 50 com a bomba de hidrogênio e a demonstração de sua força em testes a céu aberto. Perto da bomba H, os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki foram terríveis em si, mas leves como prenúncios. Preocupado e interessado, Stanley Kubrick lê nessa época dezenas de livros sobre o tema e chega a conversar com estrategistas militares ingleses durante as filmagens de Lolita. Como resultado dessas pesquisas, Kubrick compra os direitos do romance Red Alert, de Peter George e, junto com o próprio Peter George e Terry Southern, começa a trabalhar em um roteiro. O resultado: um dos filmes mais contundentes feitos sobre o assunto, no qual Stanley Kubrick nos presenteia com uma pérola de humor negro que critica acidamente as guerras e a mediocridade dos homens por trás destas.

 

24356ht1.jpg

 

O filme começa com um general enlouquecido, Jack D. Ripper (Sterling Hayden), ordenando um ataque nuclear não autorizado à União Soviética. Ele tem certeza de que os comunistas estão envenenando a água potável do mundo inteiro, um boato muito comum nos EUA, durante os anos 1950. O seu imediato, Capitão Mandrake (Peter Sellers), tenta, em vão, impedir o fato. Enquanto isso, o General Turgidnson, um dos integrantes do Conselho de Guerra, é avisado do acontecido enquanto estava com a sua secretária, sendo convocado para a Sala de Guerra, onde o Presidente Muffly (Peter Sellers) o aguarda para maiores esclarecimentos, juntamente com outros integrantes do Conselho, entre eles o ex – cientista nazista Dr. Strangelove (Peter Sellers). A partir de então a história é alternada sempre em três cenários: a sala de guerra; a base militar onde o general Ripper está sitiado e o avião bombardeiro que carrega a temida bomba atômica, pilotado pelo texano Major T.J. “King” Kong (o veterano de westerns Slim Pickens). O que eles não sabem é que, caso eles bombardeiem a União Soviética, será acionada automaticamente um dispositivo de retaliação automático denominado de “A Máquina do Juízo Final” que cobrirá toda a Terra com uma nuvem radioativa durante 93 anos.


Ao ler essa sinopse, o leitor desavisado pode pensar que ocorreu um erro crasso de digitação, já que Sellers aparece interpretando três personagens diferentes. Mas não foi um erro: Kubrick, sabendo do potencial cômico do filme e, principalmente, desses personagens, fez questão de ter Peter Sellers interpretando – os, inclusive fazendo o filme nos estúdios Shepperton, em Londres, especificamente para que ele desse andamento ao seu processo de divórcio.

 

kubrickfmjvu4.jpg


A caracterização de Peter Sellers desses três personagens tão distintos é impressionante. Sellers é tão genial em suas atuações que quase não percebemos que esses três personagens são interpretados pela mesma pessoa. Por exemplo, quando está representando o presidente dos EUA, sua voz é calma, controlada, porém ele sempre se apresenta tenso. Como oficial da RAF ele muda a voz e tem sotaque inglês. É desastrado, porém disciplinado, como todo inglês. Entretanto é como Dr. Fantástico que Sellers se supera, falando com sotaque alemão e preso a uma cadeira de rodas, com uma de suas mãos fazendo a referência nazista a todo o tempo, fugindo do seu controle. Sua tripla atuação, representando papéis antagônicos, significou para a indústria cinematográfica uma inovação, afinal de contas, temos momentos em que dois de seus personagens dialogam entre si, configurando desta maneira uma novidade no cinema até então. Mérito para Kubrick e Sellers. Na realidade Peter faria inicialmente quatro papéis, interpretando também o piloto do avião bombardeiro Major T.J. “King” Kong.


Outro que devemos destacar pela sua atuação é o subestimado George C. Scott como o General Turgidson, que nutre verdadeiro ódio pelos comunistas. Em sua atuação, Scott oscila com precisão cirúrgica entre o nervosismo controlado (como quando informa a Muffley o que está acontecendo, no início da crise) e a raiva histérica (que começa quando o embaixador soviético é convidado a entrar na Sala de Guerra).

 

southvietnampop1972ls5.jpg


Outro fato digno de nota desse filme é a ironia que o permeia durante todo o tempo. A começar pelos nomes dos personagens: há um sarcasmo sutil por trás deles. O nome Jack B. Ripper remete a Jack, o Estrupador (Jack, The Ripper); o General Turgidnson recebe esse nome em virtude de sua libido; O representante soviético que adentra a sala de guerra, o Embaixador de Sadesky, é uma referência a Sade. A ironia também se faz presente nos diálogos, resultando em inúmeros momentos cômicos inspiradíssimos como, por exemplo, na cena em que o Presidente interrompe uma briga entre Turgidson e o embaixador de Sadesky, dizendo: 'Vocês não podem brigar aqui! Isto é a Sala de Guerra!'. Outros dois exemplos dignos de atenção envolvem as conversas entre o presidente dos EUA e o Premier Russo; além das cenas logo no início do filme envolvendo o General Ripper e o Capitão Mandrake, onde, no fundo da cena, podemos ver painéis com os dizeres “Peace is Our Profession” (Paz é a Nossa Profissão). Bastante irônico em se tratando de uma indústria que produz a Guerra. Sem falar da cena mais famosa do filme, que envolve a bomba atômica e o Major Kong, montado nela: nesta cena, temos a síntese dos soldados que seguem à risca as ordens que lhe são destinadas, sem que se façam concessões ou indagações.


Essa ironia está presente não só para criticar a guerra, mas também para criticar/ilustrar a libido masculina. Por exemplo, quando o General Turgidson é convocado as pressas para compor a mesa da Sala de Guerra, quem atende o telefonema é a sua secretária, com quem ele tem um caso, que por sua vez aparece apenas de calcinha e sutiã deitada na cama. Em paralelo, no avião bombardeiro, um local apertado e claustrofobórico um soldado folheia uma Playboy, em que a modelo da capa é justamente a secretária do general. Outra cena que ilustra isso é quando Dr. Fantástico propõe como uma das saídas para repovoar o planeta após a explosão da Máquina do Juízo Final a construção de um imenso bunker nas cavernas, onde a proporção de mulheres para homens seria de 10 para 1. Ao ouvir essa proposta, o General Turgidson, que antes olhava de forma desconfiada para o Cientista, rapidamente lança um olhar de extrema aprovação. Em outras cenas, ela é mais sutil, quando o General Ripper diz que 'nega sua essência às mulheres'.

 

invernong7.jpg


Temos ainda uma direção extremamente eficiente de Kubrick, que mostra ter o timing correto para as cenas envolvendo comédia (como nas conversas entre o presidente e o premier, onde ele intercala as reações do presidente e do General Turgidson), além de registrar com eficiência a imensidão da sala de Guerra, em contraste com o ambiente caustrofóbico do avião que carrega a bomba. Além disso, a sua direção demonstra também um didatismo bastante adequado quando são mostrado os procedimentos de controle e de lançamento da bomba, em que, uma vez dada a ordem pelo Major Kong, a câmera rapidamente foca o painel de controle, evidenciando o painel referente ao comando executado. Isso permite uma maior imersão do telespectador à cena, dando-o a oportunidade de se sentir dentro do avião.


O mais incrível disso tudo é que todas essas cenas funcionam tanto como crítica ferrenha às Guerras e, ainda por cima, são extremamente engraçadas dentro do seu contexto, resultando num filme cômico e, ao mesmo tempo, verdadeiramente complexo. Prova da genialidade do seu realizador, que mostra, mais uma vez, estar a frente do seu tempo, realizando um filme que mais de quarenta anos após o seu lançamento, ainda se mostra, em tempos de George Bush e sua “Guerra de Terror”, extremamente atual. A União Soviética não existe mais (assim como o Comunismo), mas a Guerra pela “Garantia da Paz” ainda continua, mostrando que, por mais que se façam alertas (e Kubrick fez o seu), a humanidade demonstra mais uma vez a característica de não aprender com os próprios erros.

 

hitchcocknr6.jpg

 

Divirtam-se com o novo prato do dia: Doutor Fantástico, a obra de humor mais ácido da carreira kubrickiana, valeu a ele indicações ao Oscar de melhor filme, diretor e roteiro adaptado; além de ser o filme de Kubrick com melhor média no IMDb. O silva contou-nos de maneira didática esta divertida sátira, que constitui o patrimônio de obras-primos de Stanley, sem exceder-se nas descrições e seguindo fiel a um estilo histórico bordado com curiosidades.
ltrhpsm2007-03-23 02:06:08
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Ótima crítica, silva! Muito bem escrita. 10

Adorei o filme, mas só vi uma única vez... preciso rever urgentemente! Sellers está realmente fantástico..... de cara eu nem reconheci ele como presidente dos EUA... e como Dr Strangelove então ele se supera... engraçadíssimo.
Kubrick foi realmente genial fazendo um filme de humor negro sobre um assunto tão delicado. Quem ainda não assistiu deve ver o mais rápido possível!
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Sobre Nascido Para Matar.... a primeira vez que eu vi achei a primeira parte muito melhor que a segunda. Na revisada a segunda subiu no meu conceito. Na terceira vez, eu comecei a achar que sem ela o filme iria ficar incompleto.. sei la... os caras se prepararam pra que?

Interessate o que o Forasteiro disse... não tinha pensado nisso... mas sei lá... estou satisfeito com o final.... se tivesse mais combates ia parecer que o filme tava focado somente na ação...

Nascido Para Matar também não está entre meus favoritos do diretor, mas é excelente... muito superior a outros filmes de guerra que tem por ai...
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Sábado, no Festival do Kubrick:

 

hitchcocksn4.jpg + 24356rx0.jpg + invernowu6.jpg + fightclub1os9.jpg

 

Ludwig Van Beethoven era um Deus na música. Stanley Kubrick era um Deus no cinema. Certa vez, a seleção hoalndesa também alcançou poderes divinos, em meados da década de 70 chegando a duas finais de Copa do Mundo. O que envolve tudo isso? A Laranja Mecânica. Veremos o que ao ltrhpsm - ou Sopa de Letras - ocorreu num encontro crucial com a inesquecível obra-prima.
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"critica acidamente as guerras e a mediocridade dos homens por trás destas".

 

É isso.10

 

Interessante ler sobre algumas ironias e sutilezas do roteiro,e até da escolha dos nomes...Crítica muito instrutiva.Parabéns ao Silva.

 

Petter Sellers realmente rouba a cena (não teria como não ser,afinal ele deve estar em pelo menos 70% delas 06).O Dr. Fantástico e aqueles seus trejeitos...Impagável...

 

(Ancioso pela análise a Laranja Mecânica).05

 

 
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Comentando o que não comentei:

 

A Morte Passou por Perto: acho bem mediano. No entanto, como o Dan disse, lá já se pode perceber alguns traços de um gênio ainda em formação.

 

Nascido para Matar: sim, acho a primeira parte melhor (Pyle 1606), mas creio que deveríamos lutar contra esse costume de se falar do filme como se fossem dois. Como o Fox disse, a primeira parte não faz sentido sem a segunda (se Nascido só retratasse o treinamento, ia sobrar um grande "Tá, e aí?" na cabeça do espectador ao final); e a segunda parte não funciona sem a primeira. Aliás, o contrato de R. Lee Ermey para representar o sargento Hartman deveria ser emoldurado e exposto num museu.

 

Dr. Fantástico: genial, uma das obras-primas do Kubrick para mim - há dias em que chego a considerá-lo melhor que Laranja Mecânica. E concordo com o silva: é um dos filmes mais ácidos e irônicos de todos os tempos. E ainda por cima é incrivelmente engraçado. Ah, e o contrato de Peter Sellers também deveria ser emoldurado. 

 

O do Nicholson e o do McDowell também, antes que eu me esqueça.
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Chegando atrasado, mas antes tarde do que nunca...

 

Sobre O Iluminado:

 

A maior interpretação de todos os tempos sequer foi lembrada pelo Oscar' date=' enquanto Kubrick era contemplado com uma indicação à Framboesa de Ouro, provocada, principalmente, pelos irados fãs de Stephen King. Deste modo, Kubrick ganhava de presente tanto a reprovação dos leitores quanto do próprio romancista, reconhecido já na época como um mestre do horror.[/quote']

 

Fãzóides... sempre eles... E erra quem acha que King passou a gostar do filme com o passar dos anos. Em entrevista recente à Folha de SP ele deixou claro que o odeia tanto quanto antes (senão mais). Os argumentos? Procurem em qualquer tópico sobre adaptação de HQs aqui e terão uma idéia da 'robusta' fundamentação do 'mestre do horror'...

 

Na época' date=' talvez apenas Nicholson e o próprio Kubrick tenham compreendido que, na verdade, ninguém ali estava adaptando um romance de Stephen King, mas inventando uma das obras mais tensas e perturbadoras (e agora a diferença) da história do cinema.
[/quote']

 

Muita gente não compreende ainda hoje (incluindo King)...

 

O segundo é simplesmente a pessoa mais simpática da terra' date=' fisga a confiança do administrador quase que instantaneamente. Houve inclusive quem dissesse que Nicholson fora a escolha errada para o papel, pois teria "cara de louco" desde o começo. [/quote']

 

Quem disse isso foi King e seus fãzóides abarcaram o 'raciocínio'...

 

 

Entretanto' date=' sou obrigado à ingrata tarefa de fazer algumas ressalvas num filme de ninguém menos que ELE. O grande "erro" que serve de base às sucessivas falhas em O Iluminado se deve à aparente pressa do diretor. Não creio que o melhor modo de promover a transformação de Jack Torrance, e do próprio clima ameno que surge com a chegada ao hotel, seja jogar logo de cara alguns traços de suspense para o espectador. Aqui, Kubrick nos mostra uma faceta do que nunca foi: um cineasta fácil, preocupado em nos dar respostas e caminhos convenientes para que aceitemos os próximos fatos mais facilmente e sem questionamentos. Quando Danny conversa com seu "dedo", Tony, fica claro que algo grave está para acontecer, e percebemos ali que o garoto sofre interferências paranormais ao prever o telefonema do pai.[/quote']

 

Aqui discordo um pouquinho... Desde sua primeira cena com a trilha sonora ao fundo já estabelece o tom: estamos diante de um filme de terror. O monólogo de Danny não traz essa impressão pq o filme desde que começa a suspirar na tela já estabelece isso. A cena com Danny apenas enfatiza algo que já estava ali. Entretanto, aí vem o suspense: a partir de que momento essas coisas vão acontecer?

 

Não sei se era necessário dizer' date=' mas provavelmente ninguém saberia usar os largos salões e corredores cumpridos do Overlook contra os personagens, tão bem quanto Kubrick. Basta lembrar do circuito traçado por Danny entre curvas fechadas, salas, um corredor e outro... Algo parecia prestes a saltar na frente do garoto, e o som, sim, o som é maravilhoso. O ruído das rodas de plástico em atrito com o piso e os carpetes do hotel teria passado como mera conseqüência daquela cena, um coadjuvante inútil, não fosse, claro, a mão precisa do diretor sobre a edição de áudio. O simples passeio de Danny torna-se tétrico e digno de olhos ardendo, vermelhos, atentos, distraídos ao fato de que já não piscam há algum tempo, apenas seguindo a steady cam que rasteja discreta atrás daquele frágil triciclo.[/quote']

 

Tá aí um exemplo FANTÁSTICO do que é terror sutil e apavorante. Sem sangue, sem trilha sonora no último volume... O clima obtido pela edição e direção faz vc se arrepiar até o último pelinho da nuca...

 

E ele não pisca. Daquele momento em diante' date=' fica impossível imaginar outro ator além do Nicholson no papel. Ele nasceu para Jack Torrance. Ou o contrário.[/quote']

 

Correto. É o tipo de coisa que King, em sua ignorância cinematográfica, jamais compreendeu e, pelo visto, jamais compreenderá.

 

Minha principal implicância com o filme é que' date=' quando penso nele concebido a partir deste ponto, enxergo uma obra-prima. Stephen King ficou alucinado com Stanley Kubrick por causa das inúmeras modificações (eu diria cortes) na sua obra literária. Eu não li o livro (fato que quase fez com que eu não escrevesse este texto), mas está bem claro pra mim que Kubrick pegou o pano de fundo de O Iluminado e simplesmente tomou outro rumo com o andamento do projeto. Segundo King, o cineasta transformou sua OP do horror num drama doméstico. Está errado, infelizmente errado. Caso Kubrick tivesse assumido esta faceta em totalidade, caso tivesse ignorado os traços sobrenaturais do livro, os poucos elementos que ainda restavam dele, O Iluminado teria sido o que ensaiou ser: um filme sobre a degradação psicológica promovida em um lugar onde as pequenas frustrações e desentendimentos entre o casal Torrance é amplificado, colocado sob uma lente de aumento, explodindo em mil pedaços, revelando as frágeis estruturas e conceitos de um homem sobre sua vida e suas prioridades distorcidas.[/quote']

 

Tá aí outra coisa do King que me irrita: desde quando ser um drama doméstico é um aspecto necessariamente depreciativo?

 

Curiosidade: foi nessa época que Kubrick soltou sua célebre frase: 'Adoro adaptar livros medíocres... Eles sempre dão bons filmes.'

 

Infelizmente' date=' como já dito, alguns vestígios da linha condutora na obra literária não foram apagados quando passados para a grande tela. Eu me submeto à escravidão eterna para quem descobrir qual a relevância de Danny à trama de Kubrick para que esta fosse batizada com um título em sua referência. O garoto vê fantasmas e prevê o futuro. Hm... pra quê?! Sobre o dedo, então, eu nem falo nada. [/quote']

 

Pq 'o iluminado'? Arrisco um palpite simplista: Danny vê aquelas coisas e as processa adequadamente, ele SABE o que elas significam, mas por ser criança, sua reação só pode ser o pavor diante daquilo tudo. Seu pai não. Seu pai vê e se permite influenciar por aquilo que vê, não sabendo processar e questionar o que está vendo. O Iluminado é aquela pessoa que processa aquilo que vê de forma inquisitiva, questionadora. É ter a correta noção das coisas, do que elas REALMENTE significam. Danny, em sua inocência, e à sua maneira, possui isso. Seus pais não.

 

Ainda assim' date=' ninguém torna-se tão inútil à trama do filme quanto o cozinheiro Halloram. Ele entra para explicar ao espectador os poderes de Danny (novamente, o atípico caminho fácil buscado por Kubrick), para criar todo um clima sobre o quarto 237 (onde temos uma cena de suspense eficiente, mas inútil) e para morrer (o que não ocorre no livro, onde ele é peça fundamental, responsável pelo final feliz de Wendy e Danny). Halloram é sujeira, uma gosma qualquer que restou da transposição da obra de King para as telas. Teria função caso Kubrick tivesse sido fiel ao livro, mas transformou-se em um estorvo ao rumo inverso e mais interessante que ele toma nas mãos do cineasta.
[/quote']

 

Ainda não parei para pensar na suposta inutilidade de Halloram... Talvez seja isso que me incomode no filme a ponto de achá-lo o filme menos genial do Kubrick que assisti.

 

Finalmente o momento que esperávamos' date=' Jack Torrance entra em curto, enlouquece, torna-se a grande ameaça no Overlook. E é aqui também que a maior interpretação da história da 7ª arte entra em choque com uma aberração, uma das coisas mais risíveis já vistas no cinema: Shelley Duvall. Seria compreensível, e até honroso, que a atriz que vive Wendy tivesse sumido perante Jack Nicholson. No entanto, ela se destaca, transformando por várias vezes a pretensa OP do horror num trash hilariante. E o exagero da atriz, brecha fácil para tentar fazer colar uma interpretação absolutamente fora de tom, não importa o que digam, foi involuntário. Algo atestado pela famosa história de Kubrick obrigando-a a repetir a cena da escada por mais de 120 vezes. E ele deveria tê-la atirado daquela escada. Confessem aí, pois sei que não fui o único: vocês queriam ter visto Jack fatiando a Wendy. Queriam suas almas lavadas no sangue dela. [/quote']

 

Aí vc escorrega caro Foras... Se fosse qualquer outro filme, dirigido por qualquer outro diretor, suas colocações teriam fundamento. Entretanto é Kubrick gerindo a bagaça e no que me concerne, a atuação trash da Shelley tem uma razão ÓBVIA: o expectador não tem um personagem em quem se agarrar. Uma criança não tem condições de se defender de um psicopata; o único que possui sobriedade ali morre antes da hora; a mulher é uma estabanada; quem resta? O psicopata?

 

Olhe para a atuação da Shelley como uma tentativa (bem sucedida) de Kubrick de nos isolar do envolvimento com quaisquer personagens da mesma forma com que ele isola seus personagens naquele ambiente inóspito. Antes estávamos curtindo a jornada com Jack... Quando ele enlouquece procuramos ávidamente alguém que o substitua para continuarmos acompanhando. Quem resta? Um menino que delira com suas alucinações, uma mulher aparvalhada e um cozinheiro que chega tarde demais. O expectador está sozinho, sem amparo e para mim, não há nada mais assustador do que isso.

 

Procure em qualquer outro filme de terror e vc verá que 95% deles vc tem um personagem que é a salvação do dia (o padre em O Exorcista; as mocinhas dos infinitos Sexta-Feira 13; Laurie nos Halloween; e por aí vai). O Iluminado não tem isso.

 

Ressalte-se que, pelo que sei, a Wendy do livro é uma espécie de Tenente Ripley do universo Kingniano, uma mulher forte que aguenta o tranco e ainda chuta bundas. Seria péssimo colocar isso num filme de terror dirigido por Kubrick.

 

Fica fácil perceber também o porquê de acabarmos (acredito) torcendo por Jack Torrance. Ele é sarcástico' date=' carismático, acaba se divertindo com a busca pela cabeça da esposa. "Little pigs, little pigs, let me in!". Muitos já devem saber, mas não custa citar aqui: a eterna frase "Here’s Johnny!" (uma referência a Johnny Cash) não constava no roteiro, foi improvisada no calor do momento por Nicholson. E que momento! [/quote']

 

Sorry, não torço por ninguém nesse filme. Não consigo... Essa é uma das razões que faz dele um filme tão bom.

 

 

Enfim, crítica fantástica, apesar dos pontos de discordância apontados aqui. Também considero essa uma obra menor do mestre, por em momento algum motivar o personagem principal a ir para aquele hotel. O que Torrance busca, afinal, ao aceitar aquele emprego? Cinco meses de paz total? Pq? O que ocorreu para que o fizesse largar tudo e se esconder naquele lugar? É uma peça solta que Kubrick deixa (sabe-se lá pq) e não vemos outras peças por perto para tentar encaixar... ficou um buraco, um vazio, algo que não ocorre em seus outros filmes.  
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Sábado' date=' no Festival do Kubrick:

 

hitchcocksn4.jpg + 24356rx0.jpg + invernowu6.jpg + fightclub1os9.jpg

 

Ludwig Van Beethoven era um Deus na música. Stanley Kubrick era um Deus no cinema. Certa vez, a seleção hoalndesa também alcançou poderes divinos, em meados da década de 70 chegando a duas finais de Copa do Mundo. O que envolve tudo isso? A Laranja Mecânica. Veremos o que ao ltrhpsm - ou Sopa de Letras - ocorreu num encontro crucial com a inesquecível obra-prima.
[/quote']

 

 Agora sim! 16

 

 Coincidência ou não, na colher também pode se formar a palavra "Troy". Prova de que a crítica do meu filme predileto está pra chegar 16

 

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Ótimo! Acabei de ler as críticas de O Iluminado por Forasta e Dr. Fantástico por silva.

 

Dr. Fantástico, pra mim, é o 2º melhor filme do cara, só perdendo pro Laranja Mecânica (insuperável). Parabéns, pela crítica silva. Está no nível do filme. Eu também adoro os diálogos entre os presidente dos EUA e URSS pelo telefone (na verdade, são monólogos, já que não se ouve o presidente russo). E o filme continua atual. Acho que se tratando de guerra pouca coisa muda mesmo. Talvez minha maior crítica ao filme seja justamente o personagem Dr. Fantástico. Achei ele muito caricato. O filme passa a sensação de mesmo sendo muito comico, seria um história que poderia acontecer. Aqueles personagens poderiam existir, e isso é quebrado no personagem do Dr. Fantástico. O filme se assume como uma sátira mesmo. Não estraga, mas acho que o personagem poderia ter se contindo um pouco mais.

 

O Iluminado é aqueles filmes que não se dá pra ter certeza de nada em relação a história. Eu mesmo sempre interpretei que os "fantasmas" era alucinação do Jack, mas em certos momentos se dá pra ter certeza que eles existem. O que não chega a estragar. Mas Kubrick estava fazendo um filme de horror, e a maioria das histórias de horror tem esse elemento que não se dá pra ter certeza do que ter medo (um exemplo seria ao passar na frente de uma casa abandonada à noite, você fica com medo, não sabe do que exatamente, mas fica com medo). E o filme trata bem disso. Parabéns pela crítica também, Forasta! Ótima também.
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Laranja Mecânica, por ltrhpsm:

A Clockwork Orange (1971). Com: Malcom MacDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, John Clive, Adrienne Corri, Carl Duering, Paul Farrel, James Marcus, Aubrey Morris, Sheira Raynor, Anthony Sharp e Philip Stone. Roteiro de: Stanley Kubrick.

 

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Éramos eu, ou seja, o vosso fiel comentarista, e sua alienação ignorante, ou seja, um bloqueio à construção de uma opinião perante as farsas humanas e mundanas. Era novembro de 2005 e eu me encontrava com Laranja Mecânica nas mãos, pela simples e risível razão de entender o porquê de a seleção holandesa, recém-classificada para a Copa do Mundo de Futebol, ser chamada de “a nova Laranja Mecânica”. O que viria a seguir: duas horas da mais eletrizante, perfeita e completa obra-prima da história cinematográfica; transformando outrora visões hipócritas de uma sociedade aberrante nos erros em uma transcendência de cenas inesquecíveis e pensamentos duradouros por toda a sua vida. Provavelmente, Deus – em seu recanto no céu – procurava alguma forma de mostrar à humanidade seus pecados mortais e os julgamentos inescrupulosos que ela faz. Assim, ele apontou para a Terra e deu um dom divino a Stanley Kubrick. Passados alguns anos da carreira de Kubrick, Ele fez com que o diretor encontrasse o livro de Anthony Burgess, capaz de lhe gerar uma vontade incrível em adaptá-lo para as telas Para tanto, precisaria de uma atuação perfeita e, para isso, o Criador colocou em Malcom MacDowell uma aura tão sublime e que se fez presente em todo o processo de filmagens. Tudo nos trinques, faltava um detalhe: para “ajudar” a roteirização de Kubrick, eis que a edição do livro, figurada nos Estados Unidos do começo da década de 70, tinha o seu final cortado. A partir disso, ficou tudo nas mãos de Stanley e seu time, nada menos que a perfeição.

 

O livro de Burgess caracteriza o termo “Laranja Mecânica” como vindo de uma expressão inglesa: as queer as a clockwork orange (tão esquisito quanto uma laranja mecânica). Partindo do título e suas dissecações, a genialide inspiradora kubrickiana começa com quebra de todas os paradigmas convencionais, quando propões ao espectador perguntar de o filme ter tal título. Seria apenas uma referência às esquisitices deixadas por seu roteiro magnífico? Cabe a cada um analisar e deixarei minha avaliação mais para diante. Eis que os pilares motivacionais aqui erguidos duelam sobre a sociedade e seus malefícios: Alex DeLarge é um jovem, que se diverte às custas da perda dos outros, isto quer dizer estrupar, chutar, rir ironicamente, até capaz de matar. Para deixar o espectador adentrado no seu mundo, Kubrick não se priva de seqüências antológicas para a Sétima Arte e mostrando que não está ali para provocar uma descontração em que for alugar o filme. Para tanto, o que ocorre é uma junção perfeita de o mundo contemporâneo humano com o, aparentemente, ficcional da obra em xeque. Como se fosse colocado diante de nós o que está à volta, circundando-nos. E somos incapazes, pelas conspirações alienadoras em que estamos afundados, de perceber. Rousseau já dizia que nossa mente é uma tábula rasa e todas as nossas impressões são frutos das convivências terrenas. Sabiamente, as elites – captando a essência do recado de Rousseau – fizeram e fazem a questão de deixarem pobres cidadãos com sua mente ainda rasa. Kubrick foi além de Rousseau e previu a catástrofe que viveríamos e vivemos, permeada de enfadonhos “líderes” apontando o dedo para outros, enquanto a grande massa vive deixada de lado.

 

O que ocorre se há tantas desigualdades e ausência de um bem-estar íntimo, estratificadas em bens de consumo? Há aqueles descontraídos que arranjam um novo jeito; e deste grupo faz Alex, um “produto subversivo” de erros daqueles que se vêem lá em cima por longos e longos tempos. O filme seria apenas um tiroteio, sem graça, porém se não tivesse a força dos dotes e dons visionários de seu autor, dignos de estarem como clichê básico em cada comentário. A partir da narração em primeira pessoa, nada é previsível; mas nada é irreal, vindo de um delírio. Kubrick convida o espectador a um passeio com Alex DeLarge e seu modo de vida; neste passeio, encontrando em cada partícula da sociedade, uma fonte de crítica (e por que não ridicularização?). Entra aqui a função primordial de Malcom MacDowell, na atuação mais polêmica, cínica, bizarra e digna de destrinchar cada frame, cada aspecto de sua personagem e a estrutura externa que a compõe. MacDowell permite que nós entremos com ele, e assim, ficamos em uma situação esquisita – para quem estiver passando pela sala, enquanto você vê o filme – rindo do ataque a “piroscadas” ou de um velho irlandês sendo chutado. Entra aqui um cerne muito particular e digno de levantar pessoas “tradicionais” ao absurdo: o exagero, a caricatura da violência. Provavelmente, quem deixar de assistir à obra até seu final ficará com uma visão errada de que o filme incita a violência: na realidade, Kubrick quis deixá-la de uma maneira mais realista e convidativa possível para o seu final. Neste ponto, o narrador em off de primeira pessoa, dá um banho, porque seu estilo provocativo leva-nos à torcida e à indagação dos valores sociais; culminando no ápice da tristeza, com o retorno de Alex para a casa – e a reclusa de seus pais a ele. Além de conter uma narrativa encaixável apenas à sua obra (hipnotizadora e claríssima para o entendimento da obra), a leitura do filme é complementada com a língua nadsat –  um misto de russo, inglês e gírias inventadas por Burgess – que apesar de ser exagerada e dificultar o andamento do livro, ressoa singular e linda no filme.

 

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Passado o deleite de termos Alex em sua fase gloriosa, ele é preso e, por determinação, arrojo e coragem, acaba por participar de um ousado tratamento financiado pelo governo: o tratamento Ludovico. Nele, o paciente é condicionado a uma série de exibições de pequenos filmes com cenas de violência e sexo. O intuito: tirar o sadismo e a sede por aqueles pecados do criminoso, por meio de uma reação anulatória. Depois disso, é que começa o show de porquês e comos, capaz de propiciar uma sensação ecstasiante, jamais vista numa sessão de cinema. Alex (e, subentenda-se, os  jovens marginais como ele) é apontado como o culpado, o errado, o vilão por todas as perfídias existentes em um país de tendências políticas. Mas até onde vai o erro de Alex? Ou melhor, onde começa o erro dele? Quando acaba o dos elitistas poderosos e soberanos – se é que eles acabam? Por que os dedos virados para um cidadão que pegou aquela poeira toda em que vivia e fez dela apenas o que achava possível? Voltando ao tratamento, quem disse que ele curava? A partir do momento em que deixamos de poder reagir, podemos ser considerados “bons” ou apenas figurinhas marcadas? Cabe a cada um julgar ardentemente as propostas que o filme apresenta-nos e agir perante o que se foi evidenciado. Aplicar no presente, o que o passado já dizia sobre o futuro. Procurar a “cura” - que tal, encontrá-la numa tragédia? Aqui a direção de Kubrick é tão fundamental, por não tomar partido ou tornar influente seu ponto de vista, que qualquer áurea, qualquer prêmio que lhe fosse dado seria incapaz de coroar a divindade que se assinalou durante este seu trabalho – e, de um modo geral, sobre sua carreira.

 

O que eu mais valorizo em Laranja Mecânica, contudo, não são suas discussões primordiais; mas sim, detalhes que cortam e cutucam levemente cada pedaço da insignificância de perfis humanos traçados como normais e integrados a um jeito de vida comum, que – quando afrontados diante do “perigo” DeLarge – mostram-se almofadinhas. A começar pelos próprios pais de Alex: como teriam eles relevância para o garoto, se não se importam com ele; não o educam da maneira que podem e, ao invés de tentar ajudar o filho no seu momento de sofrimento, preferem esquecê-lo e voltar às vidinhas toscas, com trocas de perucas e cafés da manhã... Procuram-no apenas quando a ferida interior fala mais alto que seus desejos mesquinhos de ter um quarto alugado para um novo filho. Ora, não diz a Bíblia que devemos celebrar a volta do filho pródigo? “É uma forma de mostrar o meu agradecimento ao Senhor”, deve ter pensado Stanley ao desenvolver a cena com os espíritos celestes circundando-o. E, se você pensa que Alex era um incompetente também e que nada podia reclamar, aguarde a cena mais triste da obra, no retorno à casa e o rejeito de seus pais perante um desconsolo de alguém que sofreu, sofreu, sofreu para... sofrer. Novamente, vale ressaltar a importância do diretor em colocar numa única cena todo o resumo doloroso de sua obra, sem ultrajes ou imposturas.

 

A única coisa substancial para avaliar Alex feita por seus pais é contratar um assistente terapêutico – Deltoid –, por falta de um termo melhor, interpretado magistralmente por Aubrey Morris: uma figura ridícula, egocêntrica e nojenta (“Faça por mim, menino Alex”) que, ao olhar para seu paciente, nosso herói, enxerga-o como um “carimbo preto” (a mais ou a menos) e tem seus atos construídos na base do bel-prazer e da satisfação pessoal. Seu risinho provido de muito ódio e seu cuspe na cara de Alex comprovam a força de Morris e a reinterpretação de pessoas como Deltoid. Na delegacia, por sinal, encontramos a figura de uma polícia autoritária por debaixo dos panos, que age mais sanguinariamente que os encarcerados. O aparato da prisão também não funciona, porque nele os criminosos aprendem novas técnicas e práticas malévolas. Outro destaque fica para Michael Bates, o guarda com palavras e ações conduzidas – pelo imaginário – a um oficial fascista, inclusive a maquiagem dele é semelhante ao estilo germânico nazista. É nesta prisão que aparecerá o Ministro do Interior (Anthony Sharp, falarei mais adiante), com uma nova tática para com a erradicação de falhas no sistema social em que se baseia sua política: a inserção do Tratamento Ludovico. Aqui, é obrigatório abrir um parêntese a fim de lembrar o jeito rendável com que Kubrick trabalha a política.

 

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Laranja Mecânica foi além dos paradigmas espaço-temporais e também na sua cultura politico-econômica. Vigorava, naqueles tempos, a já comentada Guerra Fria. Assim sendo, seria totalmente errada uma atitude de inserir aquela sociedade num regime específico e explicito. Kubrick mostra que o erros está em tudo e todos, desde aos próprios ideais da Guera Fria (voltada para a corrida armamentista e espacial: “Men In The Moon”, diz o irlandês espancado, enquanto “Aqui, na Terra, os jovens batem nos velhos sem qualquer dó”) quanto às formas de regime: o autoritarismo – ao qual fica claro pela atuação da polícia nos bastidores e ao rumo final do Partido do Ministro do Interior – referente aos soviéticos e o capitalismo – refletido pela concorrência, jornais livres e desigualdades sociais. Mas há elípticos fatores que elevam, ainda mais, o conceito sobre a obra: quando, no seu final, a estrutura política é determinada por uma via absolutista (dita pelo Mr. Alexander, o escritor) capitalista (inovações tecnológicas, como o próprio Tratamento Ludovico e a, cada vez maior, diferenciação de camadas – o grupo de velhinhos tem um número considerável agora), que de certa forma foi uma aposta certa –  implantado, inclusive em nosso Brasil. Se parecemos livres de um regime fechado, basta (re)assistir Laranja Mecânica e olhar para o próprio umbigo que veremos: não faz tanto tempo assim, nem estamos tão distantes...

 

Antes de comentar sobre a parte mais caudalosa e deliciosa destes detalhes triunfais, que são os referentes às contradições, ações e reações da “cura” promovida pelo Dr. Brodsky e sua turma; pequeninas curiosidades e aspectos relevantes que fazem de Laranja Mecânica a obra completa, como mencionei lá no começo, mais completa da história humana. Quando passeia pela loja de discos, Alex encontra um disco de vinil de 2001 – apenas uma coincidência? Talvez; mas acredito que Kubrick tivesse colocado uma amostra da influência que suas obras exerceram e exercem, tanto entre si, como para o futuro/presente. A direção de arte também é perfeita por tornar aliados os elementos futurísticos (tem certeza de que não viu? Perceba os objetos e o enquadramento novamente), nada exagerados, com locais rudimentares e decadentes de Londres, novamente sem exagerar com locais óbvios que poderiam desprover o filme do fator identificação. A maquiagem tem seu valor subestimado demais: minha prima, que deu uma olhada no prólogo do filme, não acreditou quando eu disse que aquele rapaz sorridente era o mesmo que começara de forma sinistra tomando leite-com. Por fim, há aqueles detalhes providenciais que mexem com qualquer obra: ao saber que MacDowell temia cobras, Kubrick fez questão de colocá-la como amiga; MacDowell entregou-se tanto e Kubrick estimulou-o tanto que o ator arranhou a córnea (ficando temporariamente cego), quebrou as costelas e quase morre afogado, por causa de um problema no aparelho de respiração sub-aquático. Um aprova da dedicação inenarrável e entregue a Deus. E chegamos ao encontro dos dois maiores gênios em suas respectivas áreas: Ludwig Vaan Beethoven e Stanley Kubrick. Apenas esta junção, inimaginável, vale rever, e rever, e rever, e rever, e rever Laranja Mecânica. Comente-se que foi uma idéia própria do diretor, uma vez que no livro Alex era fã de músicas clássicas em geral, porém, apenas um Beethoven tem um valor equivalente a um Kubrick, certo?

 

Chegamos ao ponto sumo do filme. Chegamos a um ponto em que qualquer opinião será subjetiva. Apesar disso, não poderia deixar passar esta chance para colocar as inter-ligações que mexem e radicalizam a forma de se encerrar uma obra-prima. Voltando três parágrafos, parara no Ministro do Interior – Frederick -  e Anthony Sharp, que nos brinda com a atuação mais “verdadeira” de toda a obra. Seu Ministro é uma pessoa boazinha de aparência, mas manipuladora na essência, rege todos como bonecos e marionetes (inclusive, a seqüência clássica da exibição de um “novo Alex” introduzida pelo próprio Fred conta com uma teatralização, ideal para os seus valores, na direção e edição). Costurando com o Dr. Brodsky, o médico criador da experiência, uma chance de deixar ainda mais escondidas as falhas de sua sociedade, de seu governo – que se diz revolucionário, e que volta a encobertar da população a realidade (só que, desta vez, evidenciando algo). E este algo é o tramamento mais contraditório, que deixará ainda mais abertas as veias entupidas e paradas, imóveis daquele país – ou melhor, do nosso Planeta. Começando pela própria teoria – no papel – do Tratamento Ludovico: seus defensores diziam que o Estado fazia errado em prender, tratando a violência com a violência. Estavam certos até aí. Ocorre que eles próprios rendem-se à violência psicológica; ainda mais severa que a violência dos druguis nas ruas. Naquele mesmo show, o que tem atitudes maniqueístas para com Alex é aplaudido, numa inversão alucinógena de aspectos. O erro fica mais claro, porém, quando Alex sai da cadeia e recebe a violência, sofrendo ainda mais: os órgãos estatais são burocráticos e empregam os ex-comparsas de Alex, em troca de uma suposta garantia em desestimular as atrocidades. Mas, como bem sabemos no Brasil, a polícia consegue superar os bandidos no quesito “falta de carinho”. Não apenas por bater, como já batia desde o começo da obra, mas também ser incompetente na escolha de seus funcionários e no pagamento. O que era infeliz vira trágico.

 

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A outra polêmica envolvida em Laranja  Mecânica é o sexo, a nudez, novamente relida de maneira chocante por Kubrick. Reaparecem os que dizem que o filme incita a tal prática; e com eles, as novas questões crucias de Kubrick. A sociedade culpava Alex por maltratar as mulheres e jovens, além de adorar o velho in-out-in-out. Só que faltava voltar-se para si, e a situação de como ele – sexo – estava enraizado fica exibida pela teórica “vítima sofrida”, a mulher dos gatos, que conta com objetos e quadros obscenos e indulgentes por toda a sua casa. O próprio guarda da prisão, de estilo fascista, era contrariado às exibições do tratamento Ludovico até a aparição de uma mulher nua – recaindo-se em aplausos loucos e incessantes. O desfecho triunfal na análise de Laranja Mecânica vem com o autor de livros, Patrick Magee como o Mr. Alexander, na mais estonteante interpretação do cinema (inenarrável a loucura física a que ele se mostra quando ouve Alex cantando Singin' in the Rain – outra idéia kubrickiana). A personagem é tão rica que constrói em torno de si outra perspectiva completa: primeiro, ele é a vítima, depois torna-se amigável e mostra afeição a Alex (por não reconhecê-lo) e pretende corroborar sua tese de farsa e escândalo por trás dos sorrisinhos amarelos de Frederick e sua turma. Até ele se ver diametralmente oposto, ou seja, o grande e odiado vilão da história. Uma construção paralelamente inversa à de Alex, que começa como um enérgico safado para se redimir e virar mártir daquilo tudo. Alexander tenta apenas se vingar, esquece suas manifestações, para procurar na morte alheia o reconforto de uma vida transtornada por ruas errôneas. Manifestando os louváveis valores divino e dando a Deus um prazer maior, o único contestador – além do Alex – foi o padre da Igreja. É verdade que a Igreja tem seus erros e Kubrick também prova isto, não se isola ou teme em pecar. Porém, deixa como questionador o padre – e qual seria a forma de corrigir nossos erros (?), ele pergunta. Que cada um procure a sua melhor maneira.

 

Concluindo, temos a Laranja Mecânica. Esta obra-máxima não é para qualquer um; apesar de ser sobre todos. Pode-se, agora, tentar interpretar o título: seria a forma como o tratamento Ludovico e os critérios morais eram aplicados, tornando os homens (laranjas) em robôs (mecânicas)? Ou isto se aplica a todos nós que assistimos ao filme? Além: no livro de Burgess, toma-se conhecimento que o livro escrito por Alexander era Laranja Mecânica. Ora, Alexander criticava o tratamento, havendo assim uma reação profunda entre tudo o que rege Laranja Mecânica. Kubrick promoveu um espetáculo de cores, música e muita repugnância, muito desconforto; aproximando, entretanto, isto ao vazio do espectador e preenchendo o seu espaço vazio, atingindo-o, provocando-o e desafiando-o. Além disso, deixou de maneira mais aberta e calorosa seu filme ao cortar o final do livro, um trunfo originário, unicamente, de um milagre ou de um gênio. Melhor: foi a junção das duas coisas. Uma vez topado mergulhar no filme, prepare-se para ficar submerso por dias, semanas e flutuando por todo o resto de sua vida. Uma prova concreta dos encontros e desencontros do filme foi a relação de Kubrick com a Inglaterra: nela, o diretor encontrou refúgio e paz; porém foi aquele mesmo país a ser colocado como ponto de partida para os desafios de Laranja Mecânica. As reações, com muito chilique, da crítica inglesa fizeram com que o diretor e roteirista retirasse o filme do país até a sua morte. Foi repudiado, mas hoje atingiu o auge; e deve estar sorrindo com Beethoven e Deus. Quando o filme terminou, de meus olhos caíam lágrimas pela beleza estética e emocional da obra; nos ouvidos, ecos da melhor trilha sonora adaptada em todo o caminho cinematográfico traçado até o presente dia; no estômago, uma sensação de dor e vazio; e uma mente que deixava de ser rasa para, finalmente, construir algo. Eu estava realmente curado.

 

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Não resisti à espera e segue minha crítica à maior orbra-prima já feita pela Sétima Arte. Uma pena que me perdi e alguns pontos e mey vocabulário é pequeno; a reponsabilidade era grande, mas fiz o possível e saio com a cebça erguida. Obrigado a todos pela participação e continuem postando.
ltrhpsm2007-03-24 15:05:28
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Cara, pelo visto o prêmio "Orgulho do Pablo" do "5º Pablito de Ouro" será disputadíssimo!!!10

 

O Sopa cumprui o que eu esperava dele quando disse em um post dele que tinha inúmeras anotações sobre o filme: Uma crítica imensa, que pode fazer com que aquele que se aventure a lê - la se perca em alguns momentos; mas, àqueles que conseguirão acompanhar até o fim, verão uma resenha à altura da obra que serviu de inspiração. Belíssima construção textual, ótimo uso do vocabulário (sem soar rebuscado demais), emoção à flor da pele, enfim, mais uma amostra de que esse fórum é um dos melhores receptáculos de resenhas da internet brasileira!!!10
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Nossa, que crítica, hehe. Me perdi em alguns momentos mas é porque não fiquei 100% concentrado mesmo. Me pergunto se o It tenha deixado de falar algum ponto sequer do filme... Creio que não. Tá tudo aí, nos mínimos detalhes. E dou ênfaze a colocação perfeita que ele fez sobre o Ministro, que pode até parecer bondoso e tudo mais, mas é um verdadeiro demônio por dentro.

 

Só não esqueçamos que Laranja Mecânica é um filme irônico, de comédia 03

 

Parabéns It 0816

 

 

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Cara' date=' pelo visto o prêmio "Orgulho do Pablo" do "5º Pablito de Ouro" será disputadíssimo!!!10

 

O Sopa cumprui o que eu esperava dele quando disse em um post dele que tinha inúmeras anotações sobre o filme: Uma crítica imensa, que pode fazer com que aquele que se aventure a lê - la se perca em alguns momentos; mas, àqueles que conseguirão acompanhar até o fim, verão uma resenha à altura da obra que serviu de inspiração. Belíssima construção textual, ótimo uso do vocabulário (sem soar rebuscado demais), emoção à flor da pele, enfim, mais uma amostra de que esse fórum é um dos melhores receptáculos de resenhas da internet brasileira!!!10
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Muito obrigado, silva. Concordo quanto à qualidade do Fórum e, principalmente, de seus participantes. Mais que textos excelentes e um potencial de escrita riquíssimo e variado; os usuários do nosso Fórum têm muita vontade e emprenhado, chengadno a se entregarem para ajudar ou criar novos projetos. Além disso, concentra pessoas inteligentíssimas e outras de excelente humor. Quanto ao Pablito de Ouro, acho que a categoria "Orgulho do Pablo" deve receber 10 indicações - e não 5, como tradicionalmente. Além dos Festivais de Kubrick e Hitchcock, há as "matérias" semanais do Cineclube em Cena, posts vagando por tópicos de filme e o saudoso O Que Você Anda Vendo e Comentando? A propósito, sobre o tema, acho que seria interessante armazenarmos 2 críticas por usuário no tópico "Fatos Marcantes 2006/2007" para ajudar na hora da premiação.

 

Nossa' date=' que crítica, hehe. Me perdi em alguns momentos mas é porque não fiquei 100% concentrado mesmo. Me pergunto se o It tenha deixado de falar algum ponto sequer do filme... Creio que não. Tá tudo aí, nos mínimos detalhes. E dou ênfaze a colocação perfeita que ele fez sobre o Ministro, que pode até parecer bondoso e tudo mais, mas é um verdadeiro demônio por dentro.

Só não esqueçamos que Laranja Mecânica é um filme irônico, de comédia 03

Parabéns It 0816
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Espero ter feito algo difedingo ao filme pelas primeiras avaliações, o resultado foi bom, que agradável... Realmente, busquei avaliar todos os aspectos que compõem o filme, não apenas sua espinha dorsal - uma vez que seria apenas "mais uma" avaliação dentre tantas já publicas - mas tambpem ressaltar as suas estruturas mínimas. Isto porque é o que Kubrick e Laranja Mecânica merecem e era o que eu me tinha propôsto a fazer. Quanto ao tom irônico e cômico, é realmente notório e preferi esmiuçá-lo em cantos da crítica, para que o leitor fosse com mais afinco. Se possível, reveja o filme (G4mbit também) e releia a crítica. Agradeço novamente.

 

E que venha o seu texto de Beleza Americana!
ltrhpsm2007-03-25 19:02:40
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Revi Laranja Mecânica hoje. No pc, porque o DVD estava emprestado, só então consegui perceber sobre o Ministro que confesso que não tinha prestado muita atenção nas duas primeiras revisadas desse anos (fanático). E também não tinha reparado no disco de 2001. Burrice minha já que tava na cara 06

 

Quando é o Pablito de Ouro? Tem algum tópico para que eu possa ler pra saber o que é exatamente?

 

 

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